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Coluna Vitor Vogas

Vila Velha: Ramalho se lança a prefeito e completa batismo nas águas de Bolsonaro

Ato de lançamento do coronel à Prefeitura de Vila Velha foi um combo completo do bolsonarismo em estado puro. Não faltou nada. Mas, em meio a muita ideologia e extremismo (inclusive declarado), pré-candidato conseguiu fincar as bases de sua campanha. Leia aqui nosso relato e nossa análise

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Da esquerda para a direita: Sargento Fahur, Ramalho, Eduardo Bolsonaro e Gilvan da Federal. Foto: PL-ES

Da esquerda para a direita: Sargento Fahur, Ramalho, Eduardo Bolsonaro e Gilvan da Federal. Foto: PL-ES

O Coronel Alexandre Ramalho foi lançado ontem (27), diante da militância do PL, como pré-candidato a prefeito de Vila Velha pelo partido do ex-presidente Jair Bolsonaro. O ato de lançamento, com a presença do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), realizado em um cerimonial da cidade, foi também, por assim dizer, a última etapa do ciclo de iniciação de Ramalho no bolsonarismo em estado puro. O ciclo agora está completo, assim como completo esteve o “combo do bolsonarismo” no evento.

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Sem exceção, todos os itens mais fundamentais do decálogo do bolsonarismo raiz se fizeram presentes:

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1) defesa ostensiva de armas de fogo nas mãos do “cidadão de bem”;

2) defesa aberta de uso da violência extrema para combater a violência urbana, com frases como “bandido bom é bandido morto” e “a Guarda tem que meter o cacete”;

3) oração e falas com forte apelo religioso neopentecostal, além da presença importante de pastores;

4) o slogan “Deus, pátria, família e liberdade” na boca de todos e repetido à exaustão;

5) pensamento político raso e maniqueísmo extremado, com a atividade política reduzida a uma cruzada espiritual do “bem contra o mal” (“nós contra eles”);

6) adjetivação pesada contra os “malditos esquerdistas”, tomados por encarnação de todo o mal;

7) críticas ao STF e, especificamente, ao ministro Alexandre de Moraes;

8) ataques ao MST, com seus membros sendo equiparados a “bandidos” e “vagabundos”;

9) muitos políticos com mandato ou pré-candidatos, além de Ramalho, oriundos de forças de segurança pública;

10) a narrativa de que Bolsonaro ainda é o presidente do Brasil, sendo tratado como “eterno presidente”;

Destacou-se, ainda, a vulgaridade indecorosa na fala do próprio filho do ex-presidente, a qual, no entanto, não corou senhoras presentes nem chocou a tradicional família capixaba.

O grande momento de Eduardo Bolsonaro foi dizer que o pai não é só “imbroxável e incomível”, pois o seu movimento é “imparável”.

Gilvan da Federal: “Não existe direita moderada”

Lançado no evento de Ramalho a senador em 2026, o deputado federal Gilvan da Federal por muito pouco não roubou a cena. Chamou o senador Fabiano Contarato (PT) de “lixo”, deputados federais de “prostitutas” e por aí vai… (É de se perguntar se Ramalho está de acordo com os adjetivos atribuídos a ex-colegas de partido no Podemos e a um ex-colega de forças policiais no Espírito Santo.)

Gilvan parabenizou os bolsonaristas radicalizados que passaram mais de dois meses acampados em frente ao 38º BI, em Vila Velha, a clamar por um golpe de Estado que revertesse o resultado da eleição presidencial. “Parabéns a todos que estavam ali ombreando pela liberdade do povo brasileiro.”

Gilvan discursa no lançamento de Ramalho. Foto: PL-ES

Gilvan discursa no lançamento de Ramalho. Foto: PL-ES

Mencionando que alguns dos presentes precisam usar tornozeleira eletrônica por decisão do STF, Gilvan disse que isso vai mudar. “Alguns aqui foram presos injustamente.” Um dos pré-candidatos a vereador pelo PL em Vila Velha é o Pastor Fabiano Oliveira, preso até dezembro de 2023 por decisão do ministro Moraes expedida em dezembro de 2022.

Gilvan ainda criticou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), chamado por ele de “covarde e omisso”. Insistindo na arenga com o senador Marcos do Val (Podemos), chamou-o (de novo) de “Swat da Shopee”. Os dois agora são potenciais adversários em 2026 – o que explica, ao menos parcialmente, a “treta” entre Gilvan e Do Val.

