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Coluna Vitor Vogas

Casagrande decide: “É esse o rumo que seguiremos (em 2026)”

Quem foi ao 18º Congresso Estadual do PSB na noite da última quarta-feira (23), em um cerimonial em Vitória, saiu de lá com uma convicção muito forte

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João Campos, Renato Casagrande e Ricardo Ferraço

João Campos, Renato Casagrande e Ricardo Ferraço

Quem foi ao 18º Congresso Estadual do PSB na noite da última quarta-feira (23), em um cerimonial em Vitória, saiu de lá com uma convicção muito forte (se não com uma grande certeza): o governador Renato Casagrande (PSB) já tem muito consolidado na mente qual é o seu plano para as eleições estaduais de 2026. O governador está mesmo determinado a lançar e apoiar, sem surpresas, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) para a sua sucessão – muito provavelmente, renunciando antes para ser candidato a senador.

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Na mesa de autoridades, Casagrande sentou-se ao centro, entre o próprio Ricardo Ferraço (à sua esquerda) e o prefeito de Recife, João Campos (PSB), convidado especial do evento e futuro presidente nacional do PSB. Prefeitos aliados de Casagrande – também candidatáveis a governador – não se fizeram presentes. Arnaldinho Borgo (sem partido) não foi. Euclério Sampaio (MDB) tampouco. Já Ricardo não só fez questão de comparecer ao evento do partido de Casagrande como foi tratado como um coadjuvante de luxo, sendo citado em muitos discursos, inclusive no do governador (o último da noite).

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No trecho de sua fala mais incisivo sobre as eleições 2026, Casagrande afirmou que o PSB vai “dividir o poder” com aliados e apontou muito objetivamente a “direção” que o partido vai seguir, usando também sinônimos como “rumo” e “caminho”: “Vamos dividir o poder para a gente poder manter o desenvolvimento deste estado e as oportunidades para os capixabas. É essa a direção que a gente vai seguir”.

“Nos não queremos ser um partido hegemônico. Queremos ser um partido que possa dar a sua contribuição, mas também abrindo espaço para os nossos aliados nessa grande aliança que nós temos”, discursou Casagrande. E, dirigindo-se nominalmente a Ricardo, defendeu que o Espírito Santo não pode “perder tempo” nem “perder o rumo encontrado nos últimos anos”:

“O partido [PSB] não pode deixar perder o caminho que nós estamos traçando neste estado. Este estado, meus amigos e minhas amigas, nestes últimos anos, encontrou a direção, o rumo da transformação, da conquista do respeito, da dignidade. E nós não vamos perder esse rumo. Esse rumo está nessas alianças que nós temos aqui no estado do Espírito Santo. É esse rumo que nós vamos tocando, Ricardo Ferraço, para a gente poder dizer ao povo capixaba que nós não vamos perder tempo. Não vamos desenvolver uma política que possa fazer com que o Estado e a população capixaba perca tempo. Então temos uma direção: a direção de aperfeiçoarmos cada vez mais o nosso projeto. Esse é o caminho que vamos seguir”.

Sem tratar explicitamente de candidatura ao Palácio Anchieta, a fala de Casagrande pode ser interpretada assim: o Espírito Santo não pode se dar ao luxo de “perder tempo” embarcando numa aventura, ou dando um cavalo de pau na condução do Governo do Estado que possa significar atrasos ou descontinuidade de políticas públicas que têm dado certo. Nesse sentido, o vice-governador se apresentaria como a opção mais segura, a certeza de sequência natural do atual governo (o tal “projeto” citado por Casagrande), não só por ser um sócio importante da mesma administração, mas porque já será o próprio governador do Estado, sucedendo Casagrande, quando chegar o período eleitoral.

Outra chave de leitura da fala de Casagrande é a sua menção à “divisão de poder” com os aliados. Há muito tempo, desde a sua reeleição em 2022, os líderes do PSB têm muito claro que esse é o último governo em sequência do partido no Espírito Santo. Sem ter preparado nenhum correligionário como “sucessor natural”, o governador necessariamente apoiará um aliado de outra sigla. O PSB não disputará a eleição para governador. Ponto. A prioridade do partido é eleger o próprio Casagrande no Senado, abrindo espaço na chapa majoritária para forças aliadas disputarem a sucessão de Casagrande, formando a chapa com os candidatos a governador e a vice, com o apoio do PSB.

Essa estratégia de dividir – não para conquistar o poder, mas para mantê-lo, ainda que de forma indireta – já começou a ser exercitada nas eleições municipais do ano passado. Naquele pleito, o PSB já deu um passo atrás, para prestigiar aliados. É bem verdade que, no interiorzão, o partido do governador fez a festa, elegendo mais de 20 prefeitos. Mas foi o rei das cidades pequenas, com menos de 50 mil habitantes. A maior delas é Nova Venécia. Somando todas as prefeituras conquistadas, dá aproximadamente 10% da população capixaba.

