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Coluna Vitor Vogas

O tudo ou nada de Magno Malta e seu “proibidão” nas eleições no ES

Index partidário: senador proíbe PL de se coligar com todos os maiores partidos no ES, considerando “de esquerda” agremiações que de esquerda nada têm

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Magno Malta é o presidente do PL no ES. Foto: Divulgação

Criado em 1557, após o Concílio de Trento, como um marco da Santa Inquisição, o Index da Igreja Católica Romana perdurou até 1966, quando foi extinto pelo Vaticano. Renovado de tempos em tempos no decorrer de quatro séculos, consistia na lista de livros cuja leitura a Santa Sé proibia por considerá-la nefasta e perigosa à fé e à moral cristã.

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Em 1957, precisamente quatro séculos depois do primeiro Index Librorum Prohibitorum, nasceu Magno Pereira Malta, hoje senador pelo Espírito Santo, pastor evangélico, presidente estadual do Partido Liberal (PL) e responsável por conduzir as articulações e estratégias visando ao crescimento da sigla de Jair Bolsonaro em domínios capixabas nestas eleições municipais.

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Na última quinta-feira (8), Magno editou o seu próprio Index, não de livros proibidos, mas de alianças partidárias proibidas. Foi seu Index Partidorum Prohibitorum.

Em ofício assinado digitalmente por ele nessa data e enviado aos representantes dos diretórios municipais do PL em todo o Espírito Santo, Magno proibiu os dirigentes locais de estabelecerem alianças com uma extensa lista de partidos, conforme explicitam suas palavras no referido documento:

“Fica vedada a participação do Partido Liberal (PL), em coligações para as eleições majoritárias, com a Federação Brasil da Esperança (PT, PCdoB e PV), Federação PSol-Rede; PSB, PP, Republicanos, União Brasil, PSD, PRD, Podemos e demais agremiações partidárias de espectro político à esquerda em todo o território estadual nas Eleições de 2024”.

Ainda nos termos do ofício, a Executiva Estadual do PL, presidida por Magno, poderá, a qualquer tempo, intervir ou dissolver Comissões Executivas Municipais, revogar resoluções, cancelar candidaturas e anular convenções municipais “que contrariem as diretrizes”.

O teor da circular não deixa dúvidas e nos leva a duas conclusões que merecem ser bem sublinhadas.

> Entrevista: Magno Malta revela seus planos de crescimento para o PL no ES

Para Magno, quem não é PL é esquerda

A primeira é que, definitivamente, esse Tomás de Torquemalta possui um entendimento singular, uma compreensão peculiar, uma concepção única e incrivelmente abrangente sobre o que são “partidos de esquerda”. Nessa categoria, a julgar pela definição de Magno, cabem basicamente todos os partidos políticos relevantes do país que não sejam o PL.

Dizendo-se o mesmo ao contrário, o PL seria o único partido verdadeiramente de direita do Brasil. Os demais se misturariam na “vala comum” da esquerda.

Ora, que a Federação Brasil da Esperança é de esquerda, ninguém tem a mínima dúvida. O mesmo vale para a Federação PSol-Rede e para o PSB. Os próprios partidos assim se definem.

Mas, conforme a lista de Magno avança, seus integrantes causam surpresa e até espanto por sua inclusão no rol das “agremiações de esquerda”. O PP é um partido de esquerda? O Republicanos, um partido de esquerda?!? O União Brasil idem?!? Essas forças políticas estão na mesma prateleira de um PT, de um PCdoB? “O que é isso, companheiro Magno?”, poderia perguntar um autêntico militante de esquerda.

Bem, os próprios partidos se intitulam de direita. Quaisquer dirigentes dessas siglas lhe dirão o mesmo, sem titubear, incluindo os respectivos líderes no Espírito Santo. O presidente estadual do PP, Josias da Vitória, declara-se um político de direita, e assim também ao seu partido. O mesmo se aplica ao presidente estadual do União, Felipe Rigoni, e ao do Republicanos, Erick Musso.

Também o colunista não tem dúvidas em classificar tais agremiações como partidos de direita, a partir da simples análise da sua história, do seu programa e do posicionamento das legendas e respectivos líderes. Da Vitória e Evair “de esquerda”? Rigoni um “esquerdista”? Erick Musso e Pazolini idem? Simplesmente não faz sentido.

