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Coluna Vitor Vogas

PL: partido de Magno e Bolsonaro protagoniza fiasco eleitoral no ES

Com tudo para arrebentar nestas eleições municipais, sigla bolsonarista lançou 50 candidatos a prefeito no ES, mas elegeu pouquíssimos devido a uma sucessão de erros estratégicos. A pedra foi cantada aqui. Listamos os três fatores determinantes para esse fracasso nas urnas

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Magno Malta com Jair Bolsonaro. Crédito: Reprodução Facebook

Magno Malta com Jair Bolsonaro. Crédito: Reprodução Facebook

Em 2022, assim como no resto do país, o PL colheu resultados históricos das urnas no Espírito Santo, nas eleições parlamentares. Além do retorno de Magno Malta ao Senado e da chegada de Gilvan à Câmara Federal, o partido elegeu a maior bancada da Assembleia, com cinco parlamentares (um de cada seis deputados estaduais).

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O partido saiu de 2022 na crista da onda, vivendo seu melhor momento político no Espírito Santo. Tinha tudo para quebrar a banca nestas eleições municipais, preparando o terreno também para um ótimo resultado nas próximas estaduais, em 2026.

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Mas algo deu muito errado no meio do caminho.

Hoje, o partido de Bolsonaro tem apenas um prefeito em todo o Espírito Santo: Tiago Rocha, de São Gabriel da Palha. Sob a liderança de Magno Malta, o partido bolsonarista lançou nada menos que 50 candidatos a prefeito no Estado. Neste domingo (6), elegeu apenas cinco. Todos em cidades pequenas: São Gabriel da Palha (Tiago Rocha), Ibatiba (Dr. Luis Pancoti), Muqui (Camarão), Domingos Martins (Edu do Restaurante) e Santa Maria de Jetibá (Ronan Fisioterapeuta).

Os três primeiros, para conseguirem se eleger, ignoraram solenemente um decreto interno baixado pelo senador Magno Malta para os diretórios municipais do PL (leia abaixo).

Proporcionalmente, pode-se dizer que o resultado do PL foi um fiasco em território capixaba: a sigla de ninguém menos que Bolsonaro só conseguiu eleger 10% dos candidatos a prefeito lançados no Espírito Santo.

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E mais: considerando as dez maiores cidades capixabas (Serra, Vila Velha, Cariacica, Vitória, Cachoeiro, Linhares, Colatina, São Mateus, Guarapari e Aracruz), o PL teve candidato próprio à prefeitura de todas elas. O que atingiu o maior percentual de votos válidos foi Léo Camargo, em Cachoeiro, com 23,0%. Mesmo assim, passou muito longe de conseguir se eleger.

Em Vila Velha, o Coronel Ramalho obteve 17,2% dos válidos. Em Colatina, Luciano Merlo chegou em 3º lugar, com 13,7%. Os outros sete candidatos do PL nessa prateleira das dez maiores cidades não chegaram à marca de 10%.

“Algo deu muito errado no meio do caminho”. O que, exatamente? Abaixo, listamos e analisamos os três fatores determinantes.

1. O radicalismo equivocado

Sob a condução de Magno Malta, os candidatos a prefeito do PL de norte a sul do Espírito Santo chegaram para esta eleição com discurso radicalizado, levando para a campanha a estratégia de combate (ou demonização) da esquerda, acreditando que o caminho das pedras era nacionalizar as disputas locais. A aposta foi muito equivocada.

Quem ditou essa estratégia, ou foi seu porta-voz por aqui? Magno Malta.

Após ter apoiado Lula e Dilma no passado, Magno bebeu da fonte do bolsonarismo, decidiu mergulhar na fonte e dali não mais saiu. O risco é acabar se afogando e levando com ele o PL. Magno se radicalizou como poucos de 2014 para cá, numa mistura de “anticomunismo” com fundamentalismo religioso que nem o próprio Bolsonaro consegue alcançar.

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Decididamente, estas eleições municipais no Espírito Santo não foram regidas pela nacionalização, muito menos pela polarização ideológica com o PT e com a esquerda. Não foi esse o fator mais importante a determinar as escolhas do eleitorado capixaba. Muito mais importante que isso foi o debate específico sobre as questões locais e pontuais, as quais efetivamente dizem respeito ao dia a dia do cidadão que vive na cidade, ou à cidade “onde vive o cidadão”.

