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Coluna Vitor Vogas

João Campos: futuro presidente do PSB quer Casagrande no Senado

O discurso, as declarações e os bastidores da passagem do prefeito de Recife por Vitória durante Congresso Estadual do PSB

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João Campos, Renato Casagrande e Ricardo Ferraço. Foto: Samuel Chahoud/Pixel

João Campos, Renato Casagrande e Ricardo Ferraço. Foto: Samuel Chahoud/Pixel

O prefeito de Recife, João Campos, foi o convidado de honra do 18º Congresso Estadual do Partido Socialista Brasileiro (PSB), sigla do governador Renato Casagrande, na noite de quarta-feira (23). Mais que uma jovem referência e símbolo da renovação do partido, o filho de Eduardo Campos se prepara para assumir a presidência nacional dos socialistas. No dia 1º de junho, durante o 16º Congresso Nacional do PSB, o pernambucano de 31 anos será eleito, sem concorrentes, para o cargo de dirigente máximo da sigla no país – exercido por seu falecido pai de 2005 a 2014.

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Na condição de futuro presidente, diante da militância capixaba, João Campos afirmou: se depender dele mesmo e da próxima direção nacional, Casagrande terá todo o apoio e incentivo para ser candidato a senador e ajudar o PSB a cumprir a sua meta maior nas eleições de 2026: fortalecer a sua representação na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

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“Nós vamos crescer a bancada no Congresso Nacional. Nós vamos crescer no Senado. E aí, o Espírito Santo, espero eu, vai poder dar uma contribuição importante nesse sentido”, disse João Campos, discursando para a militância, com um sorrisinho maroto no canto nos lábios e olhando para Casagrande. O prefeito não o disse com todas as letras, mas, naturalmente, a “contribuição” esperada por ele do PSB capixaba, para o partido “crescer no Senado”, é a eleição de Casagrande para o cargo.

Durante o Congresso Estadual do PSB, em um cerimonial situado no bairro Santa Lúcia, em Vitória, João Campos e Casagrande ficaram o tempo todo colados. Após chegarem juntos ao local, por volta das 19h30, e atenderem a imprensa, sentaram-se lado a lado no centro da mesa de autoridades. O jovem prefeito recifense não economizou em elogios a Casagrande e disse que ele mesmo e a direção nacional do PSB “esperam muito” do Espírito Santo (e do seu governador).

“A gente vê, Renato, você fazer esse grande trabalho aqui no Espírito Santo. É por isso que dou este testemunho. E digo aqui, com a alegria de quem vai ter a oportunidade de conduzir este partido, que o PSB nacional espera muito do Espírito Santo. Ao mesmo tempo que a gente espera muito, a gente também tem a confiança de que Renato, junto com este time, vai poder conduzir o partido para os melhores lugares possíveis. Que fortaleça a nossa bancada, que fortaleça a participação na Câmara Federal e na Assembleia, mas, principalmente, que possa continuar representando o desejo do futuro das pessoas”, discursou João Campos.

“É claro que o povo do Espírito Santo espera muito de você, Renato. E aqui saiba que você vai contar com todo o apoio da Direção Executiva Nacional para poder consolidar esses projetos e que a gente saia ainda maior das eleições de 2026”, emendou o bisneto de Miguel Arraes.

No PSB do Espírito Santo, a candidatura de Casagrande a senador é tratada como prioridade para o partido em 2026. Isso chegou a ser verbalizado pelo presidente estadual da legenda, Alberto Gavini, reconduzido por unanimidade durante o Congresso Estadual.

Casagrande, porém, ainda não dá certeza quanto à candidatura. Admite a possibilidade de renunciar ao mandato em abril do ano que vem para disputar uma das duas vagas abertas no Senado pelo Espírito Santo. Nesse caso, o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB) assumirá o cargo de governador, com grandes chances de concorrer à reeleição.

Por outro lado, Casagrande tem tratado, com “igual intensidade”, a possibilidade de ficar no governo até o fim e não disputar nenhum mandato – se concluir que isso será necessária para manter a unidade de seu grupo e evitar que aliados se dispersem no processo eleitoral.

