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Coluna Vitor Vogas

Os bastidores completos da convenção do Capitão Assumção em Vitória

Deputado se lança a prefeito chamando Pazolini de “covarde” e falando em governar com Casagrande, após quase 20 meses sem dar entrevista

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Capitão Assumção e sua vice, Mayra Marcarini, na convenção do PL em Vitória. Crédito: Cemir

Capitão Assumção e sua vice, Mayra Marcarini, na convenção do PL em Vitória. Crédito: Alex Cardoso

Foi logo na chegada dele à convenção do PL, na manhã desse sábado (27), para a homologação de sua candidatura a prefeito de Vitória: ao lado da sua candidata a vice-prefeita, Mayra Marcarini, o deputado Capitão Assumção (PL) concedeu a sua primeira entrevista desde dezembro de 2022, quando o ministro Alexandre de Moraes impôs a ele uma série de medidas cautelares – entre elas, a de não dar entrevistas.

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Falando estritamente sobre sua candidatura, Assumção centrou críticas no atual prefeito, Lorenzo Pazolini (Republicanos), e assumiu um compromisso importante: o de que, se eleito prefeito de Vitória, manterá um bom relacionamento político e institucional com o governador Renato Casagrande (PSB) e com o Governo Estadual.

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Na entrevista, Assumção destacou que sua prioridade será “cuidar das pessoas”. “Ficamos quatro anos ao relento, sem planejamento estratégico. A cidade precisa ser pensada por 30 anos.”

Na área de segurança pública, na qual sempre atuou, Assumção disse que “Vitória não pode ficar nas mãos do tráfico” e que a segurança não pode ser relegada a poderes superiores: “Não podemos largar nas costas do governador nem do presidente da República. O prefeito tem essa missão”.

O pré-candidato do PL afirmou que vai buscar integrar as ações do município às das forças estaduais de segurança, como a PMES:

“Nenhum prefeito pode recusar apoio de Governo do Estado. Uma coisa são pautas que a pessoa defende como parlamentar. Outra coisa é você, como gestor público municipal, recusar a ajuda do Governo Estadual. Eu jamais farei isso”.

Sempre cutucando Pazolini. Assumção completou que os prefeitos de Vila Velha, Arnaldinho Borgo (Podemos), e de Cariacica, Euclério Sampaio (MDB), têm dado “um show de administração, à frente de Vitória”, graças ao bom entendimento com o Governo do Estado.

É esse mesmo bom entendimento que ele diz que também buscará cultivar, se eleito for (embora tenha sido o maior opositor do governo Casagrande na Assembleia nos últimos seis anos):

“Nós temos uma bancada de oposição que aceita as proposições que ajudam o Espírito Santo a crescer. Temos feito uma oposição crítica, mas coerente. O que é bom para o Espírito Santo, eu tenho que estar junto com o governo. O cara foi eleito para governar para todos, não só para o PSB. Eu tenho que ver isso”.

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Covarde e omisso”: Pazolini na mira

A escolha de Pazolini como alvo de Assumção transpareceu em sua entrevista, em seu discurso e até em sua camisa, que trazia a inscrição “Cadê a paz? Onde foi parar a igualdade?”. “Vitória da Paz e da Igualdade” foi o mote da vitoriosa campanha de Pazolini a prefeito em 2020.

Assumção definiu sua convenção, realizada na sede da Aspomires, em Bento Ferreira, como uma “grande festa patriótica por Vitória e pelo bem”. Mas ele será o candidato de Jair Bolsonaro e do partido do ex-presidente em Vitória. E, como todo evento do PL, a convenção foi antes de tudo uma “festa do bolosonarismo”. Nas falas do senador Magno Malta, do deputado Lucas Polese e do próprio Assumção, tratou-se a disputa política entre direita e esquerda como “guerra espiritual do bem contra o mal” e exaltou-se bastante a personalidade de Bolsonaro.

