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Coluna Vitor Vogas

O reencontro político de Pazolini com Magno Malta

Na última sexta-feira (25), em São Gabriel da Palha, o que foi anunciado, pelo gesto, foi um fato político de altíssima relevância no Espírito Santo

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Maguinha Malta, Magno Malta, Lorenzo Pazolini e Erick Musso, entre outras pessoas, em evento em São Gabriel da Palha

Maguinha Malta, Magno Malta, Lorenzo Pazolini e Erick Musso, entre outras pessoas, em evento em São Gabriel da Palha

O Arcanjo Gabriel, na Bíblia, é o da “anunciação”. No catolicismo, também é chamado de São Gabriel. Na última sexta-feira (25), em São Gabriel da Palha, o que foi anunciado, pelo gesto, foi um fato político de altíssima relevância no Espírito Santo: a reaproximação de Lorenzo Pazolini (Republicanos), com Magno Malta (PL). Os dois fizeram sua primeira aparição pública no contexto da maratona de pré-campanha visando às eleições de 2026. Lado a lado, o prefeito de Vitória e o senador circularam e fizeram corpo a corpo pela Feira de Agronegócios Cooabriel 2025, com mais de 90 expositores, no município do noroeste do Espírito Santo.

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Poderia ser mais uma das muitas agendas de pré-campanha cumpridas pelo interior do Estado por Pazolini, pré-candidato do Republicanos a governador, desde janeiro deste ano. Mas de jeito nenhum. Dessa vez, além do presidente estadual do Republicanos, Erick Musso, e do deputado federal Evair de Melo (PP), companheiros inseparáveis do prefeito em todas as suas andanças, a comitiva foi reforçada por Magno Malta em pessoa e, ainda, pela publicitária Magda Saltos Malta, (Maguinha), a filha do senador já lançada por ele ao Senado pelo PL.

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Tanto nas declarações de Erick como nas de Magno – presidentes, respectivamente, do Republicanos e do PL –, a mensagem enfatizada foi de “diálogo maduro” e de possível união da direita no Espírito Santo para as eleições majoritárias de 2026. Com discurso na mesma direção, os dirigentes dos dois grandes partidos de direita conservadora sinalizam um alinhamento eleitoral em construção. E essa construção, distante até o início deste ano, agora parece promissora.

Magno Malta e Pazolini devem voltar a ser vistos juntos em público nos próximos meses, em eventos como o de São Gabriel da Palha. Pazolini jamais fala diretamente sobre o próximo processo eleitoral, mas nem precisa: seu partido fala por ele, e sua agenda é, obviamente, de pré-candidato a governador. É a aposta do Republicanos, que não planeja lançar candidato a senador pelo Espírito Santo.

No PL, dá-se o contrário: a prioridade do partido de Magno, na disputa majoritária, é eleger a sua filha para se juntar a ele no Senado. Em abril, numa entrevista à coluna, Magno até chegou a se dizer determinado a se lançar a governador, se não vir mais nenhum candidato disposto a fazer a defesa de Jair Bolsonaro e dos “valores da direita” no Espírito Santo. As falas, a bem da verdade, foram lidas mais como uma forma de pressionar o próprio Pazolini a adotar posições mais firmes e entrar abertamente na defesa de Bolsonaro e da pauta bolsonarista.

Se esse princípio de aproximação entre Republicanos e PL de fato evoluir para uma aliança eleitoral concreta, com uma coligação majoritária, o “encaixe natural”, hoje, seria uma chapa com Pazolini na cabeça, candidato a governador, e Maguinha na primeira vaga ao Senado, cabendo ainda um segundo candidato à Câmara Alta.

O reencontro: passado, presente e futuro

Nos primórdios de sua meteórica carreira política, Lorenzo Pazolini tinha proximidade com Magno Malta, ainda que discretamente. A primeira eleição disputada pelo delegado da Polícia Civil foi a deputado estadual, em 2018. Por essa época, ele e o senador tinham, por assim dizer, uma “afinidade temática”, sendo unidos por uma pauta em comum: o combate à pedofilia. Tal bandeira ajudou a lançar Pazolini na vida pública e a impulsionar a atuação parlamentar de Magno.