Na entrevista coletiva que antecedeu os discursos no Encontro Estadual do PSB, perguntamos a João Campos se ele, como futuro presidente nacional, defende que Casagrande seja candidato ao Senado. O prefeito foi um pouco mais comedido do que seria logo em seguida, em seu pronunciamento à militância. Disse confiar que o governador do Espírito Santo tomará a melhor decisão, em conjunto com o partido. Mas ressaltou o desejo de que Casagrande “sempre esteja na política, disputando eleição”:

“A gente entende que Renato é um grande quadro do partido, filiado há muitos anos, principalmente um governador bem avaliado, com muita experiência e que tem o reconhecimento de seu povo. Então o PSB tem absoluta confiança na condução política do governador Renato. E tenho certeza que ele vai tomar a melhor decisão, junto com o conjunto, com o partido. A decisão que Renato tomar vai ser apoiada pela direção nacional do partido. E a gente entende, claro, que um quadro como Renato a gente quer que ele sempre esteja na política, disputando eleição, porque ele representa o que há de melhor na política e na gestão pública”.

Só não serei eleitor dele porque não voto aqui”

Campos ainda garantiu que eventual candidatura de Casagrande terá pleno apoio dele mesmo e do PSB:

“Com certeza terá meu incentivo. Só não posso dizer que serei eleitor dele porque não voto aqui. Mas, se ele se candidatar, com certeza terá o meu apoio, não só meu, mas do partido. A gente sabe que as pessoas do Espírito Santo conhecem o trabalho dele, mas é importante dizer que muita gente do Brasil enxerga, enxerga o quanto ele trabalha, o quanto ele faz, e a direção nacional do PSB tem nele um grande quadro do partido”.

O futuro presidente nacional do PSB destacou que o partido tem mais de 70 anos de história, sobreviveu à ditadura militar, passou por uma refundação nos anos 1990 e “consegue se atualizar com o tempo”.

Campos ainda destacou “a forma de gestão e de fazer política do PSB”, marcada, segundo ele, por equilíbrio, diálogo e busca de consensos. De acordo com o prefeito, em vez de dividir, é preciso juntar as pessoas e formar frentes amplas, unindo quem pensa de maneira diferente, mas tem interesses comuns. “Assim é a nossa forma de fazer política. É assim que procuro fazer em Recife e vejo Renato fazer no Espírito Santo”, elogiou.

Homenagem ao Papo Francisco: “maior líder político”

Um ponto marcante do discurso de João Campos foi a homenagem reservada por ele ao Papa Francisco, no final de sua fala. Católico, o prefeito de Recife disse considerar o pontífice, morto na última segunda-feira (21), o maior líder político que sua geração pôde ver.

“Em minha opinião, foi não só o maior líder religioso, mas o maior líder político que a minha geração teve a oportunidade de ver. Alguém que fez do Evangelho uma missão de vida, que não utilizou a palavra de Deus para dividir as pessoas, mas sim para buscar a unidade das pessoas, que conseguiu praticar, no exercício da sua vida, não uma missão de proclamar apenas a fé, mas fazer com que as suas palavras coubessem em sua vida e que a sua vida coubesse em suas palavras.”

Segundo Campos, a política está precisando de mais líderes que se espelhem no exemplo de Francisco: “É disso que a política precisa: de mais gente que faça com que a sua vida seja um exercício da verdade, da compaixão, da fraternidade, do olhar ao próximo. E é isso que a gente vai tentar fazer na nossa vida política. É isso que o nosso partido faz. É isso que este time faz. Em homenagem e referência a esse grande homem que nos deixou, que a gente possa fazer o dever de casa e que a gente siga fazendo da política um instrumento para fazer o bem”.

Eleição presidencial em 2026

A coluna também perguntou a João Campos se ele defende a renovação da aliança com o PT e a reedição do apoio a Lula na eleição de 2026. Diplomático, ele disse que essa condução está a cargo do vice-presidente da República, Geraldo Alckmim. Tucano histórico, o ex-governador de São Paulo filiou-se ao PSB em 2022 e completou a chapa presidencial de Lula, em aliança decisiva para a vitória naquela eleição.

