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Coluna Vitor Vogas

Evair de Melo: “Estou me preparando para disputar Governo”

Em meio a polêmicas, provocações e votos com a ala radical do PL na Câmara, deputado evidencia a estratégia de preencher o vácuo de Manato para se estabelecer como a voz da direita bolsonarista órfã no ES e seu candidato à sucessão de Casagrande em 2026. Coluna analisa os movimentos do deputado do PP

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Deputado Evair Vieira de Melo. Crédito: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

“Estou me preparando para disputar o Governo do Estado!!”

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Ricardo Ferraço (PSDB)? Josias da Vitória (PP)? Arnaldinho Borgo (Podemos)? Lorenzo Pazolini (Republicanos)?

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Não, nenhum deles.

Escrita assim mesmo, com duas exclamações, a frase é do deputado federal Evair de Melo (PP). Foi a resposta bem direta dele, por Whatsapp, quando lhe perguntei se ele pode surpreender com candidatura ao Palácio Anchieta em 2026.

“Isso não é novidade para ninguém. Não fosse a pandemia, teria sido em 2022, mas a pandemia me exigiu ficar muito em Brasília na liderança do governo Bolsonaro. Agora é outro momento”, emendou Evair – que na verdade foi um dos vice-líderes do governo Bolsonaro na Câmara dos Deputados durante a pandemia do novo coronavírus.

Dizendo-se muito motivado, o deputado do Progressistas desconversa sobre as articulações para atingir essa meta traçada por ele. “Articulações estão longe. Meu modus operandi difere muito do convencional.”

Evair, assim, se junta a um punhado de líderes políticos capixabas ascendentes (ou reascendentes) que aspiram à mesma posição: aquela hoje ocupada por Renato Casagrande (PSB), à cabeceira da mesa de despachos do Palácio Anchieta. O cargo estará vago com o fim do terceiro governo do socialista em 2026. Como ele não poderá emendar novo mandato, a fila da sucessão já vai grande, e a precocidade dos movimentos é proporcional à expectativa de poder.

Dos muitos aspirantes à vaga, ao menos para a coluna, Evair é o primeiro a verbalizar o interesse em suceder Casagrande. Aliás, o deputado admite não apenas ter interesse como estar se preparando para isso.

Alguns dos nomes cotados – Ricardo, Arnaldinho, Euclério Sampaio (União Brasil), Gilson Daniel (Podemos), Helder Salomão (PT) – são aliados do governador. Evair, definitivamente, não é. Entre os 13 membros da bancada do Espírito Santo no Congresso, desde o mandato passado, ele é a principal voz de oposição ao governo Casagrande. Desde a volta de Lula (PT) à Presidência, também tem se consolidado como maior opositor ao governo do petista na bancada capixaba em Brasília.

Mais que um aguerrido opositor dos governantes de esquerda, Evair também se estabeleceu como um parlamentar bolsonarista daqueles incondicionais. De 2018 para cá, seu mergulho no bolsonarismo foi total e parece ter chegado ao ápice com a reascensão de Lula ao poder central, o que leva Evair a beirar o radicalismo em algumas pautas e episódios, dando a impressão de hoje estar mais à direita que o deputado Gilvan da Federal e o senador Magno Malta, congressistas eleitos pelo PL no Espírito Santo.

Mantendo-se fiel ao ex-presidente, Evair tem flertado com a oposição mais extrema: nos salões do Congresso, participa de manifestações pedindo o impeachment (?!) de Lula.

Em 5 de maio, foi o único deputado capixaba a votar contra projeto da igualdade salarial entre homens e mulheres (um dos 36 únicos a votar contra a matéria, sendo 24 deles do PL, entre os 513 deputados).

No dia 23, deu um dos 108 votos (contra 372 favoráveis) ao projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal, arquitetado pela equipe do ministro Fernando Haddad (PT). No último mês, envolveu-se em atritos de grande repercussão com dois dos mais badalados ministros do governo Lula.

Um deles foi o próprio Haddad. No dia 17 de maio, na reunião conjunta de três comissões da Câmara, em que o ministro da Fazenda foi explicar o projeto do novo arcabouço, Evair disse na cara de Haddad que “todo mundo reconhece a sua limitação”. Ouviu do ministro que ele nunca conheceu ninguém mais limitado que Bolsonaro.

Uma semana depois, no dia 24, durante audiência da Comissão do Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara, Evair condenou a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), porque ela usou o trocadilho “ogronegócio” para se referir a determinado setor do agronegócio brasileiro (o que desmata).

“A senhora vai lacrar, naturalmente, com esse tema aqui”, disse o deputado à ministra. “Desculpa, deputado, mas eu sou uma mulher preta, pobre, que chegou aqui porque ralou muito, não é porque lacrou”, rebateu Marina, sob aplausos, explicando que a expressão fora um “esforço de retórica”.

As estratégias de Evair

Discussões, votações e lacrações à parte, no que mais nos interessa nesta análise, resulta bastante evidente a pista que Evair escolheu para percorrer o caminho que o separa das eleições de 2026, isto é, a faixa pela qual ele quer disputar essa corrida até lá: aquela entre a direita e a extrema direita.

