Coluna Vitor Vogas
A mudança de estratégia de Magno Malta para as eleições de 2026
Senador e líder do PL no Espírito Santo vira a chave e muda o discurso mantido em 2024. Postura de isolamento dá lugar à busca de alianças com outras forças de direita, visando à formação de uma coligação mais forte para o Senado e o Governo do Estado. Leia tudo aqui

Magno Malta é senador pelo Espírito Santo. Foto: Andressa Anholete/Agência Senado
Durante as eleições municipais do ano passado, o senador Magno Malta repetiu incansavelmente o mantra de que as eleições estaduais de 2026 passavam por 2024. Para a disputa pelas prefeituras das cidades, o presidente estadual do Partido Liberal (PL) adotou uma estratégia isolacionista e refratária ao diálogo – traduzida em uma resolução que vetou alianças com quase todos os outros partidos, inclusive outras forças de direita.
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A estratégia foi muito arriscada e não deu bons resultados: no Espírito Santo, o PL lançou 50 candidatos a prefeito, mas só elegeu cinco, todos em cidades pequenas. Nos dez maiores municípios, o candidato mais votado do PL, Léo Camargo, em Cachoeiro, teve pouco mais de 20% dos votos válidos. Passada a eleição municipal, escala para 2026, era preciso voltar à prancheta e, quiçá, rever conceitos.
Magno parece tê-lo feito.
Com o olhar em 2026, o líder do PL no Espírito Santo dá sinais de ter virado a chave, mudando o discurso e a estratégia. A postura antidialógica, de pretensa autossuficiência e quase total isolamento, agora dá lugar a outra, mais aberta ao diálogo com outras forças de direita e de centro-direita no Estado.
Para as eleições majoritárias, ao Palácio Anchieta e ao Senado, o PL indica querer buscar, se não uma difícil unidade, composições e alianças estratégicas com outros partidos do campo conservador. Eloquente nesse sentido é a nota oficial da direção do PL-ES enviada à coluna na última quinta-feira (6):
“O foco do partido, neste momento, é dialogar com partidos de direita e centro-direita para a construção de uma chapa [majoritária] forte, representativa e comprometida com o Espírito Santo, sem abrir mão da participação direta e do protagonismo do PL. O partido tem voto orgânico, militância engajada e nomes prontos para vencer nas urnas em todos os níveis: Estadual, Federal, Senado e Governo”.
A direção estadual completa: “Seguiremos ouvindo a todos, conversando e trabalhando com responsabilidade até as convenções”.
Se fosse qualquer outro partido, dirigido por outro líder político, poderia até soar como discurso protocolar. Em se tratando de Magno Malta, é uma mudança significativa em relação ao discurso mantido por ele no ano passado, durante as eleições municipais. A nota em si pode ser lida como um baita aceno do senador a partidos como o Republicanos e o PSD, os quais, assim como o PL, giram fora da órbita do governo Casagrande (PSB) no Espírito Santo.
Em suma, o fato novo é: Magno agora quer dialogar.
Dialogar com potenciais aliados em busca do fortalecimento mútuo.
A nota do PL-ES acrescenta que o nome do próprio Magno passou a ser discutido internamente para a eleição ao Palácio Anchieta: “Além disso, o nome do senador Magno Malta também foi colocado em debate para a disputa pelo Governo do Estado — e, como ele próprio afirma, até o próximo ano, tudo pode acontecer”.
Ainda na nota oficial, o PL-ES reafirma seu compromisso com o Espírito Santo e com a defesa da liberdade e dos valores conservadores.
Contexto: a possível frente de direita
No sistema político-partidário do Espírito Santo, hoje, poucos partidos não gravitam ao redor do governador Renato Casagrande e de seu governo, sustentado por uma invejável coalizão que vai da esquerda a representantes da direita. Entre as siglas mais relevantes, apenas três, de fato, operam fora do campo casagrandista. Há o Partido Social Democrático (PSD), futuro abrigo do ex-governador Paulo Hartung. E há, acima de tudo, o Partido Liberal (PL) e o Republicanos.
Tanto nacionalmente como na esfera estadual, PL e Republicanos têm muito mais semelhanças do que diferenças, seja nas feições ideológicas, seja na agenda comportamental e econômica, seja nas aspirações eleitorais. O PL é a casa do ex-presidente Jair Bolsonaro; o Republicanos, a do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Em que pese o Republicanos (Centrão na veia) ter espaços no governo Lula (PT), as duas siglas se destacam, no espectro partidário, como representantes de uma direita ultraliberal na economia e altamente conservadora nos costumes.
No Espírito Santo, PL e Republicanos são presididos, respectivamente, pelo senador Magno Malta e pelo ex-presidente da Assembleia Erick Musso. Estão fora, repita-se, do movimento de Renato Casagrande.
Na eleição majoritária de 2026, para escolha do próximo governador e de dois senadores, essas duas forças não estarão no palanque montado e liderado pelo atual chefe do Executivo Estadual. Muito mais provável que estejam em palanque(s) adversário(s), fazendo-lhe oposição à direita. O uso do plural ou do singular é exatamente o cerne da questão aqui: para enfrentar o time de Casagrande, Republicanos e PL estarão juntos ou não, numa mesma coligação e num palanque unificado? Eis o ponto-chave.
Pela lógica, a resposta seria simples. Uma aliança estratégica, com a formação de uma frente de direita em torno de PL e Republicanos, faria perfeito sentido. Até porque o palanque governista tende a vir fortíssimo, com toda a máquina estadual a empurrar e uma ampla coligação erguida por Casagrande para fazer seu sucessor, enquanto ele mesmo tende a ser candidato a uma vaga no Senado.
