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Coluna Vitor Vogas

Cris Samorini: “Meu nome está à disposição para ser vice de Pazolini”

Tratando o tema com a máxima cautela, presidente da Findes confirma a possibilidade a partir de sua entrada no PP. “Nunca fui figura representativa”

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A presidente da Findes, Cris Samorini. Foto: Divulgação (Findes)

Confirmando um passo previsto aqui em abril de 2023, a presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Cristhine Samorini, filiou-se nesta quinta-feira (4) a um partido político, iniciando assim a transição do mundo corporativo para o universo político.

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A agremiação escolhida por ela foi o Progressistas (PP), sigla comandada no Espírito Santo, há um ano, pelo deputado federal Josias da Vitória. Na eleição à Prefeitura de Vitória, o PP apoia a reeleição do prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) e tem a preferência na indicação do seu companheiro (ou companheira) de chapa. Falando a esta coluna logo após a assinatura da ficha, Cris Samorini, como é mais conhecida, confirmou: “Meu nome está à disposição”.

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Em caso de vitória eleitoral, o/a vice-prefeito/a eleito/a com Pazolini em outubro pode até assumir o comando da Prefeitura de Vitória já em abril de 2026, se ele decidir renunciar para disputar o Governo do Estado nas eleições daquele ano.

Empresária do setor gráfico, Cris seguirá na presidência da Findes até o próximo dia 29 de julho, quando passará o bastão para seu sucessor, Paulo Baraona, candidato único ao cargo, a ser eleito no fim deste mês com o apoio da atual presidente. Após encerrar seu mandato na entidade empresarial, ela estará livre para se concentrar nas tratativas sobre o processo eleitoral. E garante: ser candidata a vice-prefeita na chapa de Pazolini está, sim, no seu horizonte de possibilidades. Não foi, segundo Cris, condição para ela entrar no PP. Mas é o único papel que ela se vê cumprindo nesse pleito municipal. A presidente da Findes afirma que não será candidata a prefeita e “está fora de questão” postular uma vaga de vereadora (o que foge totalmente ao seu perfil):

“É uma relação que deixo agora nas mãos do partido, pedindo obviamente que tudo aconteça no tempo que tem de acontecer. O papel é deles neste momento. A formatação de uma possível vaga como essa [de candidata a vice-prefeita] é muito importante, e entendo que tem outros nomes para essa construção. Então não foi condição sine qua non nem para mim nem para eles [dirigentes do PP]. A tomada de decisão não é minha, não é assim que funciona o jogo. Agora, se o partido achar que tem essa combinação e que tenho o nome tecnicamente mais adequado, ok, estou disposta a seguir adiante com essa conversa. Para mim esse passo é muito relevante, e quero tratar tudo com muita cautela”, afirma a mais nova player política da praça.

De fato, há outros quadros no PP em condições de ocupar a posição de vice de Pazolini. Um deles é o presidente da Câmara de Vitória, Leandro Piquet, filiado ao partido no último dia 24 e também tratado internamente como opção para o posto-chave. Mas, na avaliação do colunista, a líder empresarial, no ato mesmo de filiação, desponta como favorita à vaga (leia abaixo por quê).

Assertiva, a própria Cris nos dá uma pista nesse sentido:

“Não sei fazer algo que vou lá só para ser figura representativa, senão tô fora. Nunca trabalhei assim. E há sinais fortes no partido que vão para essa direção.”

Em outras palavras, Cristhine Samorini não dá agora esse decisivo passo em direção à porta de entrada para a vida pública para ser “mais um quadro partidário”, muito menos para ser tão somente uma “figura decorativa”. Se não fosse para pleitear e, na hora certa, preencher o lugar ao lado de Pazolini na chapa Republicanos/PP, ela nem se daria ao trabalho de passar a sua maquiagem e sair de casa hoje para assinar a ficha de filiação na sede do PP-ES, no Palácio do Café. Teria ido direto para a sede da Findes, na Reta da Penha.

Cautelosa, porém, a empresária afirma que só deu esse passo agora por imposição legal, isto é, porque assim exige o calendário eleitoral. Para se habilitar a participar do processo eleitoral, ela teria de se filiar até sábado (6) ao partido pelo qual vai disputar. Mas, se dependesse dela, a atitude só seria tomada mais à frente, após ela entregar a presidência da Findes para seu sucessor, no dia 29 de julho. Nesse caso, ela só se filiaria entre 30 de julho e 5 de agosto, último dia para a realização das convenções partidárias.

Como isso não é possível, Cris assinou agora a ficha – mas nem deu publicidade ao ato. Cumprida a exigência, ela volta a se recolher e se dedicar exclusivamente aos assuntos da Findes, até o fim de julho, para não misturar as frequências nem cair em conflitos de interesse.

“Obviamente esse assunto está rolando, principalmente por esse momento de janela para filiações partidárias. Coloco meu nome à disposição do partido, que tem um caminho a seguir. Só fiz o ato agora porque é necessário por lei, mas as escolhas têm de ser feitas no momento certo. Agora, então, me recolho. Não estou com nenhuma pressa. Acho que, obviamente, qualquer ato gera consequências mais adiante. Mas estou muito segura do meu papel, e o respeito à instituição tem prioridade na minha vida, principalmente porque estou na minha porta de saída”, afirma ela.

Além de presidente da Findes até 29 de julho, Cris é diretora financeira da Confederação Nacional da Indústria (CNI), com mandato até 2027. O que fazer nesse caso? “Precisarei tiram um licenciamento, se vier a ter necessidade de participar de algum pleito eleitoral”, responde ela.

O que a motivou a consumar essa travessia?