O União nasceu do PSL (partido pelo qual Bolsonaro chegou à Presidência) e do DEM, antigo PFL, descendente direto do PDS, nascido, por sua vez, da Arena. Se resgatarmos, portanto, toda a genealogia do União, veremos que ele deita raízes no partido que dava sustentação à ditadura civil-militar da qual Bolsonaro é um produto político.

O PP não só teve centralidade no alto escalão do governo Bolsonaro – o chefe da Casa Civil era ninguém menos que Ciro Nogueira, presidente nacional do partido – como foi, ao lado do PL, um dos três partidos que compôs a coligação com a qual Bolsonaro tentou se manter na Presidência em 2022.

O terceiro foi o Republicanos, partido profundamente ligado a igrejas evangélicas – sobretudo a Universal do Reino de Deus – e que se proclama o mais conservador do Brasil.

Podemos, PSD e PRD (fruto da fusão do PTB com o Patriota) também não são partidos de esquerda.

Por todo o exposto, qualquer análise fria não deixa dúvidas de que, ideologicamente, tais partidos estão muito mais próximos do PL do que dos domínios da esquerda. Estão no mesmo território do PL, do mesmo lado da fronteira no mapa ideológico brasileiro.

Magno discorda.

Isolamento não é consequência. É estratégia deliberada

A segunda conclusão é que Magno está pessoalmente determinado a manter o PL isolado nas disputas municipais. Por óbvio, a resolução do senador limita sobremaneira as possibilidades de alianças eleitorais e coligações. Tirando a Federação PSDB/Cidadania e o PDT (estranhamente deixadas de fora), a resolução exclui todos os partidos que de fato têm alguma relevância, hoje, no cenário político estadual.

Isso está se traduzindo na prática. O PL, como já registrado aqui, é com folga o partido que mais terá candidatos próprios a prefeituras de municípios capixabas. O número passará de 50 em um total de 78 municípios.

Por outro lado, em grande parte desses palanques, o candidato do PL virá sozinho, sem partidos aliados… Se tomarmos como recorte os maiores municípios da Grande Vitória e as cidades polo do interior, poderemos atestar que, em quase todos eles, o PL virá com chapas puro-sangue (candidato a prefeito e a vice-prefeito filiados à sigla) e, no máximo, com o apoio de partidos nanicos, como o PRTB e o Agir.

Mas o que o ofício de Magno evidencia é que ele não está nem um pouco preocupado com esse isolamento. Aliás, não é nem que ele não esteja preocupado; na verdade, ele está buscando isso.

O isolamento do PL, neste caso, conforme se deduz do ofício, não é consequência de uma estratégia. É a própria estratégia. É uma determinação.

É um autoisolamento, consciente, deliberado e ditado pela mente de Magno.

> Erick Musso rebate Magno: “Não fui eu que pedi votos para Lula e Dilma”

Por que o senador está fazendo isso?

Por uma parte, a julgar pela entrevista concedida por ele aqui, o senador parece mesmo convencido no taco do PL e na força de Bolsonaro. Acredita sinceramente que o PL tenha condições de, mesmo sem parceiros, levar seus candidatos à prefeitura de um bom número de municípios. Acredita que a transferência direta de votos de Bolsonaro para seus candidatos a prefeito será suficiente para elegê-los nas respectivas cidades. O desafio, no caso, é convencer o eleitor que votou em Bolsonaro em 2022 a votar somente em candidatos do PL agora.

Por outra parte, com fortes traços de mistura de política com religião (como se o partido tivesse se tornado uma seita política), Magno parece imbuído de uma crença quase religiosa de que é preciso “depurar” a política nacional, começando por depurar a direita. A palavra (que se aproxima da “purificação de hereges”, buscada pela Santa Inquisição) foi usada pelo próprio senador na já citada entrevista a este espaço.

Em sua tradução prática, “depurar” significa eleger o maior número de candidatos a prefeito e vereador do PL no país e no Espírito Santo nestas eleições municipais, a fim de potencializar as chances de o partido colher ainda melhores resultados nas eleições gerais para deputados, senadores, governadores e presidente da República em 2026.