O eleitor capixaba em geral deu um voto muito mais prático e pragmático: saber se um candidato “faz o L” ou se é “Deus, pátria, família e liberdade” não é o que vai determinar se haverá mais vagas nas creches, se a merenda será melhor, se o posto de saúde atenderá melhor a população, se as ruas serão mais bem iluminadas, se o trânsito terá maior fluidez, se a Guarda Civil será mais eficiente na cooperação com as forças estaduais de segurança pública…

A título de exemplo, citemos aqui o Coronel Ramalho, “cristão novo” no PL. É um candidato altamente qualificado e promissor. Tem currículo, sabe se expressar, fez algumas críticas pertinentes ao atual prefeito de Vila Velha, apresentou um excelente plano de governo (verdade seja dita: muitíssimo melhor que o de Arnaldinho, que é uma carta de intenções sumária).

Mas, por inspiração de Magno, o coronel perdeu-se nas mesmas águas do senador, gastando energia demais em uma estratégia que jamais teve a menor chance de “pegar”: a de rotular Arnaldinho como “candidato de esquerda”. Primeiro: não o é. Segundo: e daí se fosse? Ele está bem avaliado? Quais são os méritos e os problemas de sua administração local? O que o adversário pode fazer melhor que ele? Eis os pontos muito mais relevantes, que acabaram em segundo plano.

2. O sectarismo

O segundo ponto da explicação, que tem muito a ver com o radicalismo, é o sectarismo que tem sido a chave das decisões e dos movimentos da direção estadual do PL, sob a liderança de Magno. Aliás, quando falamos em “direção estadual do PL”, estamos falando, basicamente, do senador Magno Malta. Ao longo deste quarto de século, o partido no Espírito Santo é comandado pelo senador e por mais ninguém.

Não existe um diretório estadual permanente, constituído em convenção ou congresso, pelo voto dos membros do PL. O que existe é uma comissão estadual provisória, presidida por Magno e formada por outros poucos membros (todos postos ali pelo senador), a qual vai sendo renovada ad eternum pela direção nacional (Valdemar Costa Neto).

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Não existem, portanto, decisões colegiadas no PL. Na prática, é Magno quem decide tudo, em nome de todos. E, dentro do partido, a palavra dele é lei.

Ninguém no PL tem coragem de assumir declarações sobre isso, mas, reservadamente, muitos membros do partido expressam insatisfação com a condução de Magno e com a concentração de poder nas mãos do senador, até porque, para muitos, sua estratégia eleitoral, pautada por sectarismo e isolacionismo extremo, foi a perdição para os candidatos do PL.

De fontes do partido, que preferem não mostrar a cara, este colunista ouviu ao longo da campanha adjetivos como “maluca” e “suicida” para definir a estratégia de Magno.

Sustentando que o PL é a “única direita”, a “verdadeira direita” (enfim, o sinônimo de “direita” no Brasil), Magno condenou os candidatos do partido, inclusive os mais competitivos, ao extremo isolamento eleitoral.

Não é que ele não tenha se empenhado em conduzir articulações no período anterior à campanha, a fim de viabilizar coligações fortes que sustentassem os palanques de seus candidatos. Ele foi além: proibiu os candidatos do partido de se coligarem, basicamente, com todos os partidos relevantes – incluindo em seu index não só siglas notoriamente de esquerda, mas também algumas de direita (o PP, o Republicanos), que estiveram com Bolsonaro em 2022, considerando-as também de esquerda.

Restou claro que, para Magno, quem não é PL é de esquerda, logo não serve para se aliar ao PL. O pragmatismo mandou lembranças, num dos maiores tiros no pé de que se tem notícia no Espírito Santo, em matéria de estratégia política.

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Ironicamente, alguns dos poucos candidatos do PL que venceram neste domingo foram justamente aqueles que, ignorando a resolução de Magno, compuseram por sua conta boas coligações locais. Assim fizeram, por exemplo, o prefeito reeleito de São Gabriel da Palha, Tiago Rocha, e o prefeito eleito de Ibatiba, Dr. Luis Pancoti (apoiado pessoalmente pelo ex-deputado federal Carlos Manato, desafeto de Magno).

