Coluna Vitor Vogas
O possível futuro 02 da administração Pazolini na Prefeitura de Vitória
E mais: a “Comissão de Transição de Governo” criada por Lorenzo Pazolini, seus componentes, sua razão de ser oficial… e a não oficial
O ex-presidente da Assembleia Legislativa do Espírito Santo Erick Musso pode virar secretário municipal de Governo e Comunicação no segundo mandato do prefeito Lorenzo Pazolini, em Vitória. Só depende, basicamente, do aceite dele. Erick confirma à coluna ter sido convidado por Pazolini para exercer o cargo. Ele pediu ao prefeito um prazo, até o fim do ano, para avaliar o convite.
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Erick é o presidente estadual do Republicanos, partido de Pazolini. Foi a convite dele e do então presidente do Republicanos no Espírito Santo, Roberto Carneiro (antecessor de Erick no cargo), que Pazolini ingressou na legenda, em 2020, para concorrer pela primeira vez à Prefeitura de Vitória. Roberto, atualmente, preside a mesma sigla no estado de São Paulo.
Se aceitar o convite de Pazolini, Erick tende a exercer, no dia a dia administrativo da Prefeitura de Vitória, influência correspondente à que ele já exerce junto a Pazolini nas esferas política e partidária. Desde a ida de Roberto Carneiro para São Paulo, no ano passado, Erick se estabeleceu como o principal articulador político de Pazolini, porta-voz do prefeito nas costuras político-partidárias. Foi ele o grande “engenheiro” da coligação com a qual o prefeito se reelegeu no 1º turno no último dia 6, com 56% dos votos válidos.
Em se tornando secretário de Governo, Erick tende a ser, no segundo mandato de Pazolini, o que foi Aridelmo Teixeira (Novo) no primeiro: o 02 na hierarquia de poder, abaixo apenas do prefeito (dependendo também do espaço a ser dado à vice-prefeita eleita, Cris Samorini).
Reconhecidamente, Aridelmo concentrou poderes e exerceu influência sem par na Prefeitura de Vitória nos últimos quatro anos, primeiro como secretário da Fazenda (de janeiro de 2021 a abril de 2022), depois, precisamente, como secretário de Governo (de março de 2023 a junho deste ano). Foi praticamente um “primeiro-ministro”. Saiu da prefeitura em julho para se habilitar a completar a chapa de Pazolini como seu candidato a vice-prefeito. Pazolini o preteriu em favor de Cris Samorini (PP).
Aridelmo não volta mais para a Prefeitura de Vitória. Seu “espaço de poder”, então, pode ser preenchido por Erick.
O secretário de Governo cuida da articulação política em nome do prefeito, para dentro da prefeitura (integração das ações dos secretários), mas também para fora (relacionamento com líderes comunitários, com a Câmara Municipal e com outras esferas de poder). No mercado político, Erick é considerado mais habilidoso nisso do que era Aridelmo no cargo.
Provisoriamente, a Secretaria de Governo é chefiada pelo economista Regis Mattos, que acumula a pasta com a Secretaria de Gestão e Planejamento.
A importância de Erick para Pazolini
Sem que as multidões se deem conta, toda eleição começa a ser decidida muito antes do período oficial de campanha. Aí entram articuladores como Erick e a importância deles no processo.
O presidente estadual do Republicanos foi fundamental para a atração do Progressistas (PP) para o governo e o palanque de Pazolini – costura que começou em abril do ano passado, quando o deputado federal Josias da Vitória assumiu a presidência estadual do PP.
Erick também foi figura sine qua non para o embarque de última hora do PSD na coligação de Pazolini.
Com muito tempo de TV, esses dois partidos foram imprescindíveis para equilibrar o jogo no palanque eletrônico. Dada a audiência atingida, a propaganda eleitoral massiva de TV certamente teve peso em Vitória, como em nenhuma outra cidade, para fazer a mensagem dos candidatos chegar à população.
Até meados de julho, o ex-prefeito Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) e aliados do tucano acreditavam que, sozinho, ele ficaria com mais de quatro minutos por bloco de 10 no horário eleitoral. Pazolini ficaria com menos de dois. No fim das contas, graças às articulações partidárias conduzidas por Erick, Pazolini e Luiz Paulo tiveram praticamente os mesmos 2 minutos e meio, enquanto os demais tiveram menos.
Esse é só um exemplo de como as operações silenciosas de Erick ajudaram a viabilizar a reeleição de Pazolini, ou, no mínimo, a facilitaram.
A “Comissão de Transição” coordenada por Cris Samorini
Não vou aqui dizer que seja algo inédito, pois seria muita pretensão da minha parte, mas um prefeito reeleito formar uma “equipe de transição” é, seguramente, muito raro. “Transição dele para ele mesmo?”, muitos estranharam, quando se divulgou a notícia de que a equipe não só seria criada por Lorenzo Pazolini como seria coordenada por sua vice-prefeita eleita, Cris Samorini.