Hoje, o nome trabalhado pelo Palácio Anchieta para ser o candidato à sucessão de Casagrande é o do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). Enquanto isso, o Republicanos já trabalha a possível candidatura do prefeito de Vitória, Lorenzo Pazolini. O PL, hoje, não tem um pré-candidato natural. A ventilação do nome de Magno, na nota acima enviada à coluna, pode ser compreendida muito mais como uma forma de se fortalecer numa futura mesa de negociações.
Em teoria, unindo forças num palanque de oposição para fazer frente ao poderio do governo, Republicanos e PL logicamente se fortalecem no processo.
Mas a política não obedece à pura lógica.
O racha em 2024
Durante as eleições municipais de 2024, em vez de se aproximarem no Espírito Santo, PL e Republicanos praticamente racharam. O pano de fundo foi a disputa interna pela liderança do campo da direita conservadora no Espírito Santo.
O afastamento foi puxado por Magno. Como lembramos no início deste texto, o senador veio para a eleição municipal com uma tática de isolamento voluntário, partindo da premissa (declarada) de que só o PL representaria a verdadeira direita e, portanto, quem PL não fosse, direita não poderia ser.
O pensamento ganhou concretude em um documento oficial: a poucos dias do encerramento das convenções, em 5 de agosto, Magno fez circular pelos diretórios municipais do PL a imposição de veto total da direção estadual (ele mesmo) a alianças com todas as “agremiações partidárias de espectro político à esquerda”, incluindo o Republicanos. Afora o PL, ele considerava todo mundo esquerda, ou direita fake.
Enquanto isso, o Republicanos foi pelo caminho oposto, bem mais pragmático: buscou o máximo de alianças estratégicas, com quem pôde e onde pôde.
O partido comandado por Erick saiu-se melhor nas urnas: elegeu oito prefeitos no Espírito Santo, incluindo o de Guarapari, Rodrigo Borges, e a reeleição de Pazolini em Vitória, além de ter sido decisivo na vitória de Renzo Vasconcelos (PSD) em Colatina. No meio do processo, em resposta direta a Magno, Erick contragolpeou: “Ele não é dono dos conservadores do Espírito Santo. Não fui eu que no passado andei o Brasil pedindo voto para Lula e Dilma”.
Ficou explícito o cisma na direita mais direitista no Espírito Santo.
Mas em política não há conflitos incontornáveis nem aliados irreconciliáveis.
Virada a página das eleições municipais, com as perdas e ganhos gerais devidamente computados, todos já entraram no modo “eleições 2026”. É o momento de reagrupar as tropas e se reposicionar no jogo. De olho na próxima disputa – a mais importante de todas –, PL e Republicanos, por meio dos respectivos líderes, já começam a ensaiar fortemente uma reaproximação.
Erick Musso fez gestos. A nota de Magno, agora, pode ser entendida como um aceno de volta, em resposta ao líder do Republicanos. Um cachimbo da paz pode estar prestes a ser fumado pelos dois caciques da direita capixaba…
Sem nenhuma dupla conotação (como no rap de Gabriel O Pensador) e com todo o respeito a Magno, radicalmente contrário ao uso de maconha para fins recreativos.
Os sinais de reaproximação
A virada de chave começou na virada do ano.
No dia 31 de dezembro, Erick mandou uma mensagem de texto para Magno, com votos de feliz ano novo. O senador lhe respondeu com um aceno, sinalizando que os dois precisam conversar. O muito aguardado encontro poderá se consumar em breve. Até lá, o que não falta são evidências, fortes evidências, desse princípio de reaproximação estratégica.
Em fevereiro, Erick recebeu dois deputados do PL em seu gabinete na Prefeitura de Vitória, onde é, desde janeiro, o secretário de Governo de Pazolini: Lucas Polese (de Colatina) e Callegari (de Cachoeiro). São, desde o início do atual mandato, em 2023, os dois deputados que fazem a mais barulhenta oposição ideológica ao governo Casagrande no plenário da Assembleia – mais até que o Capitão Assumção (PL), que passou a centrar fogo em pautas nacionais e no governo Lula.
No dia 13 de fevereiro, Erick tomou café numa padaria com o deputado federal Gilvan da Federal. Também conversou com o deputado estadual Danilo Bahiense e com o ex-vereador de Cachoeiro Léo Camargo. Todos do PL.
Em outro forte sinal, o Republicanos deu guarida a dois assessores do Coronel Alexandre Ramalho, também do PL, candidato derrotado à Prefeitura de Vila Velha em 2024, incluindo o coordenador da campanha dele, Anderson Barbosa, no principal bunker do partido no Estado: a Prefeitura de Vitória. A nomeação para os cargos comissionados foi feita por Pazolini. A costura, por Erick Musso.
No Republicanos, é sólida a convicção de que, nas eleições de 2026, PL, Republicanos e PSD precisam estar juntos numa frente de direita no Espírito Santo, para se fortalecerem mutuamente. O PSD já está bem entrosado com o Republicanos, desde as eleições municipais. O presidente estadual do partido é o prefeito de Colatina, Renzo Vasconcelos, devedor do Republicanos pelo apoio fundamental para ele chegar à prefeitura da terceira maior cidade do interior.
O próprio Erick Musso acredita que essa frente, com esses três partidos, seja bastante plausível, e trabalha para viabilizá-la. Também não desistirá de agregar outras siglas posicionadas do centro para a direita, mas hoje incorporadas ao governo Casagrande, como PP, Podemos e União Brasil. Falta, é claro, convencer o PL a ir junto… Ou, mais especificamente, convencer Magno Malta a levar consigo o PL.
Mas Magno agora está disposto a ouvir. Como diz a nota do PL, “seguiremos ouvindo a todos”.