Para tanto, não serve eleger candidatos do União, do PP, do Republicanos… Magno os condena como “direita relativa” – e pior, como agora claro está, como “partidos de esquerda”. Condena-os por terem cavado espaços no governo Lula, porque seus principais representantes no Espírito Santo (como Pazolini) não defenderam a reeleição de Bolsonaro em 2022 e porque alguns deles estão no governo Casagrande (PP e União Brasil têm lugar no secretariado; seus respectivos presidentes, Da Vitória e Rigoni, ele mesmo secretário de Estado, são aliados do governador).

> O exército de candidatos de Magno Malta nas eleições municipais no ES

Estratégia de Magno é suicida

As iniciais de Magno, MM, se postas de cabeça para baixo, viram WW, sigla de win or wall: traduzindo do inglês, “vitória ou muro”. É uma expressão usada por fãs de automobilismo para definir aquele piloto que costuma arriscar tudo na pista: ou consegue a vitória, ou acaba batendo no muro e abandonando a corrida.

É uma boa definição para a estratégia arriscada, para não dizer suicida, com que Magno está “conduzindo” o PL nas eleições municipais. Se der certo, ok, o PL fará um bom número de prefeitos e crescerá (algo que não será difícil, pois o partido hoje só tem o prefeito de São Gabriel da Palha).

Se der errado, o PL pode se estilhaçar no muro e adquirir, no Espírito Santo, um tamanho desproporcional, muito abaixo daquele que possui em nível nacional.

Condenando o partido ao “isolamento voluntário” em todas as cidades, Magno está indo para o tudo ou nada.

A questão é que o risco de fracasso da estratégia não é pequeno. Um conjunto de sinais fáticos indica ser grande o risco de a estratégia dar errado. Hoje, se considerados os dez maiores municípios capixabas, em nenhum deles o candidato do PL pode ser considerado favorito. Ao contrário, em todos eles, com base nos elementos que temos hoje, eventual vitória do candidato do PL em outubro será uma grande surpresa.

Diante de tais projeções, a estratégia de Magno tem gerado não apenas críticas externas de potenciais aliados frustrados. Quem melhor externou isso foi o presidente estadual do Republicanos. Em entrevista à coluna, Erick Musso afirmou que Magno está perseguindo uma utopia que só existe na cabeça dele, movido por um “projeto pessoal” de poder, alimentado por “egoísmo” e “egocentrismo”.

Mas, também internamente, a estratégia de Magno tem gerado críticas veladas e preocupação real. Sob anonimato, fontes do PL manifestam a preocupação de que, intencionalmente ou não, o senador esteja sabotando o próprio partido. Dizem que Magno não está preocupado de verdade com o crescimento do PL e que sua única real preocupação seria eleger suas duas filhas deputadas em 2026.

As declarações do próprio Magno não confirmam isso. O mantra repetido por ele é o de que “2026 passa por 2024”, daí a importância de o PL eleger o maior número de prefeitos e vereadores no Espírito Santo agora.

Quanto aos vereadores – eleição que não permite coligações –, acredito que o PL poderá fazer uma grande quantidade no Estado.

Quanto aos prefeitos, sem coligações, será muito difícil. Hoje, está mais para wall que para win.

A nota oficial de Magno: “Não deveria causar surpresa”

Sobre o ofício de que trata esta coluna, Magno Malta se manifestou por meio da seguinte nota:

Como presidente do Partido Liberal (PL) no Espírito Santo, gostaria de esclarecer alguns pontos importantes sobre a condução das diretrizes do nosso partido. Desde o ano passado, tenho sido enfático ao afirmar que não faremos alianças com partidos de esquerda, nem com aqueles que, embora se identifiquem como de direita, possuam vínculos que possam comprometer nossa identidade e nossos princípios. Essa posição tem sido consistentemente comunicada ao mercado político, à imprensa e à opinião pública capixaba, e, por isso, não deveria causar surpresa a ninguém. Recentemente, houve um ofício enviado aos diretórios municipais pelo vice-presidente estadual, Carlos Salvador, que apenas reforça uma posição sempre defendida pelo PL-ES. Portanto, reafirmo que não houve alteração na conduta do partido.


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