Coluna Vitor Vogas
Álbum de figurinhas: quem está na disputa pelo Senado no ES
A precisamente um ano da próxima campanha eleitoral, apresentamos os 14 possíveis candidatos, surgidos até o momento, a um dos dois assentos no Senado que estarão em jogo no Espírito Santo em 2026, e analisamos as chances de cada um realmente registrar candidatura

Plenário do Senado. Foto Lula Marques/ Agência Brasil.
Disponível na página do TSE, o calendário oficial das próximas eleições gerais não deixa dúvida: no dia 15 de agosto de 2026, terminará o prazo para partidos e federações pedirem à Justiça Eleitoral o registro dos seus candidatos. No dia seguinte, 16 de agosto, começará o período oficial de campanha, no qual os postulantes a todos os cargos em disputa poderão fazer propaganda eleitoral e pedir votos nas ruas e nas redes sociais.
> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!
No Espírito Santo, com inaudita antecipação, muito se tem falado sobre a eleição para governador e a escolha do sucessor de Renato Casagrande (PSB). Em paralelo, porém, outra disputa de extrema importância promete dar o que falar e também já movimenta intensamente os bastidores políticos: aquela pelos dois assentos no Senado que estarão em jogo no Estado em 2026.
Até o momento, segundo o nosso levantamento, nada menos que 14 possíveis candidatos já surgiram no Espírito Santo, ou porque assim se apresentam, confirmando o interesse em disputar (caso do próprio Casagrande), ou porque são frequentemente citados por terceiros (caso, por exemplo, do ex-governador Paulo Hartung). Abaixo, apresentamos cada um deles.
Mas vamos além de apresentá-los.
Se o nome entrou em nossa lista, é porque consideramos que sua candidatura ao Senado é possível, não pode ser descartada. Porém, para cada nome da lista, atribuímos o “grau de probabilidade” de efetivação da candidatura daqui a um ano, conforme a escala abaixo. Nossa classificação leva em conta uma série de variáveis, considerando o cenário que está posto – sublinhe-se – neste momento.
Escala de probabilidade:
**** Muito provável
*** Provável
** Possível, mas pouco provável
* Muito improvável
Atenção: logicamente, até agosto do ano que vem, muito poderá mudar. Vale dizer que alguém cuja candidatura, hoje, seja considerada por nós pouco provável, ou até muito improvável, poderá se viabilizar daqui até a campanha. Da mesma forma, uma candidatura hoje considerada muito provável poderá ficar pelo caminho. Isso sem mencionar outros nomes que poderão surgir ao longo do percurso.
Dividimos os 14 potenciais concorrentes em três categorias: aqueles que estão dentro do arco de alianças do governo Casagrande (o próprio governador e aliados); aqueles que estão fora do raio de influência do governador; e, num caso à parte, o PT, pois, embora integrado atualmente ao governo Casagrande, o partido possivelmente estará em um palanque paralelo.
À lista!
No time Governo Casagrande
. Renato Casagrande (PSB) ****
Com governo bem avaliado segundo todas as pesquisas, de vários institutos, divulgadas nos últimos anos, alcançou um feito raro na política: vive seu melhor momento (o auge da popularidade) no seu terceiro mandato de governador, crepúsculo de sua longa passagem pelo Palácio Anchieta. Normalmente, dá-se o contrário: o tempo costuma ser impiedoso e levar desgaste aos governantes. Tem sabido usar as redes sociais a seu favor. Exerce total ascendência sobre seu partido no Espírito Santo. Tem apoio integral da direção nacional do PSB (da qual faz parte). Não há um só aliado dele que não queira sua candidatura ao Senado.
Em diversas entrevistas, já afirmou que gostaria de se candidatar ao Senado, renunciando ao governo em abril (e passando o cargo para Ricardo Ferraço). Em algumas dessas entrevistas, também disse que só um fator pode levá-lo a mudar de ideia, não concorrer a nada e completar seu terceiro mandato: se concluir que isso será imprescindível para manter a unidade de seu grande grupo político e evitar uma dispersão de aliados que favoreça adversários na disputa pela sua sucessão.
Hoje, isso parece improvável. Arnaldinho Borgo (Podemos) declarou, no fim de julho, que ele, Ricardo e Casagrande estarão juntos (no mesmo palanque). Todos os outros aliados já citados pelo próprio Casagrande como possíveis sucessores já ficaram o pé no mesmo movimento: Sérgio Vidigal (PDT), Euclério Sampaio (MDB), Gilson Daniel (Podemos) e Josias da Vitória (PP).