O primeiro foi, por muitos anos, delegado titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) no Espírito Santo. O segundo, presidente da CPI da Pedofilia e, posteriormente, da CPI dos Maus Tratos (uma variação da primeira). Poucos meses antes da campanha eleitoral de 2018, Magno promoveu uma audiência da CPI, bastante espetaculosa, no auditório do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), com a oitiva de acusados de crimes sexuais contra crianças.

Pazolini participou da mesa de autoridades, como chefe da DPCA. A ação conjunta foi polêmica, pois a tomada dos depoimentos, inclusive os dos réus, foi transmitida via internet por ambos, apesar das vedações impostas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.

Naquele ano, em campanha por um partido nanico e com poucos recursos financeiros, Pazolini surpreendeu: foi o segundo candidato mais votado a deputado estadual no Espírito Santo. Magno, por sua vez, sofreu um inesperado revés, não conseguindo emendar um terceiro mandato consecutivo no Senado.

Nos primeiros meses do mandato seminal de Pazolini, em 2019, na Assembleia Legislativa, a outra filha de Magno Malta, Magna Karla Santos Malta Campos, ocupou cargo comissionado no gabinete do estreante deputado, como assessora parlamentar. Foi nomeada por escolha de Pazolini. À época, ele afirmou que a filha de Magno passou em processo seletivo realizado por uma empresa para a formação de sua equipe.

Outro elo de Pazolini com Magno estava numa então aliada em comum que ganhou muita notoriedade: a então ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves (Republicanos), hoje senadora pelo Distrito Federal.

Assessora parlamentar de Magno antes de se tornar ministra no governo Bolsonaro, Damares chegou a ser homenageada por Pazolini, no começo de 2019, em sessão solene no plenário da Assembleia. Na mesma noite em que ele se elegeu prefeito de Vitória, em novembro de 2020, a então ministra publicou um vídeo parabenizando-o pela vitória no 2º turno sobre João Coser (PT). Classificou-a como uma “vitória das crianças”.

Entretanto, no decorrer da decolagem política de Pazolini, a relação com Magno esfriou. Os dois se distanciaram. O senador não teve envolvimento em sua campanha à Prefeitura de Vitória, em 2020. Não o apoiou publicamente, nem mesmo no 2º turno contra João Coser. Na verdade, naquele ano, o PL lançou candidato próprio: Halpher Luiggi, aliado de Magno e ex-diretor-presidente do Dnit-ES, por sinal muito mal votado.

Na administração de Pazolini em Vitória, Magno e seu partido, que se saiba, não tiveram participação. Na eleição municipal seguinte, em 2024, o PL foi para um lado; o Republicanos, para o outro. Enquanto este lançou Pazolini à reeleição, o partido de Magno competiu com o deputado estadual Capitão Assumção. Durante a campanha, e até em meses anteriores, no plenário da Assembleia e em debates, Assumção centrou fogo pesado em Pazolini, chamando-o de “moleque”, “histrião” e falso representante da direita. Pazolini reelegeu-se no 1º turno.

Por sua vez, Magno não só evitou uma aliança com o Republicanos como fez questão de manter a máxima distância do partido de Pazolini e de Erick. No começo de agosto de 2024, como presidente estadual do PL, proibiu dirigentes municipais de firmarem coligações com uma série de partidos, entre eles o Republicanos. Em vários discursos e entrevistas, o senador afirmou que apenas o PL representava a verdadeira direita.

Nesse contexto, Erick e Magno chegaram a “tretar” publicamente. Em entrevista a este espaço, o presidente estadual do Republicanos, principal articulador de Pazolini, criticou o senador por, segundo ele, considerar-se o “dono da direita” no Espírito Santo.

Passadas as eleições municipais, nas quais o PL teve fraco desempenho no Estado, todos entraram em uma nova fase e no modo “eleições estaduais 2026”. Magno parece ter feito uma autoanálise e reorganizado suas ideias. Claramente, mudou a rota estratégica do PL. No fim do ano passado, telefonou para Erick.

