Coluna Vitor Vogas
Vitória: um balanço da eleição até agora e o que esperar na reta final
Pazolini, Coser, Luiz Paulo, Assumção e Camila. A análise da coluna sobre o cenário da disputa pela Prefeitura de Vitória a uma semana do 1º turno

Pazolini e Coser correndo
São quatro as cidades capixabas com mais de 200 mil eleitores registrados para votar, logo tecnicamente habilitadas a ter uma eleição em dois turnos: Serra, Vila Velha, Cariacica e Vitória. Ao contrário da Serra (que na certa terá 2º turno) e de Vila Velha e Cariacica (onde os atuais prefeitos seguramente serão reeleitos no 1º turno), Vitória não tem um cenário que se possa considerar pré-definido. Neste ponto da corrida, porém, a uma semana do encontro com as urnas, Lorenzo Pazolini (Republicanos) caminha a passos firmes para ganhar a disputa no 1º turno.
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A menos que ocorra um fato novo muito impactante, que ele cometa um erro muito grave ou que haja, por qualquer motivo, uma migração de votos muito expressiva nessa reta final, o atual prefeito tem boas chances de vencer precocemente no próximo dia 6. Digo isso com base não somente nas mais recentes pesquisas de intenção de votos divulgadas por grandes veículos da imprensa capixaba, mas, principalmente, por conta da estabilização dos números observada ao longo da campanha, na série de levantamentos realizados por institutos renomados.
Trazemos aqui, a título de exemplo, a série da Futura Inteligência para a Rede Vitória e a da Quaest para a Rede Gazeta. Em ambas, Pazolini seguiu firme e forte, de uma ponta a outra, com mais de 60% dos votos válidos.
Desde o início oficial da propaganda eleitoral gratuita no rádio e na TV (no dia 30 de agosto), a Futura realizou duas pesquisas para a Rede Vitória. A primeira foi publicada em 4 de setembro, e o campo só captou o comecinho da exibição do horário eleitoral. A segunda foi divulgada na última terça-feira (24), quatro semanas após o início da veiculação da propaganda eleitoral em meios de comunicação de massa. Isso além da campanha intensa nas ruas e nas redes sociais, da maratona de entrevistas, sabatinas e debates entre os candidatos…
Portanto, a grande resposta que essa segunda pesquisa traria era a seguinte: as semanas de “campanha pra valer” tiveram o poder de mudar o cenário? A resposta fornecida pela Futura foi um sonoro não. Da primeira rodada, no dia 4, para a segunda, no dia 24, os números de todos os candidatos praticamente não se moveram. Nas intenções estimuladas de voto, todas as ligeiras oscilações se deram dentro da margem de erro (de 4,0 pontos percentuais para mais ou para menos).
Pazolini tinha 55,7%. Oscilou para 56,9%.
João Coser tinha 20,9%. Variou para 17,3%.
Luiz Paulo tinha 4,7%. Passou a 8,6%.
Assumção, o 4º colocado, ficou com 5,4%. Camila Valadão, com 4,3%.
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Conclusão: mesmo após a exposição massiva dos candidatos no horário eleitoral gratuito de rádio e TV, nas redes sociais, na maratona de entrevistas e debates, o quadro segue inalterado, praticamente “congelado”, como estava no início da campanha. Até o momento, a superexposição midiática dos candidatos não teve efeito prático algum sobre o cenário eleitoral e não abalou em nada o favoritismo de Pazolini. A sedimentação do quadro eleitoral favorece quem está na frente.
A série da Quaest para a Rede Gazeta também indica um quadro inalterado, reforçando a impressão de congelamento.
Na primeira pesquisa, divulgada em 28 de agosto (dois dias antes da estreia do horário eleitoral), Pazolini tinha 51% das intenções estimuladas. Foi a 53% na segunda, em 18 de setembro.
Coser tinha 17% em 28 de agosto. Oscilou para 15% em 18 de setembro.
E por que isso?
Da largada oficial da campanha até agora, a marcha inabalável do prefeito para vencer no 1º turno é relativamente surpreendente: até a campanha começar oficialmente, todo mundo no meio político capixaba dizia: “a eleição em Vitória será decidida em dois turnos”. Ouvi isso por diversas vezes inclusive de agentes políticos com trânsito livre no Palácio Anchieta.
A convicção de que a eleição na Capital seria uma eleição de dois turnos era tamanha que essa premissa orientou até a estratégia do governo Casagrande, adiando a entrada dele na campanha para o 2º turno, ao lado do aliado dele que eventualmente avançasse para enfrentar Pazolini, fosse ele João Coser ou Luiz Paulo. Agora, do jeito que as coisas vão, é possível que o governador nem sequer tenha essa oportunidade.