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Na Região Metropolitana e nas maiores cidades do interior, com exceção de Cachoeiro, o PSB nem lançou candidato. Em vez disso, preferiu apoiar aliados estratégicos de partidos idem, com a expectativa de receber de volta o apoio destes ao projeto sucessório liderado por Casagrande agora – segundo a boa e velha lei da reciprocidade que costuma reger as alianças políticas.

Exemplos concretos: Casagrande apoiou, subindo no palanque e tudo, a reeleição de Euclério em Cariacica, a de Arnaldinho em Vila Velha, a de Wanderson Bueno (Podemos) em Viana, a chegada de Weverson Meireles (PDT) ao poder na Serra… Isso sem falar nos recursos estaduais que têm jorrado nas respectivas administrações municipais nos últimos anos – e que explicam, em parte, o sucesso de todos eles nas urnas em 2024.

Agora, a retribuição esperada é o apoio desse time de prefeitos ao projeto sucessório traçado por Casagrande. E o projeto traçado por ele, claro está, responde por Ricardo. O governador espera que seus aliados apoiem o vice-governador. Para isso, também pretende seguir a prestigiá-los, ajudando os respectivos partidos a formar chapas competitivas e eleger um bom número de deputados estaduais e federais.

Compondo a mesa de autoridades e discursando para a militância, o deputado federal Paulo Folletto (PSB) foi bem direto ao se dirigir a Ricardo: “E você, Ricardo, a gente conta muito com você. Este ano, no ano que vem e a gente conta muito com você para a frente. Você pode ter certeza de que faremos de tudo para estar com você”.

Já o presidente estadual do PSB, Alberto Gavini, reeleito por unanimidade no Encontro Estadual, foi ainda mais direto. Ele enumerou, de maneira objetiva, as metas do PSB do Espírito Santo nas eleições gerais de 2026: “Precisamos entregar no mínimo quatro deputados estaduais, no mínimo dois deputados federais, o senador Renato Casagrande e o governador parceiro”.

Ricardo Ferraço: “Viva o PSB!”

Ricardo Ferraço chegou antes de Casagrande ao local do congresso do PSB. Passou alguns minutos na calçada, interagindo com os presentes. No visual, destacou-se pelas roupas escolhidas, bem mais informais que as dos demais na mesa de autoridades: calça jeans e uma camiseta preta com o dizer Espírito Santo.

Em sua fala, o vice-governador “rendeu-se ao PSB”. Não poupou elogios ao partido do governador. Desde os primórdios de sua longa trajetória política, Ricardo é um homem público de direita – com alguma flexibilidade, centro-direita. O Partido Socialista Brasileiro é uma agremiação de centro-esquerda, pertencente ao campo progressista, como dito e reiterado por muitos dos presentes, inclusive Casagrande.

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Isso não impediu Ricardo de afirmar, por exemplo, que “o PSB exerce protagonismo na política do Espírito Santo”; que “o PSB fez o Espírito Santo levantar, sacudir a poeira e dar a volta por cima”; que “o PSB conduz o governo com diálogo e com humildade” e que faz “o governo mais municipalista do nosso país”.

Em sua breve fala, Ricardo usou o slogan que tem repetido na internet e em eventos oficiais: “O Espírito Santo é o Brasil que dá certo”. E arrematou com “Viva o Espírito Santo! Viva o PSB!”, sob aplausos e gritos efusivos da militância do partido.

Assim, Ricardo sinaliza algumas propensões importantes: quer, é óbvio, o apoio do partido do governador (afinal, precisa do apoio do próprio para se candidatar); não está nem aí se o PSB é um partido de centro-esquerda, teoricamente mais distante de suas próprias convicções ideológicas; não tem o menor interesse em entrar nesse debate de coloração ideológica; fará de tudo para evitar que a eleição estadual seja arrastada para essa arena e subsumida ao enfrentamento da direita contra a esquerda e vice-versa.

Ricardo também repetiu algo que tem se fixado como um mantra dele: o de que o atual governo (o do PSB), ao contrário de gestões passadas, “consegue equilibrar duas questões muito importantes”: responsabilidade fiscal e investimentos sociais.

“Nós já tivemos aqui no Espírito Santo governadores que gastaram demais e gastaram mal. E mergulharam o nosso estado numa desorganização profunda que causou muita dor a todas e todos os capixabas. Mas também já tivemos governo que só pensava na responsabilidade fiscal, que só pensava na poupança e que não fazia os investimentos necessários para que possa prover de políticas públicas aquilo que os capixabas esperam. Hoje nós temos um governo que concilia a responsabilidade fiscal com a capacidade de investimentos. E esse equilíbrio tem feito a diferença no estado do Espírito Santo, porque, para nós, responsabilidade fiscal não é fim, é meio para que possamos botar de pé as melhores e maiores políticas públicas para atender a população capixaba”, discursou o vice-governador.

A primeira parte do raciocínio (governadores que gastaram mal, “desorganização profunda”) pode se referir a Albuíno Azeredo, Vitor Buaiz, José Ignácio, enfim, você pode escolher. A segunda (“só pensavam na poupança e não investiam”) é uma nítida fustigada de Ricardo em Paulo Hartung, adversário de ambos: de Casagrande e, mais ainda, dele mesmo.

