Coluna Vitor Vogas
Vitor de Angelo se lança: “Sou pré-candidato a deputado federal”
Em entrevista exclusiva à coluna, secretário estadual de Educação explica por que decidiu enfrentar sua primeira eleição, pelo grupo de Casagrande

Vitor de Angelo é secretário estadual de Educação
O professor, historiador e cientista político Vitor de Angelo está à frente da Secretaria de Estado da Educação (Sedu), segunda pasta com a maior fatia do orçamento estadual, desde o início do segundo governo de Renato Casagrande (PSB), em 2019. Com perfil intelectual, já teve uma incursão pelo mundo político-eleitoral: em 2022, coordenou a campanha do próprio Casagrande à reeleição no 1º turno – no 2º, deu lugar a Tyago Hoffmann (PSB). Agora, prepara-se para dar o grande salto, que bem poucos acadêmicos como ele ousam dar: “Sou pré-candidato a deputado federal em 2026”, anuncia De Angelo, nesta entrevista exclusiva.
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No bate-papo com a coluna, ele conta que decidiu encarar a sua primeira eleição em diálogo com Casagrande, incentivado pelo governador e justamente para defender “o legado” do atual governo no campo da educação pública. Um legado que, segundo ele, inclui 200 novas escolas em tempo integral na soma dos dois mandatos, uma ajuda sem precedentes às redes municipais de ensino e uma ótima posição no Ideb, entre as redes estaduais de ensino médio.
O secretário ainda não escolheu seu partido, mas adianta que será, necessariamente, uma sigla do campo progressista democrático, onde ele mesmo se enxerga, e pertencente ao arco de alianças a ser constituído em torno de Casagrande (pré-candidato ao Senado) e do vice-governador Ricardo Ferraço (MDB), pré-candidato a governador.
Logo em sua primeira campanha, De Angelo já tentará chegar ao Congresso para, segundo ele, participar das discussões sobre a legislação da educação brasileira (essencialmente, federal) e ajudar a garantir o financiamento da área.
Ele também comenta o desafio de enfrentar as urnas – e o escrutínio do eleitorado – tendo perfil altamente acadêmico, muito raro entre os nossos mandatários, num contexto em que as pessoas em geral têm demonstrado preferência por candidatos que, para dizê-lo de modo suave, têm perfil exatamente oposto.
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Abaixo, a nossa entrevista com o secretário Vitor de Angelo.
O senhor confirma que decidiu ser candidato a deputado na eleição do ano que vem?
Confirmo, sim. Sou pré-candidato a deputado federal em 2026.
Por que o senhor tomou essa decisão? E por que agora?
Foi algo natural. Como o governador Casagrande já disse várias vezes, nós não podemos ser só técnicos. Temos que ser políticos também no exercício de um cargo como esse que eu ocupo. Eu sou um agente político, já ocupo esse cargo há quase sete anos, exercendo essa função de maneira muito técnica, mas com sensibilidade política. Então, a passagem para o mundo da política em termos de mandato eletivo é quase natural, é quase um desdobramento. Depende, naturalmente, de uma decisão pessoal, de se dispor a isso. Tem gente que atua com essa sensibilidade política e, por razões diversas, não dá esse passo. Depende de apoio, depende de condições. Eu acho que reuni essas condições todas e, por essa razão, tomei a decisão de apresentar meu nome, primeiro ao governador, como líder do grupo político do qual eu faço parte, e, no momento certo, às pessoas que poderão, então, no exercício do direito ao voto, ter a opção de escolher o meu nome como seu representante.
O governador o apoia, o estimula? O senhor o tem como um incentivador dessa decisão?
