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Coluna Vitor Vogas

Manato quer o Senado. Soraya entra no governo Pazolini. O que as duas coisas têm a ver?

Ex-deputada foi nomeada secretária de Assistência nesta terça pelo prefeito de Vitória. O marido dela explica a ligação da nomeação com os novos planos eleitorais do casal Manato

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Da esquerda para a direita: Erick Musso, Soraya Manato, Lorenzo Pazolini, Carlos Manato e Cris Samorini. Foto: reprodução Instagram

Da esquerda para a direita: Erick Musso, Soraya Manato, Lorenzo Pazolini, Carlos Manato e Cris Samorini. Foto: reprodução Instagram

O ex-deputado federal Carlos Manato (PL) quer disputar uma cadeira no Senado em 2026; para isso, busca um grupo político que possa abrigar sua candidatura. O Republicanos, partido de Lorenzo Pazolini, busca fortalecer o projeto de lançar o prefeito de Vitória a governador do Espírito Santo; para isso, busca reunir em torno de Pazolini o maior número de líderes políticos de direita do Estado – incluindo, agora, Manato.

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Dessa confluência de desejos, num acordo de conveniência mútua, resultou a entrada da esposa de Manato, a ex-deputada federal Soraya Manato (PP), no secretariado de Pazolini na Prefeitura de Vitória.

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Na última segunda-feira (17), em um post no Instagram, Pazolini anunciou a chegada de Soraya para comandar a Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), no lugar da cientista social Cintya Schulz – quadro eminentemente técnico. Ao lado dos dois, estava Manato e a vice-prefeita Cris Samorini (PP), potencial sucessora de Pazolini. Na terça, o Diário Oficial de Vitória publicou dois decretos de Pazolini exonerando, “a pedido”, Cintya Schulz, e nomeando Soraya em seu lugar.

Após ter perdido para governador nas últimas duas eleições estaduais (2018 e 2022), Manato quer ser candidato a senador. Para tanto, precisa de uma legenda. Continua filiado ao Partido Liberal (PL), mas já não tem espaço algum nos domínios de Magno Malta, presidente estadual da sigla de Jair Bolsonaro.

Ele e o senador estão brigados e, segundo Manato, não se falam há mais de um ano. O desentendimento, de acordo com o ex-deputado, tem a ver com uma dívida de campanha, de cerca de R$ 1,5 milhão, com serviços de marketing e gráfica, que o partido não quis assumir e teria sobrado para ele. A questão não foi levada à Justiça.

Vi que você mesmo publicou dia desses [no domingo] que Erick Musso e Magno lavaram toda a roupa suja que tinham pra lavar. Eu não tenho roupa suja. Tenho uma fralda! Houve alguns mal-entendidos. Faz mais de ano que não falo com o senador. Só o acompanho nas redes sociais. Mas estou conversando com um monte de gente. Desde as eleições municipais, todo mundo com quem converso é candidato a governador ou a deputado. Então vou nesse caminho do Senado, já que ninguém quer. Me interessa a Casa Revisora. E tenho feito meu trabalho de formiguinha. O PL não tem esse compromisso comigo. Então estou procurando outros caminhos”, conta o ex-deputado.

Para emplacar sua candidatura a senador, Manato precisará então de outro partido de direita que tope absorvê-la. Porém, antes de tudo, muito mais que uma legenda, ele precisa se acomodar em um novo grupo político. O escolhido por ele foi o grupo que está se erguendo ao redor de Pazolini para 2026 – uma construção política cujo engenheiro atende por Erick Musso. Manato é mais um que cedeu ao canto do presidente estadual do Republicanos e secretário de Governo de Vitória.

Desde o fim da última eleição municipal, o ex-deputado vem conversando regularmente com o articulador político de Pazolini. Foi de Erick, com o crivo de Pazolini, que partiu o convite para Soraya ingressar no secretariado.

“Comecei a conversar com o Erick e vi que as movimentações a nível estadual e nacional estão se aglutinando ali, em torno do Pazolini. Acredito que ali eu possa trabalhar por esse espaço. Então teve uma conversa para a gente participar da administração, com a Soraya. Foi um convite apresentado pela Erick, mas autorizado pelo prefeito, porque o Erick não faz nada que não seja autorizado pelo Pazolini. Não é cota partidária, até porque no PL eu não tenho caneta, não falo em nome do PL, só em nome do Manato. É uma chance que tenho de dialogar sobre candidatura majoritária. Acredito que minha candidatura ao Senado possa ser acolhida por esse movimento. Tenho esperança disso”, diz o ex-deputado.

Antes de apertar a mão de Erick e selar o acordo, Manato comunicou o movimento ao deputado federal Josias da Vitória, presidente estadual do PP, onde Soraya ainda está filiada. “Conversei com o Da Vitória olhando nos olhos. Ele entendeu perfeitamente. Disse ‘Manato, faz o seu movimento’.” Também filiada ao PP, Cris Samorini foi outra que entrou no circuito, chamando Manato para conversar sobre a ida de Soraya para o secretariado do “Pazola” – como a vice o chama em postagens.

