Coluna Vitor Vogas
Desigualdade: ES é o estado com menor número mulheres candidatas a prefeita
O abismo da desigualdade de gênero na política brasileira, mas sobretudo na capixaba, é ainda maior do que se poderia supor. E esta eleição prova isso
Não está fácil para as mulheres no meio político brasileiro. Apesar de todas as campanhas, de toda a discussão na esfera pública e da lenta conscientização sobre a importância da igualdade de gênero também no universo político, os números oficiais do TSE representam um choque de realidade: o caminho rumo ao equilíbrio ainda é longo; a equidade, uma utopia distante – talvez até mais do que se supunha. Mulheres ainda são absoluta minoria quando se trata da possibilidade de ocupação de espaços de poder.
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Essa constatação se traduz no percentual de candidaturas femininas nas eleições municipais deste ano. Dos 15.454 candidatos ao cargo de prefeito espalhados por todo o país, apenas 15% são mulheres.
Mas a barreira é particularmente grave no Espírito Santo, onde a disparidade é ainda mais gritante.
Se não está fácil para as mulheres no universo político brasileiro, está mais difícil ainda no microcosmo político capixaba. O Espírito Santo é, pasmem, o estado brasileiro com menos candidaturas femininas ao cargo de prefeito, percentualmente, na comparação com o número de candidaturas masculinas. Dos 26 estados brasileiros (o Distrito Federal não entra aqui), o Espírito Santo é, simplesmente, o que tem o menor percentual de mulheres concorrendo a prefeituras municipais: 7%.
Do total de 277 que pediram à Justiça Eleitoral registro de candidatura a prefeito nos 78 municípios capixabas, só 19 são mulheres, o que resulta no índice patético informado no parágrafo anterior. Em nenhum dos 26 estados, esse número chega a 30%. Mas o Espírito Santo é o único em que o percentual nem mesmo alcança dois dígitos.
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Por evidente, quanto menos mulheres competindo pelo cargo de prefeita, menores as chances de mulheres chegarem de fato a chefiar o Poder Executivo nos respectivos municípios. A probabilidade diminuiu proporcionalmente.
Vale destacar que, se tivéssemos 19 mulheres prefeitas no Espírito Santo, em um total de 78 municípios, o número já estaria bem abaixo de uma ideia de equilíbrio: não chegaria a 25% (¼) das cidades. Mas nem sequer se trata disso: 19 é o número de candidatas. Eis a prova inconteste de como estamos atrasados nessa matéria.
E fica pior.
Os números também provam que, em vez de evoluir, estamos regredindo nessa questão.
O Espírito Santo já está longe, bem longe, de ser exemplo de estado onde a igualdade de gênero tem sido fomentada na política. Está muito mais para exemplo da ideia contrária. Na última eleição municipal, em 2020, tivemos números um pouco maiores, em termos percentuais e absolutos: de um total de 378 candidatos a prefeito no Espírito Santo, 44 foram mulheres, o equivalente a 12%. Naquele pleito, conseguimos a “façanha” de eleger só uma mulher prefeita em território capixaba, ante 77 homens. Foi Ana Malacarne, na pequena São Domingos do Norte*.
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Pensando com lógica estritamente matemática, em termos de proporcionalidade, se com 12% de candidaturas femininas ao cargo, os eleitores capixabas só elegeram uma prefeita em 2020, quais são as chances de elegermos mais prefeitas com apenas 7% de candidatas?
É claro, é preciso ressalvar que política não obedece necessariamente a esquemas matemáticos. As chances de êxito também dependem muito da competitividade de cada uma (e algumas podem ser mais competitivas que outras e que os seus adversários masculinos nos respectivos redutos). Mas repito: a matemática não ajuda. Com só 7% de candidatas, as chances ficam muito reduzidas. E, mesmo que, utopicamente, todas elas fossem eleitas, 19 prefeitas nem sequer corresponderiam a um quarto (¼) das cidades capixabas…
Abaixo, apresentamos o ranking do percentual de candidaturas femininas a prefeituras em cada um dos 26 estados e, em seguida, quem são as 19 candidatas a prefeita no Espírito Santo, com os respectivos municípios.
- RR: 25%
- RN: 24%
- SE: 23%
- MA: 21%
- PB: 21%
- AL: 19%
- CE: 19%
- AP: 17%
- GO: 17%
- MS: 17%
- PA: 17%
- RJ: 17%
- TO: 17%
- BA: 16%
- PE: 16%
- RO: 16%
- AM: 15%
- PI: 15%
- SC: 14%
- SP: 14%
- AC: 13%
- PR: 13%
- MT: 12%
- MG: 11%
- RS: 10%
- ES: 7%
As candidatas a prefeita no ES
- Ana Malacarne (MDB), em São Domingos do Norte (atual prefeita)
- Angélica Baptista (Agir), em Bom Jesus do Norte
- Camila Valadão (PSol), em Vitória
- Célia Tavares (PT), em Cariacica
- Claudinha (PSol), em Itapemirim
- Dra. Criziane Moreno (MDB), em Ibatiba
- Fernanda Milanese (Podemos), em Boa Esperança (atual prefeita)
- Geralda Professora (PSol), em Conceição da Barra
- Iracy Baltar (Podemos), em Montanha
- Lana Roppe (PSol), em Atílio Vivácqua
- Lorena Vasques (PSB), em Cachoeiro de Itapemirim
- Luzinete Deolindo (DC), em Viana
- Milte (PL), em Ibiraçu
- Mônica Ziviane (PL), em Vila Pavão
- Naciene (PP), em Ibiraçu
- Professora Zenilda Pauli (PT), em São Mateus
- Renata Marquesini (PSol), em Colatina
- Tia Laureci Gigante do Norte (PL), em Ecoporanga
- Vilma Soares Louzada (PL), em Muniz Freire
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Em conclusão, se você é mulher e quer ser candidata a prefeita, pode ter uma certeza: o Espírito Santo é, atualmente, o estado menos convidativo para isso.
* Fernanda Milanese se elegeu prefeita de Boa Esperança, em eleição suplementar realizada no dia 1º de agosto de 2021, após a Justiça Eleitoral negar recurso e barrar o marido dela, Romualdo Milanese, candidato mais votado na eleição municipal ordinária de 2020.
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