Acho que essas três coisas: apoia, estimula, incentiva. Nós temos muito a apresentar na área da educação. Eu tenho dito que nós temos um legado. Do meu ponto de vista, nós temos um legado, que é uma palavra, em si, positiva. Temos muitos dados positivos a mostrar. A gente realmente fez coisas que, de forma muito humilde eu digo, sem nenhuma vaidade, sem nenhum autoelogio aqui, transformaram a educação capixaba para melhor. Obviamente, tem muitos desafios, que não são só nossos, mas nós temos os nossos. Mas, no tempo que tivemos, com os desafios que tivemos, da pandemia, por exemplo, e dos seus impactos, nós fizemos coisas que transformaram o sistema educativo capixaba, obviamente junto com todas as pessoas que compõem a educação pública capixaba.
O que o senhor destaca?
Nós saímos, por exemplo, de 32 escolas de ensino em tempo integral para 214 este ano. Esse é o número atual. E estamos nos organizando para abrir mais algumas ainda no ano que vem. Então, em janeiro e fevereiro de 2026, quando começar o próximo ano letivo, nós teremos 200 escolas a mais do que recebemos, porque o governador prometeu 100 no primeiro mandato, de 2019 a 2022, e se comprometeu a abrir mais 100 escolas [no atual mandato]. Então, nós já estamos perto disso. Vamos totalizar a abertura de 200 novas escolas de tempo integral, que se somam às 32 já existentes quando assumimos em 2019. É uma expansão sem precedentes.
O Espírito Santo é um estado que, já no primeiro ano da nossa gestão, ampliou as conquistas que já tinha alcançado, tornando-se, por exemplo, o primeiro lugar no ensino médio no Brasil, de acordo com o Ideb. Depois nós, de fato, tivemos um prejuízo grande com a pandemia, porque tínhamos as escolas que mais ensinavam e, quando elas fecharam, fomos o Estado que mais perdeu, porque o fator escola pesava muito. Mas conseguimos recuperar boa parte dessas conquistas e nos tornamos, mais uma vez, uma liderança no Brasil no ensino médio, no último Saeb [Sistema de Avaliação da Educação Básica, uma das duas variáveis consideradas no cálculo do Ideb; vide nota após a entrevista*].
O Governo Federal, já sob o mandato do Lula, estabeleceu o Compromisso Criança Alfabetizada e, no ano passado, o Espírito Santo foi apresentado como o terceiro estado que mais alfabetiza crianças na idade certa no Brasil. Durante a pandemia, nós fomos o estado que mais investiu em educação, entre todos no Brasil. Se não me falha a memória, apenas três aumentaram os investimentos na área durante a pandemia, e nós fomos o primeiro desses três. Então, estou aqui citando alguns números porque eles são públicos e aí são mais objetivos. Demonstram muito do nosso legado. Não são avaliações nossas, não são rankings que a gente produz. São coisas externas que destacam o nosso estado e o nosso trabalho.
Além disso, quando a gente passa pelas nossas escolas e vê a transformação do que é visível, na rede física, é algo impressionante. A gente deve chegar ao final deste ano com 70% das escolas climatizadas. Nós reformamos e ampliamos praticamente todas as escolas. Na formação de professores e na remuneração dos professores, a gente também deu passos importantes. Então, acho que a gente fez muita coisa. E aí, em resumo de tudo o que eu disse, existindo esse legado, é importante que exista quem defenda esse legado.
O governador não fará isso, como candidato a senador?
O governador fará isso, naturalmente, no caminho que ele vai seguir. Mas eu digo alguém que conduziu esse trabalho na secretaria, nessa perspectiva que eu apresentei.
Sua maior bandeira de campanha evidentemente será a educação… Mas a sua principal plataforma, o que o senhor apresentará na campanha para se eleger, serão as realizações da sua gestão à frente da Sedu?
Eu entendo que é natural que seja assim. Foi nessa área em que eu sempre atuei. Eu sou essencialmente um professor, me formei em História, fiz meu doutorado e meu pós-doutorado na área de Ciência Política, de Sociologia Política. Na sala de aula, na educação básica e no ensino superior, comecei o meu trabalho na educação… Lógico, um trabalho essencialmente na minha sala de aula, com os meus alunos. Isso ganha uma outra escala quando eu venho para a secretaria. E acho que uma candidatura a deputado federal é a continuidade de um trabalho voltado para a educação, porém numa outra escala, num outro plano, com outro escopo.
