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Coluna Vitor Vogas

“Silenciou a todos”: candidato de Max sobe o tom contra Arnaldinho

Maurício Gorza (PSDB) se lança à Prefeitura de Vila Velha centrando fogo no atual prefeito, o qual, segundo ele, “só governa para as elites”

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Maurício Gorza e Max Filho, na convenção da Federação PSDB/Cidadania em Vila Velha. Crédito: Vitor Vogas

Maurício Gorza e Max Filho, na convenção da Federação PSDB/Cidadania em Vila Velha. Crédito: Vitor Vogas

O engenheiro Maurício Gorza já foi vereador de Vila Velha e vice-prefeito de Max Filho no segundo maior colégio eleitoral do Espírito Santo. Até hoje um fidelíssimo aliado da família Mauro, Gorza assumiu, em março, a presidência do PSDB em Vila Velha. Foi o produto de uma manobra articulada por Max Filho diretamente com a direção nacional do partido.

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Até então, sob a liderança de aliados do deputado Vandinho Leite, o PSDB em Vila Velha tendia a apoiar a reeleição do prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos). Levando a cúpula nacional a intervir na direção municipal e transferi-la para as mãos de um aliado, Max garantiu, pelo menos, uma coisa: que o partido não caminhe com Arnaldinho, seu visceral adversário político. Esse foi o primeiro papel cumprido por Maurício Gorza na eleição a prefeito de Vila Velha: tirar o PSDB da já imensa coligação do atual prefeito.

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Mas não é só isso. Gorza já chegou à presidência do PSDB em Vila Velha proclamando-se candidato a prefeito pelo grupo de Max – e no lugar do ex-prefeito, que desta vez não vai pessoalmente para a disputa.

Desde então, Gorza “mergulhou”. Passou meses praticamente sem dar entrevistas. No último domingo (21), durante a convenção da Federação PSDB/Cidadania em Vila Velha, no colégio Vasco Coutinho, o pré-candidato de Max voltou à cena. E o fez dando uma grande amostra do segundo papel que cumprirá no processo eleitoral: ser uma voz constante e incisiva de oposição a Arnaldinho, mirando nele no horário eleitoral, entrevistas, discursos e debates.

Realisticamente, Gorza tem chances remotíssimas de se eleger prefeito. Mas poderá dar algum trabalho ao atual ocupante do cargo, expondo possíveis deficiências ou vulnerabilidades da gestão Arnaldinho Borgo.

Em seu discurso para a magra militância, com Max Filho sentado à mesa e assistindo sua fala a poucos metros, Gorza dirigiu críticas duras à atual administração e ao atual prefeito, o qual, segundo ele, só governa para as elites e está silenciando vereadores e líderes comunitários, mediante pródiga distribuição de cargos comissionados na máquina municipal.

Citando o polêmico projeto que restringiu a circulação de carroças de catadores de recicláveis em determinadas vias da cidade, bem como controversa ação da prefeitura na Colônia dos Pescadores, em Itapuã, no ano passado, o pré-candidato de Max afirmou que Arnaldinho só governa para as elites.

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“Quem faz essa avaliação é o povo de Vila Velha. Eu simplesmente estou comunicando o sentimento do povo do município. Vila Velha hoje é uma cidade que não prioriza as pessoas simples, humildes, que devem ser efetivamente o referencial de quem governa. Essa é a nossa leitura e é a leitura do povo de Vila Velha”, disse Gorza, em entrevista à coluna, logo após a convenção.

“Os catadores de recicláveis, os pescadores da orla de Itapuã, os carroceiros… Essas pessoas precisam ser acolhidas em nossa sociedade e precisam do olhar do poder público sobre elas. Nós precisamos governar para todos, mas prioritariamente para aqueles que mais precisam”, completou o tucano, para quem a atual administração perseguiu e prejudicou esses segmentos sociais:

“São fatos. Não é a palavra de Maurício Gorza. Os pescadores que tiveram suas redes destruídas por uma retroescavadeira, os carroceiros de Vila Velha… São fatos que estão noticiados na imprensa”.

O pré-candidato disse ter elaborado uma lista com as “dez metas de Maurício Gorza”. Na convenção, apresentou as quatro primeiras. Uma delas é pra lá de arrojada: extinguir os cargos comissionados na Prefeitura de Vila Velha. Vereadores, segundo ele, poderão fiscalizar a prefeitura à vontade e contribuir com sugestões, mas não terão cargos na administração:

“Vereadores de Vila Velha, vocês vão ter tamanha liberdade de criticar, de apresentar rumos, de apresentar propostas para este prefeito eleito. Mas isso tem um preço. Eu vou acabar com aquele monte de cargos comissionados que os secretários municipais de Vila Velha e da maioria das cidades do Brasil encastelam dentro da prefeitura municipal. Vereador tem a sua equipe para fazer o seu mandato. Ele tem um grupo de pessoas para fazer o seu mandato funcionar dentro da Câmara Municipal de Vila Velha. Por que ele precisa ter 20, 30, 40, 50 cargos comissionados na prefeitura? ‘Ah, é a governabilidade’. Termo bonito para dizer que é oba-oba. Vereador que estiver eleito, você não vai ter cargo comissionado na Prefeitura Municipal de Vila Velha”, anunciou.