Ao adotar comportamentos que o aproximam de uma minoria radical no Congresso, Evair sabe perfeitamente o que está fazendo. Quando marca posição contrária ao projeto mais importante do governo Lula até agora na área econômica, quando se posiciona contra um marco civilizatório na luta pela equiparação dos direitos das mulheres aos dos homens, quando arruma “gratuitamente”, sem razão aparente, um entrevero com ministros de Estado destacados e altamente midiáticos, Evair alcança dois objetivos de uma vez:

1) Em primeiro lugar, para o bem ou para o mal, ele se destaca. Ora, quando você tem poucos agindo como ele, falando como ele e votando como ele em meio à multidão de mais de 500 deputados, Evair passa a chamar a atenção do público em geral, mas, de modo bem mais específico, do público que ele pretende atingir. À medida que se estabelece como representante da minoria radical bolsonarista, ele passa a se destacar junto ao eleitorado com esse mesmo perfil: o dos mais radicais bolsonaristas, que podem até ser minoritários, mas já provaram representar pelo menos 20% dos eleitores brasileiros.

2) Em segundo lugar, ele viraliza. As polêmicas cavadas por Evair nas comissões não nascem “do nada”, não têm nada de fortuitas ou gratuitas. Ele parece já chegar aos encontros predisposto a provocar uma boa briga, predeterminado a criar momentos de confrontação como aqueles, a fim de aproveitar seus minutos de interface direta com os ministros da maneira mais eficaz possível segundo a lógica das redes sociais.

Ora, aqueles interlocutores não são membros quaisquer do governo Lula, mas ministros proeminentes que sempre despertam elevada atenção do público e da mídia nacional. É uma raríssima oportunidade, que não pode ser desperdiçada, para falar diretamente a esses representantes do governo, com direito a resposta e réplica. É preciso tirar o máximo proveito dos seus poucos minutos de embate face a face com eles, o que na lógica das redes sociais significa criar o momento ideal para obter o recorte perfeito para fazê-lo viralizar nas redes. Cartilha pura do bolsonarismo. Magno também o faz com maestria – vide o recente episódio relacionado a Vini Jr.

A predisposição beligerante gera a “treta”, que gera o recorte, que gera o viral, que gera alta repercussão para o deputado – certamente muito positiva entre o público que ele deseja atrair, junto ao qual passa a ser visto como o cara que peitou Haddad, que censurou Marina etc. Agindo como um grande provocador, ele provoca o efeito que almeja.

Fica patente, assim, desde já, que Evair quer se estabelecer como aquilo que foi Manato em 2022, preenchendo o vácuo deixado pelo ex-deputado (sem mandato desde 2018): o candidato da direita bolsonarista no Espírito Santo. É com esse perfil que quer concorrer, possivelmente apostando numa polarização com o candidato oriundo do petismo (Helder? Contarato?) e/ou de outras forças de esquerda, como o próprio PSB de Casagrande, na sucessão do governador socialista. Tempo para isso não lhe falta: terá três anos para isso e, como exposto acima, já está trabalhando com afinco no posicionamento dessa imagem.

Note-se que Evair goza de uma grande vantagem em relação a Manato (que passou os últimos quatro anos sem mandato e na situação com Bolsonaro no poder): o deputado tem mais de três anos pela frente no exercício do mandato no Congresso, para confrontar bastante o governo Lula e mostrar serviço na oposição.

Concorrência interna

Uma questãozinha se coloca. Se o plano for realmente esse e Evair tiver êxito em se estabelecer como a nova face e o candidato dos bolsonaristas órfãos no Espírito Santo, é possível que ele concorra, sim, ao Palácio Anchieta, mas por outro partido que não o Progressistas (partido de centro-direita e senhor do Centrão no Congresso). O PL ou outro partido à direita do PP pode lhe ficar mais cômodo e lhe vestir melhor do ponto de vista ideológico.

Se ele ficar no Progressistas, há questões de ordem prática a superar, começando por uma dura concorrência interna: com perfil de direita como ele, porém mais discreto e moderado – além de muito mais afeito a articulações de bastidores –, o outro deputado federal do PP-ES, Da Vitória, quer o mesmo que Evair: ser candidato a governador. Mas com um fator jogando muito a seu favor: desde abril deste ano, Da Vitória tem total controle sobre os rumos da sigla no Estado. A se manter a atual situação, a legenda pende para ele próprio.

Também é possível, é claro, que até 2026 todos eles – Evair, Da Vitória e muitos outros aliados – se entendam e se distribuam pelos muitos cargos vistosos que estarão em disputa – além de governador, duas vagas no Senado e dez na Câmara Federal.

Já destrinchei aqui um princípio de movimento visando à formação de uma ampla frente de direita para unir forças no Espírito Santo nas próximas eleições municipais (2024) e estaduais (2026). Esse movimento; tem o PP entre os protagonistas; busca aglutinar Republicanos, PL, entre outros; e vem sendo liderado justamente por Da Vitória e, mais discretamente, Evair.

Sob a liderança de Da Vitória, o Progressistas tem se distanciado gradativamente do governo Casagrande. Se o partido sair mesmo da coalizão casagrandista, Evair na certa não ficará descontente.