Agora, acho que é interessante também olhar o seguinte: se a Sedu fosse uma prefeitura, por exemplo, eu seria o prefeito da maior cidade do Espírito Santo…
Em termos de orçamento?
Maior orçamento, maior número de servidores, maior número de linhas de transporte…
E qual é o orçamento da Sedu para este ano? Uns R$ 3 bilhões, mais ou menos?**
Com a suplementação, vai chegar a R$ 3,5 bilhões.
Supera o da Prefeitura de Vitória, por exemplo…
É maior até que o da Serra***. Então, isso não me coloca numa posição de ser melhor do que nenhum prefeito, não é desse ponto de vista que eu estou falando, mas é apenas para destacar que, muito embora seja uma Secretaria de Educação, minha formação seja nessa área e eu seja um professor na minha origem profissional, o fato é que, depois de sete anos à frente de uma máquina dessa abrangência e magnitude, a experiência acumulada vai muito além da sala de aula, do currículo, do processo educativo. A gente tem que lidar com muitos assuntos. Então, sim, a minha plataforma é principalmente a educação, é nessa área que eu tenho mais autoridade para falar e para apresentar aquilo que liderei na secretaria, mas penso estar preparado para também atuar em outras áreas correlatas àquela em que atuei nesses últimos anos.
Resumidamente, o senhor diria que a marca principal da sua gestão é mesmo a expansão da rede de escolas de ensino em tempo integral?
Não. Acho que essa é uma marca. Eu diria que nós tornamos a nossa rede cada vez mais profissional. Isso passou por estabelecer metas claras, monitorar esses processos, apoiar os municípios nesse esforço. Se eu pudesse destacar alguma coisa que, para mim, fica como um legado ainda maior que a expansão das escolas de ensino em tempo integral é o quanto nós apoiamos os municípios. Não faz muito tempo, no Espírito Santo e no Brasil, a ideia de que o Governo do Estado tratava apenas da sua rede ainda era muito presente. Na nossa gestão, nós não só mudamos isso como evidenciamos esse nosso novo olhar de forma muito direta. A gente apoiou as redes municipais com material didático, com recursos para obras, com formação, interagindo com muita frequência com os municípios.
Eu tenho certeza, e os prefeitos falam isso publicamente e já ouvi isso diversas vezes: se não fosse o apoio na educação daquilo que o governador Casagrande lidera por intermédio da Sedu, dificilmente seriam feitas tantas coisas. E aí o resultado vem. Quando vem o resultado de alfabetização, dado que o ensino fundamental 1 está basicamente com os municípios, esse resultado é dos prefeitos, mas também é produto do apoio forte e firme que a gente tem dado ao Executivo Municipal ao longo desses últimos sete anos.
Secretário, só queria voltar bem rapidamente num ponto: o senhor, então, chegou a conversar com o governador especificamente sobre isso, sobre o seu desejo de ser candidato a deputado federal?
Sim.
E por que deputado federal? Essa é a sua primeira candidatura. Por que não começar se candidatando a deputado estadual, que em tese é uma eleição mais fácil?
Eu acho que toda eleição tem o seu nível de complexidade, né? Eu não saberia dizer se a de estadual é mais fácil. Mas a de federal tem uma dificuldade para quem é candidato: pela quantidade de votos, esse candidato precisa ter uma abrangência estadual. E isso eu já tenho, pela atuação que eu tenho. A Secretaria de Educação é a secretaria que tem atuação em todos os municípios capixabas. A gente tem escola em todas as sedes dos municípios e na maior parte dos distritos desses municípios, além de, pela relação com as próprias secretarias municipais, chegar a todas as outras comunidades escolares a partir desse regime de colaboração ao qual já me referi. Então, isso que pode ser um obstáculo para quem se lança numa disputa de deputado federal é uma coisa estrutural, né? Você não tem como construir uma abrangência estadual. Isso eu já tenho em função da minha própria atuação. Não estou dizendo que uma campanha é mais fácil por causa disso. Mas esse ponto de partida, esse pré-requisito, por assim dizer, eu já tenho.