“Nós temos o vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que foi governador de São Paulo, que sempre exerceu grandes missões por onde passou e sempre um bom trabalho realizou. A gente acredita que ele tem desempenhado um papel muito importante, tanto na vice-presidência como no ministério que ocupa [o do Desenvolvimento]. E a gente entende que é importante a manutenção principalmente de Geraldo conduzindo isso, pelo papel exitoso que ele tem tido, sempre como uma figura muito cordial e muito leal”, afirmou Campos.

Renovação x Etarismo

Aos 31 anos de idade e apenas seis exercendo mandatos, João Campos chegará à presidência nacional do PSB como esperança de renovação na direção e nos rumos nacionais do partido, uma das principais e mais antigas agremiações de centro-esquerda do Brasil. O próprio Carlinhos Siqueira, atual presidente nacional, disse isso em fevereiro, ao lançar a candidatura do filho de Eduardo Campos à sua sucessão.

Perguntamos a João Campos se ele defende esse mesmo processo de renovação para o PSB em outros estados, inclusive no Espírito Santo. O presidente estadual, Alberto Gavini, tem 66 anos, está no cargo desde o fim de 2019 e ficará até 2018, totalizando quase uma década. Já o principal líder político do PSB no Espírito Santo, Casagrande, tem 64 anos, faz política há cerca de 40 e já cumpria seu primeiro mandato (de deputado estadual) quando João Campos nasceu. Poderia ser o pai e, no limite, até o avô do futuro presidente nacional.

João Campos, porém, respondeu que é preciso ter cuidado para não se confundir “renovação” com etarismo e que pessoas mais velhas na idade podem ter pensamento mais moderno:

“Quando você fala em renovação, é preciso ter muito cuidado para não se fazer um debate etarista. Renovação não significa que pessoas que têm mais tempo de vida não sejam mais jovens de pensamento e de espírito do que pessoas mais novas. A gente precisa ter bons quadros, pessoas que respeitam a política, a democracia, que fazem boa gestão pública, que têm capacidade de ouvir e representar as pessoas”.

Em mais uma deferência ao anfitrião da festa, ele citou o próprio Casagrande como caso ilustrativo disso:

“A gente pega o caso aqui do Espírito Santo. Eu não tenho nenhuma dúvida de que Renato representa um pensamento mais moderno e uma forma boa de fazer política do que muita gente mais nova que ele de idade. Então não é uma questão de idade, mas de prática e de princípio. Tenho certeza de que a gente vai crescer renovando os bons espíritos e mantendo a tradição de fazer uma boa política”.

Cena política: as lembrancinhas

João Campos só passou a noite em Vitória e já partiu na manhã desta quinta-feira (24). Na bagagem, levou um montão de lembrancinhas, entregues por representantes do PSB no Espírito Santo durante o Congresso Estadual. O prefeito ganhou pacotes de pó de café típico de terras capixabas, uma panela de barro e uma casaca em miniatura. Ao ser informado de que se tratava de um instrumento musical, desculpou-se com o público: “Só não me peçam para tocar, porque sou uma negação em música. Só sei bater palmas”.

Já o mestre de cerimônias brincou, em alusão às “barrinhas de cereais”, como Casagrande se refere às peças de torresmo que gosta de saborear em botequins e que viraram uma marca cômica do governador nas redes sociais. “Tem barrinha de cereal aí no kit? Se não colocou a barrinha de cereal, errou…”

Curiosidade política: aula de História com Tio Renato

Em seu discurso, dando uma breve lição de História ao jovem prefeito de Recife, Casagrande contou para João Campos que o capixaba Domingos José Martins, que dá nome ao município da Região Serrana, foi líder e mártir da Revolução Pernambucana, movimento republicano ocorrido em 1817, movido por ideais liberais e de independência da Coroa Portuguesa.