Coluna Vitor Vogas
Por que Neucimar desistirá da candidatura a prefeito de Vila Velha?
Prestes a se retirar, ex-prefeito reconhece dificuldades financeiras, favoritismo de Arnaldinho e necessidade de preservar a chapa de vereadores do PP
Ao longo de seus mais de 20 anos de atividade política, o ex-prefeito Neucimar Fraga (PP) se notabilizou como um dos políticos mais pragmáticos e realistas do Espírito Santo. Acima de quaisquer idealismos, seus movimentos e decisões são ditados por um senso prático que chega a espantar quem não está acostumado. Agora, é esse realismo político que está falando mais alto na mente do ex-prefeito. Admitindo à coluna não ter condições práticas de ir para a disputa eleitoral contra o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos), Neucimar se prepara para uma honrosa retirada da sua pré-candidatura em Vila Velha. “Estou sendo bem realista e bem partidário.”
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Os dois maiores motivos que impelem Neucimar a sair do páreo, citados por ele mesmo, são o amplo favoritismo, atestado por pesquisas eleitorais, do atual prefeito (que ainda tem a vantagem de estar na máquina municipal), e a falta de recursos financeiros para poder fazer frente a esse candidato favorito com a máquina operando a seu favor. Nos últimos dias, já em busca da melhor saída – para ele, seu partido e seu grupo político –, Neucimar conversou com Magno Malta (PL), Coronel Ramalho (PL) e Arnaldinho.
Segundo Neucimar, a direção nacional do Progressistas (PP) garantiu a ele R$ 800 mil do Fundo Eleitoral para custear sua campanha. Nem um centavo a mais. Na avaliação do ex-prefeito, o valor é insuficiente, muito abaixo do que Arnaldinho deve receber do Podemos. O TSE fixou R$ 3,1 milhões como o limite de gastos de campanha de um candidato a prefeito de Vila Velha no 1º turno. Neucimar acredita que a de Arnaldinho baterá nesse teto.
“O que está pesando para nós é a questão financeira da campanha. Os recursos que o partido está colocando à disposição nós entendemos que não são suficientes, ainda mais num município em que o prefeito está bem avaliado e vai vir com o caixa alto do próprio partido. O Podemos deve injetar muito dinheiro nele, pois a reeleição dele é a prioridade do partido no Espírito Santo. Não posso ir para uma luta de Davi contra Golias sem nem sequer ter a funda do Davi nas mãos.”
Neucimar ainda não diz com todas as letras que não será mais candidato. Mas todos os sinais, reforçados por suas próprias declarações, indicam que é uma questão de tempo: no máximo, quatro dias. Na próxima segunda-feira (29), em reunião com a militância, os pré-candidatos a vereador do PP e dirigentes estaduais do partido, Neucimar anunciará sua decisão. Isso após receber e analisar, segundo ele, uma pesquisa encomendada pelo partido, cujos resultados são esperados para a noite dessa sexta-feira (26).
Segundo Neucimar, na segunda-feira, ele pode anunciar uma destas duas decisões. A primeira é manter a pré-candidatura e apresentar seu pré-candidato a vice-prefeito: o escolhido nesse caso é o Sargento Julio, da PMES, que vai se filiar ao PP (a princípio, para concorrer a vereador). A segunda é desistir de disputar. Nesse caso, como frisa Neucimar, a decisão sobre o rumo do PP na eleição majoritária em Vila Velha ficará toda a cargo da Executiva Estadual da sigla, presidida pelo deputado federal Josias da Vitória.
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Tudo indica, repito, com base nas palavras do próprio Neucimar, que a letra B será marcada.
“A minha expectativa é respeitar as decisões que estão vindo das ruas, através da pesquisa, não sacrificar a chapa de vereadores e ter um ambiente bom para que o partido eleja o maior número de vereadores. E colaborar depois com nossos candidatos no PP, inclusive em outras partes do Espírito Santo”, antecipa Neucimar, já falando até em termos de pós-retirada.
Tomei a liberdade de fazer uma pequena “provocação” ao ex-prefeito e ex-deputado federal: a declaração acima não é discurso de quem está prestes a jogar a toalha? Ele respondeu assim:
“É discurso de quem conhece política, de quem conhece políticos e de quem sabe fazer leituras. Sei que enfrentar um prefeito com a máquina não é fácil para nenhum candidato. Eu já saí de 5% para 55% dos votos [na eleição dele a prefeito, em 2008]. Já saí de 3% para 33% [quando concorreu a senador, em 2014, em vaga que ficou com Rose de Freitas]. Mas eu tinha uma leitura que me permitia dimensionar aonde eu podia chegar”.
Agora a realidade é outra, reconhece o realista Neucimar:
“Estatisticamente, as pesquisas mostram Arnaldinho como favorito para a reeleição, a não ser que surja um fato novo que abale muito a avaliação de Arnaldinho ou um candidato novo que mude radicalmente o cenário. Se tivesse um leque de candidaturas no mesmo nível em Vila Velha, mas só tem eu e o Ramalho… Então tenho que ser bem consciente, pois não quero prejudicar o meu partido”, pondera Neucimar.