Além disso, quando eu olho para a educação, ela tem uma legislação muito mais federal que estadual.
Sim, os estados têm relativa autonomia para construir, inclusive, seus projetos pedagógicos, mas tudo parte de uma legislação federal, que é uma espécie de guarda-chuva ali com a Lei de Diretrizes e Bases, o Novo Ensino Médio, as matrizes curriculares…
Sim. Depois isso desce ao nível estadual, na forma de regulamentações, da forma da sua implementação, naturalmente com alguma autonomia, você tem razão, mas é essencialmente uma lei federal. E o financiamento da educação é uma empreitada basicamente nacional. E, para ficar nesse exemplo e responder também à sua pergunta, essa é uma agenda importantíssima, porque a gente acabou de ter a reforma tributária. Ela estabelece, até 2033, a extinção dos atuais impostos e o estabelecimento de dois impostos, o IBS, estadual, e o CBS, federal. Se nós lembrarmos que o Fundeb, o Fundo de Desenvolvimento da Educação Básica, é um fundo lastreado em impostos, impostos que não vão existir daqui a pouco tempo, o novo Fundeb estará baseado em quais impostos? Nesses dois que eu citei. Mas ele vai ser maior ou menor? Se o Governo Federal ainda não sabe nem dizer exatamente o tamanho da carga tributária que o Brasil vai ter, imagina se nós temos segurança sobre se o Fundeb vai melhorar ou piorar, se vai se ampliar ou diminuir.
Então é um debate que é nacional, que exige, a meu ver, pessoas que entendam não só de finanças públicas, mas da importância do Fundeb, dentre outras coisas, para o financiamento da educação. Isso, quando a gente olha a partir do Espírito Santo, ganha ainda mais relevância, porque o Estado tenderá a sofrer um impacto grande nessa reforma tributária. Então, a partir da década de 2030, as condições que temos para investir em educação podem ficar mais limitadas, e não podemos admitir jamais uma perda do Fundeb. Precisamos estar atentos para não recuarmos nem um passo no financiamento a uma área que é tão estratégica, inclusive para o desenvolvimento econômico.
Quero retomar um ponto da sua resposta anterior, quando o senhor diz que, por seu trabalho à frente da Sedu, há mais de seis anos como secretário de Estado da Educação, o senhor é muito conhecido por todo o Estado, e esse nível de conhecimento, é claro, facilita o seu “desafio”, servindo como ponto de partida para a sua campanha a deputado federal. Porém, agora o senhor se declara pré-candidato… A partir do momento que faz isso, o senhor pretende se afastar da Sedu, ou vai ficar até o período de desincompatibilização, em abril do ano que vem? Em decidindo ficar, isso não pode ser tomado como uso da máquina em favor da própria pré-candidatura?
Olha, primeiramente, o que eu falei não é que eu sou conhecido, mas que a Sedu, na atuação que eu tenho na secretaria, ela tem uma abrangência estadual, porque a gente está em todos os lugares. Acho que é isso. Quando eu digo que sou pré-candidato, eu estou colocando de maneira aberta a possibilidade de participar da eleição. Não vejo nisso um problema. E também não vejo, obviamente, com todos os cuidados que sempre tomei em qualquer circunstância, quando estive na coordenação da campanha do governador no primeiro turno da eleição de 2022, o apoio que demos a aliados nossos nas eleições pelas quais eu passei, estando no cargo de secretário, com todos esses cuidados, obviamente, não vejo um impedimento e, portanto, uma necessidade de sair do cargo para estar nessa posição. Eu continuarei como secretário, no exercício da função de secretário e, como fiz até hoje, farei até o último dia da minha gestão, na estrita observância da legislação que rege a minha atuação e a minha atuação mais adiante como candidato.