Segundo o aliado de Max, na administração de Arnaldinho, alguns comissionados estariam sendo indicados por pessoas de alto poder político e econômico, que nem sequer precisam financeiramente de tais cargos:

“É triste falar isso. A maioria dos cargos comissionados que estão lá na Prefeitura Municipal estão silenciosos. E a maioria não é cidadão comum de Vila Velha, trabalhador, o cara que precisa de um emprego… A maioria é da elite, filho, parente, amigo de desembargadores, de juízes, de empresários. A maioria que está lá tem esse perfil, por causa do grau de relacionamento e da famosa ‘governabilidade’”.

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Gorza ainda emendou, numa só, duas críticas comumente feitas a Arnaldinho por opositores: a de que o prefeito “só se preocuparia em fazer pracinhas” em detrimento de outras questões mais importantes e a de que estaria surfando na onda dos investimentos do Governo Estadual, graças à parceria política com o governador Renato Casagrande (PSB).

“Quarenta e duas obras em Vila Velha foram tocadas e estão sendo tocadas pelo Governo Estadual. O Governo Estadual está injetando em Vila Velha bilhões de reais em obras públicas. Precisamos agradecer ao governador do Espírito Santo por esse atendimento ao município e aos 500 mil moradores da cidade, trazendo benefícios e qualidade de vida para a nossa gente”, reconheceu Gorza. Aí veio a crítica:

“A prefeitura, com todo esse recurso, poderia ter a cidade de Vila Velha em outro patamar. Mas infelizmente é uma gestão que não busca aquilo que é o mais importante para o nosso povo. O parquinho é importante? É importante. Mas não é mais importante que aquelas premissas da saúde, da educação, da habitação, do transporte, do saneamento, da drenagem. Gasta-se uma fortuna com os parquinhos. E qual é a referência dessa administração? É a ‘administração dos parquinhos’, que estão, inclusive, deteriorados”.

Ainda segundo Gorza, “a máquina pública municipal já está sendo colocada para fazer campanha”, e “um exército de comissionados já estão nas ruas”.

As outras três promessas de Gorza são que sua candidata a vice-prefeita será uma mulher, filiada ao PSDB; metade do seu secretariado, se ele for eleito, será composto por mulheres; e todos os seus secretários serão moradores e eleitores de Vila Velha. A argumentação para essa última foi um pouco inusitada, passando até pela disputa à Casa Branca. Gorza também sugeriu que Max Filho ainda pode se tornar governador do Espírito Santo, dirigindo-se a ele (de corpo presente) e a Casagrande:

“Governador Casagrande e futuro governador, que pode estar sentado nessa mesa… que pode estar sentado nessa mesa… quando você ganhar as eleições, siga por esse caminho. Nós temos 3,5 milhões habitantes no estado do Espírito Santo. Não dá para resgatar 20, 30 secretários? Tem que trazer de fora? Imagina o presidente da República. Vai chamar o Biden, o Trump para ser secretário de Planejamento do Brasil? Que coisa esdrúxula! Então vamos começar a fazer essa movimentação.”

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Maurício Gorza discursa durante sua convenção em Vila Velha. Crédito: Vitor Vogas

Maurício Gorza discursa durante sua convenção em Vila Velha (21/07/2024). Crédito: Vitor Vogas

Aí forçou…

O discurso de Gorza ainda teve alguns momentos um tanto quanto megalomaníacos.

“Eu quero que isso sirva de modelo. O poder de mudar o Brasil não está em Brasília, mas nos municípios. E nós vamos começar a mudar Brasília de Vila Velha. Esse conceito de que o secretariado tem que ser da cidade com certeza vai se espalhar pelo Brasil”, afirmou, sobre a proposta de só escalar canelas-verdes em seu secretariado.

“Vamos começar uma transformação na política por Vila Velha”, também projetou Gorza, que ainda disse querer “fazer um mandato e uma campanha revolucionária”. “Revolucionária na característica de mudar o contexto que está estabelecido, essa forma ultrapassada e medíocre de fazer política”.

Os antigos diziam…”

Em Vila Velha, a Federação PSDB/Cidadania vai disputar a prefeitura sem partidos coligados. Na convenção realizada no último domingo, a federação não registrou uma chapa completa de candidatos a vereador, com 22 candidatos. Segundo Gorza, a chapa tem de 18 a 19.

O próprio cenário da convenção expôs a simplicidade que deverá ter a campanha – em contraste com algumas projeções grandiosas feitas pelo pré-candidato e até com a convenção realizada na véspera pelos 12 partidos que apoiam a reeleição de Arnaldinho, no Centro de Convenções de Vila Velha, reunindo mais de 2 mil pessoas. Durante o discurso de Gorza, ápice da convenção, o auditório do colégio Vasco Coutinho, no Centro de Vila Velha, tinha 100 pessoas, no máximo.

Por tudo isso, insisto que, realisticamente, as chances de triunfo do candidato são mais que remotas. Ele discorda. Questionado por mim, Gorza disse acreditar em vitória eleitoral ou, pelo menos, em passagem para o 2º turno, citando uma escrita (verdadeira) da política local:

“Os antigos diziam que o mesmo raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Em Vila Velha, o raio já caiu três vezes. Tivemos três prefeitos que foram candidatos à reeleição e não se reelegeram. Isso faz parte da cultura do povo de Vila Velha. Então, esse é o sentimento do povo de Vila Velha. Vila Velha quer alternância no poder, quer mudança, quer um novo nome. E estamos nos apresentando para isso, para ser a alternativa para o povo de Vila Velha, que tem essa cultura de mudança. A alternância no poder é o epicentro do processo democrático”.

Nas últimas três eleições municipais (2012, 2016 e 2020), os então prefeitos, Neucimar Fraga, Rodney Miranda e Max Filho, não conseguiram se reeleger.

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