Coluna Vitor Vogas
Sinais fortes de reaproximação no ar entre Pazolini e Casagrande
Durante a posse dos deputados estaduais, prefeito convidou governador pessoalmente para prestigiar a entrega das chaves de Vitória para o Rei Momo. Pode ser a chave para reabertura do diálogo. Uma inesperada “mediadora de conflitos” está atuando fortemente nessa operação de paz. Saiba quem
Que ninguém espere ver os dois pulando carnaval juntos no mesmo bloco de uma hora para outra, mas o lança-perfume político está deixando no ar um cheiro de reaproximação no Espírito Santo.
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Durante a sessão de posse dos deputados estaduais na Assembleia Legislativa nesta quarta-feira (1º), dentro do plenário e diante de várias testemunhas, o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) convidou pessoalmente o governador Renato Casagrande (PSB) para participar do ato simbólico de entrega das chaves de Vitória para o Rei Momo, marco das festividades carnavalescas na cidade. O ato deve ocorrer no próximo dia 11, o sábado de desfile das escolas do Grupo Especial no Sambão do Povo.
A iniciativa partiu do próprio Pazolini. Ele estava convidando diversas autoridades posicionadas perto dele no plenário, incluindo o comandante da Marinha no Espírito Santo, Alexander Moreira dos Anjos. Quando Casagrande chegou perto, o prefeito fez questão de dirigir o convite ao governador.
Muito cordialmente, Casagrande agradeceu e respondeu que vai comparecer ao evento.
O gesto pode parecer pequeno. Em circunstâncias normais, seria quase insignificante. Poderia até passar despercebido de tão trivial. Mas ganha outro significado, bem maior, se colocado sob a moldura do relacionamento entre prefeito e governador.
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O desgaste dos desafetos políticos chegou ao ápice no ano passado, com as acusações de fraudes em licitações feitas por Pazolini contra Casagrande e arquivadas pela Procuradoria Geral da República.
Alguns podem dizer que o curto e informal diálogo no plenário não passou de uma conversa civilizada entre duas autoridades públicas. Mas, desde meados de 2021, nem isso eles estavam mantendo.
A coluna apurou que, por trás da eloquente iniciativa de Pazolini, existe mesmo muito mais. Um interlocutor do prefeito confirmou o desejo de Pazolini de restabelecer pontes com o Governo do Estado e voltar a manter uma boa e cordial relação institucional com o Palácio Anchieta e com o governador – algo dinamitado no ano passado.
Segundo o mesmo interlocutor, com trânsito livre na Prefeitura, Pazolini tem o entendimento de que é preciso mudar de padrão o relacionamento com o Governo do Estado.
A vontade também existe do outro lado.
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Tomando um exemplo concreto, há muito tempo o prefeito simplesmente não comparece a nenhum evento oficial realizado pelo Governo do Estado em Vitória. Em regra, a prefeitura é representada pela vice-prefeita, Capitã Estéfane (Patriota), aliada do governador.
Nas próximas semanas, carnaval à parte, é possível que isso comece a mudar e que Pazolini comece a comparecer a alguns desses eventos como representante institucional da Capital.
Cris Samorini, a mediadora
Nos últimos tempos, uma inesperada “mediadora de conflitos” tem atuado sem aparecer numa intensa operação de bastidores para ajudar a promover essa reaproximação institucional entre prefeito e governador: a presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Cris Samorini, assumiu para si esse papel.
Na manhã de ontem, ela teve reunião com Pazolini na sede da Prefeitura de Vitória, para tratar de assunto de interesse da federação. Ao fim da reunião, os dois seguiram juntos, no mesmo carro, com destino à Assembleia, para a posse dos deputados.
Engajada na missão de paz, Cris comentou com Pazolini, durante o trajeto, sobre a importância de se restabelecer um diálogo institucional entre prefeitura e governo para tratar de pautas de interesse dos empreendedores cujas soluções dependem de esforços combinados dessas duas esferas governamentais – por exemplo, na construção civil. Hoje, esse diálogo está fechado, em prejuízo da agenda do setor produtivo.
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Ou seja, o problema é real: o péssimo relacionamento pessoal e político criado entre prefeito e governador está mesmo impedindo que pautas importantes evoluam.
Pazolini mostrou receptividade às ponderações.
Em suma, existe hoje uma boa vontade que não se via até poucos meses atrás no sentido de se reabrir canais de diálogo.
Ainda nesta quarta-feira, em mais um gesto significativo, o próprio Pazolini publicou em seu Instagram a foto abaixo, ao lado de Cris Samorini e do chefe da Casa Civil no governo Casagrande, Davi Diniz. Este é ninguém menos que o principal articulador político do Palácio Anchieta.
Durante a sessão de posse, Cris e Pazolini ficaram lado a lado na mesa de autoridades, no plenário da Assembleia.
O papel de Leandro Piquet
Outro sinal de incipiente reaproximação, este indireto, vem da Câmara de Vitória, agora sob nova direção. Eleito no início do ano para a presidência da Casa – no lugar de Armandinho Fontoura (Podemos), preso desde 15 de dezembro –, o vereador Leandro Piquet é aliado de Pazolini, delegado de polícia como ele, correligionário do prefeito no Republicanos e já foi seu líder em plenário.
No mês de janeiro, Piquet recebeu em seu gabinete dois secretários do governo Casagrande: o de Justiça, André Garcia, no dia 12, e o de Segurança Pública, Alexandre Ramalho (Podemos), no dia seguinte. O presidente postou fotos dos encontros em seu Instagram, destacando possíveis parcerias entre a Câmara de Vitória e essas secretarias.
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Secretário estadual de Segurança de 2013 a 2018, Garcia já foi superior hierárquico de Piquet, que é delegado da ativa na Polícia Civil do Espírito Santo.
Agora no posto estratégico de presidente do Legislativo municipal, o aliado de Pazolini também pode servir de elo entre o prefeito e o governo Casagrande, dentro do qual mantém boas relações.
Ele mesmo, em conversa com a coluna, apresenta-se como um construtor de pontes. E se diz, sim, disposto a contribuir pessoalmente para essa reaproximação: “Olha, é um grande desafio, e estamos dispostos e à disposição para qualquer construção desse tipo”.
Se o próprio prefeito está no mesmo movimento de construção de pontes? Piquet responde assim: “Isso é uma coisa que só o prefeito Pazolini pode responder. Não tenho conhecimento das movimentações políticas dele. A prefeitura segue independente, assim como a Câmara. O que queremos de todas as partes, tenho certeza, é a harmonia entre os Poderes”.
Essa harmonia entre prefeitura e governo já esteve nota 0. Agora está nota 1. Quem sabe, até o carnaval, a nota possa subir um pouco mais…
Observação: a entrega das chaves
O evento oficial de entrega simbólica das chaves da cidade para o Rei Momo ocorrerá no Carnaval de Vitória, que vai de 10 a 12 de fevereiro.
Tradicionalmente, o ato ocorre no próprio Sambão do Povo no sábado de desfile das escolas de samba.
Neste ano, o sábado (11) será o dia do desfile das escolas do Grupo Especial.
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