Eleições proporcionais: as metas do PSB

Hoje, o PSB tem três deputados estaduais no Espírito Santo (10% das 30 cadeiras da Assembleia): Janete de Sá, Dary Pagung e Toninho da Emater, que substitui Tyago Hoffmann, licenciado desde janeiro para comandar a Secretaria Estadual de Saúde. E o partido só tem um deputado federal (10% dos dez assentos da bancada capixaba na Câmara): Paulo Folletto, reeleito em 2022 para o quarto mandato seguido.

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Como disse Gavini, o PSB quer ampliar esses números em 2026, passando de três para quatro estaduais e de um para dois federais. Mas Casagrande é até mais otimista. Em seu discurso, afirmou que o partido pode até eleger cinco estaduais e, quem sabe, três federais. “Dependendo da conjuntura, podemos pensar em três deputados federais. Podemos pensar. Lógico que podemos pensar!”

Aproveitando a presença de João Campos, futuro presidente nacional da legenda, Folletto destacou a importância de “reenergizar” a bancada do PSB na Câmara Federal. “Precisamos fazer volume de deputados federais. Não vou ficar mais sozinho lá.”

Ele fez as contas. Em sua primeira eleição para a Casa, em 2010, o PSB fez 32 deputados federais no Brasil inteiro. Em 2014, foram 34. Hoje, o partido só tem 14.

João Campos ressaltou que aumentar essa bancada é questão prioritária para a direção nacional do PSB.

Tyago Hoffmann: “PSB nunca esteve dividido”

No 18º Congresso Estadual do PSB, o novo Diretório Estadual foi eleito, em chapa única, por unanimidade dos votos dos delegados, tendo à frente Alberto Gavini, reconduzido para mais três anos na presidência. A chapa tem 30% de mulheres.

A próxima Executiva Estadual será formada por 24 membros, sete deles representando segmentos sociais do partido (jovens, mulheres, negros etc.).

A nova Executiva terá dois vice-presidentes: Paulo Folletto e Tyago Hoffmann. Os dois foram, precisamente, pivôs da maior polêmica que precedeu o congresso e a reeleição de Gavini.

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Encorajado por alguns pares – que entendiam ser importante uma renovação também no comando local –, Tyago Hoffmann chegou a aventar apresentar o nome para a presidência. Mas nem chegou a lançar pré-candidatura. Antes que pudesse fazê-lo, em entrevista à jornalista Fabiana Tostes, do jornal online Folha Vitória, Folletto opôs-se à ideia, declarou que conversaria com Tyago para dissuadi-lo e que, se ele insistisse em concorrer, disputaria a presidência contra ele.

Os dois são pré-candidatos a deputado federal, e o receio de Folletto era o de um favorecimento de Tyago à própria candidatura. Assim, a postulação de Tyago morreu antes de nascer, e Gavini foi reconduzido sem dificuldades.

Em seu discurso no encontro, Tyago exaltou a união do PSB e parabenizou muito Gavini pela condução: “Muito se falou na imprensa sobre a divisão do partido. O partido nunca esteve dividido. Enquanto estou aqui, nunca vi esse partido dividido. A gente faz debates e constrói consensos. E foi o que a gente fez aqui hoje. […] Gavini vai conduzir o partido nas eleições 2026”.

Tyago também elogiou bastante o governo Casagrande, do qual é parte. Chamou-o de “melhor governo estadual do Brasil”. O secretário estadual de Saúde citou a construção de novos hospitais estaduais. Disse que o Himaba será o maior hospital infantil da América Latina e que o Fundo Soberano foi recentemente escolhido como o terceiro melhor do mundo e o melhor da América Latina. “O Espírito Santo é modelo em políticas públicas em todas as áreas.”

Como ficou a Executiva estadual do PSB

Presidente: Alberto Gavini
Vice-presidentes: Paulo Folletto e Tyago Hoffmann
Secretário-geral: Paulo Menegueli
Primeira secretária: Flávia Cysne
Segundo secretário: Jilberlandio Miranda Santana
Primeiro secretário de Finanças: Paulo Brusqui
Segundo secretário de Finanças: Frei Paulão
Secretários especiais: Bruno Lamas, Toninho da Emater, Jacqueline Moraes, Dary Pagung, Odmar Péricles e Givaldo Vieira
Líder de bancada: Janete de Sá

Há mais sete membros dos segmentos partidários.

De outros partidos

Os deputados estaduais João Coser (PT) e Mazinho dos Anjos (PSDB) compareceram ao congresso do PSB. Coser participou da mesa e até discursou.

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Os três eixos

Gavini transmitiu à militância os três pilares do PSB na preparação para as eleições 2026 no Espírito Santo:

  1. Organização partidária
  2. Formação política
  3. Democracia

“O que está acontecendo no mundo pode acontecer aqui no Brasil”, disse ele, em possível alusão ao recrudescimento do trumpismo e a um possível contra-ataque da extrema-direita também em nosso país. “Vocês estão vendo o governo Lula fazendo tantas coisas e parece que as pessoas não estão vendo…”, desabafou o dirigente socialista.