Alexandre Brito
A vida passa. Seu cansaço, não
Nem sempre o cansaço vem de fazer muito. Às vezes, ele nasce de pensar demais, se cobrar demais e não conseguir pausar

Cansaço que não é só físico. A sobrecarga mental e a vida acelerada afetam diretamente o bem-estar e a saúde emocional. Foto: FreePik
Está cada vez mais comum ouvir pessoas se queixando de um cansaço que vai além do esforço físico, envolvendo sobrecarga mental, ansiedade e falta de descanso de qualidade. Você se identifica? É como viver uma vida conectada e acelerada o tempo todo, muito parecida com máquinas industriais que não cessam suas atividades. Mas, se até as máquinas precisam de reparos, pausas e manutenção, imagine nós, que somos feitos de carne e osso.
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Muitas vezes, ouvimos a frase: “Não fiz nada demais e estou cansado demais.” E, quando olhamos de perto, percebemos uma rotina repleta de preocupações e cobranças, na tentativa constante de “dar conta de tudo” e não ficar para trás. Esse cansaço, frequentemente, está associado ao excesso de preocupação ou, em outras palavras, “penso, logo, não descanso.”
Um dos fatores que agravam esse esgotamento é o uso excessivo de telas. Muitas pessoas buscam nelas um descanso, mas acabam encontrando ainda mais motivos para se sentirem ansiosas e aceleradas. As redes sociais, especialmente, são projetadas para capturar sua atenção sem que você perceba, consumindo boa parte da sua energia. Vídeos carregam automaticamente, imagens surgem sem que você procure, e informações invadem sua tela sem o seu consentimento.
Quando você acessa uma rede social, passa a ser chamado de “usuário”, o mesmo termo usado para quem tem dependência química. Não por acaso, o vício em telas tem se tornado um problema crescente de saúde mental. Além disso, há um fator que contribui para a queda da autoestima: as comparações.
Comparar-se constantemente faz com que você persiga uma vida ideal, ao se deparar com tanta gente aparentemente feliz na internet e com influenciadores oferecendo supostas fórmulas para felicidade e sucesso. Nunca parece ser o bastante nesse mundo de consumo desenfreado. E, quando menos se percebe, é você quem está sendo consumido. Afinal, quando algo é oferecido como “gratuito” nas plataformas digitais, isso significa que você é o produto à venda.
Tudo isso afeta diretamente nossa autoestima e nossa capacidade de viver de forma mais calma, sem a pressão por resultados espetaculares. Longos períodos de autocobrança e ansiedade são tão desgastantes quanto atividades físicas intensas, elevando o ritmo cardíaco e cerebral. E esse é um tipo de cansaço que não se resolve apenas com uma noite de descanso, exigindo cuidados específicos.
O pensamento acelerado é reflexo de uma vida acelerada, imposta e estimulada de todos os lados, em um mundo que compara, cobra e compete o tempo todo. É como viver em verdadeiros jogos vorazes, nos quais poucos parecem prevalecer.
Mas, nesse cenário de excessos, é possível — e necessário — desenvolver estratégias de resistência. Fazer pausas, se comparar menos, evitar competições vazias, reduzir o tempo de tela, se aproximar da natureza, desconectar-se com mais frequência e, sobretudo, buscar apoio na terapia são passos fundamentais para que sua saúde mental não apenas resista, mas prevaleça.
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