Coluna Vitor Vogas
Presidente da Findes pode entrar na política em 2026 ou já em 2024
Ganhando protagonismo e visibilidade, Cris Samorini tem sido estimulada por colegas a disputar eleições. Está avaliando seriamente a ideia e tomando gosto por ela
A presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Cristhine Samorini, está começando a tomar gosto pela ideia de entrar para a política, candidatando-se a um mandato eletivo – em 2026, ou talvez na primeira oportunidade, já na eleição municipal do ano que vem. Não estou dizendo que ela necessariamente completará essa transição para a vida pública, mas que não será nenhum absurdo se seu nome estiver nas urnas daqui a pouco tempo no Espírito Santo.
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Ganhando (e de certa forma buscando) enorme visibilidade nos últimos tempos, Cris passou a cogitar seriamente realizar essa travessia – ensaiada, mas jamais completada, por outros antes dela, como seu antecessor na presidência da Findes, Léo de Castro. Mais que flertar pessoalmente com a ideia, a empresária do segmento gráfico está sendo muito estimulada por conselheiros e colegas próximos no meio empresarial capixaba, que enxergam nela potencial para que o movimento das federações enfim consiga emplacar um dos seus em um cargo com o poder de tomar decisões políticas que influem diretamente na economia e, portanto, nos interesses do setor.
Ouvi as informações acima justamente de dois desses incentivadores. Segundo um deles, a reflexão já evoluiu do estágio embrionário. Não está mais no campo da mera conjectura. Em círculos muito restritos, a presidente da Findes realmente já avalia cenários eleitorais e já se consulta com terceiros sobre a possibilidade de ingressar no mundo político e sobre os melhores caminhos para dar esse tão ousado passo. Como no filme “A Origem” (“Inception”), de Christopher Nolan, a ideia já foi inseminada em sua mente e agora só precisa amadurecer.
“Há uma percepção de que o setor industrial precisa ser melhor representado e há um estímulo efetivo para que as lideranças do setor tenham disposição para avançar na agenda da política. Neste momento específico, o estímulo é para a Cris”, confirma um interlocutor da presidente da Findes, para quem esta, além de vocação, tem vontade de entrar no meio político.
Filiação
Objetivamente, se Cris quiser mesmo dar esse passo definitivo (para muitos empresários, sem volta), precisará filiar-se a uma sigla política.
Hoje, as apostas maiores recaem sobre o Republicanos, partido com o qual ela teria desenvolvido proximidade na pessoa do atual presidente estadual da legenda, Erick Musso. Em janeiro, Erick chegou a ser cotado para assumir uma diretoria de relações institucionais na Findes após encerrar o mandato de deputado estadual e deixar a presidência da Assembleia Legislativa.
Os dois negaram que tenha sequer havido esse convite. Mas a afinidade política existe por parte de Cris com Erick e, de igual modo, com o predecessor deste na presidência estadual do Republicanos, Roberto Carneiro, agora dirigente máximo da sigla no estado de São Paulo.
Prefeitura de Vitória em 2024
Passando à pergunta seguinte – afinal, qual seria a eleição dela? –, são duas as respostas que surgem em minhas apurações.
A primeira e mais imediata é que Cris poderia estar se preparando, e sendo preparada pela direção do Republicanos, para assumir uma candidatura majoritária já na próxima eleição à Prefeitura de Vitória.
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Nesse caso, o raciocínio mais prudente indica que ela pode estar sendo lapidada para completar uma chapa puro-sangue ao lado do prefeito Lorenzo Pazolini – até pela falta de base social que por certo ainda pesa contra ela e contra eventuais projetos eleitorais mais pretensiosos da sua parte neste momento. Seria, assim, uma grande aposta do partido como companheira de chapa ideal para o atual prefeito. “Talvez não puxar o voto, mas ir a reboque do voto como vice-prefeita, é algo que ela deve avaliar”, opina um conselheiro de Cris.
Os mais ousados, porém, já arriscam que o plano na verdade seria preparar Cris para ser A candidata ao Poder Executivo de Vitória, titular da chapa no lugar de Pazolini. Isso, é claro, em caso de colapso total da pré-candidatura do prefeito à reeleição, aliás não confirmada por ele a esta altura, ou caso ele decida tentar, sim, renovar o mandato, mas por outra legenda que não o Republicanos.
