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Coluna Vitor Vogas

Análise: a última grande dúvida no ar na eleição a prefeito da Serra

Em vez de mirar num alvo fixo, adversários de Vidigal e Weverson estão tendo de lidar com dois alvos móveis. E uma coisa é enfrentar Biden. Outra, Kamala Harris. Por que o próprio Vidigal está alimentando ao máximo a desconfiança de que possa voltar atrás? Destrinchamos aqui

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Sergio Vidigal e Weverson Meireles. Crédito: Reprodução Facebook

Sergio Vidigal e Weverson Meireles. Crédito: Reprodução Facebook

Em pleno período de convenções partidárias, uma dúvida inquietante ainda paira no ar da política do município da Serra: afinal, o prefeito Sergio Vidigal vai mesmo manter a candidatura do seu pupilo, Weverson Meireles, ou nos últimos dias do prazo assumirá a cabeça da chapa do PDT em seu lugar para, no fim das contas, concorrer à reeleição?

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Com base nas declarações do criador e da criatura, a dúvida não deveria persistir.

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Logo depois do anúncio duplo que marcou a política serrana no dia 16 de março (dizendo não ser candidato e lançando Weverson à sucessão), Vidigal em pessoa concedeu uma entrevista ao EStúdio 360 Segunda Edição, telejornal da Rede Capixaba. Questionado sobre a hipótese de voltar atrás, respondeu que isso seria até um desrespeito aos muitos apoiadores que, emocionados, o ouviram fazer o anúncio. E seria mesmo.

Já no dia 10 de junho, em entrevista ao mesmo telejornal, Weverson afirmou que Vidigal não é homem de dar seta para um lado e virar para o outro e que ele, Weverson, será o candidato do PDT à Prefeitura da Serra. “O candidato a prefeito do PDT na Serra sou eu. Não tem mais volta”, encerrou.

No dia 30 de junho, falando a esta coluna, Vidigal foi ainda mais peremptório: “Além de não ter mais volta, estou animado e trabalhando pela candidatura dele. O nosso candidato é ele”. E completou que as pessoas talvez insistam em duvidar da sua palavra devido à má reputação dos políticos. De tanto verem e ouvirem políticos mentirem e se desmentirem, os cidadãos têm dificuldade em acreditar num político quando ele está falando a verdade:

“Achei que era uma fala minha e que isso estava consolidado. Mas entendo e respeito que, na política, às vezes a pessoa fala uma coisa e de repente faz outra diferente. É por isso que estamos tão desacreditados”, afirmou o prefeito.

Na soma das declarações, se a esta altura Vidigal realmente retroceder, terá total legitimidade para fazê-lo, mas, além de terrivelmente incoerente, será um tanto quanto vergonhoso: além do “desrespeito” citado por ele mesmo aos seus apoiadores que choraram com ele em março, o prefeito confirmará a má fama da classe política, convalidando, por meio do próprio exemplo, a crítica que ele mesmo fez à sua categoria. Será um grande e terrível contrassenso.

Isso para não mencionar o estrago que um eventual recuo de Vidigal pode causar na promissora carreira política do próprio pupilo, antes mesmo de ela deslanchar. Weverson é partidário e absolutamente leal a Vidigal. Foi o prefeito quem o colocou ali e, se Vidigal resolvesse retirá-lo, ele aceitaria de bom grado… Weverson ficaria, porém, com uma marca bastante negativa, colocada nele pelo próprio mestre, bem no início de sua trajetória: a da promessa que não vingou, a do cara que não conseguiu chegar lá, que saiu do pleito derrotado antes mesmo de o pleito começar. Vidigal faria isso com seu garoto?!?

Por tudo isso, parece absolutamente improvável que o prefeito, a esta altura do processo, dê uma guinada como essa.

Mesmo assim, é preciso dizer: o clima político da Serra está nervoso. Aliados, apoiadores e adversários eleitorais do grupo político liderado por Vidigal estão em stand-by, tomados por tensão e apreensão, suspeitando, até o último momento, que o prefeito possa mandar Weverson dar um passinho para lá no limite do prazo legal, “pelo bem do povo serrano”, “atendendo a um chamado da população”, “em sacrifício da própria família” etc.

