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Coluna Vitor Vogas

Guarapari: Carlos Von quer substituir Danilo na cabeça da chapa do PL

Uma decisão judicial tem movimentado o cenário eleitoral da cidade e gerado pressões quanto a uma possível troca na cabeça da chapa bolsonarista

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Carlos Von foi deputado estadual

Carlos Von foi deputado estadual

Uma decisão judicial com possíveis repercussões políticas tem movimentado o cenário eleitoral de Guarapari, acendendo especulações quanto a uma possível troca na cabeça da chapa do Partido Liberal (PL) na eleição à prefeitura da cidade. Com os direitos políticos incrivelmente recuperados após o tiro de largada oficial da campanha, o ex-deputado estadual Carlos Von deseja substituir o deputado estadual Danilo Bahiense como candidato do PL a prefeito de Guarapari.

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Apesar de ser um velho conhecido dos eleitores do município, Von até hoje só exerceu um mandato eletivo, na Assembleia Legislativa, pelo DC, de fevereiro de 2019 a janeiro do ano passado. Em 2022, não conseguiu se reeleger. Em Guarapari, pode ser considerado o candidato da bola na trave e da “música no Fantástico”: nas últimas três eleições municipais (2012, 2016 e 2020), candidatou-se a prefeito, sempre em oposição ao grupo do atual ocupante do cargo, Edson Magalhães. Nas três oportunidades, chegou em segundo lugar, perdendo por poucos votos de diferença.

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A última campanha a prefeito foi exatamente a que lhe rendeu uma condenação judicial que o deixou inelegível por oito anos. Na ação, movida por Fernanda Mazelli, candidata a prefeita pelo Republicanos e adversária dele em 2022, Von foi acusado de ter oferecido dinheiro para candidatos a vereador de partidos adversários o ajudarem em sua campanha, durante uma reunião política. A prova principal a embasar a ação foi uma gravação em áudio da reunião, feita por um dos participantes.

Em 2022, o TRE-ES condenou o então deputado por abuso de poder econômico, tornando-o inelegível por oito anos. Por essa sentença, portanto, Von não poderia participar das eleições municipais deste ano (nem votar nem ser votado). Ele recorreu ao TSE. E, enquanto aguardava o julgamento do recurso no tribunal superior, filiou-se ao PL, em meados de março para abril deste ano, perto do fim do prazo para filiação de quem quisesse participar deste pleito.

Eis que, na última quinta-feira (29), com a campanha municipal já deflagrada, o TSE julgou o recurso. E decidiu a favor de Von, considerando ilícita a gravação utilizada como prova e anulando a condenação que o TRE-ES havia lhe infligido sem segunda instância. O ex-deputado, então, recuperou os direitos políticos e o estatuto de “elegível”: como antes da condenação, pode tanto votar como ser votado. Na prática, está habilitado a ser candidato a prefeito, vice-prefeito ou vereador já neste pleito.

De acordo com o calendário eleitoral, os partidos têm até o próximo dia 16 – 20 dias antes do 1º turno – para substituir candidatos, a não ser em caso de morte. Isso significa que, se o PL quiser trocar seu candidato a prefeito em Guarapari, tem menos de duas semanas para fazê-lo. Mas, a rigor, é possível.

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Por decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes, Von está impedido de conceder entrevistas. Essa é uma das medidas cautelares impostas contra ele por Moraes, em dezembro de 2022, a partir de uma petição formulada pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES). A cúpula do órgão acusou Von de integrar uma milícia digital responsável pela divulgação de informações fraudulentas, falsas comunicações de crimes, denúncias caluniosas e ameaças contra o STF, seus ministros e outras autoridades.

Assim como o deputado Capitão Assumção (também do PL), candidato a prefeito de Vitória, Von usa tornozeleira eletrônica desde o dia 15 de dezembro de 2022, data em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do então deputado em Guarapari e em seu gabinete na Assembleia, no bojo de uma megaoperação autorizada por Moraes. Tal como Assumção e outros, ele foi incluído no rol de investigados no inquérito sigiloso que apura atos antidemocráticos. Essa é outra “treta”, não tem nada a ver com o que levou Von a ficar inelegível, por decisão agora revertida pelo TSE.

Em todo caso, por conta desse outro rolo, Von não está autorizado a dar entrevistas.

A coluna, porém, apurou o seguinte:

O ex-deputado tem, sim, plena vontade de ser candidato a prefeito novamente, no lugar de Danilo Bahiense. Mas, para isso, precisa convencer a direção estadual do PL, o que significa convencer uma pessoa: o senador Magno Malta. Liderado pelo próprio ex-deputado, o grupo político de Von está não só se movimentando como pressionando por isso. Mas Magno está irredutível: firma o pé ao lado de Danilo Bahiense e reafirma que o candidato é ele.

O grupo de Von entende ser essa é uma candidatura suicida, condenada não só a uma derrota, mas a um fiasco nas urnas. O lançamento do deputado e delegado aposentado a prefeito de Guarapari foi uma alquimia que saiu do laboratório de Magno, mas que tem se mostrado bem pouco competitiva. De acordo com a última pesquisa do instituto Futura Inteligência para a Rede Vitória, com 3,5% das intenções de voto estimuladas, Danilo está muito atrás dos líderes, o deputado estadual Zé Preto (PP) e o vereador Rodrigo Borges (Republicanos), que hoje polarizam a disputa.

