Arnaldinho se lança à reeleição com críticas a Ramalho e a “sabotadores”

Arnaldinho na convenção conjunta dos 12 partidos que o apoiam em Vila Velha (20/07/2024). Foto: assessoria de Arnaldinho

Em convenção municipal do Podemos e dos outros 11 partidos já fechados em sua coligação, o prefeito Arnaldinho Borgo teve o nome oficialmente confirmado ontem (20) como candidato à reeleição. A convenção levou mais de 2 mil pessoas ao Centro de Convenções de Vila Velha.

No discurso para um auditório lotado e na entrevista coletiva que se seguiu à aclamação, o prefeito prometeu que, se reeleito, deixará a cidade 20 anos à frente, além de apontar “sabotadores de Vila Velha” e dirigir críticas, diretas ou indiretas, a adversários eleitorais. As diretas foram endereçadas ao Coronel Alexandre Ramalho (PL). “Será que ele é um dos sabotadores da cidade?”, perguntou o prefeito, retoricamente, durante a entrevista coletiva.

Como já esmiuçado aqui, o ex-secretário estadual de Segurança Pública, filiado ao PL em fevereiro, arroga-se a condição de “único candidato de direita em Vila Velha” e tem investido pesadamente numa estratégia de transpor a polarização ideológica nacional para a disputa eleitoral em Vila Velha.

Nesse sentido, Ramalho tem se empenhado em colar em Arnaldinho o rótulo de “prefeito de esquerda”. Repete frases como “Vila Velha não pode continuar sendo governada pela esquerda”. O suposto “esquerdismo” de Arnaldinho estaria no fato de o prefeito ser apoiado pelo PSB e ter no governador Renato Casagrande o seu maior aliado político.

Arnaldinho, por sua vez, já deu reiteradas provas de que fará o possível para evitar que a eleição seja levada para essa arena da disputa ideológica entre direita e esquerda. Após a convenção, subindo o tom contra Ramalho, o prefeito afirmou que o coronel da reserva da PMES investe nesse discurso porque “não tem projeto para a cidade” e precisa “beijar a mão de alguém” (presumivelmente, Bolsonaro ou Magno Malta) para tentar ascender. Segundo Arnaldinho, o adversário entrou na disputa fazendo “um debate de política pequena e rasa”:

“A questão da esquerda, quando ele fala isso é porque ele não tem projeto para a cidade. Quem não tem projeto para a cidade tem que querer beijar a mão de alguém ou alguém com uma varinha mágica para tentar colocar ele em ascensão. Ele não usa a capacidade que poderia ter de tentar fazer um debate grande, de política grande. Pelo contrário, está fazendo um debate de política pequena, de política rasa e que não resolve os problemas de uma sociedade. Problemas difíceis não se resolvem com redes sociais e com palavras fáceis”, fuzilou Arnaldinho – que costuma dar os seus disparos de fuzil de vez em quando em stands de tiros.

O prefeito apontou uma possível incoerência de Ramalho, já que o próprio estava no governo Casagrande, até janeiro, como secretário estadual de Segurança Pública, e também era aliado político do governador. Tanto Ramalho como Arnaldinho apoiaram Casagrande contra Manato (PL) em 2022. Arnaldinho lembrou ainda que há candidatos a prefeito de partidos de esquerda em Vila Velha (o do PT e o do PSol), logo a pecha de “candidato de esquerda” não caberia a ele.

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“Quando ele [Ramalho] fala de esquerda, existem partidos de esquerda com candidatos a prefeito na cidade de Vila Velha. Então, a cidade poderá comparar quem é e quem não é. Até um dia desses, [Ramalho] estava no governo [do Estado], fazendo juras de amor. Mas, quando [ele] fala que o governo está ajudando muito Vila Velha, isso para mim é um elogio, não é de forma pejorativa, porque vejo isso como um elogio à capacidade que nossa administração tem de dialogar com o Governo do Estado e com todos os atores políticos”, afirmou Arnaldinho.

