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Coluna Vitor Vogas

O que pode levar Casagrande a não ser candidato a nada em 2026

Governador explica por que considera seriamente não disputar o Senado e ficar no cargo até o fim para concluir atual mandato. São duas as suas razões

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Renato Casagrande. Foto: Hélio Filho/Secom

Renato Casagrande. Foto: Hélio Filho/Secom

O governador Renato Casagrande (PSB) surpreendeu na última terça-feira (11). Em entrevista à Rádio BandNews FM, questionado sobre o passo eleitoral que ele mesmo dará em 2026, assinalou três opções.

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A primeira, com chances bem menores, é ser candidato à Presidência da República. Casagrande admite essa hipótese, mas também reconhece que ela é bem mais difícil de se concretizar. A segunda, mais “natural”, é buscar voltar ao Senado numa das duas vagas que estarão em jogo pelo Espírito Santo. A terceira – ainda mais inesperada, para mim, que a primeira – é não concorrer a nenhum mandato, cumprir o seu governo até o fim (31/12/2026) e resignar-se a ficar sem mandato pelos anos seguintes.

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Casagrande afirmou que considera os dois últimos caminhos (Senado ou nada) com o mesmo grau de “intensidade e proporção”. Ainda prescreveu ao colunista: “Leve isso em consideração na sua análise”. Muito bem, estou aqui a fazê-lo. Mas faltou completar a entrevista com uma explicação fundamental: o que levaria um governador, com saúde, disposição e hoje bem avaliado, a abreviar sua carreira política aos 66 anos, “condenado-se” a ficar sem mandato, mesmo tendo uma eleição plausível ao Senado e muitos anos ainda pela frente para seguir contribuindo com o Espírito Santo?

Justamente para prestar essa necessária explicação, o governador gentilmente atendeu a coluna no último sábado (15). E expôs as suas razões, divididas por ele em duas. “Há duas razões claras para mim.”

A primeira tem a ver com o conflagrado cenário político nacional – gradativamente mais violento desde 2014, com um grau de agressividade e irracionalidade que não cessa. Em um nível muito pessoal, também diz respeito à última experiência eleitoral vivida por Casagrande, como candidato que foi à reeleição em meio a este cenário.

Homem público vivido e testado como é, com quase 40 anos na pista política, o governador, é claro, acumula calos. Mas a eleição de 2022, na qual enfrentou a loucura bolsonarista, rendeu-lhe mais que calos. Deixou-lhe cicatrizes.

Casagrande venceu, é verdade – e, nunca é demais lembrar: foi o único candidato de esquerda fora do Norte e do Nordeste a se eleger governador em 2022. Mas enfrentar uma disputa majoritária como foi a dele contra Manato (PL), com tamanho grau de insanidade e obtusidade, é algo a que ele sobreviveu, mas que não gostaria de repetir.

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Não quero aqui usar mal o termo “trauma”, muito delicado na psicanálise, mas as palavras do próprio Casagrande indicam que a experiência foi quase traumática para ele. Também revelam que o governador não vai esquecer o fato de que, mesmo sendo bem avaliado, mesmo tendo muitos resultados a mostrar, mesmo com um governo sanado e financeiramente equilibrado, por pouco não perdeu a reeleição não propriamente para Manato, mas para a insanidade ideológica de uma extrema-direita capitaneada no país por Bolsonaro.

“Parte das pessoas trocou a avaliação de resultados, histórico, convivência e conhecimento por um debate político superficial com conteúdo ideológico raso e orientado por falsas informações, por meios direcionados, por grupos de Whatsapp, Facebook etc.”, relembra o governador.

Casagrande tinha a esperança de que, com a eleição de Lula (PT), essa polarização radical entre os extremos ideológicos cessaria, ou, pelo menos, arrefeceria… Mas, deixando uma crítica a Lula – apoiado pelo seu PSB –, afirma que isso não se confirmou.

“Em 2022, passei pela eleição mais difícil da minha vida. Foi uma eleição agressiva e violenta. E não estou vendo o ambiente político brasileiro se distensionar. O ex-presidente Bolsonaro continua tensionando, pela lógica de estar fora do governo. E o presidente Lula, que poderia distensionar o ambiente, não está fazendo isso.”

Como a “tensão” não se atenua, a tendência, na visão de Casagrande, é que as próximas eleições gerais, em 2026, sejam muito parecidas com as últimas. “Pior, acho que não. Mas vai ser semelhante à de 2022.”

