Coluna Vitor Vogas
Em Vitória, João Campos é tratado como futuro presidente da República
Se depender da militância do partido do governador Renato Casagrande, o atual prefeito de Recife, herdeiro de Eduardo Campos, está fadado a ser eleito para governar o Brasil

João Campos, Renato Casagrande e Ricardo Ferraço
Quem foi ao 18º Congresso Estadual do PSB na noite de quarta-feira (23), em um cerimonial no bairro Santa Lúcia, em Vitória, testemunhou a centelha de um movimento político. Se ocorreu na capital capixaba, há de estar a se espalhar por todo o país: se depender da militância do partido do governador Renato Casagrande, o atual prefeito de Recife, João Campos, será, futuramente, presidente da República Federativa do Brasil.
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Hoje, ele não tem nem idade para isso. A Constituição Federal impõe a idade mínima de 35 anos para candidatos a senador, vice-presidente e presidente. É um sonho dos pessebistas para o futuro, materializado em muitas falas no evento.
Bisneto de Miguel Arraes e filho de Eduardo Campos (ambos falecidos), João Henrique de Andrade Lima Campos, 31 anos, tem uma das carreiras políticas mais meteóricas dos últimos anos no país e tornou-se referência, sobretudo no campo progressista, como um dos mais jovens e promissores líderes políticos da sua geração. Eleito deputado federal em 2018, aos 24 anos, chegou à prefeitura da terceira maior cidade do Nordeste – a nona maior do país – em 2020, aos 26. No ano passado, aos 30, reelegeu-se com consagradores 78,11% dos votos válidos.
No dia 1º de junho, no 16º Congresso Nacional do PSB, em Brasília, será aclamado como novo presidente nacional do partido, à frente da única chapa e com o apoio do atual ocupante do cargo, Carlinhos Siqueira. Muito antes de pensar em concretizar esse sonho de chegar ao Palácio do Planalto, João tem um projeto mais imediato – que pode até servir de escala para o sonho maior. Em 2026, ele deve ser candidato a governador de Pernambuco.
No congresso do PSB do Espírito Santo, ao lado de Casagrande e de muitos outros líderes locais do partido de centro-esquerda, João foi saudado por muitos oradores, sem rodeios, como “futuro presidente da República”.
Dizer que ele “roubou a cena” não seria muito apropriado. A cena já foi toda preparada para ele ser a grande estrela do evento, copratagonizado por Casagrande. No enorme backdrop armado atrás da mesa de autoridades, havia uma gigantesca foto do prefeito de Recife ao lado de outra do mesmo tamanho do governador do Espírito Santo. Os dois chegaram juntos ao local, por volta das 19h30, e atenderam a imprensa, antes de seguir para o centro da mesa. À entrada no auditório, João foi ovacionado e tietado como um popstar.
“A Renata põe política na mamadeira desses meninos”, brincou o deputado federal Paulo Folletto, referindo-se à mãe do prefeito de Recife e viúva de Eduardo Campos, Renata Campos. “Ainda tenho idade. Vou ter o prazer de votar e levar você a ser presidente do Brasil”, disse o deputado para João.
“Nosso projeto é ter Casagrande senador e João Campos presidente da República”, afirmou a deputada estadual Janete de Sá.
Também deputado estadual, Toninho da Emater profetizou para (e sobre) João: “No interior a gente via: esses meninos estão sendo preparados. Você não teve infância. Não pôde andar de bicicleta. Era só política. E agora é a esperança de um estado. Você já nasceu e está sendo forjado e preparado para ser o futuro presidente do Brasil”.
Vaticínios similares foram ouvidos até de membros de outros partidos, aliados do PSB no Brasil e no Espírito Santo.
“Se Deus quiser, será o nosso presidente da República”, afirmou Madalena Santana, dirigente do PDT e representante do partido no evento. Nacionalmente, PSB e PDT discutem a formação de uma federação.
Membro da base do governo Casagrande na Assembleia Legislativa, o petista João Coser foi no mesmo embalo: “Você [João] é uma esperança dos jovens. Você é uma esperança do Brasil. Não só no Nordeste, mas no Brasil inteiro. Você com certeza tem todas as condições de nos representar com outras lideranças também jovens”.
A principal estrela presente foi João Campos. Mas as maiores “estrelas ausentes”, na constelação do PSB, foram Miguel Arraes e Eduardo Campos, bisavô e pai do prefeito de Recife. Mencionados e homenageados em muitos pronunciamentos, os dois estão entre os maiores vultos da história do PSB – um no século XX, o outro no XXI.
Arraes é presença obrigatória em qualquer lista de dez políticos de esquerda mais importantes do Brasil no século XX. Com o golpe e a ditadura civil-militar instaurada em 1964, foi deposto do cargo de governador de Pernambuco e preso. No ano seguinte, após mais de um ano na prisão, exilou-se na Argélia. No mesmo ano, o PSB também foi cassado, por força do Ato Institucional nº 2, que acabou com o pluripartidarismo no país. Em 1990, Arraes filiou-se ao PSB, “refundado” em 1985, durante a redemocratização. Governou Pernambuco por três mandatos, o último deles pelo PSB, de 1995 a 1998, além de ter exercido outros cargos eletivos. Morreu em 2005.
Já Eduardo Campos, neto de Arraes, governou Pernambuco por dois mandatos, de 2007 a 2014. Antes disso, foi deputado federal e ministro de Ciência e Tecnologia no primeiro governo Lula (PT). Em 2014, renunciou ao cargo de governador para concorrer à Presidência da República, pelo PSB (presidido por ele no país havia uma década). Como lembrou João Campos no evento em Vitória, quando renunciou, seu pai tinha mais de 90% de aprovação dos pernambucanos. Para muitos, estava fadado a se tornar presidente – se não naquele pleito, mais adiante.
Mas o sonho acabou no dia 13 de agosto de 2014, com a trágica morte de Eduardo, em um desastre aéreo em São Paulo, em plena campanha presidencial.
Acabou ou foi adiado, prolongando-se agora em seu filho, para a militância do PSB.
No início de seu pronunciamento, que encerrou o congresso partidário em Vitória, Casagrande recordou sua relação política e pessoal muito estreita com o bisavô e com o pai de João Campos. Lembrou que, no último governo de Arraes em Pernambuco, de 1995 a 1998, ele era vice-governador (de Vitor Buaiz) no Espírito Santo, além de secretário estadual de Agricultura. Recebeu algumas vezes Arraes em Vitória e o encontrou algumas vezes em Recife e em Brasília.
Quanto a Eduardo Campos, Casagrande contou da “amizade e convivência” da sua família com a dele. Entre 2003 e 2006, os dois foram deputados federais juntos: Eduardo líder e ele vice-líder do PSB na Câmara dos Deputados; depois Eduardo ministro e Casagrande líder do partido na Casa.
Casagrande enalteceu as “gestões inovadoras de Eduardo Campos em Pernambuco”. “A gente se espelha em muito do que ele fez.”
