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Coluna Vitor Vogas

Coser não conta com Casagrande, mas com Lula, para chegar ao 2º turno

Conformado com a posição do governador, candidato do PT na verdade aposta no empurrão decisivo que Lula pode dar à sua campanha no 1º turno.

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Lula, Coser e Casagrande

Lula, Coser e Casagrande

Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas divulgado há uma semana mostrou ser real, a esta altura do processo, a possibilidade de Lorenzo Pazolini (Republicanos) se eleger prefeito de Vitória já no 1º turno, ao contrário do que se imaginava antes do período oficial de campanha. Hoje, o segundo colocado é o candidato do PT, João Coser. A mesma consulta forneceu outro dado sumamente interessante: em Vitória, nem Lula (PT) nem Jair Bolsonaro (PL) podem ser considerados “cabos eleitorais” fabulosos. Na verdade, quem concentra a maior capacidade de influenciar a definição do voto dos eleitores da Capital é o governador Renato Casagrande (PSB).

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De acordo com a pesquisa, quase 70% dos entrevistados ou votariam com certeza em um candidato indicado por Casagrande ou, no mínimo, estariam dispostos a considerar essa alternativa. Ocorre que, em Vitória, a posição do governador é muito clara. Não pretende se envolver pessoalmente na campanha a prefeito, mas recomenda voto é um destes dois aliados: Coser ou Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB).

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Muito aqui entre nós, quem apoia dois ou mais candidatos, na realidade não apoia nenhum deles. É um “apoio” quase protocolar, que pouco ou nada tem de efeito prático para os próprios candidatos.

Considerados todos esses fatores, diante da crescente probabilidade de Pazolini vencer em turno único, perguntamos ao próprio João Coser, na entrevista concedida por ele ao EStúdio 360 nesta segunda-feira (2), que abriu a série de sabatinas do telejornal da TV Capixaba com os candidatos a prefeito de Vitória: por acaso ele não espera que Casagrande mude de ideia e entre pessoalmente em sua campanha nas próximas semanas, justamente a fim de lhe dar aquele “empurrãozinho” que falta para garantir sua ida ao 2º turno e evitar uma vitória antecipada de Pazolini, adversário em comum da frente do Palácio Anchieta?

Coser afirmou que não. Mostrou respeito e resignação com a posição adotada por Casagrande, de distância protocolar do 1º turno em Vitória e de fria equidistância entre ele e Luiz Paulo:

“Eu acho que o governador Casagrande entrará na campanha no 2º turno, porque já declarou: o seu apoio pode ser do Luiz Paulo ou do João Coser. É um gesto de educação, de carinho, é a base dele. Não acredito que ele venha agora no 1º turno. Lógico que eu gostaria. Gostaria muito. Mas o meu gostar não significa a decisão dele. Acho que nós vamos fazer isso no 2º turno.”

Farão isso, no caso, se Coser realmente chegar lá. E ele acredita que sim, a despeito do que informam as pesquisas deste momento – as quais, exatamente por retratarem o quadro “deste momento”, podem se alterar até o dia 6 de outubro.

“Nas eleições de 2004, quando eu ganhei as eleições, uma semana antes eu nem ia ao 2º turno. Passei para o 2º turno com um ponto de diferença e ganhei as eleições. Então eu trabalho como se tudo dependesse de mim e acredito, por ser um homem de fé, que tudo depende de Deus. Vou fazer minha parte e tenho esperança de ir para o 2º turno”, afirmou Coser.

O que aquece essa sua esperança não é eventual “ingresso” de Casagrande em sua campanha – algo já descartado por ele, como vimos. A maior aposta de Coser na verdade é em outro líder político, o maior do seu partido e do campo progressista no país, aquele que tem o maior poder de influenciar o voto dos eleitores de esquerda ou de centro-esquerda em geral: Lula.

É nele que Coser se fia. Nos últimos anos, coincidentes com a ascensão de Bolsonaro e do populismo de direita no país, Vitória tem se demonstrado um colégio eleitoral bem refratário a Lula e ao PT. Mais que um antipetismo, desenvolveu-se certo antilulismo na capital do Espírito Santo. Um primeiro sinal forte disso é que, em 2022, Bolsonaro derrotou Lula com quase 55% dos votos válidos em Vitória, no 2º turno presidencial. Outro sinal forte é colhido da última pesquisa realizada pela Futura Inteligência e divulgada pela Rede Vitória: Lula, hoje, é mal avaliado pelos eleitores de Vitória, com 40% de ruim ou péssimo, ante apenas 34% de bom ou ótimo.