Denominado “pitbull da Câmara” pelo mestre de cerimônias (um pastor amigo do senador Magno Malta), o deputado do PL disse crer que a inelegibilidade de Jair Bolsonaro será revertida e que ele voltará à Presidência em 2026.

Definindo a política brasileira como “uma luta do bem contra o mal” (na qual todo o bem estaria concentrado no bolsonarismo, tratado por bolsonaristas como sinônimo de “direita”), Gilvan criticou a “direita limpinha” e chegou a afirmar que “não existe direita moderada”.

“Não se combate o mal com flores, e eu não negocio com esses vagabundos e prostitutas que estão na Câmara dos Deputados. Eu não vendo o meu voto”, afirmou o deputado.

“Nós da direita temos que parar com essas briguinhas. ‘Ah, eu não gosto do Gilvan’… A ‘direita limpinha’ diz ‘Ah, eu não gosto do Bolsonaro’… Está aí um ex-presidiário governando o país por causa dessa ‘direita limpinha’. Não existe ‘direita moderada’. Existe direita”, sintetizou Gilvan.

Voltando-se ao Coronel Ramalho, o agora candidatável ao Senado exortou a militância presente à união: “Quero conclamar a direita de Vila Velha a nos unirmos para colocarmos o Coronel Ramalho no 2º turno, porque nós vamos virar estas eleições”.

Por registro jornalístico: em entrevista a esta coluna em 2022, quando ainda tentava se lançar ao Senado pelo Podemos, o próprio Coronel Ramalho definiu-se como representante, justamente, de uma “direita moderada”.

> “Bolsonaro é imbroxável, incomível e imparável”, diz filho do ex-presidente no ES

Callegari para Ramalho: Tu vai botar a Guarda pra arrepiar, tu vai meter o cacete!”

Em discurso também inflamado, o deputado estadual Callegari (PL) deixou Ramalho em uma situação delicada. Se o coronel for eleito e decidir atender à expectativa manifestada publicamente pelo deputado, a Guarda Municipal de Vila Velha terá tudo para se tornar não só uma das mais violentas, mas talvez até uma das mais letais do país.

“Vila Velha está um mar de sangue!”, exagerou Callegari no discurso “mundo cão”, ao abordar a violência. “A bandidagem tá assaltando à luz do dia. Ramalho, estou te apoiando porque tu vai botar a Guarda Municipal pra arrepiar, tu vai meter o cacete. Esse papo de que Guarda Municipal é pra tomar conta do patrimônio já era. Se Deus quiser, em breve será aprovado no Congresso a Guarda Municipal como polícia. Prefeito que é prefeito deixa a Guarda Municipal equipada, armada, pronta pra bater, pronta pra entrar com força total. E eu tenho certeza que você é o homem pra fazer isso.”

Callegari discursa no lançamento de Ramalho. Foto: PL-ES

Callegari discursa no lançamento de Ramalho. Foto: PL-ES

Callegari também chamou trabalhadores sem-terra de “vagabundos”, aludindo a projeto de sua coautoria vetado pelo governador Renato Casagrande (PSB). O veto foi mantido pela Assembleia na última quarta-feira (26). “A lei botava pra quebrar com os vagabundos dos sem-terra. Vagabundos, sim!”

O deputado ainda fez uma fala de cunho religioso com referência indireta ao diabo: “Ser direita é ser ‘sim, sim’, ‘não, não’. O que difere disso procede do ‘maligno’”, afirmou Callegari, que vestia uma camiseta com mensagens antiaborto: “Não matarás” e “Como legalizar a morte se queremos a vida?”.

Por registro jornalístico: que se tenha conhecimento, em seus 35 anos como operador da segurança pública, incluindo suas passagens pelo comando da PMES e da Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), Ramalho sempre agiu dentro da legalidade e assim defendeu e conduziu a ação das forças policiais sob seu comando. À frente da Sesp, ele nunca falou em “descer o cacete” etc.

Sargento Fahur: “Esquerdistas abortistas malditos!”

Esforçando-se muito para levar o prêmio de personagem caricato do dia, o outro convidado de outro estado para a festa foi o deputado federal Sargento Fahur (PSD-PR), que puxou o indefectível coro de “Lula, ladrão, seu lugar é na prisão”, para delírio dos militantes presentes. Ele assumiu-se orgulhosamente como político de extrema-direita (ou seja, como um radical).