A questão imperiosa é: por que Pazolini estava (e está) maior do que muitos imaginavam? É preciso buscar respostas para isso. Não as tenho prontas, mas lanço aqui uma combinação de hipóteses.
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Em primeiro lugar, o prefeito está bem avaliado. Não dá para brigar com os números. Todas as mesmas pesquisas citadas acima apresentam Pazolini com mais de 60% de aprovação. Ele cresceu, e cresceu na hora certa: do ano passado para este ano. Melhorou seu desempenho na segunda metade do mandato, após patinar bastante nos dois primeiros anos – com a reforma da Previdência municipal, brigas políticas com o governador e a vice-prefeita, uma máquina administrativa meio emperrada que custou a pegar no tranco e fazer girar o investimento.
Em segundo lugar, não se pode perder de vista uma escrita: ao longo das últimas décadas, o eleitor de Vitória tem se mostrado muito “conservador”, no sentido estrito de ser muito pouco afeito a mudanças bruscas no governo da cidade – diferentemente, por exemplo, do eleitor da vizinha Vila Velha.
Desde a instituição da eleição no Brasil para chefes do Poder Executivo, em 1998, todos os prefeitos de Vitória que tentaram renovar o mandato foram bem-sucedidos na missão: Luiz Paulo com os dois pés nas costas, no 1º turno, no ano 2000; Coser com um pé nas costas, também no 1º turno, em 2008; Luciano Rezende (Cidadania) com maior dificuldade, no 2º turno, em 2016, após passar sufoco contra o então deputado estadual Amaro Neto.
Em terceiro lugar, na sincera opinião deste colunista, a campanha eleitoral em Vitória, de modo geral, foi uma campanha que não empolgou.
O próprio Pazolini não chegou a fazer um governo que possa ser considerado “empolgante”, que tenha enchido os olhos da população e deixado uma grande marca. Ele mesmo também não chega a ser propriamente um candidato “empolgante”, genuinamente carismático. É sem dúvida muito técnico, bem treinado, bem ensaiado para entrevistas e debates – às vezes até “demais”, soando um pouco maquinal e carecendo de maior espontaneidade.
Tampouco foi “empolgante” sua campanha – embora muito correta e, do ponto de vista técnico, incrivelmente bem produzida. Na forma, uma superprodução; no conteúdo, uma grande prestação de contas, que aponta muito pouco para o futuro.
Mas justiça seja feita: se o prefeito pouco empolgou, a verdade é que os adversários dele parecem ter empolgado ainda menos.
A disputa pela Prefeitura de Vitória foi uma eleição carente de uma grande novidade. Não falo necessariamente de um rosto novo – muito menos de um aventureiro, por favor… Mas o fato é que, entre os seis competidores, não se destaca um novo líder político em plena ascensão e realmente competitivo, que pudesse de fato fazer frente a Pazolini e que de fato despertasse um desejo de mudança no eleitor de Vitória. Quem foi esse candidato?
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Numericamente, os principais concorrentes de Pazolini são Coser e Luiz Paulo.
Coser é candidato a prefeito de Vitória pela quinta vez. A primeira, da qual poucos se lembram, foi há 32 anos: em 1992, o petista teve 13% dos votos, na eleição vencida por Paulo Hartung (então no PSDB). Depois disso, ganhou em 2004 e 2008. Em 2020, foi derrotado por Pazolini no 2º turno, com 41,5% dos votos.
Luiz Paulo, por seu turno, disputa o mesmo cargo pela quarta vez, após ter vencido em 1996 e 2000 e perdido no 2º turno para Luciano em 2012.
De 1992 para cá, em nove pleitos municipais, apenas um (o de 2016) não teve nem Coser nem Luiz Paulo como candidato a prefeito de Vitória. E olha que em 2016 o tucano cogitou disputar até o último momento, quando decidiu apoiar a reeleição de Luciano… Curiosamente, essa é a primeira vez que Coser e Luiz Paulo disputam a mesma eleição. Mas o ponto é: estão longe de ser “novidades” – o próprio Luiz Paulo, sem perder a piada, ironiza esse fato.
Camila Valadão (PSol), sim, está em plena ascensão. A deputada de 40 anos, pouco mais jovem que Pazolini, é incrivelmente bem articulada, sabe se expressar muito bem, tem convicções reais e excelente comunicação com o público. Sua oratória impressiona em entrevistas e debates, nos quais seu desempenho é de longe o melhor, por sua capacidade de organizar e expor ideias de forma clara, coerente e objetiva. Tem futuro, enfim. Mas ainda carece de competitividade, e verdade seja dita: o PSol limita seu potencial de crescimento num colégio eleitoral como Vitória.