O prefeito enfatizou que não passará a campanha discutindo ideologias:

“Eu sou político de discutir políticas públicas e não ideologias, porque ideologia não constrói creche, ideologia não constrói unidade básica de saúde, ideologia não gera emprego e renda na cidade, ideologia não pavimenta ruas, ideologia não coloca alimento na mesa das pessoas que mais precisam. Se quiserem discutir políticas públicas, com certeza discutirei, não só com ele, mas com qualquer outro candidato”.

Ainda mirando em Ramalho, Arnaldinho também criticou o “radicalismo” que não se traduz em resultados: “Aqui em Vila Velha, nós vamos governar para todos, independentemente se a pessoa goste de mim ou não, e a gente respeita isso. A sociedade é construída no plural, e não no singular. Talvez algumas pessoas ainda não entenderam isso. […] A gente não pode aceitar esse radicalismo que não leva a cidade a lugar algum”, ressaltou o prefeito, acrescentando que, na campanha, não vai brigar com ninguém: “A gente vai debater a cidade, ouvindo e dialogando com todo mundo, porque eu governo para todos e não para uma parcela da sociedade”.

“Quem manda na cidade é o prefeito”

Arnaldinho também respondeu às críticas que tem recebido, principalmente de Ramalho, sobre uma alegada dependência excessiva do Governo Estadual: por esse ângulo, os projetos da administração de Arnaldinho só estariam sendo viabilizados graças a recursos do Estado, e o governo municipal na verdade estaria, indiretamente, nas mãos de Casagrande e do PSB. O prefeito retrucou:

“Quem manda na cidade é o prefeito Arnaldinho Borgo. Não se executa nenhuma política pública em Vila Velha se não tiver o aval do prefeito Arnaldinho Borgo. Então não há de se falar que alguém governa a cidade que não seja o prefeito Arnaldinho Borgo”, disse ele, na terceira pessoa.

Segurança: “Será ele um dos sabotadores?”

O pré-candidato do PL também tem feito críticas à gestão de Arnaldinho na área que é sua especialidade: a segurança pública. Segundo Ramalho, a política da atual gestão para a área limita-se a esquipar a Guarda Municipal. Em 2023, Vila Velha foi a cidade onde mais se matou no Espírito Santo, com 119 assassinatos contabilizados pela Sesp.

Em resposta, Arnaldinho afirmou que Ramalho não enfrentou devidamente o problema em Vila Velha como secretário estadual de Segurança e, sem atenuar as palavras, acusou Ramalho de ter sido um dos possíveis “sabotadores da cidade”, já que, segundo ele, o município carecia de operações das forças estaduais de segurança:

“Ele, como operador de segurança pública, deveria ser a pessoa mais acertada para falar por que os índices de violência e criminalidade na cidade estão altos. Quando ele teve a oportunidade de resolver, ele não resolveu. Por quê? Será que ele é um dos sabotadores da cidade? Você viu alguma operação na cidade de Vila Velha quando ele estava à frente da secretaria?”

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“Marujo estava a metros da Sesp”

Desde que Ramalho entregou o cargo e foi substituído à frente da Sesp pelo delegado federal Eugênio Ricas, em fevereiro, Arnaldinho tem se aproximado muito do novo secretário, postando vídeos e fotos ao seu lado em eventos como a formatura de nova turma da Guarda Municipal, operação de forças estaduais com a Guarda e até treinando tiros num clube em pleno domingo.

Alfinetando Ramalho, o prefeito parabenizou Ricas pela prisão de Marujo, o criminoso mais procurado do Espírito Santo, o qual, segundo Arnaldinho, “estava debaixo do nariz da Sesp”: “Em tão pouco tempo como secretário de Estado de Segurança, prendeu o homem mais procurado há mais de três anos por toda a polícia do Espírito Santo. E ele estava debaixo do nariz, a poucos metros da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Espírito Santo”.