. Josias da Vitória (PP) ***
Na eleição geral passada (2022), o deputado federal já queria ser candidato a senador, mas o cavalo não passou arreado para ele. O grupo do governador priorizou o apoio à reeleição de Rose de Freitas (MDB), derrotada por Magno Malta (PL). Agora, o cenário lhe é bem mais favorável. Tem o comando do PP no Espírito Santo. Mais que isso: será o presidente estadual da poderosa Federação União Progressista (PP com União Brasil). Já afirmou que tem disposição para disputar qualquer cargo majoritário: governador ou senador. Governador, será difícil.
O deputado também já disse que a União Progressista construirá o projeto majoritário junto com Casagrande e Ricardo. Pela dimensão da federação pela qual ele responderá e por sua antiga parceria com o atual governador, Da Vitória tem boas chances de ser o segundo candidato a senador numa chapa que tenha Ricardo na cabeça (a governador) e Casagrande como o primeiro postulante ao Senado.
. Rose de Freitas (MDB) **
Em recente entrevista à coluna, declarou que pode, sim, ser candidata a senadora novamente. Com seis mandatos de deputada federal no currículo, além de um de senadora, Rose não pode ser subestimada e na certa exercerá papel importante na campanha. Mas a aspiração majoritária é limitada por uma série de fatores.
Um deles é o partido. Rose, segundo ela, não pretende sair do MDB. É a legenda de Ricardo Ferraço. Se este de fato for candidato a governador, dificilmente o MDB terá outra candidatura majoritária na mesma coligação, tendo tantos partidos aliados a contemplar no arranjo. Além disso, aos 75 anos, Rose está há quase três sem mandato, com poder e influência reduzidos.
Uma campanha ao Senado exige muito do candidato, fisicamente. É preciso percorrer o Estado inteiro, em ritmo de maratonista. Já em suas últimas postulações (para governadora em 2018 e senadora em 2022), Rose mostrou pouca disposição em fazer campanha de rua e em gravar conteúdo para a própria propaganda eleitoral. Está ausente das redes sociais, campo de disputa quiçá ainda mais importante hoje em dia (vide, por exemplo, a revolução nas redes de Casagrande e outros políticos da velha guarda).
. Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB) **
Já afirmou que tem disposição para ser candidato a senador, pois hoje, neste grande rol de pré-candidatos, não enxerga ninguém que defenda os ideais em que acredita. Damos duas estrelas a Luiz Paulo porque, em campanhas anteriores, ele já demonstrou não ter o menor medo da derrota, nem pudor em entrar como azarão para defender suas convicções. Mas é bem pouco provável que ele seja.
Há um grande complicador para Luiz Paulo do ponto de vista partidário. Não se pode perder de vista um fator que muita gente esquece: a disputa para o Senado está atrelada, indissociavelmente, à disputa para o Governo do Estado. Por força da legislação eleitoral, coligações para o Senado costumam espelhar as coligações para o Governo do Estado. Assim, uma mesma coligação majoritária dificilmente terá mais de dois candidatos a senador.
No caso concreto, o PSDB é aliado de Casagrande e Ricardo. Estará nessa grande coligação majoritária. O PSDB pode lançar Luiz Paulo ao Senado? Pode. Mas teria de ser uma candidatura avulsa, com o partido isolado, fora da coligação. Difícil imaginar o PSDB bancando sozinho uma candidatura ao Senado…
Mas Luiz Paulo não poderia ser um dos dois candidatos a senador dessa coligação, ao lado de Casagrande? Em tese, até poderia. Mas aí é preciso comparar o tamanho dos partidos aliados. Nos últimos anos, o PSDB encolheu muito. A possível fusão com o Podemos, comemorada por Luiz Paulo, acabou não vingando. Relativamente a outras siglas integrantes da coligação governista (o União Progressista, por exemplo), o PSDB hoje ficou pequeno.
Acresça-se o retrospecto do ex-prefeito de Vitória, derrotado em todas as eleições disputadas por ele, entre 2010 e 2014, para diferentes cargos eletivos. É fator que certamente pesará nas decisões finais do grupo.
. Enivaldo dos Anjos (PSB) *
Já afirmou que está à disposição da coalizão casagrandista, “se for necessário” e se nenhum outro partido aliado quiser preencher a segunda candidatura ao Senado nessa coligação. Não será necessário, pois o que não falta é, justamente, partidos aliados do governo de olho nessa segunda vaga. Enivaldo é do PSB, partido de Casagrande. Com uma aliança tão ampla, a legenda não terá dois candidatos a senador. Não faz o menor sentido. E, mesmo que o prefeito de Barra de São Francisco troque de sigla, está longe das primeiras posições da fila.