Igualmente, é preciso dizer: tamanha desconfiança tem sido alimentada por movimentos do próprio Vidigal.

Parou de fazer inaugurações

Em primeiro lugar, não passou despercebido para ninguém que, desde o fim do prazo legal, Vidigal simplesmente não realizou na Serra nenhuma inauguração nem cerimônia pública assemelhada.

Até o dia 6 de julho, a exatos três meses do 1º turno, prefeitos que pretendem disputar a reeleição puderam realizar normalmente, sem óbice legal, eventos de inauguração em suas cidades. Dessa data em diante, o prefeito que fizer isso incorre em conduta expressamente vedada pela Lei das Eleições (artigo 73). Se quiser disputar a reeleição, ele arruma um sério problema para si mesmo, que lá na frente pode até impedi-lo de conseguir ser candidato.

Na prática, se realizar um evento do tipo, o prefeito não fica automaticamente inelegível ou inapto a participar do pleito, mas poderá ser alvo de questionamentos na Justiça Eleitoral. Adversários eleitorais ou o próprio Ministério Público poderão impugnar sua candidatura (pedir o indeferimento do registro).

Dependendo de vários fatores, como o alcance e o porte do evento em questão, seu caráter eleitoreiro e a reiteração da conduta, o candidato à reeleição poderá ser condenado ao pagamento de uma multa ou, no limite, ter o registro de candidatura negado ou cassado pela Justiça Eleitoral. Por via das dúvidas, é melhor não arriscar nem dar esse mole… se você quiser ser candidato.

Dada a explicação acima, vou repetir: desde o dia 6 de julho, Vidigal não promoveu, à frente da Prefeitura da Serra, nada que se assemelhe vagamente a um evento de inauguração. Isso quer dizer que ele será candidato? Não. Quer dizer que, tecnicamente, ele permanece totalmente apto a se candidatar se assim quiser, na medida em que segue sem descumprir o mandamento legal.

Se tivesse seguido a promover inaugurações normalmente, o prefeito teria nos fornecido a certeza definitiva de que não tenciona mesmo disputar. Como não o fez, indica o contrário: a vontade consciente de se manter legalmente habilitado e, portanto, vivo no jogo, pronto para assumir a candidatura se assim quiser ou se isso se provar necessário. Vidigal não se inabilitou.

Os posts no Instagram

Em segundo lugar, é impossível ignorar as postagens recentes de Vidigal em suas contas pessoais em redes sociais. Sim, há muitas publicações em que ele aparece ao lado de Weverson e dialogando com ele, como parte da estratégia de marketing, concebida e conduzida por Jane Mary Abreu, de associação maciça entre criador e criatura, para ir aos poucos “ensinando a população da Serra” que o prefeito não é candidato e aquele é o candidato do prefeito.

Não basta apresentar Weverson ao eleitorado serrano; é preciso acostumar os eleitores com a ideia de que ele é o candidato de Vidigal. Posts dos dois juntos, enfim, se veem aos montes no Instagram de ambos. “Também te acho como um filho”, diz Vidigal a Weverson num deles, na orla de Jacaraípe.

Mas, no Instagram de Vidigal, os posts ao lado de Weverson têm sido alternados com outros estrelados pelo prefeito (e apenas por ele). Posts que em tudo (texto, linguagem, estética) são típicos de quem é pré-candidato à reeleição. Num deles, com colírio nos olhos, Vidigal relembra o início de sua carreira como médico no começo dos anos 1980, atendendo, por determinação da mãe, a população mais humilde na rede pública da Serra. No final, com aquela voz aveludada, que acaricia os ouvidos do espectador, o locutor enuncia o slogan: “Vidigal é gente de verdade”.

