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Coluna Vitor Vogas

A troca de fantasia de Evair de Melo e o desfile duplo do PP no ES

Ninguém pode dizer que tem estabilidade total neste jogo. Como costuma ocorrer no Carnaval, caiu aquela chuvinha básica na noite do desfile das escolas. E a passarela do samba ficou escorregadia para todos

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Bloco do Pazola x Bloco do Casão: qual é o elemento em comum em ambos?

Bloco do Pazola x Bloco do Casão: qual é o elemento em comum em ambos?

No Espírito Santo, Evair de Melo foi mais rápido que todo mundo na largada da corrida rumo ao Palácio Anchieta: foi o primeiríssimo a declarar que era candidato a governador em 2026. Ainda em 2023, o deputado federal deu à coluna uma entrevista verbalizando exatamente essa intenção. Passados dois anos, porém, o plano mudou. Evair agora é tratado como candidato ao Senado, inclusive por Jair Bolsonaro (PL). No fim de dezembro de 2024, falando a um podcast amigo, o ex-presidente declarou sobre Evair: “É um tremendo companheiro. Gosto muito dele. Se ele vier candidato ao Senado, vou estar ao lado dele, ele vindo ou não pelo meu partido”.

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Poucos dias depois, no mês de janeiro, Evair passou a emitir sinais eloquentes de que está mergulhado, até o pescoço, no projeto da possível candidatura de Lorenzo Pazolini ao Governo do Estado. Sem nenhum rodeio, a direção estadual do Republicanos, partido de Pazolini, trata o prefeito de Vitória como pré-candidato a governador. Para começar a tirar a ideia do papel, o presidente da sigla no Estado, Erick Musso, passou a percorrer com Pazolini municípios do interior.

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Ao lado deles, sempre vai Evair de Melo. Ao inaugurar o road show com Pazolini – chamado por este de “Na Estrada com Pazola” –, o Republicanos emitiu uma nota oficial. Falou abertamente que Pazolini “deu seus primeiros passos rumo às eleições de 2026” e que “um dos objetivos [das excursões] é construir uma base sólida de apoio que fortaleça sua trajetória rumo ao Governo do Estado”.

O “primeiríssimo passo” foi a visita de Pazolini, com Erick e Evair, à Festa do Tomate, em Venda Nova do Imigrante, no fim de janeiro. Emblematicamente, trata-se da terra de Evair. Realçando ainda mais a importância do deputado no projeto de Pazolini em direção ao governo, a mesma nota do Republicanos o tratou como “um dos maiores líderes da direita do Estado”.

Não cabe, pois, a menor dúvida de que Evair está no projeto de Pazolini e Erick, e de que já está ajudando o prefeito de Vitória a se viabilizar. Nenhuma dúvida, tampouco, de que o ex-vice-líder de Bolsonaro na Câmara dos Deputados fez um ajuste de rota: por inspiração do ex-presidente, trocou a pré-candidatura ao governo pelo plano de disputar uma das duas vagas que estarão em aberto no Senado.

Até por conta de sua guerra com o STF, o ex-presidente, denunciado pela PGR por golpe de Estado, já declarou mais de uma vez que sua prioridade em 2026 será eleger senadores aliados.

Interrogação: o desfile duplo do PP sob a regência de Da Vitória

Todavia, no caso de Evair, há um gigantesco ponto de interrogação que repousa não propriamente sobre ele, mas sobre o partido dele, projetando uma grande sombra sobre o deputado e colocando em dúvida a viabilização de seus planos eleitorais.

Que Evair tende a franquear seu apoio pessoal a Pazolini, como referido acima, não cabe nenhuma dúvida – até porque seu “apoio pessoal” independe de qualquer questão partidária. Ele, Evair de Melo, pode apoiar quem quiser, sem necessariamente levar junto o apoio oficial de seu partido.