Ao dar esse decisivo passo, Cristhine Samorini faz um movimento jamais efetivamente consumado por outros que chegaram a ocupar o mesmo lugar antes dela.

Para ficar em um conhecido exemplo, seu antecessor na presidência da Findes e grande parceiro político na federação, Léo de Castro, foi incentivado incontáveis vezes para ingressar na política e disputar mandatos eletivos. O empresário foi estimulado inclusive pelo pai, o falecido senador Sérgio Rogério de Castro, e pelo então governador Paulo Hartung. Léo nunca chegou, no entanto, a completar essa travessia – mesmo filiado ao PSDB.

Cris explica por que ela, por sua vez, resolveu concretizar a transição:

“Ao longo destes últimos quatro anos, escuto muito ‘Vocês [empresários] deveriam participar mais da política, poderiam contribuir muito mais’. E eu até então respondia: ‘Não, me deixem aqui desse lado, porque aqui posso ajudar mais, posso empurrar mais os temas’… Mas tem uma hora em que não dá para empurrar mais, você tem que ser o realizador. Percebi que na política, quando você a utiliza como instrumento de transformação, escolhendo corretamente o lado, você consegue gerar resultado”, desenvolve ela.

Segundo a representante do setor produtivo capixaba, chegou a hora de ela passar a atuar “do outro lado” da mesa:

“Muitas questões que tratei nos últimos anos passaram por uma combinação importante entre o público e o privado. Do lado de cá, eu já consigo alcançar um nível de conhecimento interessante. Agora, só posso fazer algo a mais do lado de lá [no setor público]”.

E por que o PP?

Além da óbvia questão prática, não realçada por ela – é o partido que vai indicar o/a vice de Pazolini –, Cris afirma ter enxergado boa sintonia entre suas convicções pessoais, a agenda e a forma de atuação do partido em nível nacional e estadual:

“Decidi dar esse passo me filiando especificamente ao PP porque percebi uma predisposição muito forte com coisas em que acredito muito: dar espaço para a atuação [dos filiados] para fazer algo que gere resultados. O partido trata muito seriamente a importância do desenvolvimento econômico através dos setores empresariais, e isso acabou me aproximando. Você pega um empresário saindo de uma vertente para a outra, você no mínimo tem de ter a mesma lógica de atuação. Uma conversa recente minha com o Da Vitória reforçou isso. Vejo como o partido em nível nacional tem se portado em relação aos temas em pauta. Então [o PP] é o local em que posso atuar no espaço em que atuo hoje, podendo fazer proposições, senão não faz sentido algum para mim”, finalizou a possível candidata a vice de Pazolini.

Análise: virtual favorita para a vaga

Na avaliação deste colunista, ao decidir entrar no PP – o partido que tem a prioridade na indicação do vice do atual prefeito –, no limite do prazo para filiação de pré-candidatos a qualquer cargo no pleito de outubro, Cris Samorini torna-se automaticamente a favorita para preencher a posição estratégica ao lado de Lorenzo Pazolini. Isso não por uma questão de votos, mas por uma questão de imagem, ou melhor, complementação de imagem, fator que costuma ser preponderante na escolha de companheiros de chapa em disputas majoritárias.

Ora, Pazolini é um homem branco de meia idade, conservador, criado em Jardim da Penha, delegado da Polícia Civil do Espírito Santo. Piquet é um homem branco de meia idade, conservador, radicado na Praia do Canto, delegado da Polícia Civil do Espírito Santo. O Republicanos por acaso entrará nessa disputa com uma chapa formada por dois delegados com perfil tão parecido?!? Não parece ter lá muita lógica.

A presidente da Findes, por sua vez, além da evidente complementação pelo fato de ser mulher (aportando à chapa mais “leveza” e equidade de gênero), vem do meio empresarial e é uma voz conhecida, reconhecida e respeitada nesse meio. Ao lado de uma chapa mais “equilibrada”, ela pode ajudar Pazolini a estabelecer, durante a campanha, uma melhor relação com o setor empresarial, servindo de elo político entre ele e empreendedores que eventualmente não se sintam tão entusiasmados com a ideia de reeleição do atual prefeito.

Como não é segredo para ninguém, tudo o que empresários buscam é previsibilidade e estabilidade política, econômica e institucional no local onde desenvolvem os seus empreendimentos.

Como também não é segredo para ninguém, alguns grandes empresários locais ficaram muito preocupados com a imagem de “imprevisibilidade” transmitida por Pazolini, sobretudo ao longo de 2022, devido a conflitos políticos mantidos com o governo Casagrande – notadamente no episódio em que, sem citar o governador pelo nome, o prefeito insinuou, durante discurso público, que o chefe do Executivo Estadual teria lhe feito uma proposta indecorosa dentro do Palácio Anchieta, relacionada a supostas fraudes licitatórias.

À época, Casagrande reagiu com veemência: “Ele precisa entender que é o prefeito de Vitória”.

A própria Cris Samorini entrou em campo oferecendo-se como ponte entre Pazolini e a cúpula do governo Casagrande, procurando restabelecer uma mínima relação de diálogo institucional para o bem dos empresários e moradores da cidade.

Foto publicada por Pazolini no Instagram no dia 02/02/2023: da esquerda para a direita, Cris Samorini, Davi Diniz e o prefeito

Desnecessário dizer que a presença da “Senhora Findes” ao seu lado na chapa e no palanque reforçará o vínculo e o compromisso de Pazolini com a pauta liberal e empresarial, da austeridade fiscal, do crescimento econômico, da facilitação dos negócios etc.

Em suma, Cris Samorini talvez não agregue um só voto para Pazolini. Mas sua contribuição pode se dar em outra dimensão, muito mais relacionada a discurso e, sobretudo, imagem.


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