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Coluna Vitor Vogas

Cariacica: PV e PCdoB querem enfrentar Célia, do PT, em convenção

Inimigos íntimos: apoiadores de Euclério, os dois partidos sócios do PT na federação de esquerda trabalham fortemente para derrubar pré-candidata petista antes mesmo da largada eleitoral. Entenda aqui a operação de sabotagem interna em benefício do atual prefeito

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No sentido da leitura: Euclério Sampaio, Célia Tavares, César Lucas e Heliomar Costa Novais

No sentido da leitura: Euclério Sampaio, Célia Tavares, César Lucas e Heliomar Costa Novais

A Federação Brasil da Esperança é formada, desde 2022, por três partidos de esquerda: PT, PV e PCdoB. Nas eleições municipais deste ano, os três são obrigados a caminhar juntos em todas as cidades. Em Cariacica, o PT tem a pré-candidatura a prefeita da ex-secretária municipal de Educação Célia Tavares – aprovada em maio pela Executiva Nacional do PT, mas ainda não pela cúpula nacional da federação, que inclui os outros dois partidos.

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Em reunião no dia 26 de junho, noticiada aqui, os dirigentes estaduais das três legendas concordaram que a candidata da federação seria Célia. No entanto, as direções estaduais de PV e PCdoB, alinhadas ao atual prefeito, Euclério Sampaio (MDB), não aceitam essa decisão. Numa combustão interna sem fim, o PV e o PCdoB de Cariacica estão determinados a esticar a corda até o limite. Insistem em manter, contra Célia, a pré-candidatura a prefeito do ex-vereador Heliomar Costa Novais (PV).

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O objetivo do plano não é lançar um candidato alternativo contra Euclério. Como dito, os dirigentes locais do PV e do PCdoB apoiam a reeleição do prefeito. Heliomar, falemos claramente, é um pré-candidato laranja. A real finalidade é embaraçar a pré-candidatura de Célia e, se possível, impedir que ela consiga chegar à largada oficial da campanha, em 16 de agosto.

O plano está surtindo resultado.

Nos últimos dias 9 e 16, a Executiva Nacional da Federação Brasil da Esperança reuniu-se para deliberar sobre estratégias, alianças e candidaturas majoritárias em várias cidades do país com mais de 100 mil eleitores. No Espírito Santo, foram aprovadas as candidaturas de João Coser em Vitória, Roberto Carlos na Serra, Babá em Vila Velha e Carlos Casteglione em Cachoeiro – todos do PT –, conforme resolução publicada pelo órgão na última quarta-feira (17).

A de Célia, porém, não entrou nessa lista oficial, não obstante já ter sido aprovada em maio pela Executiva Nacional do PT. E por que ficou de fora? Porque uma condição não foi cumprida.

No âmbito municipal, o presidente do PV em Cariacica, César Lucas, e o do PCdoB, Nelson Baby, recusaram-se a assinar o edital com a lista de pré-candidatos a prefeito e vereador da federação. Na lista, constava o nome de Célia como pré-candidata a prefeita. O único a assinar o edital foi o presidente municipal do PT, Luiz Carlos Gaurink.

Para não perder prazo, Gaurink enviou o edital assim mesmo para a Executiva Nacional da Federação. Diante da falta de consenso local, o órgão máximo diretivo no país deixou o caso de Cariacica em stand-by.

“O nome da Célia não foi deliberado porque mandei o edital só com a minha assinatura”, confirma Gaurink.

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Presidente municipal do PV, o ex-vereador César Lucas, cassado pelo TRE-ES em 13 de maio, foi líder de Euclério na Câmara na maior parte do atual mandato. Em 17 de junho, declarou publicamente apoio à reeleição do prefeito. Além de um enorme paradoxo, já que o PV é o partido de Heliomar, trata-se de mais uma evidência de que a insistência na pré-candidatura do PV não tem outro motivo que não forçar a retirada de Célia Tavares.

Em conversa com a coluna, Célia Tavares rasgou o verbo: “Esse movimento é uma brincadeira, não passa de um jogo de cena, porque eles precisam prestar contas a terceiros”, afirmou a petista, aludindo a Euclério.