Tudo ajeitado entre as partes, Manato bateu o martelo. Mas antes precisou, segundo ele, persuadir uma hesitante Soraya. “Tive que convencer a Soraya da importância de ela assumir a Semas. No começo ela não queria, por ter que ser ordenadora de despesa. Estava relutante.”

A própria admite a relutância, mas explica o que a fez mudar de ideia e aceitar o convite: “A princípio eu não tinha a pretensão de assumir nenhuma pasta porque decidi que eu ia me dedicar à minha profissão como médica. Agora também sou avó e minha filha mora em São Paulo. Mas decidi aceitar porque vi que eles realmente têm uma estrutura impressionante e a gente pode fazer um trabalho diferente. É uma secretaria que já vem entregando resultados e, por ter essa estrutura muito boa, a gente pode entregar muito mais. Como eles me deram carta branca e respaldo para fazer um bom trabalho, decidi aceitar”.

Enfim, com todos entendidos e convencidos, o acordo foi selado. A própria Soraya não dá certeza sobre seu futuro. Deixa em aberto se será novamente candidata a deputada federal. “A princípio não conversamos sobre nada, vou falar sinceramente pra você. Estou entrando como técnica mesmo.”

Já Manato não tem a menor dúvida: faz questão de que ela volte a postular uma vaga na Câmara, só não sabe ainda por qual partido: “Nossa previsão é que ela seja candidata a deputada federal e eu a senador. Por qual partido a Soraya vai concorrer? Isso aí eu vou olhar lá na frente. Vou esperar as fusões, as federações, as oportunidades, as movimentações de tabuleiro”.

Manato declara apoio a Pazolini para governador

Ates que o casal venha a bater uma necessária DR, uma certeza nós já temos: a entrada de Soraya na administração de Pazolini é, antes de mais nada, um gesto político de boa vontade de Erick, Pazolini e do Republicanos em favor de Manato. O prefeito sinaliza para ele e para o mercado político que quer tê-lo em seu projeto de crescimento político no Estado. Vale dizer: quer o apoio do ex-deputado na eleição estadual de 2026 e vai ajudar o casal Manato a tingir seus objetivos eleitorais.

Em contrapartida, cumprindo sua parte no acordo, Manato já garante: está mergulhado dos pés à cabeça no projeto eleitoral a ser protagonizado por Pazolini no Espírito Santo em 2026. Vale dizer: já está comprometido a apoiar o prefeito de Vitória para governador do Estado. Aliás, deixemos que ele mesmo o diga:

“Com certeza! Vou apoiá-lo, sim. Estou entrando no projeto porque acredito no projeto. Já disse a eles que estou no grupo, que vou estar junto, que vou trabalhar por isso, quero ser parceiro desse projeto e ajudar a construí-lo. Vitória está em primeiro lugar em saúde, educação e transporte. Olha quantas coisas estão acontecendo. Será muito interessante levar isso para o Governo do Estado”, afirma Manato, já falando como cabo eleitoral de Pazolini.

Muito se tem comentado sobre a possível formação de uma frente ampla de direita para as próximas eleições estaduais, com o Republicanos, o Novo, o PSD e a possibilidade de adesão de outros partidos, como o PL. Nas últimas semanas, o partido de Magno Malta deu passos importante nesse sentido, em diálogo com Erick Musso. Aliás, o próximo anúncio para o secretariado de Pazolini pode ser o do Coronel Ramalho (PL), cotado para a Secretaria de Meio Ambiente.

Manato já se apresenta como o maior entusiasta dessa ideia – segundo ele, um “sonho” que precisa se tornar realidade.

“Isso é um sonho que tem que ser concretizado. Acho que o caminho é esse. O PT está fazendo o caminho dele. O Governo do Estado está no caminho dele. Os conservadores, que pensam da mesma forma, não podem ter vaidade e têm que se unir em torno desse projeto [em torno de Pazolini]. Se eu tiver a oportunidade de participar desse projeto, ficarei muito feliz. Não medirei esforços para isso. E torço muito para que o PL venha mesmo de corpo e alma. Vamos deixar as vaidades para trás e vamos todos juntos no mesmo projeto. Se você não sonhar, não tem realidade.”

As prioridades de Soraya

Soraya Manato exerceu apenas um mandato, de 2019 a 2022, na Câmara Federal. Em 2022, pelo PTB, não conseguiu a reeleição. Ginecologista como o marido, ela estava trabalhando como ultrassonografista do Hospital Meridional (antigo Metropolitano), em Laranjeiras, na Serra. Agora, interromperá essa atividade para se dedicar à Secretaria de Assistência Social de Vitória. “É um desafio grande. Assistência social é problema em cima de problema. Vou me dedicar em tempo integral.”

Soraya e Manato afirmam que o estilo dela é o de ir bastante para a rua, acompanhar in loco os serviços. A prioridade da ex-deputada à frente da Semas, segundo Manato, será a esperada reabertura do Restaurante Popular, na Ilha de Santa Maria (equipamento criado por João Coser). Ela acrescenta outra: “Minha prioridade, como no Brasil, serão as pessoas em situação de rua”.

Soraya por enquanto continuará filiada ao PP, partido no qual entrou no ano passado. “A princípio nada muda”, diz ela.