A ideia de ver Cris completar uma chapa liderada por Pazolini, ou até substituí-lo na cabeça da chapa, não desagrada a uma parte do empresariado capixaba, que passou a enxergar o atual prefeito com desconfiança, atribuindo-lhe a pecha de “instável”, “oscilante” e “imprevisível” após os arroubos públicos do ano passado – e se tem uma coisa de que empresários não gostam é insegurança e imprevisibilidade.
“Cris pode ser um vetor de equilíbrio para ele. Transmite mais segurança para o setor que ela representa… Mas talvez não como cabeça de chapa, porque não tem densidade ainda”, pondera um aliado dela.
Seja como for, Roberto Carneiro e Erick podem estar deixando Cris no aquecimento, para entrar em campo se necessário e em posição a definir. Certo mesmo neste caso seria o timing: para não perdê-lo, ela precisa estar pronta para jogar já no próximo ano, aproveitando a altíssima visibilidade proporcionada pela presidência da Findes.
Senado 2026
Há também quem aposte que a eleição de Cris na verdade é a seguinte, em 2026. Nessa hipótese, ela pode concorrer a deputada federal ou até a senadora (haverá duas vagas em disputa).
Desde a não reeleição de Ricardo Ferraço (PSDB) em 2018, o empresariado capixaba padece de um vazio de representação específica na bancada capixaba em Brasília, principalmente no Senado.
Quando paramos para analisar o perfil dos nossos três atuais senadores – Contarato (PT), Do Val (Podemos) e Magno (PL) –, nenhum deles tem escrito na testa “economia”, “desenvolvimento econômico do ES”, muito menos “indústria”. O deserto de parlamentares com esse perfil poderia estimular a atual presidente da Findes a buscar preencher esse vácuo.
Aliás, o setor empresarial capixaba, especialmente o industrial, sente-se órfão de representação não só no Senado como também em outros fóruns políticos importantes nos três níveis do pacto federativo. E essa é uma constatação que transcende o Espírito Santo.
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Quando se mapeia, por exemplo, os 594 membros do Congresso Nacional, identifica-se, obviamente, uma bancada muito forte de representantes do agronegócio, um grande número de representantes do setor de serviços… “E da indústria você tem uma escassez. Hoje não temos uma ‘bancada da indústria’, que é a raiz do desenvolvimento econômico”, constata um industrial capixaba.
Prorrogação do mandato
Uma atitude lida por muitos como indicativo do flerte de Cris Samorini com a ideia de entrar na política é que a presidente da Findes pediu (e obteve) do Conselho de Administração a prorrogação por mais um ano do mandato à frente da federação, avalizada em janeiro pelos 32 sindicatos ligados à entidade.
Empossada em 30 de julho de 2020, ela a princípio ficaria até o fim de julho deste ano. O mandato do/a presidente da Findes é trienal, sem possibilidade de reeleição – vedada na gestão anterior, de Léo de Castro. Agora, com a prorrogação do mandato, Cris ficará no cargo até julho de 2024, mês que, muito emblematicamente, coincidirá com o início da próxima campanha municipal.
Se Cris quiser mesmo ser candidata já nessa eleição, pode até se licenciar ou renunciar à presidência da Findes antes disso, dando lugar a seu vice, Paulo Baraona – e alguns defendem mesmo que o faça, para não permitir confusão entre o que é pauta da instituição e o que é projeto político, partidário e eleitoral. Mas é fato que, por mais alguns bons meses, ela seguirá podendo desfrutar e capitalizar a projeção conferida pelo cargo institucional.
E bota projeção nisso…
Alta visibilidade
Na verdade, a visibilidade alcançada por Cris como presidente da Findes já está chamando muito a atenção a esta altura – e gerando certa ciumeira, pelo que pude apurar, entre integrantes de outras federações, que se ressentem de uma suposta invasão de suas pautas.
Neste caso, fazendo justiça à presidente, estamos diante daquela clássica situação em que não se sabe bem o que é causa e o que é consequência. Por um lado, o simples exercício do cargo de presidente da Findes já confere naturalmente a seu/sua ocupante muita visibilidade, o que chama a atenção dos dirigentes partidários e do mercado político em geral; por outro, Cris pode estar buscando maximizar essa “visibilidade natural” justamente a fim se se credenciar para entrar na política.
