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Coluna Vitor Vogas

Arnaldinho se pôs em perigo e precisa erguer nova Ponte da Madalena

Já não estava nada fácil encontrar um partido, e o prefeito pode ter complicado um pouco mais a situação para si mesmo ao dar recentemente alguns passos em falso

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O prefeito Arnaldinho Borgo inaugurou, no dia 18 de janeiro, a nova Ponte da Madalena, no histórico bairro da Barra do Jucu. No concorrido evento, com direito a bandas de congo, o prefeito e o governador Renato Casagrande (PSB) chegaram a se arriscar a tocar cada um a sua casaca. Próxima ao Parque Natural de Jacarenema e com quase 100 metros de extensão, a nova ponte custou mais de R$ 11 milhões, divididos entre a Prefeitura de Vila Velha e o Governo do Estado. Substitui lindamente a estrutura que simplesmente desabou após uma enchente em 2017.

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Quatro meses depois, contradizendo as próprias declarações na campanha à reeleição em 2024, Arnaldinho admitiu que quer ser governador do Espírito Santo e, na prática, lançou sua pré-candidatura. Confirmou, assim, o que já comentavam aliados e o que já indicavam seus gestos. Agora, passa a tentar se viabilizar para concorrer, de fato, ao Palácio Anchieta em 2026. Para isso, porém, após ter explodido uma ponte (chamada Podemos), o prefeito precisa encontrar um elo fundamental entre o querer ser candidato e o poder sê-lo: um partido político. Arnaldinho precisa, urgentemente, de um partido político. Hoje, ele não tem nenhum.

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Essa ponte, hoje inexistente, separa sua expectativa da realidade. No momento, há um Rio Jucu entre seu desejo e qualquer possibilidade de concretizá-lo. Por mais competitivo que ele seja, não será tecnicamente possível participar do pleito sem um partido que lhe assegure a legenda – de preferência, um partido robusto o bastante para sustentar, política e financeiramente, uma candidatura majoritária no Espírito Santo. Eis o primeiro pré-requisito a cumprir para efetivar sua sonhada postulação ao Anchieta.

O partido é a ponte indispensável para ligar seu desejo de ser candidato à realização de tal desejo… para levá-lo em segurança à outra margem. Arnaldinho necessita, enfim, de uma Ponte da Madalena para chamar de sua. Mas não está nada fácil.

Quer dizer, já não estava nada fácil, e o prefeito pode ter complicado um pouco mais a situação para si mesmo, ao dar, recentemente, o que podem ter sido alguns passos em falso. Além disso, dois fatos políticos dos últimos dias dificultam a entrada de Arnaldinho em dois partidos importantes que estavam (ou ainda estão) entre as suas bem restritas opções.

O primeiro ponto, aliás, é exatamente a limitação no “mercado”. Diferentemente do quadro de poucos anos atrás, em que os partidos abundavam como as garças do Jucu e você podia escolher à vontade uma toca para se enfiar como os caranguejos do manguezal, os partidos agora escasseiam. Para repetir expressão usada aqui pelo ex-governador Paulo Hartung (PSD), pivô concreto ou etéreo de um dos episódios abaixo, o sistema político-partidário brasileiro está passando por um momento de “fusões e aquisições”. E poderíamos acrescentar: federações e absorções.

Para enfrentar as urnas sem medo da cláusula de barreira em 2026, partidos menores estão sendo fagocitados pelos maiores. Já os médios e grandes estão se fundindo ou federando para brigar entre si, lá em cima. A resultante é que, nas eleições do ano que vem, só devem competir de verdade cerca de uma dúzia de partidos e federações relevantes, o que também vale para o Espírito Santo. Arnaldinho quer ir para um partido de bom porte que ele possa controlar em nosso Estado. Está um pouco atrasado para isso. Quase todos os assentos já estão ocupados. Dentro do seu espectro político, do centro para a direita, quantos partidos há, de fato, para acomodar o prefeito? Em quantos cabem suas pretensões?

Há o Novo, que apoia seu governo em Vila Velha e com quem ele conversa muito bem, mas… é um partido bem pequeno. Não comporta a dimensão de seu projeto. O mesmo se aplica ao modesto Partido Renovação Democrática (PRD).

> Arnaldinho x Ricardo: as armas de cada um em sua disputa particular para ser candidato a governador

Há o Republicanos, com quem ele também fala bem… mas é, basicamente, o partido de Lorenzo Pazolini (Republicanos). O prefeito de Vitória é adversário de Casagrande e também pré-candidato a governador. Se migrasse para o Republicanos, além de não controlar o partido e ter de disputar legenda com Pazolini, Arnaldinho seria desleal ao governador, seu principal aliado. Sem contar que, nacionalmente, o Republicanos discute formar uma federação com o MDB, partido de Ricardo Ferraço, nome preferido por Casagrande para a sua sucessão.