Curiosamente, Casagrande usa o mesmo termo que usei, mas para dizer o contrário. Afirmei que, se não disputar nada daqui a dois anos, ele se condena a ficar sem mandatos. Ele diz, precisamente, que não quer se sentir “condenado” a disputar o que seja:

“Não quero estar condenado a ser candidato. Já sou governador pela terceira vez. Já exerci uma série de mandatos. O que eu desejava mesmo na minha vida pública era ter dois mandatos seguidos de governador, para consolidar projetos, e estou fazendo isso nestes dois mandatos. Acho que a próxima eleição também será muito dura. A do Senado menos que a eleição para o Governo do Estado, mas também poderá ser. E, num ambiente como esse, de tanta violência, não quero estar condenado a ser candidato. Posso decidir não ser. Já cumpri minha tarefa pública com mandatos. Posso ir fazer outras coisas.”

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Segunda razão: conduzir a própria sucessão

A segunda razão de Casagrande, numa dimensão muito mais estratégica, é que, segundo ele, a “conjuntura” estadual de 2026 pode exigir que ele permaneça no governo justamente para poder conduzir a própria sucessão, caso ele pressinta que existe risco real de o Governo do Estado ir parar nas mãos de algum aventureiro, seja um candidato extremista ancorado no debate ideológico raso, seja algum desonesto que só queira enriquecer à custa do erário estadual. Ou as duas coisas combinadas.

Se o governador renunciar ao cargo em abril de 2026 para concorrer ao Senado ou ao que quer que seja, ele não só perde completamente o poder de governar o Espírito Santo, como também perde sensivelmente o poder de influenciar a própria sucessão.

O risco é que, com ele fora do Palácio Anchieta, a sucessão de Renato Casagrande – primeira eleição sem ele ou Paulo Hartung na urna desde 1994 e encerramento de um ciclo de 24 anos de alternância dos dois no poder – vire uma corrida do ouro, em busca do El Dorado, cada um com a picareta na mão. Pode virar um “salve-se quem puder”, um “cada um por si”, com a aparição de alguns aventureiros e até chances reais de vitória eleitoral de algum deles.

Casagrande não quer permitir de jeito nenhum que isso aconteça.

“Tenho muita responsabilidade com o Estado. Pode ser que, dependendo da necessidade do Estado, eu tenha que ficar no governo para conduzir a eleição. Estamos tendo um governo de muitos resultados, um governo municipalista, com nível de investimento alto. Não podemos colocar o Estado em risco”, adverte o governador.

“Uma das ameaças que recai sobre o Espírito Santo é a do patrimonialismo. É a ameaça de chegar ao governo alguém que se realizará buscando benefício próprio, acúmulo de patrimônio, e não buscando a realização da felicidade da população. Essa é uma ameaça perene que paira sobre a política brasileira e também sobre a estadual.”

A outra “ameaça” vislumbrada por Casagrande é a possibilidade de eleição de um candidato extremista e “raso” que possa dividir o Espírito Santo. “Com alguém sem conteúdo, sem fundamentos, sem consistência, você corre o risco de dividir o Estado.”

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Causando outra grande surpresa, o governador não exclui a possibilidade de haver alguém assim, com esse perfil, dentro do seu muito abrangente rol de aliados hoje. A preocupação, segundo ele, vale tanto para adversários como para aliados:

“Depende de quem será candidato. Estou falando de adversários e também de aliados. Temos que fugir de quem busca benefício próprio. O Estado não pode eleger alguém com esse comportamento e esse vínculo com uma ideologia sem conteúdo que se amarre em notícias falsas e que só sabe conversar e governar com aqueles que pensam igual a ele. Isso divide o Espírito Santo.”

E por acaso Casagrande vê alguém com esse perfil dentro do seu arco de alianças? Aí ele tangencia:

“Não vou responder isso agora. Estou falando isso em tese, por enquanto. Então, talvez, para a gente fugir de riscos, eu precise ficar no governo para conduzir o processo eleitoral.”

Mas como exatamente, permanecendo no governo, o governador diminui esse risco?

“A minha presença no governo, conduzindo a máquina, fortalece a agregação de lideranças em torno do projeto que a gente estiver defendendo”, encerra Casagrande, temendo que eventual renúncia dele gere uma fragmentação de sua base e uma dispersão de forças hoje reunidas sob sua liderança, transformando a sua própria sucessão em um imprevisível faroeste capixaba.

É o que ele quer impedir.

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