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Coluna Vitor Vogas

Análise: o maior desafio político para Casagrande a partir de agora

Até 2026, será muito difícil para ele conseguir preservar a unidade da frente ampla que lidera no Estado e evitar seu desmoronamento total ou parcial

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Governador terá dificuldade em conter possível desmoronamento de sua ampla coalizão

Governador terá dificuldade em conter possível desmoronamento de sua ampla coalizão

Passadas as últimas eleições municipais, aproximando-se da metade do segundo mandato consecutivo e sem poder emendar um terceiro, o governador Renato Casagrande (PSB) tem um grande desafio político a partir de agora: o de preservar a unidade da sua extensa coalizão governista, que vai de PT, Rede e PDT a partidos de direita. Será muito difícil, para ele, evitar (ou retardar) o desmoronamento da coalizão política sob sua liderança, principalmente no flanco direito. O risco maior, para Casagrande, é ver sua influência progressivamente minguar, à medida que os demais agentes políticos estaduais, aliados dele incluídos, entrarem no “modo eleições 2026”. E já estão entrando.

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Algumas pequenas rachaduras já começaram a aparecer nas paredes desse grande casa de Casagrande (o casarão político do Casão, abrigo de tantos e tão distintos aliados). Como registrado aqui, um sinal forte de alerta disparou com a recente “peregrinação” de parceiros do governador ao gabinete de ninguém menos que Lorenzo Pazolini, iniciando (ou intensificando) em flerte aberto com o Republicanos, partido conservador de direita que não pertence à base de Casagrande e que tem grandes aspirações para a sucessão do governador em 2026.

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Nos últimos dez dias, visitaram, fizeram-se fotografar e trocaram afagos públicos com o prefeito de Vitória: o presidente da Assembleia, Marcelo Santos (União Brasil), e o deputado estadual José Esmeraldo (PDT) – sem grande surpresa; o deputado federal e presidente estadual do Podemos, Gilson Daniel – com boa dose de surpresa; o delegado federal Eugênio Ricas (sem partido) e o prefeito de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB) – de maneira ainda mais surpreendente.

A análise de fundo sobre isso? Vamos a ela.

Os planos de Casagrande para 2026 e a importância da manutenção da sua aliança com forças de centro-direita

Nas últimas eleições municipais, a esquerda de modo geral não foi nada bem no país. No chamado campo progressista, a legenda que se saiu melhor, em número de prefeitos eleitos, foi o Partido Socialista Brasileiro (PSB), de Casagrande. Pelo Brasil inteiro, o partido elegeu 309 prefeitos, 23% a mais que os 252 eleitos pela sigla em 2020. Mas, no ranking geral, o PSB ficou só na 7ª posição, atrás de seis agremiações de centro ou de direita.

No recorte estadual, o PSB foi relativamente bem no Espírito Santo. “Relativamente” por quê? Porque depende do ponto de vista: o partido de Casagrande fez 21 prefeitos, mas todos em cidades de pequeno porte, e não vai governar nem 10% da população nos municípios capixabas a partir de 2025.

Nas maiores cidades, o partido do governador priorizou a aliança e a reeleição de aliados estratégicos justamente no campo da centro-direita (como Arnaldinho Borgo em Vila Velha e Euclério em Cariacica), já pensando justamente na sobrevivência do partido e do grupo liderado por Casagrande em 2026.

O PSB simplesmente não tem nenhum “sucessor natural” para o governador, e dificilmente terá. O partido e o próprio Casagrande se verão forçados a compor uma ampla aliança com partidos conservadores e de centro-direita; possivelmente terão de apoiar um candidato a governador desse campo, pensando inclusive na sobrevivência política de Casagrande. Não por acaso, o próprio governador, em entrevista recente a esta coluna, defendeu exatamente a manutenção de “alianças amplas”, as quais, segundo ele, “já fazem parte da cultura política capixaba”.

> Exclusivo: o balanço de Renato Casagrande sobre as eleições no ES

Se ele for candidato ao Senado em 2026, vai precisar (e muito) do apoio dessas forças de centro-direita na mesma coligação majoritária, mesmo porque, por mais que ele chegue bem avaliado ao último ano de governo, Casagrande não terá uma eleição fácil nem “dada” ao Senado. Mesmo havendo duas vagas em disputa, os “extremos” (PL e PT) tendem a vir muito fortes para essa disputa específica, espremendo, um de cada lado, candidatos mais ao centro como é o caso do atual governador.