Já para ser candidato a qualquer cargo – mais ainda a senador –, o deputado precisa do aval do Progressistas (PP). E hoje não é ele quem controla o próprio partido no Espírito Santo. O presidente estadual do PP é o também deputado federal Josias da Vitória, coordenador da bancada do Espírito Santo no Congresso Nacional.

No momento, sob a condução de Da Vitória, não há a menor certeza de que o PP realmente desfilará com eventual candidatura de Pazolini ao governo em 2026, levando seus minutos de TV e seus recursos para financiamento de campanha.

Na verdade, o PP é hoje, no Espírito Santo, o partido com a posição mais dúbia quando se trata de tentar projetar o que serão as eleições majoritárias de 2026.

O grupo que quer lançar Pazolini a governador é um; o do governo Casagrande, que terá candidato próprio, é outro. Hoje, porém, sob a presidência de Da Vitória, o PP tem um pé em cada bloco. Literalmente, em cada bloco. A figura de linguagem, que remete ao Carnaval, ganhou absoluta concretude e se fez perfeitamente literal durante o evento máximo do Carnaval no Espírito Santo: o desfile das escolas de samba no Sambão do Povo, em Vitória, no fim de fevereiro.

Ali, diante dos olhos dos foliões que lotavam camarotes e arquibancadas, ficou visualmente demarcada a separação dos dois blocos políticos que se preparam para desfilar nas eleições estaduais de 2026. Caminhando pela apoteose do samba, duas alas de atores políticos fizeram fotos e saudaram a plateia, praticamente em simultâneo, mas passando bem longe uma da outra.

De um lado, o Bloco de Casagrande (com Ricardo Ferraço, Arnaldinho Borgo, Shymenne de Castro, Emanuela Pedroso e Juninho Abreu). Do outro, o Bloco de Pazolini, com Evair de Melo, Cris Samorini e Anderson Goggi (os três, do PP). Cada qual no seu canto.

Mas um outro elemento conseguiu se fazer destaque nos dois blocos. Exercitando o dom da ubiquidade (ou o poder do teletransporte), Da Vitória executou a proeza de ser o único político capixaba a desfilar nos dois blocos. Sem discriminação.

As fotos acima, sobrepostas, corroboram o que aqui se afirma. E consistem na prova cabal, visualmente incomparável e incontestável, da ambivalência do PP, no momento, a um ano do “desfile pra valer”, no carnaval político-eleitoral do Espírito Santo.

Como ficam Evair e o PP

Nas eleições municipais de 2024, o PP apoiou Pazolini e elegeu a vice-prefeita dele, Cris Samorini, sinalizando possível reedição da parceira com o Republicanos e apoio eleitoral a Pazolini em 2026.

No início deste ano, contudo, atendendo a Da Vitória, o governador Renato Casagrande (PSB) mudou o comando da Secretaria Estadual de Saneamento, Habitação e Desenvolvimento Urbano (Sedurb), trocando Marcus Vicente por Marcos Soares – indicação pessoal do presidente estadual do PP.

A princípio, isso reverteu ou, pelo menos, brecou a inflexão do PP para o movimento eleitoral de direita liderado pelo Republicanos no Espírito Santo. Hoje, o PP continua firme no governo Casagrande no Estado, enquanto também amplia sua participação na administração Pazolini em Vitória.

Em qual palanque estará o partido no Espírito Santo no ano que vem? Ninguém sabe. Mas o assédio dos dois lados está forte. Por essa razão, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), ao lançar sua pré-candidatura à sucessão de Casagrande em entrevista a esta coluna, citou o próprio Da Vitória (ao lado dele mesmo e de outros quatro nomes) como possível candidato a governador em 2026, pelo grupo de Casagrande. Também disse querer que o PP permaneça na coalizão governista e que trabalhará para manter essa unidade. Foi um vigoroso aceno.

Isso no que se refere ao PP e a Da Vitória.

Mas, tornando a Evair de Melo, como fica a situação do deputado?

