Coluna Vitor Vogas
Análise: disputar Governo do Estado não é prioridade para o PT no ES
Candidatura a governador tende a ser sacrificada em nome de outra prioridade: eleger senadores para conter o avanço da direita bolsonarista no Senado. Segundo Jack Rocha, Espírito Santo é o único estado do Sul ou Sudeste que pode eleger dois senadores do campo progressista: Contarato e Casagrande

No sentido da leitura: Fabiano Contarato, João Coser, Jack Rocha e Helder Salomão
Voltar ao Governo do Estado não é prioridade para o Partido dos Trabalhadores (PT) no Espírito Santo. Consequentemente, é baixa a probabilidade de o partido do presidente Lula lançar candidato a governador em 2026. Questão de prioridades. É o que se pode concluir das duas entrevistas recentes dadas a esta coluna pelos dois principais líderes do PT no Estado atualmente: a deputada federal Jack Rocha, atual presidente estadual, e o deputado estadual João Coser, que assumiu a liderança da oposição interna à primeira.
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No momento, os dois disputam o comando do PT-ES. A eleição para a presidência estadual, marcada para o dia 6 de julho, será pelo voto direto dos filiados no Estado. Nas respectivas entrevistas, ambos falaram sobre os planos para o partido e lançaram algumas farpas um contra o outro (principalmente, Coser contra Jack Rocha). Mas em um ponto fulcral os discursos de ambos convergem: por ordem de prioridades, o PT no Espírito Santo quer fazer o que for preciso para ajudar a reeleger Lula no Planalto. Todas as outras decisões e táticas estarão subordinadas a esse objetivo estratégico.
Em segundo lugar, em se tratando da eleição majoritária estadual, o partido faz questão de se empenhar na renovação do mandato do senador Fabiano Contarato (eleito pela Rede em 2018 e transferido para o PT em 2022). Para conter o avanço da direita bolsonarista no Senado – consequentemente, contra o STF –, já observada em 2022, Lula e o PT querem eleger o maior número de senadores aliados no país. Depois disso, vem a eleição para deputados federais. Lançar candidato próprio ao Palácio Anchieta, nesse caso, fica em quarto plano. Bem longe de ser prioridade.
Protocolarmente, tanto Coser como Jack Rocha afirmam que, por desejo pessoal – em sintonia com o desejo da militância –, gostariam muito de ver o PT com candidato próprio e de “votar no 13” para o Palácio Anchieta. Não diriam nada diferente disso, para não frustrar prematuramente a esperança dos filiados, ainda mais neste momento, no qual disputam os votos da militância. Por outro lado, para não criar falsas expectativas e serem acusados lá na frente de “terem voltado atrás”, os dois fazem uma série de ressalvas e ponderações.
Comecemos por Jack Rocha.
O que diz Jack
“Somos indivíduos separados no contexto da geopolítica nacional e estadual? Não”, pergunta e responde, retoricamente, a atual presidente do PT-ES.
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A dirigente estadual desenvolve:
“O meu desejo é que o PT tenha candidatura a governador do Espírito Santo, mas o cenário de 2026 coloca para nós um desafio. Existe uma frente de extrema-direita que está se formando para chegar ao Senado. E teremos uma disputa para a Presidência e para o Senado na qual os estados das regiões Sul e Sudeste são considerados mais conservadores. Se você olhar para esses setes estados, o único governador que tem um posicionamento mais progressista é Renato Casagrande. Em 2022, muito sabiamente, tomamos a decisão de fazer essa aliança aqui no campo progressista porque não poderíamos deixar o Espírito Santo ser governado pela extrema-direita. Tivemos essa responsabilidade”, resgata a petista.
“Agora, trazendo para 2026, nos sete estados do Sul e do Sudeste, o Espírito Santo é o único que tem a possibilidade real de fazer um senador de centro e um de esquerda. No Rio de Janeiro, por exemplo, os senadores eleitos poderão ser o Cláudio Castro [de direita] e a Benedita da Silva [do PT]. Agora, no Espírito Santo, a gente pode ter o senador Fabiano Contarato e ter, de repente, Renato Casagrande. Isso conta muito quando o Lula olha para esse cenário. O desafio do PT e do presidente Lula é olhar para esse cenário e priorizar as eleições para essas Casas. Então tudo isso será analisado. É claro que o PT, individualmente, quer ter candidato a governador, e eu pessoalmente gostaria que o PT tivesse candidatura própria. Mas não se ganha eleição sozinho nem se governa sozinho, e o Lula sabe disso”, formula a deputada.
O ponto-chave é o que frisamos acima: Lula e o PT estão priorizando a eleição de senadores do partido e de aliados, dentro do campo progressista, em 2026, para conter o avanço da extrema-direita bolsonarista no Senado. Dos sete estados das regiões Sul e Sudeste, destaca Jack Rocha, o Espírito Santo é o único em que o PT vislumbra chances reais de eleição de um senador de esquerda (Contarato) e um de centro-esquerda (Casagrande).