Há o Podemos, com o qual o PSDB pode se fundir. Mas foi do próprio Podemos que Arnaldinho saiu há pouco tempo, após tentar, sem sucesso, tomar a presidência estadual das mãos do deputado federal Gilson Daniel – que continua à frente da sigla e apoia a pré-candidatura de Ricardo.

Há a iminente federação União Progressista (UP), que será um gigante partidário, formado pelo encontro do Progressistas (PP) com o União Brasil. E há o Partido Social Democrático (PSD). Sobre esses dois nos deteremos a seguir.

Deste ponto em diante, sugerimos que o leitor ou leitora siga lendo a coluna ao som de “Madalena do Jucu”, de Martinho da Vila. Se não gostar de ouvir música enquanto lê, sugerimos que ouça a canção após a leitura.

Eu vou perguntar a ele por que ele se (des)casou”

Ninguém, nem mesmo aliados próximos, sabe ao certo as razões mais recônditas, mas desde tempos imemoriais Arnaldinho mantém relacionamento bem ruim com Gilson Daniel, o cacique estadual do Podemos, partido que o acolheu em 2020 e pelo qual ele se elegeu e se reelegeu prefeito de Vila Velha. Gilson era a cabeça talhada por Arnaldinho em sua casaca – como faziam os escravizados negros, representando ali o seu patrão, numa “desforra simbólica”.

Passada a eleição, Arnaldinho decidiu dar o passo seguinte no projeto “candidatura ao governo em 2026”. Ladeado por seu escudeiro, o deputado federal Victor Linhalis (Podemos), pediu à presidente nacional do Podemos, Renata Abreu, em março, para lhes passar a presidência estadual, quebrando a hegemonia de Gilson e instituindo um sistema de revezamento. Não foi atendido. Agradeceu-lhe, então, e despediu-se. Fechou a porta atrás dele ao sair, num caminho sem volta. Pediu a desfiliação oficialmente.

Desde então, Arnaldinho está sem partido – o que, em primeira leitura, é até positivo para ele, uma vez que, descasado ou “alforriado”, ficou livre para buscar, no mercado político, uma boa acomodação para ele e sua candidatura. Mas insisto: não tem sido tão simples. E nada indica que pode ficar mais fácil.

> A paz Armada de Arnaldinho, Casagrande e Ricardo Ferraço em Vila Velha

O meu pai não quer que eu case, mas me quer namorador…”

Arnaldinho então passou a flertar com várias outras siglas (todas do centro à direita). Chegou a receber na prefeitura ninguém menos que Erick Musso, o presidente estadual do Republicanos, partido de Pazolini.

Logo depois de sua filiação, um flerte fortíssimo se deu com o União Progressista. Não é de hoje que tanto o União Brasil como o PP, duas siglas “amigadas” nessa federação, assediam o prefeito de Vila Velha. Antes mesmo do último pleito municipal, o prefeito recebeu do deputado federal Josias da Vitória, presidente estadual do PP, um convite público para se filiar e disputar a reeleição pelo PP.

Depois que Arnaldinho saiu do Podemos, o convite foi reforçado, inclusive por Evair de Melo, outro federal do PP. O prefeito não aceitou de pronto. Indo para o União Progressista, ele não terá o controle da federação no Espírito Santo. O comando estadual ficará com Da Vitória.

Agora, não é que isto esteja descartado, mas o timing da possível ida de Arnaldinho para essa federação parece ter se perdido. Num dos dois fatos relevantes ocorridos nos últimos dias – conforme mencionei no início –, vendo um vácuo a ser preenchido, o próprio Da Vitória acaba de pôr o bloco na rua: ao lado de Marcelo Santos (futuro presidente do União Brasil no Estado), assumiu com Casagrande e Ricardo o compromisso de apoiar o segundo e levar a federação para sua coligação, caso o vice-governador se viabilize.

Mas, afirma o próprio Da Vitória, se Ricardo não se viabilizar, ele mesmo postula o lugar de candidato a governador pelo grupo liderado por Casagrande. Por que não, afinal? Se tanta gente está querendo esse lugar, por que não ele, um aliado histórico de Casagrande e futuro presidente da federação que, na prática, será o maior player nas eleições 2026? Aí fica a pergunta: e onde é que ficaria Arnaldinho nessa história? A hipótese de o prefeito de Vila Velha vir a ser candidato pelo União Progressista perdeu muita força, com certeza.

> Da Vitória quer ser candidato a governador, se Ricardo não deslanchar

ponte madalena

Você é meu malquerer! Eu vou falar pra todo mundo, vou falar pra todo mundo, que eu só quero é (derrotar) você…”

Então o que nos resta? O PSD.

E aqui chegamos ao segundo fato relevante que pode complicar os planos de Arnaldinho: seu um tanto atrapalhado movimento para entrar no PSD. Se bem que o mais correto seria dizer: para tomar explicitamente o PSD no Espírito Santo do seu atual presidente, o prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos.