Em fevereiro deste ano, Magno e Erick conversaram pessoalmente, em Brasília. Lavaram a roupa suja sobre as eleições do ano passado e concordaram em “zerar o jogo” pensando no próximo pleito. Em notas oficiais, Magno começou a mudar o discurso e destacar não só a possibilidade como a importância do alinhamento de forças de direita no Espírito Santo.

Pazolini, por sua vez, também começou a “fazer sua parte” para estreitar essa aproximação, com uma série de gestos político-diplomáticos em direção ao PL. Até então evitando entrar em debates sobre temas delicados de fundo nacional e ideológico, passou a se expor muito mais.

Em meados de abril, o prefeito fez um inesperado post posicionando-se a favor daquela que hoje é a bandeira mais cara ao PL e os bolsonaristas: a anistia aos participantes dos atos golpistas que culminaram no 8 de janeiro de 2023. No post, criticando implicitamente punições determinadas pelo STF, o prefeito não mencionou Bolsonaro. O ex-presidente, contudo, pode em tese ser beneficiado caso passe uma anistia geral no Congresso Nacional.

No último dia 12, Pazolini participou pessoalmente de um encontro de representantes da base conservadora no Espírito Santo, promovido pelo deputado estadual Wellington Callegari (PL). Em discurso, voltou a se posicionar em defesa da proposta de anistia. Na mesa de autoridades, cercou-se de políticos do PL, como os vereadores Armandinho Fontoura e Dárcio Bracarense.

No último dia 20, Pazolini não participou do ato público, em Vitória, contra a decisão do ministro Alexandre de Moraes de impor o uso de tornozeleira eletrônica a Jair Bolsonaro, entre outras cautelares, após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ameaçar sobretaxar em 50% todos os produtos brasileiros que entrem em seu país a partir de 1º de agosto, caso o processo contra Bolsonaro no STF não seja extinto. Pazolini não participou, mas Erick sim, ao lado de Magno, de Maguinha e de Evair de Melo no trio elétrico.

Agora, o comparecimento conjunto no evento em São Gabriel da Palha.

Vale lembrar que, recentemente, Pazolini também incorporou ao primeiro escalão de sua equipe, na Prefeitura de Vitória, dois outros representantes do bolsonarismo no Espírito Santo: a ex-deputada federal Soraya Manato (PP), mulher de Carlos Manato (PL), e o Coronel Alexandre Ramalho, agora, respectivamente, secretária de Assistência Social e secretário de Meio Ambiente. Tanto o casal Manato como Ramalho apoiam Pazolini para o Governo do Estado.

Tudo bem que, para assumir o cargo na prefeitura, Ramalho deixou o PL – sem rusgas, porém, com Magno. Tanto o coronel como Soraya se filiarão ao Republicanos para disputar a eleição para deputados. De todo modo, hoje, estão todos inseridos no mesmo campo.

A nota oficial de Erick Musso

Assim como acontece no cenário nacional, as forças da direita no Espírito Santo vêm se alinhando. Os partidos (Republicanos e PL) estão em diálogo, não é apenas sobre alianças eleitorais, mas sobre convergências de visão. Estamos dialogando, trocando ideias com muito respeito. Estamos pensando, juntos, nos rumos que o Espírito Santo precisa tomar para enfrentar, com firmeza e estratégia, os desafios que já batem à porta.

Erick Musso – Presidente Estadual do Republicanos

A nota oficial de Magno Malta

PL e Republicanos estão dialogando e toda construção começa assim.

Antes de qualquer aliança, existe um princípio: o diálogo. E é exatamente isso que estamos promovendo. Estamos na fase das ideias, das escutas, da troca respeitosa. Falar sobre 2026 agora seria precipitado. O que temos, de concreto, é um ambiente de diálogo maduro, conduzido com responsabilidade e compromisso com o nosso estado e com o nosso país.

Vivemos tempos desafiadores, em que o Brasil precisa de união, clareza de propósito e firmeza na defesa de valores como liberdade, justiça e respeito à democracia. Qualquer projeto futuro precisa nascer dessa base sólida.

Portanto, estamos conversando, sim, com seriedade e com os olhos voltados para aquilo que for melhor para o Espírito Santo e para o Brasil.

Senador Magno Malta (PL)