Enivaldo já declarou que, de qualquer maneira, renunciará ao mandato de prefeito no ano que vem. Se for candidato, o fará em abril, em respeito aos prazos legais. Se não for, renunciará em dezembro e ficará voluntariamente sem mandato. O que o prefeito deseja, no fundo, é ser suplente de um dos candidatos a senador da coligação governista (preferencialmente, o primeiro de Casagrande). Aí, sim, está na briga. Nessa hipótese, também precisará renunciar em abril.
Partido dos Trabalhadores
. Fabiano Contarato (PT) ****
Podemos afirmá-lo aqui e agora: será, sem sombra de dúvida, candidato à reeleição. Lula o quer, a Executiva Nacional o quer, os dirigentes estaduais idem, a militância idem, enfim, o PT inteiro trata a reeleição de Contarato como prioridade nº 1 para o partido no Espírito Santo. Assim já o disseram vários líderes locais – Jack Rocha, João Coser, Helder Salomão –, além da vontade já expressada pelo próprio senador.
A questão, então, não é “se”, mas de que maneira. Hoje, no Estado, o PT faz parte da situação: apoia o governo Casagrande, apoiou sua reeleição em 2022 e tem espaços no 1º e no 2º escalão da atual administração. A dúvida é se Contarato e o PT caberão em uma coligação majoritária encabeçada por Ricardo Ferraço, ou qualquer outro aliado de Casagrande à direita, não apoiador de Lula – e a reeleição do presidente é outra prioridade para o PT no Espírito Santo e alhures.
A tendência é que haja uma mútua rejeição. Nesse caso, o partido de Lula poderá lançar aqui Contarato numa candidatura avulsa, ou à frente de outra coligação, composta só por partidos de esquerda.
Fora do time Governo Casagrande
. Maguinha Malta (PL) ****
Com grande porte e priorizando a eleição de senadores em 2026 – para ajudar a executar o plano bolsonarista de cassar ministros do STF –, o PL com certeza terá candidato próprio ao Senado no Espírito Santo. Ou melhor, candidata. Hoje, pouca gente duvida de que a candidata do partido será, de fato, a publicitária Maguinha Malta, ainda não testada nas urnas. Isso não por qualquer atributo pessoal, currículo etc.
Maguinha tende a ser a candidata por conta do fator que, no PL capixaba, tem mais peso: a vontade do senador Magno Malta, presidente estadual do partido e, por acaso, seu pai. Com a desistência de Gilvan da Federal, Magno está decidido a lançar e bancar a própria filha, para se juntar a ele no Senado. Como a palavra dele é lei no PL-ES, quatro estrelas para ela, pela força dos laços consanguíneos.
. Sérgio Meneguelli (pelo PSD) ***
Após ter tido a candidatura ao Senado barrada pelo Republicanos em 2022, o deputado estadual e ex-prefeito de Colatina está determinado a sair do partido e, dessa vez, realizar o velho sonho de concorrer ao Senado. Como ele mesmo já disse, seu pé já está no Partido Democrático Social (PSD). Como tem mandato parlamentar e a direção estadual do Republicanos não lhe dará carta de anuência, ele só poderá migrar na janela de março.
Mantém excelente relação com Renzo Vasconcelos, presidente estadual do PSD, que já lhe abriu as portas do partido e lhe deve, em parte, a vitória na reta final da eleição a prefeito de Colatina em 2024. O próprio ex-governador Paulo Hartung, filiado em maio ao PSD, já endossou o seu ingresso no partido. Por tudo isso, se Meneguelli for mesmo para o PSD, a candidatura parece bem pavimentada… a menos que Paulo Hartung resolva candidatar-se ele mesmo ao Senado. Hoje, não apostamos nisso.
. Wellington Callegari (DC) ***
Acabou de anunciar sua migração do musculoso PL para o franzino Democracia Cristã (DC). Fez esse movimento de downsizing precisamente para ter condições reais de viabilizar a candidatura. No PL, ele não o conseguiria, pois, como visto acima, o lugar está guardado, por Magão, para Maguinha. Já no DC, pelo menos, ele tem a legenda garantida para concretizar o projeto. Magno já lhe entregou a carta de anuência, e ele agora só espera a autorização formal do TRE-ES para mudar de agremiação sem perder o mandato na Assembleia.
Aqui não estamos analisando grau de competitividade, mas sim a probabilidade de confirmação da candidatura, daí as três estrelas para o deputado, a partir dessa mudança de partido. Mas cumpre registrar que o DC é pequeníssimo (para evitar o termo “nanico”), com parcos recursos para sustentar uma candidatura ao Senado. Não terá tempo de TV e rádio. Callegari sabe disso. Mas quer tentar mesmo assim.