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Apesar de possuir imóvel residencial em Guarapari, o candidato do PL é, sabidamente, morador do município vizinho de Vila Velha. Na avaliação do grupo político de Von, isso não ajuda em nada a candidatura a decolar, uma vez que o eleitor de Guarapari é considerado muito bairrista – apesar de tecnicamente fazer parte da Grande Vitória, a cidade é pequena: só tem 124.656 habitantes (Cneso 2022/IBGE).

Além disso, exatamente por não ter histórico político na cidade, Danilo não é identificado pelo eleitorado local como um opositor do grupo do prefeito Edson Magalhães – ao contrário de Von, adversário eleitoral do candidato de Edson, Orly Gomes, em 2012, e do próprio Edson em 2016 e 2020. Tudo bem que foram três derrotas… Mas foram três derrotas no palanque oposto ao do grupo no poder na cidade há mais de década.

O grupo de Von acredita que ele poderia preencher esse vácuo.

Por um lado, vocalizando um discurso mais radicalmente de direita que o de Danilo, o ex-deputado poderia atrair o voto dos eleitores mais identificados com o PL e com o bolsonarismo. Por outro, poderia “roubar” (ou tomar de volta) eleitores que eram dele, na oposição a Edson Magalhães, mas que migraram para Rodrigo Borges a partir do momento em que ele, sem mandato e inelegível, saiu de cena.

Aliás, o sobrinho de Sérgio Borges era assessor parlamentar de Carlos Von, lotado em seu gabinete na Assembleia entre 2019 e 2020, como “assessor de gabinete externo” – cargo dispensado de dar expediente na sede do Legislativo Estadual. Em 2020, ele se elegeu vereador, enquanto Von perdeu de novo para prefeito.

Na Câmara Municipal, Rodrigo Borges passou a exercer mandato de oposição à gestão de Edson Magalhães e passou a se destacar por isso. Com a queda livre de Von, o vereador se tornou a principal voz de oposição ao grupo do prefeito em Guarapari. Agora, colhe os dividendos eleitorais por isso. Mas o grupo de Von acredita que, se ele voltar à cena em plena campanha eleitoral, como o candidato do PL, esse “fato novo” pode causar um abalo sísmico na eleição em Guarapari e embolar completamente um jogo que, hoje, parece muito dado para Zé Preto ou Borges.

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Para tanto, vale repetir, é preciso persuadir Magno, que se mantém irredutível – e com quem, diga-se de passagem, Von não tem nenhuma relação, diferentemente de Danilo.

Segundo interlocutores de Von, o ex-deputado pretende até encomendar do próprio bolso uma pesquisa eleitoral, testando um cenário com o nome dele no lugar de Danilo. Em posse do resultado, se este lhe for favorável, pretende bater à porta de Magno e apresentar os números ao comandante do PL no Espírito Santo. O “não” ele já tem, mas quer pedir a audiência com o senador para argumentar com ele – ou, quando nada, ouvir o “não” pessoalmente.

Outro argumento que pretende levar – mas para o qual Magno não parece estar disposto a dar ouvidos – é que, nos 10 maiores municípios do Espírito Santo, hoje, contando Guarapari, o PL não tem chance real de eleger ninguém. Uma troca na chapa em Guarapari poderia ao menos representar uma esperança.

A resposta de Magno e do PL

O “não” face a face Von não tem, mas já recebeu um publicamente, via redes sociais. Na manhã do último domingo (1º), o senador fez um vídeo, ao lado de Danilo, publicado pelo candidato em suas redes sociais.

Com dois saguizinhos saltitando sobre o telhado ao fundo, Magno reafirmou que Danilo não vai pular fora: é o seu candidato e o do PL. O post também incluiu uma mensagem gravada pela ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro, declarando apoio a Danilo para prefeito de Guarapari.

Contatado pela coluna, o senador Magno Malta emitiu a seguinte nota, por meio de sua assessoria de imprensa, reafirmando o posicionamento:

Como presidente estadual do PL-ES, informo que a chapa liderada pelo delegado Danilo Bahiense, composta por ele como candidato a prefeito e pelo pastor Daniel Almondes como candidato a vice-prefeito, permanece inalterada. Reafirmamos nosso compromisso com a formação original da chapa e com um processo eleitoral transparente e respeitoso.

Agradecemos pela compreensão e estamos à disposição para prestar mais esclarecimentos, se necessário.

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Alternativas para Von

Von não quer ser candidato a vereador. Se não se tornar o candidato a prefeito do PL até 16 de setembro, restará a ele a opção de apoiar algum outro candidato: ele pode transferir o seu apoio eleitoral a Zé Preto ou a Rodrigo Borges. A questão é que ele não se dá com aquele, enquanto, com este, a relação está abalada. Mas um acordo acima das diferenças pode até surgir, quem sabe…

Von não quer voltar a disputar mandato na Assembleia em 2026. Sua experiência única no Legislativo não lhe deixou boas lembranças. O que o satisfaria mesmo, para voltar à vida pública e à cena política em Guarapari, seria assumir uma secretaria municipal. Numa eleição de turno único, se a disputa seguir muito acirrada até o fim entre Zé Preto e Rodrigo Borges, qualquer apoio de última hora, inclusive o de Von, pode ajudar a definir a parada para um lado ou para o outro.

Então um último ativo ele tem, para negociar com os dois lados.


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