Outro ponto a ressaltar é que nenhum candidato na Capital realmente foi para um risco muito grande. Todos jogaram na bola de segurança, mais ou menos na zona de conforto.
Perdendo a eleição, Coser, Camila e Assumção retomam os mandatos na Assembleia. Por sinal, apenas Coser se licenciou sem vencimentos, até o começo de novembro, para se dedicar à campanha. Os outros dois apenas seguirão exercendo os respectivos mandatos. Os três têm cargo público garantido até janeiro de 2027.
Aposentado do BNDES, Luiz Paulo poderá sempre voltar para um espaço no governo Casagrande, do qual se desligou para poder ser candidato. Até abril, era subsecretário estadual de Desenvolvimento e Integração Regional. Embora seu retorno não seja certo, as portas seguem abertas para ele. Du, bem… Du tem seus negócios milionários.
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Pensando por esse ângulo, quem mais teria a perder politicamente, em caso de derrota nas urnas, seria ninguém menos que o próprio Pazolini, que teria de voltar a se apresentar ao comando da Polícia Civil após passar a faixa, para voltar a atuar como delegado.
O sonho de chegar ao Governo do Estado, neste caso, ficaria muito mais distante para ele.
O que se pode fazer? As estratégias em curso
Como dito, o quadro parece cristalizado, difícil de reverter, mas não é irreversível. O que cada oponente de Pazolini tem feito a fim de sacudir o tabuleiro?
Comecemos por Coser. A estratégia colocada em prática pelo petista nos últimos dez dias é uma espécie de malabarismo de marketing eleitoral, uma vez que conjuga abordagens que aparentemente se contradizem:
Por um lado, há dez dias, a campanha de Coser tem exibido sem parar a mensagem do presidente Lula pedindo votos para ele. O risco evidente é o de que o tiro saia pela culatra, ampliando a rejeição a Coser, que já não é baixa. Por que assumir esse risco, então?
Bem, Lula teve 45% dos votos válidos em Vitória em 2022, no 2º turno contra Bolsonaro. A conclusão é que o presidente tem muitos votos em Vitória, ainda que “silenciosos”. O objetivo de Coser é atrair para si todo esse contingente de “votos de Lula” represados na Capital. De fato, se ele conseguir minimamente chegar perto desse percentual, estará no 2º turno.
A questão é que essa estratégia tem um ponto cego, pois parte de uma premissa equivocada: nem todos que votaram em Lula são, de fato, “eleitores de Lula”. Muitos o fizeram mesmo não curtindo muito o atual presidente, mas tão somente por nutrirem rejeição ainda maior a Bolsonaro. A recíproca também é verdadeira, numa eleição presidencial regida muito mais pela aversão (e até pelo ódio) ao outro do que propriamente por paixão pelo próprio candidato.
Por outro lado, Coser está convencido de que a maior parte dos seus cerca de 40% de rejeição se devem ao PT, ou seja, é muito mais uma rejeição ao seu partido do que propriamente ao seu nome. O petista já reconheceu e afirmou essa certeza reiteradamente em entrevistas. E não está errado nisso.
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Por isso, ao mesmo tempo em que reproduz a fala de Lula, Coser tenta convencer o eleitor antipetista a votar nele por sua pessoa, por seu legado, por sua história, por aquilo que fez como prefeito. “Você pode não gostar dos partidos, mas não dá pra não gostar do João.” É com essa frase que se encerra, por exemplo, uma inserção dele nas redes sociais.
Daí o “malabarismo” do candidato: ele luta para dobrar o antipetismo, ao mesmo tempo em que reproduz ad nauseam o pedido de votos do maior líder do PT e maior ídolo político da esquerda no Brasil. Ataca em duas frentes que se contrapõem.
Por fim – e isso vale pra todos, não só para Coser –, não adianta os adversários de Pazolini ficarem tirando votos um do outro. Não adianta nada para Coser, por exemplo, tirar todos os votos de Camila, em eventual convergência dos “votos úteis” da esquerda de Vitória para o petista.
De igual modo, de nada serve a Luiz Paulo tirar de Coser os votos dos eleitores que já reprovam Pazolini, convencendo-os de que é o opositor mais preparado e mais capaz de derrotar o atual prefeito no 2º turno.
Eles precisam, urgentemente, “virar votos” de Pazolini. Como? Convencendo os poucos indecisos e também aqueles eleitores não tão fãs do atual prefeito, mas que tendem a votar nele por inércia. E aí não tem outra via: o caminho é a crítica administrativa. É explicitar para o eleitorado os eventuais problemas de Pazolini como prefeito e os de sua administração.
Desde o início da temporada de debates (em 16 de setembro, com o da Band), essa estratégia tem sido intensificada e deverá ser ainda mais nesta última semana de campanha.
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