Poderia perfeitamente ser uma inserção de propaganda eleitoral do candidato no meio da programação de TV durante o período de campanha (embora a Serra não tenha horário eleitoral). Se você tivesse acabado de despertar de um coma ou simplesmente não tivesse informação alguma sobre o que se passou na política da Serra nos últimos meses, e visse apenas esse vídeo no Instagram de Vidigal, não hesitaria em cravar: ele disputará a reeleição.

Até na logo e nas cores usadas (uma mistura de branco, azul claro, lilás e verde limão), esses vídeos estrelados por Vidigal seguem o padrão do material de “pré-campanha” (com muitas aspas, hein) elaborado para Weverson.

Não resta dúvida, portanto: o próprio Vidigal é quem está alimentando essa dúvida. A questão central é: por quê?

A aposta do colunista

Uma hipótese é que ele realmente esteja considerando assumir o lugar de candidato no lugar de Weverson.

A outra hipótese – à qual me filio – é a seguinte: tudo isso no fundo não passam de estratagemas, inseridos na estratégia maior, com o objetivo de embaralhar as cartas, confundir ainda mais os adversários e deixá-los o maior tempo possível sem ação nem reação.

Quanto mais o QG do PDT deixar os oponentes sem clareza de quem é o candidato da situação, mais difícil é para esses oponentes definir uma estratégia de campanha e se preparar para o embate. Como é que você vai definir uma estratégia para derrotar seu adversário se você nem sabe ao certo quem será seu adversário?

Prolongando ao máximo essa dúvida, Vidigal consegue retardar o planejamento e os movimentos dos seus opositores, mantendo-os de mãos atadas. Desse modo, consegue controlar as rédeas e o timing do processo. Hoje, Vidigal é o senhor do tempo de todos os agentes políticos na Serra, todos na expectativa daquilo que ele fará (ou, simplesmente, não fará). É um nó que ninguém desata. Só ele pode fazê-lo.

Como bem sintetiza uma fonte da coluna, hoje, em vez de um alvo fixo, o que os adversários de Vidigal encontram na Serra são dois alvos móveis. Em qual deles mirar? E uma coisa é enfrentar o Biden. Outra é enfrentar Kamala Harris.

Por fim, digo que, para Vidigal, reeleger-se para um quinto mandato seria bom. Mas eleger Weverson seria ótimo. O melhor dos mundos, para ele, seria eleger seu sucessor e sair da prefeitura em grande estilo, do jeito que ele mesmo escolheu e com um jovem e leal aliado sentado na cadeira em seu lugar. Seria um feito inédito, sem precedentes na história das disputas municipais no Espírito Santo. Nunca antes um prefeito “reelegível” conseguiu fazer isso. Aliás, nunca antes alguém sequer ousou algo assim.

No plano estadual, vem sempre à memória o precedente em que Paulo Hartung, podendo ser candidato à reeleição para governador em 2018, abdicou de buscar renovar o mandato e foi cuidar da vida… mas é diferente: Hartung não lançou um sucessor e só anunciou sua decisão a um mês do início da campanha.

No QG do PDT, a condição para a manutenção do “plano Weverson”, lançado sob grande risco em março, sempre foi um crescimento consistente, progressivo, ininterrupto do pré-candidato. Se Vidigal não o tirou de cena até agora, é porque possui elementos que indicam isso, a partir de pesquisas quali e quantitativas e que lhe permitem acreditar que seu ungido tenha potencial para seguir crescendo no decorrer do processo. E, enquanto a candidatura de Weverson seguir dando sinais de crescimento, Vidigal seguirá alimentando a confusão, fazendo esse jogo até o fim.

Mas e os posts?

Quanto às peças de “pré-campanha” estreladas unicamente por Vidigal, entendo que são complementares àquelas elaboradas para Weverson: parte da mesma estratégia. Lembrar ao povo a história de Vidigal, suas realizações etc. também é uma forma de ajudar Weverson, afinal uma parte importante do sucesso do plano passa por uma exitosa operação de transferência de votos.

Um Vidigal mais forte e mais popular às vésperas do pleito aumenta as chances do êxito de tal operação – e, portanto, as de Weverson nas urnas.


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