Frisando o advérbio de tempo, Arnaldinho salientou que “hoje” a Guarda Municipal de Vila Velha tem “a integração com as forças [estaduais] de segurança pública”.

Ainda na área da segurança, o prefeito destacou investimentos em viaturas, equipamentos e remuneração para os guardas municipais, além da contratação de mais 65 homens e investimentos no videomonitoramento, no “cerco eletrônico” e na “muralha eletrônica”.

“Mas discutir política pública de segurança não é apenas falar de Guarda Municipal e Polícia Militar”, completou ele, citando “mais de 20 de campos de futebol, mais de 20 escolas e creches e 10 unidades de saúde”. “Isso, sim, é falar de segurança pública. É falar de atenção a quem mais precisa, os invisíveis da sociedade. Nós falamos de segurança pública e não ficamos com balela, enganando a população”, tornou a alfinetar.

“Sabotadores têm nome e CPF”

No discurso para apoiadores, Arnaldinho acusou: “Nossa cidade não pode retroceder por pessoas que sabotaram Vila Velha por um bom tempo. Vila Velha só não avançou antes porque nós temos sabotadores. E os sabotadores na nossa cidade nós conhecemos por nome e por CPF”. Mas ele mesmo não citou esses nomes.

Na entrevista logo depois, questionado sobre a quem se referia, Arnaldinho preferiu não nominar, mas deu pistas: “A cidade conhece quem foram as pessoas que sabotaram ela, que expulsaram os empresários, que não deixaram ela crescer, que colocaram na cidade a pecha de ‘cidade dormitório’, que deixaram a cidade com a pecha de Veneza do Espírito Santo. Essas pessoas estão aí, a sociedade sabe reconhecer, não precisa eu falar quem são”.

A referência a “empresários expulsos” não deixa dúvida: a indireta tem por alvo o ex-prefeito Max Filho (PSDB), que neste domingo (21) lançará seu ex-vice-prefeito Maurício Gorza (PSDB) como adversário eleitoral de Arnaldinho.

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No último governo de Max (2017-2020), Arnaldinho fez oposição renhida a ele na Câmara de Vila Velha. No 2º turno em 2020, os dois fizeram uma disputa ainda mais renhida. Arnaldinho, porém, afirmou que a referência a “sabotadores” não é direcionada a nenhum ex-prefeito:

“Pelo contrário. Acredito inclusive que os ex-prefeitos deixaram alguma coisa boa na cidade. […] Talvez não avançou tanto quanto gostaríamos que avançasse. Mas todos eles deixaram de alguma forma algum legado de melhoria para a cidade”.

(Arnaldinho possivelmente não quis melindrar Neucimar Fraga, ainda pré-candidato a prefeito pelo PP, cujo apoio ele ainda busca)

“20 anos em 4”?

Em seu discurso para a militância, o prefeito lançou as bases de sua plataforma de campanha, resumida no slogan “Vila Velha do Futuro”.

Arnaldinho afirmou que, em sua primeira eleição, em 2020, planejou medidas para tirar Vila Velha de um atraso de 20 anos em relação aos outros municípios. Agora, segundo ele, tendo zerado esse passivo, a meta é, se reeleito, “colocar Vila Velha na vanguarda, 20 anos à frente”, como uma “cidade do futuro”, moderna, planejada, com excelente ambiente de negócios, a fim de “manter os empresários existentes, repatriar os empresários expulsos e atrair novos empresários”.

Casagrande: “Continuar a revolução”

Com a ajuda da tecnologia, Casagrande se fez presente na convenção. Um vídeo com uma mensagem dele em apoio a Arnaldinho foi exibido num telão.

Destacando a “ação transformadora” no município graças à “parceria do Governo do Estado com a Prefeitura de Vila Velha”, Casagrande manifestou a certeza de que “vamos continuar trabalhando juntos”, “vamos continuar essa grande revolução em Vila Velha”, “vamos continuar ofertando a Vila Velha transformação com aprimoramento”.