Como nenhuma outra, a disputa ao Senado pode ser contaminada por debates ideológicos, morais, religiosos etc., talvez até mais que a eleição presidencial. Para garantir uma das duas vagas numa disputa específica em que ideologias podem, sim, gritar mais alto, Casagrande precisará de toda a ajuda e de uma coligação a mais ampla possível, de preferência mantendo os partidos que já estão em sua coalizão de governo e quem sabe até agregando outras forças conservadoras.

Na já mencionada entrevista concedida à coluna, Casagrande fez um grande aceno, por exemplo, ao Republicanos, partido conservador que se saiu bem nas últimas eleições, fazendo oito prefeitos no Estado, incluindo a reeleição de Pazolini em Vitória (a única capital do país que será governada pela sigla do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, a partir de 2025).

As altas pretensões do Republicanos, atraindo o PP, o Podemos e outras siglas de direita

A sucessão de Casagrande, como já analisamos aqui, é um jogo praticamente zerado, cujo início se dá exatamente agora, com todos finalmente sabendo como estará montado o tabuleiro geopolítico estadual a partir de janeiro.

É certo, contudo, que o PSB de Casagrande não tem pré-candidato algum à sucessão do governador e que hoje existem muitos possíveis candidatos à sucessão integrados ao grupo político de Casagrande, mas nenhum deles pode se considerado um “candidato natural”. Além disso, nada garante que a imensa coalizão casagrandista, reunindo de partidos de esquerda a siglas de direita, manter-se-á aglutinada até o próximo pleito (e para o próximo pleito).

Na verdade, dependendo dos próximos movimentos, é até mais provável que essa grande coalizão edificada em torno de Casagrande se desmantele até lá, que surjam dissidências e que se formem novos arranjos político-partidários tendo em vista a próxima eleição estadual.

Para dar um exemplo evidente, sob influência da conjuntura nacional, partidos de esquerda e de direita, unidos circunstancialmente na reeleição de Casagrande e em seu atual governo, dificilmente estarão do mesmo lado na próxima disputa pelo Palácio Anchieta.

Não com essas mesmas palavras, é nisso que parece acreditar o presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, provável secretário de Governo de Vitória a partir de janeiro.

Sem perda de tempo, o dirigente máximo do Republicanos no Estado, articulador político de Pazolini e companhia, já começou a se movimentar nesse sentido, visando à formação de uma frente ampla de direita, agregando algumas siglas de centro-direita, que chegue unida e fortalecida para a próxima corrida ao Palácio Anchieta. Os primeiros passos desse movimento, na realidade, já foram dados nas recentes eleições municipais.

Erick conta que, nas costuras para formação de alianças e coligações nos municípios, o principal parceiro político do Republicanos foi o Progressistas (PP). O exemplo mais ilustrativo é Vitória, onde o PP filiou e emplacou a empresária Cris Samorini (ex-Republicanos) como vice-prefeita de Pazolini. Oficialmente, o PP faz parte do governo Casagrande e, desde o começo de 2019, dirige a financeiramente turbinada Secretaria Estadual de Desenvolvimento Urbano, com o ex-presidente estadual da legenda, Marcus Vicente.

Ainda de acordo com Erick, o segundo partido com o qual o Republicanos mais fez parcerias nos municípios foi o Podemos. Presidida no Espírito Santo pelo deputado federal Gilson Daniel, a agremiação de centro-direita também faz parte do governo Casagrande e também tem lugar no secretariado – é do partido a secretária estadual de Governo, Emanuela Pedroso, embora o próprio Gilson considere que ela na verdade pertence à “cota pessoal” do governador.

“A eleição de 2026, naturalmente, terá outros protagonistas. Estamos aliançados com o PP, com quem construímos uma parceria muito forte para estas eleições municipais. Há caminhos para que possamos mantê-la. Também construímos uma parceria muito forte com o Podemos. Esses foram os dois partidos com quem mais construí parcerias. E os três partidos fizeram bonito nas urnas”, destaca Erick.

E fizeram mesmo, estatisticamente. Juntos, Republicanos (8), Podemos (11) e PP (12) elegeram 31 dos 78 prefeitos no Espírito Santo e vão governar praticamente metade dos cidadãos capixabas nos municípios. A lista inclui Vitória, Vila Velha, Viana, Linhares e São Mateus (Podemos); Cachoeiro e Aracruz (PP); Vitória e Guarapari (Republicanos). Das dez maiores cidades capixabas, só Serra (PDT) e Colatina (PSD) não serão administradas por uma dessas três agremiações nos próximos quatro anos.

Mas o ponto principal é o seguinte: como o próprio Erick sinaliza, as articulações relativas ao pleito municipal de 2024, envolvendo esses três partidos, já serviram de ensaio de dissidência, ou princípio de deslocamento, do PP e do Podemos em relação ao Palácio Anchieta. As duas siglas de centro-direita começaram a se libertar do raio de influência do governo Casagrande em direção a outro movimento, ao lado do partido de direita liderado por Erick no Espírito Santo.