Tratado na nota do Republicanos como “um dos maiores líderes da direita do Estado”, o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara é um dos principais opositores do governo Casagrande. Hoje, parece o político capixaba pessoalmente mais próximo de Jair Bolsonaro (PL) – mais até que o senador Magno Malta (PL) –, a tal ponto que o ex-presidente já afirmou que o apoiará se ele for candidato a senador. No dia 20 de janeiro, Evair assistiu à posse de Donald Trump ao lado de Bolsonaro.

Se o PP decidir ficar na coligação majoritária de Casagrande e apoiar seu candidato ao Palácio Anchieta, Evair dificilmente acompanhará a posição partidária. Nesse caso, para ser candidato ao Senado, terá de sair do PP – até abril do ano que vem. Mas sair para ir para onde?

O PL é o partido de Bolsonaro e começa a se reaproximar do Republicanos de Erick e Pazolini no Espírito Santo, visando à formação de uma frente da direita conservadora contra o bloco eleitoral de Casagrande. Em tese – apenas em tese –, poderia ser um destino para Evair, em condições de abrigar a postulação do deputado ao Senado.

Mas o próprio PL tem as suas próprias apostas para essa disputa majoritária: além do também deputado federal Gilvan, Magno Malta trabalha com o nome do deputado estadual Wellington Callegari e até com o de uma das próprias filhas, a publicitária Maguinha Malta (assessora de Gilvan na Câmara).

Logicamente, se Da Vitória de bom grado decidir levar o PP a apoiar Pazolini para o Governo do Estado, a permanência de Evair no partido fica muito facilitada.

Nesse caso, facilitada também pode ficar a candidatura de Evair ao Senado pelo PP, nessa coligação majoritária a ser encabeçada por Pazolini. Ou não. Há um grande “talvez” aqui.

É que, em todos esses cenários, é preciso levar em conta outro fator preponderante: as aspirações do próprio Da Vitória.

E se o próprio presidente estadual do PP quiser ser candidato a senador? Se o quiser, tendo o controle do PP no Estado, ele fica muito mais perto disso – e Evair, muito mais longe. Nesse caso, qualquer que seja o cenário e a posição do PP na disputa pelo Palácio Anchieta – fique o partido com o grupo de Casagrande ou com o de Pazolini –, Evair poderá sobrar, “espirrar” para fora da chapa…

A menos que…

A menos que o próprio Evair, por alguma via, assuma o controle do PP no Espírito Santo, tomando-o de Da Vitória até as convenções partidárias de julho e agosto de 2026. Essa hipótese, hoje, soa muito distante, e evidentemente só estamos a fazer conjecturas… Mas convém recordar dois detalhes.

O primeiro é que, se tem um cacique estadual, o PP também tem, acima de tudo e de todos (Da Vitória incluído), um cacique nacional. Chama-se Ciro Nogueira, senador pelo Piauí, ex-ministro de Bolsonaro e fidelíssimo ao ex-presidente.

O segundo é o modo como Da Vitória chegou ao comando do PP no Espírito Santo: por intervenção da Executiva Nacional em março de 2023, isto é, por determinação do próprio Ciro Nogueira, que destituiu Marcus Vicente e o substituiu por Da Vitória.

O deputado federal está à frente de uma Executiva Estadual definitiva, com vigência até 15 de julho de 2026, às vésperas do período das convenções partidárias para as eleições gerais. Mas o que vem fácil, teoricamente, também pode ir fácil…

Quando destituído, em 31 de março de 2023, Marcus Vicente também estava à frente, oficialmente, de um “órgão definitivo” no Estado. E isso não o impediu de cair. Do mesmo modo que o bolsonarista Ciro trocou Vicente por Da Vitória como quem troca um quadro na parede em 2023, poderá, em tese, trocar Da Vitória por um terceiro em 2026…

Resumindo: ninguém pode dizer que possui estabilidade total neste jogo. Como costuma ocorrer no Carnaval, caiu aquela chuvinha básica na noite do desfile das escolas.

E a passarela do samba ficou escorregadia para todos.