Arnaldinho também exaltou o governador em seu discurso: “Se hoje temos avanços na cidade, é porque caminhamos junto com o governador Renato Casagrande, e ele caminha com a gente”.

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O locutor o chamou de “melhor governador do Brasil”.

Gilson Daniel ausente

A mesa de autoridades no palco ficou abarrotada de gente. Mas uma ausência chamou mais a atenção do que todas as presenças. Foi a do deputado federal Gilson Daniel, o presidente estadual do Podemos. Arnaldinho e Gilson vivem às turras.

O prefeito disse não saber por que seu presidente faltou ao seu grande evento.

Euclério: amigo de fé e irmão camarada

Já entre os presentes, quem mais chamou a atenção foi o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), sentado em lugar de honra, à direita de Arnaldinho. Os dois tretaram pesadamente no fim de 2022, até em um grupo de prefeitos no zap, mas agora se tornaram best friends forever.

Nas saudações, Arnaldinho chamou Euclério de “amigo e irmão da cidade vizinha e coirmã”.

À esquerda de Arnaldinho, sentou-se o deputado federal Victor Linhalis (Podemos), seu ex-vice-prefeito.

Outras autoridades

Também estiveram presentes três secretários do governo Casagrande: a secretária de Governo, Emanuela Pedroso (correligionária de Arnaldinho no Podemos), a de Mulheres, Jacqueline Moraes (PSB), e o de Ciência e Tecnologia, Bruno Lamas (PSB).

Além deles, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União Brasil), e outros dois deputados estaduais: Hudson leal (Republicanos) e José Esmeraldo (PDT); vereadores da base de Arnaldinho, entre os quais o presidente da Câmara de Vila Velha, Bruno Lorenzutti (MDB); e a vice-prefeita de Vitória, Capitã Estéfane (Podemos).

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Família

Em posição de destaque, a esposa de Arnaldinho, Andressa, e os dois filhos do casal, Pedro e Arnaldo Neto.

Oração

Uma oração foi ministrada por um pastor evangélico (Bruno). Arnaldinho é católico. No discurso, afirmou muito sua fé em Deus.

Banners

Além dos muitos cartazes e projeções no telão com os slogans “Vila Velha do Futuro” e “Viva Vila Velha”, havia meia-dúzia de banners com fotos de Arnaldinho, cada um com uma palavra: amor, cuidado, confiança, gratidão, respeito e segurança.

A coligação

Por ora, a coligação de Arnaldinho é formada por 12 siglas: Podemos, PSB, MDB, União Brasil, Republicanos, PSD, PDT, Novo, Agir, PRD, PMB e DC.

Outros dois partidos ainda podem se juntar: o Solidariedade e o PP (hoje com a pré-candidatura de Neucimar Fraga). Tratativas estão em curso.

Exército nas ruas

Em Vila Velha, como haverá 21 vagas em disputa na Câmara Municipal, a chapa completa de um partido tem 22 candidatos a vereador. Dos 12 partidos com Arnaldinho, só o PSD não terá chapa. E o PDT montou uma chapa pela metade. Isso perfaz um total de cerca de 250 candidatos nas ruas sob o guarda-chuva do prefeito.

O vice

Arnaldinho ainda não escolheu seu vice, mas confirmou que está entre dois nomes: o de Bruno Lorenzutti e o do seu ex-secretário municipal de Planejamento Cael Linhalis, indicado pelo PSB de Casagrande. O prefeito também contou que lhe chegaram sugestões de outros dois nomes, pertencentes a partidos que ainda não estão com ele. Pode ser uma maneira de atraí-los.

A claque de Lorenzutti marcou presença na convenção, com a seguinte faixa: “Vila Velha já escolheu Bruno Lorenzutti como vice”.

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