O encontro recente de Gilson Daniel com Pazolini, colocando seu mandato à disposição do prefeito de Vitória logo após o encerramento do processo eleitoral, é uma tremenda sinalização nesse sentido.

Da esquerda para a direita: Gilson Daniel, Lorenzo Pazolini e Erick Musso

Da esquerda para a direita: Gilson Daniel, Lorenzo Pazolini e Erick Musso (31/10/2024)

Se vão se desligar de vez da órbita de Casagrande, o próximo ano dirá, mas as chances não são pequenas, pois tanto o PP de Josias da Vitória como o Podemos de Gilson Daniel também serão movidos por projetos próprios de crescimento nas próximas eleições, os quais não necessariamente se darão em sintonia com o do grupo liderado por Casagrande – do qual também fazem parte, por exemplo, Ricardo Ferraço (MDB), Arnaldinho Borgo (hoje no Podemos), Euclério Sampaio (MDB) e Sérgio Vidigal (PDT).

Erick confirma que o objetivo é construir uma frente eleitoral de direita para 2026, partindo desse tripé Republicanos/Podemos/Progressistas, mas podendo incorporar outras siglas do mesmo campo. Uma delas é o PSD, presidida no Estado pelo prefeito eleito de Colatina, Renzo Vasconcelos. PSD e Republicanos foram aliados eleitorais em cidades importantes, como Colatina, Vitória e Serra.

Outra sigla que Erick considera aglutinável é o União Brasil, caso um grande aliado dele, o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos, assuma a presidência estadual no lugar de Felipe Rigoni – hipótese que Erick acredita seguir viva:

“No que depender de mim, vou trabalhar para que isso se mantenha, respeitando a posição de cada um e dialogando com cada um, com o PP, com o Podemos, com o Renzo no PSD, com Marcelo Santos dentro disso, se ele pegar o União… Ainda há essa expectativa”.

Erick não descarta nem a adesão do PL a essa frente eleitoral, apesar do afastamento e das críticas do senador Magno Malta, presidente estadual da legenda, ao Republicanos nas eleições municipais. “Se o PL quiser dialogar, estamos de portas abertas. No que depender de mim, não faltarão café e biscoitos para a gente dialogar lá na sede do Republicanos (risos).”

Erick, neste momento, está servindo café quente no bule do Republicanos.

O risco maior, para Casagrande, é começar a servir café frio para aliados no Palácio Anchieta, a partir de 2025.

Casagrande: de esquerda, sim, pero no tanto

Católico, o governador Renato Casagrande foi recebido nesse sábado (9), no Vaticano, pelo Papa Francisco.

Como poderia dizer Bergoglio, em bom castelhano, a respeito de Casagrande: “Hombre de izquierda sí, pero no tanto”…

Renato Casagrande encontra e cumprimenta o Papa Francisco, em visita à Santa Sé, com a primeira-dama, Dona Virgínia

Renato Casagrande encontra e cumprimenta o Papa Francisco, em visita à Santa Sé, com a primeira-dama, Dona Virgínia (09/11/2024)

Como já ponderamos aqui, dentro do vasto domínio considerado “progressista”, o governador está situado quase ali na divisa com o centro. É, pessoalmente, muito mais um social-democrata, pragmático até o último fio de cabelo ruivo, do que propriamente um “socialista”.

Sua ampla coalizão, ainda mais nesse terceiro governo, abriga inúmeras forças de direita (começando por seu vice, Ricardo, e passando por PP, União Brasil, entre outros), além de políticas e diretrizes mais identificadas com a direita: Rigoni no Meio Ambiente (haja vista a polêmica atual relacionada ao plano de concessão de parques naturais estaduais), Ricardo no Desenvolvimento, uma política fiscal austera que pouco difere daquela exercitada por Paulo Hartung no governo que o antecedeu…

Na última eleição presidencial, Casagrande apoiou timidamente Lula (PT), mas aceitou de bom grado (e, discretamente, encorajou) o “voto Casanaro”. Apesar de todos esses indícios, se você lhe perguntar “direita ou esquerda?”, ele não hesitará em assinalar a segunda opção.

Sem falar que, como homem público, o castelense tem origens no movimento estudantil de esquerda contra a ditadura na Universidade Federal de Viçosa (MG), no PCdoB e no MDB, onde teve passagens curtas antes de aportar no PSB. Filiado desde 1987, é um quadro orgânico do PSB e um dos maiores líderes remanescentes do partido que, no país, obteve os melhores resultados entre as forças de esquerda nas últimas eleições municipais.


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