“Caminho com a família Bolsonaro há mais de 20 anos. Sou de extrema-direita, sim, porque não aceito o morno. Pra mim, bandido bom é bandido morto. Fui denunciado no Conselho de Ética por uma deputada petista porque fiz um enfrentamento contra esquerdistas abortistas malditos lá no Congresso. Eles não têm vergonha na cara de me chamarem de ‘bancada do estupro’. Isso eu não vou aceitar jamais, porque, pra mim, Sagento Fahur, estuprador bom é estuprador no colo do capeta”, discursou o policial militar reformado.

A deputada petista Erika Kokay ingressou com representação por quebra de decoro contra Fahur no Conselho de Ética da Câmara Federal, porque o deputado mostrou o dedo médio e chamou de “petistas dos infernos” manifestantes que protestavam contra o “projeto de lei antiaborto” em tramitação na Casa.

Sargento Fahur discursa no lançamento de Ramalho. Foto: PL-ES

Sargento Fahur discursa no lançamento de Ramalho. Foto: PL-ES

“Eu represento o povo brasileiro de direita, o resto eu quero é que se exploda! Sou Sargento Fahur, bolsonarista. Força e honra!”, exclamou, repetindo inúmeras vezes seu bordão, como um personagem saído de alguma esquete.

No discurso, Fahur também criticou bolsonaristas que só se converteram quando o então deputado já estava em ascensão política, durante a queda do governo Dilma (PT): “Havia muitos espertalhões que no passado faziam o L, mas, aproveitando a onda bolsonarista, encostaram no Bolsonaro”.

Por registro jornalístico: não usaremos aqui o adjetivo usado por Fahur, mas Magno Malta, o presidente do PL no Espírito Santo, já “fez muito o L” no passado, antes da chegada da “onda bolsonarista”. Como é mesmo? “Sim é sim”, “não é não”… e fatos são fatos.

> Gilvan da Federal é lançado ao Senado pelo partido de Bolsonaro

Coronel Ramalho: “Deus, pátria, família e liberdade”

Mas houve também tempo e espaço para se falar de Vila Velha. Responsável pela fala mais coerente e equilibrada do evento – até destoando um pouco nesse aspecto –, o próprio Coronel Ramalho encerrou a série de discursos.

De maneira mais elaborada, expressou sua filiação total ao bolsonarismo tomando o slogan “Deus, pátria, família e liberdade” como base de seu discurso. Partindo de cada um dos quatro pés, resumiu sua história pessoal e profissional.

Começou se apresentando como um católico praticante (Deus) e valorizando a importância da religião na vida, na política e na segurança pública.

Homenageou a esposa, Valéria, a quem fez uma declaração pública de amor (“Eu te amo”), e a filha, Karina: a família, presente no discurso.

Contou sua história de 35 anos dedicados à Polícia Militar e à segurança pública do Espírito Santo, com muito empenho e em sacrifício da família. Ao proteger a sociedade, entregou-se à defesa da pátria. Eis o terceiro vértice.

O quarto e último (liberdade) foi associado por ele a suas décadas de combate à criminalidade: liberdade para o cidadão de bem poder viver e circular em paz nas ruas.

Ramalho discursa em seu lançamento. Foto: PL-ES

Ramalho discursa em seu lançamento. Foto: PL-ES

Muito mais objetivo do que todos que o antecederam, Ramalho lançou ali algumas das bases do seu programa de governo. Já tratou de problemas e de propostas.

Ao falar de segurança pública – carro-chefe de seu discurso, por seu know-how –, deu os números de armas apreendidas pela Sesp no ano passado, sob sua gestão, mas com o cuidado de dizer que não eram armas, segundo ele, do “cidadão de bem que é honesto, paga seus impostos, quer ter uma arma e tem direito”, nem de CACs.

Destoando da linha “mundo cão” de Callegari, Fahur etc., Ramalho afirmou que segurança pública não se faz só “armando e comprando viatura para a Guarda” (crítica à gestão de Arnaldinho), mas com “família, educação, igreja, religião” e com presença forte do poder público nas áreas em maior vulnerabilidade.