O que fica implícito no discurso da atual presidente estadual: o PT pode lançar um pré-candidato a governador para ganhar musculatura na mesa de negociação sobre as disputas majoritárias no Espírito Santo – papel cumprido, por exemplo, por Contarato em 2022.
Mas o “desejo individual” do PT de enfim voltar a lançar candidato a governador no ES pode ser adiado novamente se o partido, em suas instâncias decisórias, concluir que é mais importante, estrategicamente, reeditar a aliança estadual com o PSB e apoiar a eleição de Casagrande ao Senado, ao lado de Contarato, para fazer dois senadores progressistas numa mesma coligação. Nesse caso, o PT poderá retirar a pré-candidatura a governador, entrar na coligação montada por Casagrande e até apoiar o candidato ao Governo do Estado a ser lançado por ele. Como contrapartida, é claro, pleiteará o apoio de Casagrande e seu grupo a Contarato.
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O que Jack Rocha não quer e não aceita é que o PT seja jogado para escanteio e vetado por quem quer que seja nessa mesa de negociação que tem Casagrande sentado à cabeceira.
“Nesse jogo político em que surgem tantas lideranças e tantos movimentos de pré-candidatura, falta considerar o PT na mesa. O PT tem tamanho, tem o presidente da República e às vezes é tratado como se não tivesse esse tamanho e a sua importância na história capixaba. O PT tem uma contribuição neste Estado e precisa ser visto como tal. […] O que não podemos aceitar é o isolamento do partido. […] É preciso considerar o PT na mesa pela importância que o partido tem. […] A política grande não tem que ter veto.”
O que diz Coser
Questionado se defende candidatura própria do PT ao Governo do Espírito Santo, Coser é até mais direto em hierarquizar as prioridades:
“Eu defendo, a Iriny [Lopes] defende, todos nós gostaríamos de votar no 13. Mas nós temos dimensão da importância dessa decisão, ela tem que ser partidária, não pode ser pessoal. Não depende do meu desejo. Ela depende também do Lula, depende da direção nacional. Nós só teremos candidatura própria se ela contribuir com o projeto nacional. As prioridades do PT são: presidente da República, senador, deputado federal, e depois é que vem para o Governo do Estado. A hierarquia é os três de Brasília, então a prioridade sempre está focada no que for importante para o partido”.
O deputado afirma que a decisão depende de “acúmulo” e a joga mais para a frente:
“Para o Senado, nós já temos confirmado entre a gente que é o Contarato. E o Lula também. Para parlamentar, no PT, cada um se coloca de acordo com a sua avaliação e com a sua necessidade. Eu sou pré-candidato a deputado federal, a Iriny a estadual, Helder [Salomão] a federal. Mas nós vamos conversar sobre a questão de Governo do Estado”.
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Ele prossegue:
“Tendo esse acúmulo, nós vamos lá conversar com eles, Governo Federal e direção nacional do partido, se eles avaliam que é importante ter uma candidatura forte aqui no Estado. Se avaliarem que sim, o candidato é o Helder. Aí vem com o quê? Com apoio do partido, estrutura e apoio político. Se tiver essas condições dadas, nós teremos candidato ao governo, o Helder Salomão, que hoje é candidato a deputado federal. Se não tiver essas condições, nós vamos refletir um pouco mais à frente como é que a gente se comporta. Nós já teremos uma candidatura majoritária, ao Senado, então já temos o Lula e o Contarato para fazer a nossa campanha”.
Pensando justamente no Senado, Coser reconhece que estar com o PSB numa coligação majoritária, tendo Casagrande e Contarato como os candidatos ao Senado, é o cenário ideal para o PT no Espírito Santo: “Sim. Isso facilita para o PT. Estaríamos na mesma chapa, no palanque do Lula. Ajuda muito”.
Observação: quem é o possível candidato?
Uma diferença capital nos discursos de Jack e de Coser é que, na hipótese de o PT lançar um candidato ao Governo do Estado, a deputada evita falar em nomes, enquanto Coser é categórico em dizer que, nesse caso, o candidato do partido será Helder Salomão.
O deputado federal e ex-prefeito de Cariacica apoia Coser na disputa interna pela presidência do PT-ES.
Resgatando a história
O PT governou o Espírito Santo por um mandato, de 1995 a 1998, com Vitor Buaiz. Foi um dos primeiros governos do partido em um estado brasileiro. Em contrapartida, desde então, o PT não passa nem perto de chegar ao Palácio Anchieta. Nestas últimas três décadas, chegou a lançar candidatos (como Roberto Carlos em 2014 e a própria Jack Rocha, então chamada de Jackeline Rocha, em 2018), mas nenhum realmente competitivo.
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