De Vitória, especificamente, falou-se muito pouco na convenção. Problemas específicos da cidade, propostas e soluções não apareceram nas falas espontâneas. Magno discursou por quase 40 minutos. Falou de Israel, da Palestina, do Irã, de Che Guevara, de Lenin, de Marx, criticou a abertura dos Jogos Olímpicos (leia abaixo), mas não se deteve em Vitória. Assumção declarou que o mote da sua campanha será “a defesa de valores insofismáveis” (os do bolsonarismo).

Foi nesse contexto que Assumção dirigiu a crítica mais inflamada a Pazolini. O deputado do PL chamou o prefeito de Vitória de “omisso” e “covarde” por não ter declarado apoio a Bolsonaro na última eleição presidencial, vencida por Lula (PT), em 2022:

“Teve um município que virou as costas para Bolsonaro. O prefeito de Vitória virou as costas para Bolsonaro. Nós não admitimos covarde no nosso meio. Nós estamos numa guerra espiritual. Esse cidadão que hoje ostenta a cadeira de prefeito de Vitória cometeu o pior de seus crimes: o crime da omissão. Nós precisamos ter lado”, discursou Assumção, citando o Livro do Apocalipse: “O morno vai ser vomitado”.

“Há uma luta terrível. Estão tentando tirar os nossos valores mais insofismáveis: patriotismo, família, liberdade e a nossa espiritualidade. […] Ele foi omisso. Na hora que mais precisávamos dele, para ajudar o nosso presidente Bolsonaro, na nossa grande guerra, ele mergulhou, e nós precisávamos de um combatente forte aqui na Capital”, discursou o capitão da reserva da PMES.

Assumção afirmou que o ex-presidente “foi usado por Deus” com um propósito: “abrir a mente das pessoas”. “Se hoje sabemos que tem a ala do mal e a esquerda perniciosa que está no Brasil, nós sabemos que tem homens e mulheres valorosos que vão defender a nossa pátria”.

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Polese: “futuro governador”

Assumção agradeceu muito a Magno Malta e aos colegas de bancada presentes, Danilo Bahiense e Lucas Polese. Disse que esse último ainda será governador do Espírito Santo.

Apoios inesperados

Além de revelar que o ex-deputado Sergio Majeski (sem partido) o está ajudando a elaborar o plano de governo na área da educação, Assumção contou que o deputado Hudson Leal o apoia e que o presidente da Assembleia Legislativa, Marcelo Santos (União Brasil), operou pessoalmente para levar o partido Mobiliza para sua coligação. Em Vitória, o PL só estará com o Agir e o Mobiliza, dois partidos bem pequenos.

Marcelo Santos apoia Pazolini em Vitória. Hudson é do partido do prefeito, o Republicanos.

Masmorras”

Assumção também fez um agradecimento especial a seu advogado, Fernando Dilen, que atuou no episódio de sua prisão, no fim de fevereiro, e soltura, oito dias depois, após o plenário da Assembleia Legislativa sustar a ordem expedida por Alexandre de Moraes. “Aquele homem me defendeu quando eu estava lá nas masmorras.” Dilen será o advogado eleitoral de Assumção durante a campanha.

Projeto Político Militar

Formado por algumas associações de classe de patentes da Polícia Militar e do Bombeiro Militar do Espírito Santo, o Projeto Político Militar (PPM) apoia Assumção e, inclusive, foi quem indicou sua vice, o soldado Mayra Marcarini. O pré-candidato assumiu de público o compromisso de governar Vitória com o PPM. “Eles têm muito para oferecer na área de segurança pública.”

Grito de guerra, slogan e “volta por cima” no telão

O telão e os banners que decoraram o auditório trouxeram o slogan da campanha: “Vitória pra você”. O público ficou entre 300 e 500 pessoas. Em muitos momentos, os apoiadores cantaram que “oCapitão voltou”.