E quanto a partido, secretário? O senhor pretende ser candidato a deputado federal por qual partido político?
Ainda não defini isso. A definição será tomada, naturalmente, com o governador, em consenso com ele. Certamente será. E com o vice-governador também, claro. Com certeza será uma legenda do campo de alianças do nosso governo. Eu não tenho filiação partidária nem nunca tive. Acredito, claro, até por força da legislação, que isso precisará acontecer nos próximos meses. Até a desincompatibilização, isso terá que acontecer. Mas esse processo será feito em diálogo e conduzido pelo próprio governador, segundo a análise que ele vai fazer dos seus aliados e de formação das chapas dos partidos aliados.
E esse partido deve ser alinhado a qual campo ideológico? Aliás, como o senhor se define do ponto de vista político-ideológico?
Eu me defino como alguém do campo progressista, democrático progressista. Eu acho que o tempo é aliado para algumas coisas, mas, neste caso, o tempo não disfarça, as pessoas sabem quem eu sou. Então, não adianta eu dizer qualquer outra coisa diferente. Mas as pessoas também sabem que sou uma pessoa de muito diálogo, muito ponderada e, no exercício da minha função de secretário, jamais fiquei de proselitismo político ou deixei de ouvir, considerar aqueles que pensavam diferente de mim. Agora, todo mundo é sempre “alguma coisa”. O que eu sou é uma pessoa do campo democrático progressista, muito interessada em promover a justiça social no Espírito Santo e no Brasil, a partir da educação.
O senhor apoiou, por exemplo, o candidato do PT à Prefeitura de Vitória na eleição municipal do ano passado, o deputado estadual João Coser. Foi, inclusive, um dos poucos secretários de Estado do governo Casagrande, três ou quatro, salvo engano, que assim se posicionaram. Se o PT estiver nesse campo de apoio, nessa coligação que se formará em torno de Renato Casagrande, possivelmente de Ricardo Ferraço, o PT é uma alternativa de filiação para o senhor?
Como eu disse, eu tomarei essa decisão em função das conversas que vou ter com o governador. E, certamente, esse caminho por alguma legenda será definido segundo uma conveniência que, claro, é minha, particular, mas que também é política, nos arranjos que a gente vai construir com o nosso grupo sob a liderança do Renato Casagrande e do Ricardo Ferraço.
E pode ser o próprio PSB, o partido do governador?
Pode. Acho que vale a mesma resposta. Mas sim, penso que pode, sim, ser o PSB.
E o PT, somente se o partido estiver na aliança? Essa é a condição sine qua non?
Política não tem contrato, né? Política é grupo e é palavra. E o que eu estou apalavrando para você, que é até uma obviedade, é que eu faço parte deste grupo que o governador lidera. Então, qualquer decisão minha sobre, por exemplo, lançar uma candidatura passa por uma conversa com o governador, que é um incentivador, que foi quem me chamou e me deu a oportunidade de estar liderando a educação capixaba durante tantos anos, que é um apoiador, um entusiasta dessa candidatura no campo da educação. E isso vale para a definição de um partido, como vale e valerá mais adiante para a campanha.
Tenho uma última questão, uma grande curiosidade, relacionada ao seu perfil, por assim dizer, incomum no meio político. Se eu tivesse que defini-lo em uma palavra, diria que o senhor é um intelectual. Tem origem acadêmica, uma vasta formação acadêmica, uma longa atuação na academia… Inclusive, mencionou o fato de ter um pós-doutorado, o que é raríssimo no meio político, entre os nossos mandatários, no Estado e no país. O governador não tem doutorado, o vice-governador não tem, estou quase certo de que nenhum dos nossos 30 deputados estaduais (tirando Camila Valadão) e 10 deputados federais tem nem sequer doutorado stricto sensu, enquanto o senhor é um pós-doutor.