O manifesto a favor de Heliomar

Na última quarta-feira (17), PV e PCdoB foram além em Cariacica. Num manifesto postado por César Lucas, 14 ditos pré-candidatos a vereador na chapa da Febrasil – sendo 11 do PV e 3 do PCdoB – expressaram apoio a Heliomar como pré-candidato a prefeito e afirmaram que vão submeter o nome dele para discussão e deliberação dos três partidos na convenção municipal da federação em Cariacica, marcada para o dia 4 de agosto, às 9 horas, na Câmara Municipal.

Os próprios César Lucas e Nelson Baby concorrerão a vereador e estão entre os 14 signatários do manifesto.

No sentido da leitura: César Lucas, Heliomar Costa Novais, Nelson Baby e o vereador Marcos Palinha (PCdoB)

No sentido da leitura: César Lucas, Heliomar Costa Novais, Nelson Baby e o vereador Marcos Palinha (PCdoB)

Para entender direito esta história, ouvimos quatro personagens capitais: César Lucas, Nelson Baby, Luiz Carlos Gaurink e Célia Tavares. A confusão é tão grande que as três partes envolvidas (PV, PCdoB e PT) dão respostas totalmente diferentes, sobretudo para a pergunta mais importante neste imbróglio: a quem cabe a palavra final? De que forma e em qual instância será definida a candidatura da Febrasil em Cariacica?

Também surgiram palavras como “manobra”, “intervenção federal” e até “judicialização”.

Acompanhe a seguir.

César Lucas (PV): “Acredito na democracia”

Em conversa com a coluna, o presidente municipal do PV repetiu cinco vezes sua “fé na democracia”: “Acredito muito na democracia. Acredito no debate. E acredito que a federação fará um debate extremamente limpo. Agora é que o tema da candidatura majoritária realmente começa a ser debatido dentro da federação. Vamos para a convenção no dia 4 fazer esse debate, que precisa ser exaurido”.

Cesinha, como é mais conhecido, reafirma a determinação do PV e do PCdoB de apresentarem o nome de Heliomar como pré-candidato apoiado pelas duas siglas, durante a convenção do dia 4. “Nosso manifesto fala por si.”

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Pela lógica, o PT seguirá defendendo, inclusive na convenção, o nome de Célia. Se isso ocorrer, isto é, se o impasse persistir até o momento da convenção, como isso será decidido?

Na avaliação de Cesinha, a decisão será tomada “por consenso ou votação”. Nesse caso, porém, quem terá direito a voto? Quais serão as regras para a escolha? A resposta do dirigente é muito vaga: “Temos que construir as regras. As regras agora serão definidas por Brasília, que vai passar para a direção estadual da federação, que vai passar para a municipal”.

Cumpre dizer que, formalmente, não existe um órgão decisório da federação no nível municipal, nem mesmo no âmbito estadual. Só existe mesmo a Executiva Nacional da Federação. Cesinha destaca que esta, hoje, é presidida pelo PCdoB.

E quem dará a palavra final? Quem decidirá, em última instância, quem é o candidato a prefeito da Febrasil em Cariacica?

“A decisão final é da convenção, é da democracia. O que for decidido em convenção deverá ser mantido. E eu vou respeitar”, afirma o dirigente do PV.

Os do PCdoB e do PT têm outra visão.

Nelson Baby (PCdoB): “Pode haver intervenção nacional ou até judicialização”

O presidente municipal do PCdoB, Nelson Baby, confirma a decisão do seu partido e do PV de apresentarem a pré-candidatura de Heliomar em convenção.

Ele lamenta a falta de debate interno com o PT até agora e aposta na construção de um consenso entre as partes, até a convenção ou mesmo durante o ato do dia 4.

“No meu ponto de vista, isso será decido num consenso. A discussão deverá ser exaurida. Deveremos fazer o que não foi feito até agora. Sempre respeitamos a pré-candidatura da Célia, porém nunca foi feita efetivamente uma discussão com a federação em torno do nome dela. Então talvez, no último momento, essa discussão virá à tona. É provável que possamos chegar a um consenso nesse último momento”, confia o dirigente comunista.

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Todavia, e se o impasse persistir? Neste caso, Nelson Baby não duvida da possibilidade de uma intervenção da cúpula nacional do PV no órgão diretivo de Cariacica, que é provisório, destituindo César Lucas do comando local da sigla – para que ele pare de travar a pré-candidatura de Célia:

“Acho que aí pode haver até alguma intervenção nacional, visto que o PV, em Cariacica, tem comissão provisória. Por ser provisória, fica mais vulnerável. São manobras que sabemos que acontecem: a cúpula nacional vai lá, destitui a provisória, coloca outra no lugar e faz o que costuma fazer quem decide de cima. Então pode haver uma intervenção no PV”.