No telão, para fixar a narrativa de superação, foram exibidas, nesta ordem, imagens de Assumção em manifestações de grupos de direita (por exemplo, atravessando a Terceira Ponte); logo após ser preso no fim de fevereiro, acenando pela janela, de dentro da viatura da Polícia Federal; o discurso em plenário do deputado Lucas Scaramussa (Podemos), relator do parecer pela soltura de Assumção na Assembleia; e ele saindo em liberdade do Quartel de Maruípe com uma Bíblia na mão, ao lado de Magno, Polese, Dilen, Gilvan da Federal e Manato.

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Boné de Trump e bandeira do Brasil Império

Não faltaram outros símbolos do bolsonarismo e outros correlacionados à ideologia da extrema-direita no país.

Nas camisetas de apoiadores, frases como “Fechado com Bolsonaro”, Deus, pátria, família e liberdade”, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, “Nosso partido é o Brasil” e por aí vai. Um apoiador levava Trump escrito no boné. Apresentado como um dos 22 candidatos a vereador do PL em Vitória, Dárcio Bracarense exibiu, orgulhosamente, uma bandeira do Brasil Império.

Orações e canto gospel

No início da convenção, um pastor ministrou uma oração. E a chefe de gabinete de Assumção na Assembleia, que também é cantora gospel, apresentou-se ao vivo. A escolha foi muito sugestiva. Ela entoou a canção “Sobrevivi”, de Sarah Farias, cujo refrão diz: “Tem coisa boa chegando / Tem algo acontecendo / E não importa o que eu sofri / O que importa é que eu sobrevivi”.

Armandinho saiu mais cedo

O vereador afastado Armandinho Fontoura (PL) é um dos principais apoiadores de Assumção e o está ajudando com o plano de governo. Mas uma das imposições de Alexandre de Moraes é que os dois não tenham contato, pois são investigados em um mesmo inquérito sigiloso sob relatoria do ministro, no STF.

Para não dar margem à interpretação de que está descumprindo a ordem, Armandinho até passou no local da convenção, bem cedo, mas saiu pouco antes das 10h, antes da chegada de Assumção. Os dois usam tornozeleira eletrônica.

Assumção deu entrevista… mas poderia dar?

Outra das medidas cautelares que persistem contra Assumção, por determinação de Moraes, é que ele se abstenha de dar entrevistas. Mas, como dito no início, desta vez ele falou à imprensa – sob a condição de responder estritamente sobre sua pré-candidatura e sua pré-campanha, o que foi respeitado. Foi essa a orientação jurídica dada a Assumção por seu staff.

Não há nova decisão judicial no processo em que ele é investigado nem autorização especial que permita a ele dar entrevista. Portanto, para todos os efeitos, a proibição segue valendo.

Se ele pode ou não falar na condição de candidato e apenas sobre a campanha eleitoral, é questão de interpretação da legislação eleitoral e da decisão de Moraes.

Em todo caso, Assumção está assumindo o risco.

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O discurso de Magno: “cristãos achincalhados nas Olimpíadas”

Magno Malta fez um discurso no estilo Magno Malta. Em boa parte do tempo, falou como um pastor e como se fosse um líder da “guerra espiritual do bem contra o mal”.

Começou criticando duramente a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, na última sexta-feira (26). Original em muitos aspectos, a cerimônia teve como grande mote a diversidade, valorizando dançarinos, cantores e outros artistas de diferentes origens, idades, formas físicas, etnias e gêneros.

“Milhões de cristãos no mundo foram achincalhados na abertura das Olimpíadas”, condenou Magno, chamando a abertura de “cena dantesca em Paris”. O senador pediu um minuto de silêncio “às vítimas do marxismo”. Ainda sobre Paris, disse que a França hoje “é quase toda um país muçulmano” (o que não é verdade: a maior parte da população francesa é católica, e os muçulmanos não chegam a 10% no país).