Uma coisa não invalida a outra.
O/a presidente da Findes é naturalmente cobrado/a marcar posição, em nome da federação, de maneira firme, crítica e contundente, sobre tudo o que diz respeito à agenda da classe industrial capixaba e do meio empresarial como um todo. É sempre chamado/a a se posicionar sobre tudo o que guarde relação com o desenvolvimento econômico nacional e estadual.
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Essa cobrança, convertida em autocobrança, foi implantada lá nos tempos de Lucas Izoton e hoje faz parte da cultura institucional da Findes. Foi assim com Izoton, com Marcos Guerra, com Léo de Castro…
Mas igualmente é fato que, com Cris no comando, essa “cultura” foi maximizada. Sob a presidência dela, a Findes tem aparecido muito mais na arena pública, e ela própria também, como representante da instituição. Isso vale tanto para a mídia tradicional como para as redes sociais da própria Findes.
Seja qual for o meio, Cris tem se mostrado praticamente onipresente, ou se feito presente de uma maneira “massacrante”, na definição de um empresário com longa vivência no universo das federações. O adjetivo também é usado pela mesma fonte para se referir ao volume de postagens realizadas diariamente pela equipe de comunicação geral da Findes, por sinal turbinadíssima.
Só no time de comunicação institucional, há quatro funcionários; mas, contando toda a Gerência de Comunicação e Marketing da Findes, esse número passa de 20, entre jornalistas, analistas, publicitários, especialistas em redes sociais e outros profissionais, que atendem também o Sesi, o Senai, o IEL, o Cindes e o Observatório da Indústria.
A produção industrial capixaba subiu? Ela está lá, dando sua opinião. A produção industrial caiu? Ela está lá, marcando posição. O governo Lula apresentou seu arcabouço fiscal? Ela está lá, firmando posicionamento. A reforma tributária está empacada? Ela está lá, defendendo sua visão. O Espírito Santo precisa retomar o crescimento econômico? Ela está lá, mostrando os “caminhos” para isso. Dia Internacional da Mulher? Ela está lá, como exemplo de mulher bem-sucedida e lutadora em um universo predominantemente masculino.
A relação política entre o prefeito de Vitória e o governador do Estado foi pelos ares, e a destruição do canal está afetando a agenda dos empresários? Lá está ela, literalmente colocando-se entre Pazolini e Casagrande e apresentando-se como candidata a mediadora do conflito, no intento de promover uma reaproximação…
Para completar, quando não há, ou pelo menos não havia, uma pauta para se comentar e debater, a Findes na gestão Samorini também tem se destacado pelo empenho em gerar as próprias pautas de modo a atrair a opinião pública e também provocar debates.
A Findes tem incubado uma profusão de projetos, sempre lançados com repercussão em eventos que a imprensa é convidada em peso a cobrir e a classe política, a prestigiar. Assim, além de respeito e prestígio, a federação tem conseguido permanente cobertura midiática, assim como a porta-voz da entidade.
“Tudo o que a Findes faz transforma-se em pauta e em evento, num palquinho, num auditório, num lançamento, num PowerPoint… Tudo ganha visibilidade na grande mídia e nas redes sociais. Isso é bastante perceptível. E tenho notado que ela passou a falar mais tanto nas redes sociais como na grande mídia, sempre que pode”, constata um veterano observador do mundo das federações.
Qualidades
Algo que pode ajudar Cris Samorini se decidir mesmo se arriscar no universo político é que ela é, em resumo, uma boa comunicadora. Além de vocação política e preparo para exercer um cargo público, fontes ouvidas por mim a definem como “uma pessoa com muita opinião, atitude, desembolada e falante”.
Nesse sentido, a “pupila” teria até superado o “mestre”, Léo de Castro, como a cara da Findes projetada para a sociedade, para além do suntuoso edifício-sede na Reta da Penha. “Como a porta-voz da Findes, Cris é melhor que Léo. É mais midiática, mais carismática, mais didática… enfim, melhor comunicadora”, avalia uma dessas fontes.
Errata
O número de profissionais da comunicação institucional da Findes foi informado com erro na publicação original deste texto. São quatro, e não mais de 20, como publicado inicialmente. Mais de vinte é o número de profissionais de toda a equipe de comunicação da federação. A informação foi corrigida no texto.
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