Coluna Inovação
Startups vindas dos pesquisadores são esperança de futuro
Um grande movimento vem tomando corpo no país envolvendo várias instituições e empresas em torno do tema “deeptechs”

Deeptechs são startups saídas das bancadas de pesquisadores das universidades. Foto: Reprodução
Um grande movimento vem tomando corpo no país envolvendo várias instituições e empresas em torno do tema “deeptechs”. Entre essas instituições estão, entre outras, Sebrae, Finep, Bndes e muitas empresas privadas. Caiu a ficha no país que uma política industrial como a Nova Indústria Brasil exige uma participação bem maior das universidades no desenvolvimento de soluções inéditas baseadas em ciência.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
As deeptechs, isto é, startups saídas das bancadas de pesquisadores das universidades para resolver grandes problemas podem moldar o futuro industrial do país. Quando conversamos com essas candidatas a deeptech, vários problemas afloram. Por falta de contato com empresas, muitos pesquisadores, mesmo com vontade de empreender, não têm a menor ideia de como se relacionar com elas e como tocar um negócio. Como propor parcerias, como identificar uma dor do mercado, como conseguir investimento, como lidar com patentes, como formar um time, como vender um produto, como cumprir um cronograma, como enfrentar a burocracia regulatória(que na saúde e agricultura são pesadas).
Tudo bem que o ambiente de negócios não ajuda muito. A burocracia para registrar patentes, a dificuldade para implementar as compras de tecnologia por governos, apesar das leis que permitem, a demora para aprovação nos órgãos reguladores e a falta de fundos para investimentos pacientes atrapalham bastante, bem como a dificuldade para a utilização de laboratórios da universidade pelas deeptechs.
Os problemas enfrentados heroicamente por cada uma dessas deeptechs para conseguir chegar no mercado não são simples. As deeptechs de saúde precisam passar por uma barreira necessária, porém burocraticamente angustiante para se registrar na ANVISA. Dois anos de espera é pouco e o custo dos testes sufocantes para quem nem pode oferecer seus produtos ainda no mercado. Mas eles são craques em participar de editais de subvenção econômica(antigo fundo perdido) que garantem a sobrevivência e que são oferecidos à rodo no atual governo, depois de um contingenciamento inconsequente no governo passado.
Os fundos de venture capital são limitados para deeptechs, principalmente pelo maior tempo de maturação dos projetos e o custo de desenvolvimento, como no caso das biotechs, fortes demandantes de laboratórios. E também não é fácil captar investidores para esses fundos com os juros reais de quase 10% na renda fixa.
Até para captarem no exterior é complicado, conforme relatado por algumas empresas de Ventura Capital no Brasil. Se falam em captar para deeptechs brasileiras em saúde, são vistas de lado pela pouca tradição em tecnologia nessa área, ao contrário da captação para deeptechs do agro, onde o Brasil é referência.
Mas as startups do agro também padecem na burocracia do MAPA(Ministério da Agricultura) com seus longos processos de aprovação, exigindo caros acompanhamentos de consultores, verdadeiros despachantes burocráticos.
Enfim, há que se perceber que deeptechs são a nova onda de startups e que devem ser atendidas por projetos específicos pelo alto potencial de impacto transformador na economia. Uma Nova Indústria Brasil, como é denominada a política industrial atual, deve ter forte componente em C&T indo para o mercado, e assim parece dirigida.
O papel tradicional da universidade de avançar o conhecimento e formar gente tem que ser ampliado para incluir as parcerias com empresas. Os exemplos da Embrapa, Embraer e Petrobras apontam o que precisamos para o futuro: conhecimento vindo da academia, conexão com o exterior e uma iniciativa que anos atrás dependia de movimento estatal e agora tem que ser com empreendedorismo privado. É fundamental que as estruturas burocráticas das universidades facilitem esse trabalho ampliando o apoio à inovação, às incubadoras e NITs, facilitando a utilização de laboratórios e a parceria com empresas privadas.
Os artigos publicados pelos colunistas são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam as ideias ou opiniões do ES360.