Nada disso preocupa João Coser. Ao contrário, até por pragmatismo, ele está se agarrando à parte boa, concentrando-se na parte do copo que está cheia. Se é verdade que 40% dos eleitores de Vitória acham Lula ruim ou péssimo, é igualmente correto que, juntando ótimo e bom com regular, chega-se a 56% de eleitores que não torcem o nariz para o presidente (Futura/Rede Vitória).

Se por um lado 51,2% dos eleitores de Vitória não votariam de jeito nenhum no candidato apoiado de Lula, por outro 45,5% votariam com certeza ou estariam dispostos a votar no candidato do presidente (Paraná Pesquisas).

Se todo esse potencial de votos “influenciáveis” por Lula migrar diretamente para Coser, ele conseguirá passar tranquilamente para o 2º turno, até com certa margem de segurança. Ora, certamente não há de ser suficiente para ele vencer Pazolini no 2º turno, mas é mais que o bastante para ele vencer a primeira parte do processo… e conseguir chegar à segunda. Aí, começa outra disputa.

Não é que o jogo seja propriamente zerado. Mas, uma vez no 2º turno, Coser sabe que, aí sim, poderá contar com a participação pessoal de Casagrande e com o impulso do Palácio Anchieta em peso na sua campanha. Outros candidatos poderão se unir a ele numa frente ampla contra Pazolini: Camila Valadão (PSol), certamente; Luiz Paulo é uma incógnita.

E aí a presença de Lula poderá até ser reavaliada. Mas o desafio é conseguir chegar ao 2º turno. E para isso, muito longe de renegar ou esconder o PT, Lula e seu governo, Coser desta vez está fazendo, neste 1º turno, uma campanha em total conexão com eles, como prova a sua resposta a outra pergunta nossa, especificamente sobre isso, na entrevista ao EStúdio 360:

“Eu sou do Partido dos Trabalhadores há 44 anos, e o Lula também”, começou o candidato do PT, de fato um dos cofundadores do partido no Espírito Santo, fazendo questão de vincular a sua história política à de Lula. “Eu não fico mudando de partido, e nós já fizemos muito pela cidade de Vitória”, continuou, na 1ª pessoa do plural, destacando os projetos estruturantes que conseguiu implementar em Vitória quando foi prefeito, de 2005 a 2012 (sendo a maior parte desses oito anos, de 2005 a 2010, concomitantes com a estadia de Lula no Palácio do Planalto):

“Quando eu fui prefeito, com grandes projetos estruturantes, como é o caso da Fernando Ferrari, a Ponte da Passagem, a Praia de Camburi, a Ponte de Camburi, mesmo obras menores como a Praça do Papa, o Tancredão, o Governo Federal sempre esteve presente”.

Coser fez questão de resgatar até a passagem de Vitor Buaiz pela Prefeitura de Vitória (um dos primeiros prefeitos do PT eleitos para governar uma capital do país), e todos os sucessores de Vitor, além dele mesmo, antes de Pazolini, para refutar a tese de que o eleitor de Vitória é atavicamente de direita:

“Nós já ganhamos as eleições em Vitória três vezes: lá atrás uma vez com o Vitor e duas vezes comigo. E com pessoas bem democráticas, como foi o caso de Paulo Hartung, Luciano Rezende, Luiz Paulo…”

De fato, os três prefeitos citados por Coser eram de centro-esquerda (Paulo Hartung hoje não mais, mas o era quando foi prefeito, após Vitor). “Vitória é uma cidade que sempre se aproximou e apoiou pessoas de centro-esquerda. Tem essa exceção da eleição do atual prefeito, em função do evento do Bolsonaro”, completou o candidato do PT.

Para enterrar qualquer última dúvida, Coser encerrou sublinhando sua “capacidade de articulação” com o Governo Federal, por sua ponte direta com Lula, e elogiando o atual presidente:

“Tenho certeza de que, sendo eleito prefeito da cidade, o Governo Federal vai me ajudar muito e o Governo Estadual vai me ajudar muito, porque eu tenho capacidade de articulação e de diálogo. Isso eu faço com muita propriedade. Não me incomoda a questão partidária, até porque todos sabem que eu sou do partido, todos sabem que eu apoiei Lula, trabalho para ele e acredito que ele é um bom presidente para o Brasil, porque ele pensa mais naquelas pessoas mais necessitadas.”

Em tempo: a coluna apurou que Coser e seus estrategistas de campanha querem muito que o presidente Lula compareça em Vitória para um ato de campanha ao lado de Coser e estão trabalhando fortemente por isso, em interlocução com Brasília.

Consideram que esse acontecimento, se concretizado, pode corresponder àquele ansiado empurrão final e carimbar o passaporte de Coser para o 2º turno. No limite, se Coser estiver ali no limiar entre ir ou não para o 2º turno, a presença de Lula ao seu lado pode fazer toda a diferença entre ele conseguir chegar lá ou não.


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