Bem, a despeito de todo o estranhamento gerado, a “Comissão de Transição de Governo” foi mesmo instituída, por decreto de Pazolini publicado no Diário Oficial de Vitória no último dia 14, e já está funcionando.
Além de Cris, confirmada na coordenação, a equipe é composta pelo secretário de Gestão e Planejamento e (interinamente) de Governo e Comunicação, Regis Mattos; pela secretária de Educação, Juliana Rohsner Toniati; pelo procurador-geral do município, Tarek Moyses Moussallem; pelo secretário de Desenvolvimento da Cidade e Habitação, Luciano Forrechi, e pela secretária de Saúde, Magda Cristina Lamborghini.
Nos termos do decreto de Pazolini, a Comissão de Transição de Governo foi criada “considerando a necessidade de garantir a continuidade e a eficácia na gestão pública, especialmente diante dos novos desafios que surgem com o início de um novo ciclo administrativo; considerando a importância de promover uma transição administrativa eficiente, que assegure a estabilidade dos serviços públicos e a implementação adequada das diretrizes estabelecidas no novo plano de governo”
A comissão, segundo o mesmo decreto, terá por finalidade “estabelecer as bases e diretrizes para a gestão 2025-2028, garantindo a continuidade e promovendo os avanços necessários ao aprimoramento das políticas públicas”.
Ao final dos trabalhos, a comissão deverá apresentar relatório técnico, com recomendações para o início do mandato, sendo encerrada no dia 31 de dezembro.
Essa é a justificativa oficial e administrativa.
Politicamente, porém, a criação da comissão, com Cris escalada no comando, cumpre outro papel: o de começar a projetar a vice-prefeita como personagem vital do segundo governo, antes mesmo de ela tomar posse.
Durante a campanha eleitoral, a então candidata a vice recebeu bastante destaque, nas redes sociais, na propaganda de rádio e TV nas ruas, acompanhando Pazolini quase aonde quer que ele fosse.
Logo após a vitória no 1º turno, ela também tem ganhado visibilidade, como se, na prática, já fosse a vice-prefeita de direito (o cargo, obviamente, ainda é e será ocupado pela Capitã Estéfane até o fim do mandato).
Cris é vista ao lado do prefeito em todas as agendas mais importantes e externas, de anúncios no gabinete a visita técnica a uma escola que será reformada no bairro São Benedito, passando por reunião com líderes comunitários e reforma de campos de areia e grama sintética na Praia do Suá. Em notícias publicadas no Diário Oficial, é tratada como “coordenadora de equipe da transição de governo”.
Tecnicamente, é claro, não fará mal algum a ela começar a tomar pé da situação da administração municipal, sobretudo considerando a possibilidade de ela mesma vir a assumir o cargo de prefeita, até o fim do mandato, caso Pazolini decida renunciar ao Governo do Estado em 2026 para ser candidato a governador.
A visibilidade conferida à futura vice (quiçá futura prefeita) também tem tudo a ver com essa possibilidade.
Mudanças no secretariado
Uma coisa é certa: independentemente de qualquer diagnóstico ou relatório técnico a ser entregue pela equipe de transição ao prefeito, haverá mudanças forçosas na composição do secretariado, do governo Pazolini I para o governo Pazolini II.
Infalivelmente, será preciso acomodar o PP no primeiro escalão e ampliar o espaço do partido na máquina municipal.
A bem da verdade, apesar de dar sustentação política a Pazolini desde o ano passado e de ter sido um pilar de sua coligação eleitoral vitoriosa, o PP não está representado na equipe de secretários até hoje.
No meio do ano passado, após um até hoje mal explicado episódio em que o vereador Anderson Goggi (PP) teria recusado convite para ocupar a Secretaria de Cultura, os líderes do PP e do Republicanos fizeram uma gambiarra política.
Pazolini já queria demitir o então secretário de Cultura, Luciano Gagno (Republicanos), denunciado e convocado pelo próprio Goggi a depor na Comissão de Cultura da Câmara de Vitória, presidida pelo mesmo vereador. A solução encontrada, então, foi nomear Edu Henning e vender a narrativa de que o jornalista teve o nome endossado pelos dirigentes do PP, incluindo os deputados federais Josias da Vitória e Evair de Melo, em diálogo com Pazolini.
Tudo não passou de uma grande encenação política.
Edu, então, ficou como se fosse “da cota do PP”… Mas não é filiado ao PP, não tem nem jamais teve ligação política alguma com o partido.
Agora, na transição de governos, o PP deverá indicar seus quadros mais orgânicos.
Também poderá ser preciso acomodar o PSD na gestão, quiçá com representação no secretariado.
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