E quem dará a palavra final?

“Deve ser uma decisão nacional. Ou, então, judicialização”, responde o presidente municipal do PCdoB.

Luiz Carlos Gaurink (PT): “PV e PCdoB estão fazendo campanha para Euclério”

O dirigente do PT em Cariacica recorda que os dirigentes estaduais dos três partidos, em reunião no fim de junho, já haviam concordado que a pré-candidata da federação é Célia, incluindo o presidente estadual do PV, Fabrício Machado, e o do PCdoB, Neio Lúcio. “Eles já reconheceram isso.”

Da esquerda para a direita, Fabrício Machado, Jack Rocha e Neio Lucio, presidentes estaduais do PV, do PT e do PCdoB, respectivamente. Foto: Reprodução Instagram

Da esquerda para a direita, Fabrício Machado, Jack Rocha e Neio Lucio. Foto: Reprodução Instagram

Gaurink também questiona a legitimidade do “manifesto” assinado por 11 supostos pré-candidatos a vereador do PV e 3 do PCdoB, já que a conta não fecha. A chapa proporcional completa de vereadores em Cariacica tem lugar para 20 candidatos. Por acordo (confirmado por Nelson Baby), as vagas na chapa da federação serão assim distribuídas: 9 são do PT, 7 do PV e 4 do PCdoB.

“PV e PCdoB, juntos, têm 11 pré-candidatos a vereador. Então como é que 14 assinam o manifesto?!? Eles não têm representatividade.”

O dirigente do PT acusa a subserviência dos parceiros de federação a Euclério. “Estamos dialogando muito para não ter atrito, mas sabemos que PV e PCdoB estão fazendo campanha para o Euclério. Isso gera desgaste não só para Célia. Gera desgaste para todos.”

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Segundo Gaurink, se não houver unanimidade ou consenso durante a convenção do dia 4, “quem resolve a questão é a Executiva Nacional da Federação”. Mas o imbróglio chegou a tal ponto que ele acredita (e espera”) que a cúpula nacional se manifeste antes disso, para dar um ponto final ao impasse:

“A Nacional se manifestará antes. Tem que ser antes do dia 4, para que isso não chegue à convenção municipal”.

Célia: “Não recuo nem me abalo em um milímetro”

“Não há recuo. O movimento que eles fizeram não abala em um milímetro a nossa pré-candidatura”, afirma, resoluta, a própria Célia Tavares. “Estou rodando todas as 13 regiões de Cariacica para a construção do nosso plano de governo.”

Assim como Gaurink, ela relembra que “as direções estaduais dos três partidos bateram o martelo: a pré-candidata a prefeita da federação em Cariacica é Célia”.

“O que está havendo é um problema das direções municipais de PV e PCdoB com as direções estaduais deles. Não é um problema nosso. Em nível nacional, a nossa pré-candidatura já foi aprovada pela Executiva Nacional do PT”.

O nome de Célia, contudo, ainda não foi homologado pela Executiva Nacional da Federação. Questionamos a petista sobre isso.

“A federação trabalha com a ideia de que as instâncias menores busquem sempre construir consenso. Nas cidades onde o consenso já foi construído, isso já foi decidido e publicado. Mas os presidentes municipais de PV e PCdoB se recusaram a assinar o edital. Gaurink assinou e encaminhou para a Executiva Nacional da Federação. Por isso, a Nacional ainda não decidiu. Mas, quando a Nacional entender o que está realmente acontecendo aqui, quando entender que eles estão ultrapassando todos os limites, na certa tomará uma posição”, aposta a petista.

Para ela, sem citar nomes, dirigentes locais do PV e do PCdoB estão fazendo tudo para prolongar esse impasse porque “precisam prestar contas a terceiros” (leia-se a Euclério Sampaio).

“Essa decisão não é nem nunca foi local. Eles sabem disso. Em cidades com mais de 100 mil eleitores, a decisão é da Executiva Nacional da Federação. O que estamos vendo, então, é uma espécie de brincadeira, de jogo de cena. Sigo firme e cada vez mais forte.”


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