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Voltando justamente à questão partidária, é preciso lembrar que, no Espírito Santo, o PP, em franca ascensão, é um dos partidos que deve lançar mais candidatos a prefeito: serão de 30 a 35, sendo muitos deles competitivos e muitos nas cidades mais populosas: Audifax Barcelos (Serra), Zé Preto (Guarapari), Theodorico Ferraço (Cachoeiro de Itapemirim), Marcos Garcia (Linhares), Cássio Caldeira (São Mateus) e Doutor Coutinho (Aracruz).
É muito pinto para dividir o milho contadinho do Fundo Eleitoral, reservado pela cúpula nacional para o Espírito Santo. No dia 3 de julho, Neucimar foi levado pessoalmente por Da Vitória ao encontro do presidente nacional do PP, o senador piauiense Ciro Nogueira.
Chegaram com o pires na mão, considerando que o valor previsto de R$ 800 mil para Neucimar não é o bastante para a campanha em Vila Velha. Do cacique nacional, ouviram que a Executiva Nacional só pode reavaliar valores depois do fim das convenções, no dia 5 de agosto, quando souber de fato quantas e quais candidaturas haverá no Espírito Santo.
Neucimar, portanto, saiu com o pires vazio de Brasília. E, pela lógica aritmética, os R$ 800 mil que iriam para ele, numa candidatura praticamente suicida, são R$ 800 mil que poderiam ser redistribuídos por Da Vitória e companhia para os outros candidatos a prefeito do PP, mais competitivos que ele, nos respectivos municípios. O próprio Neucimar – repito: com espantoso realismo – tem esse discernimento e o admite:
“Não posso querer atrapalhar o partido, sendo que hoje nas pesquisas eles estão mais competitivos que eu. Nós que queremos o fortalecimento do partido temos que entender isso.”
Entenderam?
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Conversas com Magno, Ramalho e Arnaldinho: para qual dos dois lados ele irá?
Se Neucimar confirmar a retirada, quem vai decidir o rumo do PP na eleição a prefeito de Vila Velha é a direção estadual. Mas Neucimar está se mexendo e mantendo contato com as duas principais partes interessadas em sua desistência, em busca da melhor acomodação para seu grupo e seu partido.
O PP tem chapa completa de vereadores em Vila Velha, com 22 candidatos. Além de quatro atuais vereadores que buscarão a reeleição, a chapa abriga Lucas Fraga, filho de Neucimar. O ex-prefeito diz esperar que a chapa eleja de quatro a seis vereadores (de um total de 21 que a Câmara de Vila Velha passará a ter). Na eleição majoritária, o PP está isolado: não tem nenhum partido aliado.
Neucimar também vem sofrendo pressões de alguns pré-candidatos a vereador do partido, preocupados com as próprias chances concorrendo em condições adversas. É isso que ele quer dizer com “não sacrificar a chapa de vereadores”.
Na semana passada, Neucimar conversou com o senador Magno Malta, presidente estadual do PL, partido que abrigou a candidatura a prefeito do Coronel Alexandre Ramalho. Neucimar começou sua carreira política como aliado de Magno. Depois de um longo período de afastamento político – iniciado durante o governo de Neucimar em Vila Velha (2009-2012) –, os dois se reaproximaram durante a presidência de Jair Bolsonaro (2019-2022).
Magno, segundo Neucimar, o convidou para ser vice de Ramalho. Ele declinou do convite e sugeriu outros nomes do PP:
“Magno Malta e eu temos uma relação política hoje. Conversei com ele na semana passada. Ele me convidou para ser vice de Ramalho. Eu disse que não aceitaria, mas que temos outros nomes que poderiam ser vice do Ramalho: a jornalista Sandra Freitas, o PM Sargento Julio, que já tinha conversa adiantada até para ser meu vice. Ele aceitaria uma composição com Ramalho”, conta Neucimar.
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Nessa quarta-feira (24), Neucimar conversou com o próprio Ramalho por telefone. “Eu disse a ele que estou com dificuldade de avançar na parte de financiamento da campanha. Conversamos sobre uma possível aliança.”
Entre os diálogos com Magno e Ramalho, Neucimar conversou por telefone com o prefeito Arnaldinho na última segunda-feira (22). “Ele me perguntou a situação do partido, me perguntou qual era o destino do PP. Respondi a ele que, caso eu decida não ser candidato, é a Executiva Estadual que vai tocar. Se eu decidir não ser, é melhor ele procurar o Da Vitória. Ele me disse que fará isso, então.”
Ainda de acordo com Neucimar, o PP também tem bons nomes a apresentar para o lugar de vice de Arnaldinho. “Temos o Doutor Hércules, por exemplo. Ele me disse que aceitaria uma indicação e se animou com a ideia.”
Dica para Ramalho
Neucimar arriscou uma análise de como sua eventual saída do jogo pode mexer em pesquisas qualitativas em Vila Velha:
“Eventual saída minha poderia potencializar algum candidato também. De repente o Arnaldinho passaria a ser o ‘velho’ da política de Vila Velha. Hoje o ‘velho’ sou eu. Mas, se eu não estiver mais na disputa…”
Por esse raciocínio, o beneficiado seria Ramalho.
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