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Coluna Vitor Vogas

Ramalho dá uma banana para Casagrande, Arnaldinho e antigo partido

“Aqui para eles!”, desabafou pré-candidato do PL, fazendo o gesto característico com um braço cruzado sobre o outro, em discurso para apoiadores

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No sentido da leitura: o ex-secretário estadual da Segurança Pública, Alexandre Ramalho, o governador Renato Casagrande, e o comandante-geral da PMES, Douglas Caus. Crédito: Secom

Nem verde nem amarela. A canela do governador Renato Casagrande (PSB) ficou roxa após o pontapé recebido por ela do Coronel Alexandre Ramalho (PL), pré-candidato a prefeito de Vila Velha, sob o slogan “Sou Canela Verde Amarela”. A relação entre os dois ex-aliados, pode-se dizer, degringolou de vez, nestas tensas semanas que antecedem o início oficial da campanha eleitoral, no dia 16 de agosto.

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Na última segunda-feira (8), em discurso para a militância do PL em um cerimonial de Vila Velha, o ex-secretário estadual de Segurança Pública “deu uma banana” para Casagrande (e não só para o governador): “Aqui para eles!”, desabafou Ramalho, fazendo o gesto característico com um braço cruzado sobre o outro.

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Por “eles”, no contexto da fala, Ramalho referiu-se ao governador e emissários do Palácio Anchieta, ao seu antigo partido (o Podemos), a dirigentes do Podemos (como o presidente estadual da sigla, Gilson Daniel) e ao prefeito Arnaldinho Borgo (filiado ao mesmo partido).

O pré-candidato a prefeito de Vila Velha vem se afastando de Casagrande desde janeiro, quando decidiu entregar o cargo de secretário estadual de Segurança e sair do Governo do Estado para poder se movimentar politicamente com autonomia.

Até então, Ramalho poderia ser considerado tranquilamente um integrante, à direita, do grupo político liderado pelo governador, e assim se comportara e se movera até então, inclusive nas eleições de 2022. Naquele pleito, apoiou Casagrande e concorreu pelo Podemos, partido da base governista, a uma vaga na Câmara dos Deputados, ficando como 1º suplente do partido na bancada do Espírito Santo.

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Quando saiu do governo Casagrande, Ramalho se viu diante de uma encruzilhada em sua caminhada política: ficar no Podemos e ser candidato a prefeito de Vitória, com apoio e incentivo do governo, ou sair do Podemos e enfrentar Arnaldinho Borgo, sem apoio nem respaldo do governo, na eleição para prefeito de Vila Velha.

Como candidato a prefeito de Vitória, o Palácio Anchieta entendia que Ramalho poderia ser muito útil, ajudando a derrotar Pazolini. O raciocínio era o de que, na Capital, o coronel poderia “tomar” do prefeito a pauta da segurança pública e roubar-lhe votos preciosos junto ao eleitorado conservador de direita. Já em Vila Velha, Casagrande nunca escondeu seu compromisso de apoiar a reeleição de Arnaldinho Borgo. Mas Ramalho é morador de Vila Velha e era para esse município que o seu desejo pessoal o impelia.

O dilema, portanto, era seguir o que o Palácio Anchieta queria que ele fizesse (com apoio total do governo), ou fazer o que ele mesmo queria (mas sem apoio algum do governo). Ramalho fez a segunda opção.

Em fevereiro, o coronel da reserva da PMES se desfiliou oficialmente do Podemos (partido de Arnaldinho, onde os dois já não caberiam). Ato contínuo, divulgou à imprensa uma nota em que afirmava abrir mão da suplência na Câmara dos Deputados. Em março, filiou-se ao PL, em Brasília, com a ficha abonada por Bolsonaro e pelo presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto. Lançou, então, sua pré-candidatura a prefeito de Vila Velha, contra o atual prefeito, e declarando-se o candidato de Bolsonaro e o único representante da direita na disputa no município.

De acordo com fontes ligadas ao coronel da reserva, antes de Ramalho sair do Podemos, uma das estratégias de Casagrande e aliados (Gilson Daniel, Arnaldinho) para convencê-lo a não sair do partido teria sido justamente “jogar com a suplência”, alimentando sua expectativa de chegar, antes do fim do ano, à Câmara dos Deputados. Ramalho nunca escondeu sua vontade de se tornar congressista.

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Para isso, um dos dois deputados federais eleitos pelo Podemos no Espírito Santo em 2022 (Gilson Daniel e Victor Linhalis) teria de ser “puxado” por Casagrande para alguma secretaria de Estado. A “dança das cadeiras” teria sido apresentada a Ramalho como algo certo, a se concretizar no fim do ano, após as eleições municipais. Mas, para não perder o direito à vaga de 1º suplente, Ramalho teria de continuar no Podemos. No meio do caminho, poderia concorrer em Vitória.

Foi exatamente esse o contexto que levou Ramalho a externar sua insatisfação com Casagrande companhia e mandar uma banana para “eles” em sua fala perante apoiadores na última segunda-feira:

“Aqui para eles! Estou fora dessa jogada. Me recuso a fazer o jogo desses caras. Eles queriam ficar jogando comigo com a suplência e eu me recusei a fazer o jogo deles, por isso optei por me filiar ao único partido no qual confiava plenamente, pois tinha a garantia de que não seria traído em prol de esquemas ou afilhados políticos.”

Ramalho discursa para a militância do PL em Vila Velha. Foto: assessoria do pré-candidato

Ramalho discursa para a militância do PL em Vila Velha (08/07/2024). Foto: assessoria do pré-candidato

O público presente, amistoso, o aplaudiu entusiasticamente.

Não é de hoje que o caldo está entornando

Apesar do inevitável distanciamento, Ramalho e Casagrande vinham mantendo o fair play e dando declarações cordiais um em relação ao outro. Em entrevista à coluna a e ao telejornal EStúdio 360, entre fevereiro e março, Ramalho afirmou que seu caminho político agora é diferente daquele de Casagrande, mas segue respeitando o governador, ciente de que o respeito é mútuo.

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Casagrande, por sua vez, em entrevista à Rádio BandNews FM em junho, reafirmou seu compromisso de apoio a Arnaldinho em Vila Velha, mas fez questão de registrar que ainda considerava ter “relação política” com Ramalho.

De lá para cá, porém, o distanciamento só aumentou, conforme Casagrande passou a fazer gestos ostensivos em apoio ao atual prefeito, figurando ao lado dele em uma autêntica maratona de inaugurações, assinaturas de ordens de serviço e apresentação de projetos em Vila Velha, principalmente na semana passada – a última em que a legislação eleitoral permitiu esse tipo de publicidade por parte de agentes públicos. Os projetos contam com recursos do caixa do Governo Estadual.

Em uma dessas solenidades, presenciada pelo colunista, no último dia 2, na Praia da Costa, Arnaldinho nitidamente calibrou o seu discurso de campanha, enquanto Casagrande deu à sua fala um tom ainda mais eleitoral, listando as características que um governante deve ter (para bom entendedor: as de Arnaldinho).

Ramalho tem se queixado de suposta campanha extemporânea e uso da máquina pública do Estado em benefício eleitoral do atual prefeito. No lançamento de sua pré-candidatura, no dia 27 de junho, o ex-chefe da Sesp conclamou a militância a lutar contra a máquina municipal, unida à máquina estadual.


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