Magno falou bastante contra o aborto: “A nossa luta é pelo útero”. Chegou a orientar os candidatos a vereador do PL a pedir votos aos eleitores de Bolsonaro dizendo que são contra o aborto (muito embora a legislação sobre o tema não seja de alçada municipal).

O senador voltou a colocar em dúvida a eficácia das vacinas, atribuiu sequelas deixadas pela Covid-19 ao fato de a pessoa ter se vacinado e associou vacinas a um aumento no número de pessoas com câncer e de casos de AVC no mundo. Disse que “a ciência já comprovou o que dizia Jair Bolsonaro” sobre as vacinas (muito embora a ciência tenha provado justamente o contrário: vacinas salvaram incontáveis vidas e, não fosse por elas, estaríamos morrendo aos milhões no mundo inteiro, até hoje, por conta da nova doença respiratória sem cura).

Magno afirmou, porém: “Nós acreditamos que a Terra é redonda” (ah, bom).

O senador defendeu a anistia aos presos e condenados pelos ataques às sedes dos Três Poderes no dia 8 de janeiro de 2023. Também defendeu a anistia a Bolsonaro pelos crimes eleitorais que o levaram a ser condenado e considerado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Magno afirmou que Bolsonaro é “perseguido todos os dias”, entre outros motivos, por “roubos que não fez”. E disse que o PL não tem “plano B”, ou seja, acredita que a inelegibilidade de Bolsonaro será revertida e que ele poderá ser candidato à Presidência de novo em 2026.

Magno ainda afirmou que “o comunismo trancafiou o país” e que “o Brasil já vive num regime ditatorial”.

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O senador defendeu que o PL representa a verdadeira direita no Brasil e refutou o rótulo de extrema-direita e de “radical” atribuído a ele e ao partido.

Sobre o processo eleitoral no Espírito Santo, Magno voltou a afirmar que “2026 passa por 2024”, como ele mesmo e outros líderes do PL-ES têm dito em eventos do partido. O raciocínio é que, para obter o melhor resultado possível na próxima eleição estadual, o PL deve buscar eleger o maior número de prefeitos e vereadores pelo Estado neste ano. O senador tornou a firmar que o deputado federal Gilvan da Federal será candidato a senador pela sigla em 2026.

Magno declarou que “o PL não será escada de ninguém” e que o partido não quer se unir à “direita limpinha”, nem teria por quê, já que teve mais votos em 2022. A quem o critica por supostamente estar levando o partido de Bolsonaro ao isolamento no Espírito Santo, ele negou que será “o coveiro do PL”.

Nessa mesma linha de raciocínio, de que 2026 passa por 2024, o senador exortou a militância: “Se queremos Jair Bolsonaro de volta, temos que eleger o Capitão Assumção!” Chamou o deputado estadual de “futuro prefeito” e o aconselhou publicamente: “Não suje a sua boca no processo eleitoral. Vamos fazer uma campanha limpa”.

Polese: “Eles cospem na cara de Cristo”

Sobre a abertura das Olimpíadas de Paris, o deputado estadual Lucas Polese fez uma fala ainda mais olavista que a de Magno Malta:

“A gente claramente está no meio de uma guerra espiritual. Nós vimos como eles debocham da nossa fé, como eles cospem na cara de Cristo. Eles querem acabar com a sociedade judaico-cristã ocidental. Olavo [de Carvalho] já disse em 2015 que quem quisesse conhecer a França, que fosse logo, porque a França ia acabar. […] Em pouco tempo, mais uma profecia do nosso mestre se cumpriu. O que caiu foi a sociedade judaico-cristã francesa”.

Polese ainda falou em “demônios”, “energia espiritual” e “guerra espiritual” (só para o leitor não se perder: é um deputado eleito, fazendo um discurso político em uma convenção partidária):

“Aqui no Brasil também sofremos nas mãos desses demônios. Mas sentimos a força da energia espiritual do nosso lado porque, se Deus está conosco, quem será contra? É nosso dever como cristão participar dessa batalha espiritual e não esmorecer!”


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