Em primeiro lugar, o senhor acha que, com esse perfil, poderá aportar um diferencial, isto é, tem a contribuir mais no Parlamento, levando esse seu perfil mais acadêmico que tanto escasseia nas casas parlamentares? Em segundo lugar, isso não pode na verdade ser um dificultador, na medida em que temos visto o eleitor brasileiro em geral, ultimamente, manifestar uma certa preferência por tipos mais exóticos ou midiáticos, candidatos mais populares, ou até populistas, com linguagem mais simples e direta, nos quais o eleitor se reconhece?
Você tem razão nas duas questões. Eu, outro dia, ouvi de alguém que é secretário de Estado e que já exerceu o mandato parlamentar, uma frase bastante interessante, quando eu compartilhei com essa pessoa o desejo de ser candidato. Ela falou muito bem: “Vitor, uma coisa que eu aprendi é que a gente tem direito a votar, e é basicamente o direito que a gente exerce em termos políticos, mas pouca gente exerce o direito de ser votado, e essa é a outra parte, é a outra face do direito político”. Então, o que estou exercendo aqui é um direito meu, que é o direito de ser votado. Agora, no final do dia, quem vai decidir pelos nomes a serem eleitos é o eleitor, no seu exercício soberano do seu direito ao voto. Se ele vai escolher este perfil ou outro, depende, em parte, da mensagem que eu, ao longo da campanha, levarei para os meus potenciais eleitores, e das ponderações que cada eleitor faz sobre o que quer para a política capixaba e brasileira.
Eu acho que a política tem espaço para todo mundo. Acho que não devemos ficar nem numa postura anti-intelectual, que é muito ruim, e eu como, de fato, um intelectual, jamais poderia concordar com isso, nem achar que a mera conquista de títulos acadêmicos confere a qualquer um uma capacidade maior, seja na política, seja em qualquer área. Talvez só na área acadêmica, e olhe lá, onde a gente vê gente com títulos que não corresponde ao que carrega antes do nome: o “professor”, o “mestre”, o “doutor”, o “pós-doutor”, o “fulano de tal”… Então eu não vejo nenhum problema em caminhar com quem não tem títulos e não vejo nenhum problema em caminhar com essas pessoas tendo títulos. Eu acho que nos dois casos a gente tem sempre contribuições a dar, mas é o que eu disse: no final do dia, quem vai tomar a decisão é o eleitor.
Notas
* No Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) 2024, com ano-base 2023, a rede pública estadual de ensino médio do Espírito Santo alcançou a segunda melhor nota (4,7), empatada com a do Paraná (4,7), ficando atrás somente da rede estadual de Goiás (4,8). Considerando também escolas da rede privada, o ensino médio do Espírito Santo também alcançou o segundo melhor desempenho (4,8), empatado com Goiás (4,8) e atrás somente do Paraná (4,9).
A nota do Ideb resulta da combinação de dois componentes: o índice de aprovação dos alunos da rede e a nota obtida no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), uma prova que avalia o desempenho dos estudantes em Português e Matemática. Em 2024, considerando as redes públicas estaduais de ensino médio, a do Espírito Santo tirou a terceira melhor nota do país no Saeb (4,85), atrás do Paraná (4,86) e de Goiás (4,88). Considerando também a rede privada (nota total), o ensino médio do Espírito Santo tirou a melhor nota no Saeb (5,02).
** O orçamento da Sedu em 2025, constante na Lei Orçamentária Anual aprovada pela Assembleia Legislativa em 2024, é de R$ 3.215.592.074,00 – o que corresponde a 12,9% da receita total prevista para o Espírito Santo este ano.
*** A rigor, a receita prevista para Vitória no orçamento municipal deste ano é de R$ 3.454.799.664,00. A da Serra é de R$ 3.261.389.550,00.
Sendo assim, se o orçamento da Sedu chegar mesmo a R$ 3,5 bilhões, praticamente empatará com o de Vitória e superará um pouco o da Serra.
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