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Coluna Vitor Vogas

Euclério: de pré-candidato a governador a principal cabo de Ricardo

Coluna analisa a decisão do prefeito de Cariacica de tirar o bloco eleitoral da rua dois meses após tê-lo colocado, firmando-se como o maior apoiador da pré-campanha do vice-governador na Grande Vitória

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Euclério Sampaio e Ricardo Ferraço

Euclério Sampaio e Ricardo Ferraço (31/05/2025)

Sempre que pode, o prefeito Euclério Sampaio faz questão de nos lembrar: não é chegado a Carnaval. Por ironia, logo após o deste ano, em princípios do mês de março, o chefe do Executivo de Cariacica pôs o bloco dele na rua. Seu bloco da pré-campanha, no caso. Conforme anotei aqui no dia 25 de março, após ouvir alguns aliados do prefeito, Euclério estava mesmo determinado a pavimentar a própria pré-candidatura a governador, pelo grupo de Renato Casagrande (PSB). Estava convencido de que tinha mesmo chances de ser escolhido pelo governador e de disputar a eleição de igual para igual com qualquer um.

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Munido dessa convicção, Euclério começou a fazer um movimento muito parecido com o que o prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini (Republicanos), tem feito desde janeiro e com o que o de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (sem partido), tem intensificado desde abril. Passou a circular um pouco mais além das divisas de Cariacica e a receber uma procissão de líderes políticos de cidades do interior, aliados e opositores de Casagrande, representantes das convenções da Assembleia de Deus e do Projeto Político Militar no Espírito Santo.

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“Euclério se movimenta para se candidatar ao Governo do Estado”, publiquei aqui no dia 25 de março.

Entretanto, durou pouco o ensaio de Euclério. Revendo radicalmente seus planos, o prefeito de Cariacica recolheu o bloco. Estava animado de verdade, mas decidiu “dar uma segurada” nos movimentos e no entusiasmo. Na contramão de Arnaldinho Borgo, suspendeu qualquer atitude que possa ser interpretada como construção de candidatura própria. Interrompeu, enfim, a pré-campanha. Segundo relatos, não aceita nem mais ser chamado de “meu governador” (nem de brincadeira).

Não só isso.

De potencial candidato a governador, Euclério se transformou em um dos principais apoiadores declarados da pré-candidatura de Ricardo Ferraço (MDB) ao Palácio Anchieta. Aliás, não há por que ser conservador aqui na escolha das palavras. Vamos cortar “um dos principais”. Hoje, entre todos os prefeitos do Espírito Santo, Euclério Sampaio desponta como o principal parceiro e cabo eleitoral de Ricardo em sua “marcha da viabilização”, pela importância de seu município e pelo tamanho da população governada por ele.

Na Região Metropolitana, os prefeitos de Cariacica, Serra, Vila Velha e Viana formam o cinturão político de “isolamento” de Vitória e de apoio ao governo Casagrande. Tanto na região como em todo o Espírito Santo, só há duas cidades maiores que Cariacica.

> Euclério: “Ricardo é o futuro governador do Espírito Santo”

A primeira é a Serra, governada desde abril por Weverson Meireles (PDT). O pedetista tem ótima relação com Ricardo, mas não se apresenta hoje como um apoiador de sua pré-candidatura, até porque seu compromisso primeiro é que com seu antecessor, Sérgio Vidigal (PDT), também apontado como possível candidato a governador na constelação casagrandista.

A segunda é Vila Velha, cujo prefeito, Arnaldinho Borgo, acaba de assumir a pré-candidatura a governador e de a pisar no acelerador da pré-campanha, inaugurando uma disputa interna (e já não tão velada) com o próprio Ricardo Ferraço.

Aí vem Cariacica, onde Euclério, repito, não só embarcou na pré-campanha de Ricardo como o fez de maneira contundente. No último sábado (31), em evento de prestação de contas do presidente da Assembleia, Marcelo Santos (União), Euclério chamou Ricardo, em discurso, de “futuro governador do Espírito Santo”. Indo muito além, o prefeito está organizando um megaevento em apoio a Ricardo na Matrix Musical Hall, casa de espetáculos localizada no bairro Campo Grande, para a próxima segunda-feira (9), às 18h30. A casa de shows tem capacidade para cerca de 7 mil pessoas. No evento de Marcelo, Euclério disse esperar “mais de 6 mil pessoas”.

A escolha do local é bem simbólica. Foi lá que, em julho passado, Euclério realizou a convenção conjunta do MDB de Cariacica e dos cerca de 15 partidos integrantes de sua megacoligação, lançando oficialmente sua candidatura à reeleição. Com público estimado em 6 mil pessoas pela organização, foi uma das convenções partidárias mais lotadas de que se tem notícia na história política do Estado.

Vale lembrar que Ricardo e Euclério entraram juntos no MDB, em outubro de 2023, em ato realizado no cerimonial de uma igreja evangélica em Cariacica, com a presença do presidente nacional da sigla, Baleia Rossi.

Profundamente evangélico e frequentador da Igreja Quadrangular, o prefeito pode dar uma ajuda e tanto ao católico Ricardo para ele desbravar o universo evangélico, proporcionalmente muito alto em relação à população total do Estado.

> Pesquisa traz ótima notícia para Ricardo. Mas também tem uma boa para Pazolini

Por que esse recuo de Euclério?

Em primeiro lugar, Casagrande está mesmo convencido de que Ricardo tem condições de se viabilizar e já deu todas as demonstrações de que pretende levar esse projeto até o fim. Em recente conversa com Euclério, a portas fechadas, o governador falou com ele da importância de seu grupo político mostrar unidade neste momento (leia-se: em torno de Ricardo), falar a mesma língua, concentrar esforços na mesma direção.

Na política, o sobrenome de Euclério é gratidão. O prefeito também decidiu dar a “segurada” sugerida por Casagrande e entrar com tudo no “Projeto Ricardo” por coerência e lealdade ao governador, mior responsável pelas entregas de sua administração e, portanto, corresponsável pela boa avaliação que lhe rendeu uma reeleição com as mãos nas costas. “Eu sou governo”, repete Euclério a aliados.

Doravante, Euclério não se dirá pré-candidato a não ser que Ricardo diga que não é candidato. Isso, hoje, está longe de acontecer.

Estado de saúde

Realisticamente, pode-se ponderar, é claro, o possível peso do estado de saúde de Euclério nessa decisão de recuar. É preciso recapitular que, desde janeiro, o prefeito já passou por pelo menos três internações hospitalares: primeiro, recebeu um transplante renal, depois foi internado por conta de uma infecção urinária e depois precisou passar por uma segunda operação, complementar, para extração dos rins primários (inutilizados).

Todavia, aliados de Euclério minimizam o peso desse fator. Admitem que, por ter um quadro de saúde que inspira cuidados, o prefeito naturalmente não poderia manter um ritmo de pré-campanha frenético como o que tem mantido, por exemplo, Ricardo, e o que Pazolini e Arnaldinho devem passar a imprimir. Mas lembram que, hoje em dia, muita coisa é feita virtualmente. Enfatizam, acima de tudo, que essa de fato não foi a questão determinante na decisão de Euclério, e sim a gratidão e a lealdade política.

Constatação final

Enquanto Euclério pisa no freio, Arnaldinho acelera…

> Cordel Político: a Corrida de Arnaldinho para ser Candidato a Governador