3. Desagregação interna

A quem olha de fora, isso talvez não transpareça, até porque a estrutura do partido é muito fechada, mas há sérias desavenças e disputas internas de egos entre os expoentes do PL no Espírito Santo. Para bradar “Deus, pátria, família e liberdade”, todos gritam a uma voz, em ordem unida. Nos bastidores, falta a mesma unidade.

Em alguns momentos do processo eleitoral, essas fraturas apareceram. As disputas internas, a falta de pragmatismo e o sectarismo ditado por Magno fizeram as grandes chances de triunfo do PL desmoronarem, antes da campanha, em alguns dos municípios onde o partido poderia ter lançado os candidatos mais competitivos.

Dois exemplos marcantes: Cachoeiro e Guarapari, dois redutos de direita no Espírito Santo, nos quais Bolsonaro foi imensamente bem votado contra Lula em 2022.

4. Exemplo concreto nº 1

Se havia uma cidade capixaba importante onde o PL tinha tudo para fazer o prefeito era Cachoeiro de Itapemirim. A quinta cidade mais populosa do Espírito Santo é, hoje, um bolsão eleitoral bolsonarista. E, se havia um pré-candidato do PL com chances enormes de vitória no Estado, era o vereador Juninho Corrêa, em Cachoeiro.

Magno foi terminantemente contra uma coligação do PL com o PP, partido do pai de Juninho, na maior cidade do sul. Em fevereiro, sem disfarçar os motivos da decisão, Juninho anunciou a desistência da pré-candidatura e a desfiliação do PL. Disse, ainda, que voltaria para o seminário para se ordenar padre.

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A última parte não rolou. O seminário teve de esperar, e Juninho seguiu atuante no processo eleitoral. Seu recuo deu espaço para um não planejado retorno triunfal de Theodorico Ferraço. Aos 86 anos, o ícone do conservadorismo de direita na política capixaba voltará à Prefeitura de Cachoeiro para seu quinto mandato, pelo PP (ironia 1), tendo como vice ninguém menos que Juninho (ironia 2), que migrou para o Novo.

Enquanto isso, o candidato do PL em Cachoeiro, Léo Camargo, só obteve 23,0% dos votos válidos, no maior reduto bolsonarista no Espírito Santo. Ferração alcançou quase o dobro: 42,8%.

5. Exemplo concreto nº 2

Em Guarapari, o ex-vereador Zé Preto foi um dos cinco deputados estaduais eleitos pelo PL em 2022. Ao contrário dos outros quatro, decidiu imediatamente entrar na base do governo Casagrande (PSB) em plenário. Pecado mortal para Magno, pois ele e o PL fazem oposição ao “governo socialista”.

Zé Preto já chegou à Assembleia como pré-candidato a prefeito de Guarapari. Era (e segue sendo) altamente competitivo. Magno não fez questão alguma de reter esse ativo eleitoral. Passou a escantear Zé Preto, até que este decidiu sair.

Sem legenda garantida no PL, o deputado pediu a Magno liberação para mudar de sigla. O senador lhe deu a carta de anuência. Zé Preto foi para o PP e hoje briga palmo a palmo com outro candidato de direita, o vereador Rodrigo Borges (Republicanos), pela Prefeitura de Guarapari.

Na cidade da Grande Vitória, com cerca de 120 mil habitantes, em um dos movimentos menos compreensíveis deste pleito, Magno decidiu lançar o vilavelhense deputado Delegado Danilo Bahiense (PL), numa candidatura meio “torta”, que também não tem chegado a 10% em pesquisas.

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Para piorar o bate-cabeça interno, o ex-deputado Carlos Von (PL), que estava inelegível, recuperou os direitos políticos com a campanha já inaugurada. Julgando-se mais competitivo (e possivelmente o seria), chegou a se movimentar visando substituir o delegado na cabeça da chapa. Magno não quis nem ouvir a ideia, por lealdade aos seus.

Bahiense obteve 9,9% dos votos válidos. Zé Preto ficou em segundo lugar, com 38,6%, bem perto do vereador Rodrigo Borges (Republicanos), eleito com 41,2%.

Ninguém pode duvidar da lealdade de Magno aos seus, virtude também muito importante na política. Mas, pelo menos nesta eleição municipal no Estado, deram todos um “abraço dos afogados” na fonte do bolsonarismo… a qual, a prosseguir assim, vai secar rapidamente por aqui.


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