O pré-candidato defendeu investimentos na adoção das tecnologias mais modernas no combate à criminalidade, como uso de inteligência artificial, leitura facial, leitura de placas, entre outras. Ramalho se comprometeu a fazer a PPP da Iluminação (iniciada no último governo Max Filho), a qual, segundo ele, permitira tudo isso, mas não teria sido implementada pela administração de Arnaldinho.

Na saúde, o coronel se comprometeu a agir fortemente na prevenção e valorizar os profissionais da área, assim como os do magistério (ele é filho de professora).

Ramalho ainda criticou duramente a “falta de transparência” da gestão de Arnaldinho. “Dinheiro público não é para ninguém enriquecer”, alfinetou.

Foi o discurso menos ideológico, em meio a um mar de ideologia.

> De tiros de fuzil a show gospel: os acenos de Arnaldinho Borgo ao voto conservador

CURIOSIDADES

Sou Canela Verde Amarela

Em meio a muitos gritos de “Volta, Bolsonaro!”, Ramalho lançou sua pré-campanha com o slogan “Sou Canela Verde Amarela”.

Tarcísio de Freitas

À mesa ficaram Ramalho, Carlos Salvador, Gilvan, Callegari, Fahur e Eduardo Bolsonaro. No telão ao fundo, imagens dos expoentes do bolsonarismo no Espírito Santo e no Brasil, incluindo o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG).

Chamou a atenção a inclusão do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, potencial candidato de Bolsonaro à Presidência em 2026, mas ainda filiado ao Republicanos.

Magno ausente

O senador Magno Malta não compareceu porque, como vários ali disseram, ainda se recupera de uma cirurgia. Foi representado por duas filhas: Maguinha Malta e Karla Malta.

Magno deu as boas-vindas a Ramalho e falou um pouco com o público, por meio de uma videochamada feita por Gilvan. Entre outras coisas, afirmou, sem prova alguma, que o PCC e o Comando Vermelho estão no Governo Federal.

Pastores

Um pastor foi o mestre de cerimônias. Outro conduziu uma oração no começo dos trabalhos. Chamou Ramalho de “futuro prefeito de Vila Velha” e de “homem simples e trabalhador”.

Carlos Salvador: “Nome ideal”

Braço direito histórico de Magno no Espírito Santo, o presidente do PL em Vila Velha, Pastor Carlos Salvador, vestiu uma camisa com o dizer “Cristo vive em mim”. Ele explicou a opção por Ramalho:

“Depois de muito entendimento, chegamos à conclusão de que ele é o nome ideal para mudar Vila Velha, para socorrer Vila Velha, para conduzir Vila Velha a partir de janeiro de 2025”.

O “time do PL” em Vila Velha

Na cidade, uma chapa completa de vereadores deverá ter 22 candidatos, já que haverá 21 cadeiras em disputa. A do PL, segundo Salvador, está completa, com 14 homens e 8 mulheres. Um dos candidatos é o Pastor Fabiano, preso e depois solto por ordem de Moraes, em 2023.

Um a um, todos foram apresentados. Chamou a atenção a presença de pelo menos quatro nomes de urna ligados a forças de segurança, uma pastora e um pastor.

O número de pré-candidatos

Hoje, dos 78 possíveis, o PL só tem um prefeito no Espírito Santo (o de São Gabriel da Palha). Segundo Carlos Salvador, nas eleições deste ano, o partido terá candidato a prefeito em 51 municípios capixabas e chapa de vereadores em 65.

A tendência é que o partido cresça, pelo menos, nas Câmaras Municipais.

Rodadas de segunda

A partir de agora, toda segunda-feira, às 19h, Ramalho se reunirá com os dirigentes, estrategistas e pré-candidatos a vereador do PL em Vila Velha.

DATA MAXIMA VENIA…

Aqui peço licença para fazer um comentário muito pessoal: não é possível que o Coronel Ramalho, merecedor da mais elevada estima, inclusive por parte deste colunista, coadune com tamanho grau de baixaria, ombreando com políticos que exercem e encaram a política de maneira tão incivilizada.

Custa crer que esteja mesmo à vontade em meio a figuras que exibem nível tão baixo de comportamento político, que xingam, que ofendem, que dão o dedo, que fazem falas indecorosas dando risada (“incomível”?!?), que tratam adversários como “encarnação do mal”, enfim, que seguem essa linha de atuação, tristemente normalizada nos últimos tempos.


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