No dia 13 de maio, ao lado de Victor Linhalis, Arnaldinho foi pessoalmente ao encontro de Gilberto Kassab, o presidente nacional do PSD, na casa dele, em São Paulo. Conversaram sobre sua vontade de se filiar ao partido. Mas a condição, para Arnaldinho, é já entrar na sigla para assumir a presidência no Estado – no lugar de Renzo, hoje bem mais próximo de Pazolini (e da oposição a Casagrande).

Até aí, jogo jogado. A aspiração de Arnaldinho é legítima. Está longe de ser a coisa mais democrática do mundo, mas tomadas de direções estaduais, assim mesmo, goela abaixo, acontecem o tempo todo, por determinação dos respectivos comandos nacionais.

A questão é que essa articulação de Arnaldinho foi cercada de especulações – a maior delas, sobre uma possível participação oculta do ex-governador Paulo Hartung, arqui-inimigo de Casagrande.

Para piorar, uma semana depois, no dia 20 de maio, o prefeito deu à colunista Letícia Gonçalves, de A Gazeta, uma entrevista em que, por assim dizer, sobrou-lhe sinceridade. Pela primeira vez, o prefeito admitiu com todas as letras a intenção de disputar o Governo do Estado em 2026. Até aí, tudo bem… Mas ele foi bem além disso e, a meu ver, cometeu duas derrapadas.

A primeira foi ter admitido que só irá para o PSD para ser seu presidente no Estado, tratando isso como algo praticamente certo – segundo disse na entrevista, muito bem encaminhado por Victor Linhalis. Ao mesmo tempo, o prefeito afirmou não ter conversado sobre o tema com Renzo.

Foi uma confissão pública de que o movimento era mesmo atropelar o presidente estadual do PSD e tomar o partido por cima de sua cabeça, articulando-se diretamente com Kassab – imaginem o que isso não deu o que pensar a todos os outros presidentes de partido no Espírito Santo… No mínimo, faltou tato e elegância, o que o próprio Renzo não deixou passar. A esta coluna, o prefeito de Colatina falou em “equívoco” e “indelicadeza”.

> Renzo Vasconcelos sobre Arnaldinho no PSD: “Não tem nem ‘eventual’, quanto mais filiação”

O segundo e mais grave deslize foi que, ao ser questionado sobre uma possível candidatura de Hartung ao Senado pelo mesmo PSD, Arnaldinho – cujo compromisso prévio é com a eleição de Casagrande a senador – respondeu algo inimaginável:

“Posso ser um grande aliado e ajudar a fazer uma conversão de todas as lideranças políticas do estado do Espírito Santo, com um projeto único. […] posso ser, talvez, um mecanismo, uma forma de conversar e dialogar com todos os lados. […] Se ele [Hartung] estiver no meu partido, talvez eu possa ajudá-lo. Por que não? Por que não posso ajudar o governador Renato? Por que não posso ajudar o governador Hartung?”

A resposta mais sincera seria: porque nem Deus Todo Poderoso pode fazer o que ele se propõe.

Paulo Hartung, como todo mundo sabe, é o malquerer de Casagrande, e vice-versa. São irreconciliáveis. Onde um pisa o outro não passa. A questão ali é muito profunda e pessoal. Faz parecer a briga do próprio Arnaldinho com Gilson Daniel coisa de amigos que se desentendem na hora do recreio na escola. A (qui)mera cogitação de um movimento que reúna o governador e o ex é totalmente fora da realidade. Não vai acontecer, por força nenhuma do planeta. Muito menos porque o prefeito de Vila Velha entende que poderia representar esse elo entre os dois.

O prefeito mostrou ou uma ingenuidade que não cabe a um líder como ele ou uma pretensiosidade que cabe menos ainda. E a declaração não caiu nada bem no Palácio Anchieta. Serviu para reforçar uma convicção já nutrida ali: a de que Hartung, de fato, aproximara-se de Arnaldinho – e vice-versa – nesse movimento que o conduziu a Kassab. A suspeita acendeu o alerta geral no Palácio: estaria Arnaldinho virando a casaca, ou melhor, indo tocar casaca com o adversário?

Casagrande, em declaração a este espaço, deixou muito claro que o prefeito, se quiser manter a parceria com ele, não pode nem pensar em rezar para os dois santos.

Terá de escolher uma das duas cabeças no Monumento ao Congo.

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Conclusão

Em suma, Arnaldinho mostrou-se um pouco afoito, revelando certa ansiedade nos mais recentes passos políticos. Não se pôs num beco sem saída, mas as saídas são limitadas.

A maneira como o prefeito tentou entrar no PSD, claramente, não foi a melhor possível. Foi mal calculada e deixou arestas públicas. Agora, não é que essa porta tenha se fechado para ele, mas ficou um pouco mais apertada.

No tempo da lei eleitoral, ele pode se filiar até abril a um partido qualquer para se habilitar a disputar a eleição.

No tempo da política, restam-lhe poucos meses para encontrar sua Ponte da Madalena.

E esse tempo não passa “devagar, devagarinho”…

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