. Evair de Melo (por outra sigla à direita do PP) **
Em 2023, o deputado foi o primeiro político capixaba a dizer que queria se candidatar a governador, Mudou o plano para senador. No fim de 2024, o próprio Bolsonaro, em vídeo, citou Evair como aliado que teria seu apoio ao Senado no Espírito Santo. De fato, a ligação entre os dois é forte. Evair apoia Bolsonaro desde 2017, foi um dos seus vice-líderes na Câmara durante o seu governo e, no atual mandato, radicalizou de vez no bolsonarismo: vota sempre contra o governo Lula (até na reforma tributária), já desqualificou ministros como Haddad e Marina Silva em audiências de comissões, já enalteceu Donald Trump…
A dificuldade, para Evair, é partidária. Pelas mãos de Da Vitória e Marcelo Santos, o União Progressista está embicado na direção de Ricardo e Casagrande, de quem ele é opositor. Se confirmada a presença da federação nesse palanque, ele não terá espaço algum para candidatura majoritária. Pode migrar, é claro, para outro partido de direita, mas qual? Ideologicamente, o PL seria um destino natural, mas a legenda para o Senado já tem dona. O Republicanos, em tese, é um caminho. Mas o partido de Lorenzo Pazolini lançaria o prefeito de Vitória a governador e, ainda, um candidato a senador? Haja recursos…
A dirigentes partidários, Evair tem dito que é pré-candidato à reeleição na Câmara.
. Paulo Hartung (PSD) **
É sempre lembrado como possível candidato ao Senado. Em entrevista dada à coluna em maio, o ex-governador sinalizou fortemente que não tenciona disputar novo mandato em 2026. Defendendo a “renovação política”, disse ter entrado no PSD para contribuir com ideias, ajudar o partido a construir seu programa e seu plano de governo para a eleição presidencial. O presidente nacional, Gilberto Kassab, endossou isso. Contudo, ambiguamente, Hartung deixou uma fresta aberta: “não descarto nem encarto [ser candidato no próximo pleito]”.
Se o ex-governador decidir ser candidato, não será propriamente uma surpresa. Não seria a primeira vez que rumaria para um lado, após ter apontado para o outro.
. Leonardo Monjardim (Novo) **
Em 2024, ao se filiar ao Novo, o vereador de Vitória tornou-se o primeiro mandatário do partido na história do Espírito Santo. Agora, o Novo diz querer lançá-lo a senador. Assim tem dito o presidente estadual do partido, Iuri Aguiar. No sábado (15), em São Paulo, o presidente nacional do Novo, Eduardo Ribeiro, confirmou a pré-candidatura. Seria um salto e tanto.
Não há precedente de um vereador que tenha conseguido se eleger diretamente ao Senado neste estado. Claro, pode-se atalhar que, em 2018, deu-se algo ainda mais difícil, e em dobro: Contarato e Marcos do Val, na primeira campanha de ambos e sem nunca terem exercido mandato algum, chegaram diretamente ao Senado. Mas foi uma eleição assaz atípica.
Se Monjardim entrar mesmo no páreo, será uma candidatura ideológica (e kamikaze) do Novo, para o vereador ganhar recall político… Restam dúvidas, também, quanto à capacidade do partido em financiar essa empreitada eleitoral.
. Carlos Manato (por outra sigla de direita que não o PL) *
Se dependesse só da vontade individual, o ex-deputado federal até poderia levar duas estrelas. Ele quer, muito mesmo, ser candidato a senador, e tem se movimentado bastante nos bastidores para viabilizar esse plano. Mas aí é que está a dificuldade, e por isso a estrela solitária: Manato procura, com urgência, outra sigla no campo da direita em que possa se acomodar; até agora, porém, só esbarrou em portas fechadas. No PL, onde ainda está filiado, ele não ficará. Além da reserva de espaço para Maguinha, ele está brigado com Magno.
O ex-deputado tentou cavar espaço no Novo. O presidente estadual, Iuri Aguiar, não topou, até porque já tem compromisso com Monjardim. No Republicanos, também é difícil… Manato se aproximou de Pazolini e já lhe declarou apoio para governador, mas o partido dificilmente terá candidato, ele ou qualquer outro, a senador. Diferentemente de Callegari, o ex-deputado não deve se filiar a um partido nanico de direita para ser candidato a todo custo. Enfim, hoje, está difícil para ele.
. Marcos do Val (por outra sigla que não o Podemos) *
Sinaliza interesse em se manter no Senado. No Podemos, não terá legenda. Aliás, já declarou que sairá do partido, alegando que a sigla apoia o governo Casagrande (apoiado por ele próprio em 2018 e 2022…). Será difícil encontrar agremiação disposta a bancar politicamente sua candidatura ao mesmo cargo.
