Coluna Vitor Vogas
Casagrande admite que pode disputar Presidência em 2026
Governador reconhece, porém, que projeto é mais distante, e revela suas duas maiores possibilidades hoje, “na mesma intensidade e proporção”
O governador Renato Casagrande (PSB) admite: cogita disputar a Presidência da República em 2026. “Posso disputar. Depende do meu partido.” Com uma assertividade nunca antes demonstrada ao tratar do tema, Casagrande revelou que isso passa, sim, por sua mente, em entrevista ao vivo para a Rádio BandNews FM Espírito Santo, na manhã desta terça-feira (11).
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“Eu não descarto essa hipótese. Eu já tenho 63 anos de idade. Tenho experiência. Conduzo este estado pela terceira vez. Então não descarto hipóteses.”
Segundo Casagrande, eventual lançamento de candidatura própria à Presidência em 2026 não está em discussão, no momento, no partido dele, o PSB. Mas o tema pode voltar à baila em breve. “Não. Ainda não. Mas já esteve na eleição passada. E certamente isso voltará ao debate.”
No entanto, calejado como é na política, Casagrande tem plena consciência de que uma candidatura sua à Presidência – e mesmo de uma candidatura própria do PSB – tem chances muito remotas de concretização. O partido, afinal, refez no pleito de 2022 sua aliança nacional com o PT, indicando Geraldo Alckmin para a Vice-Presidência. Hoje, o PSB é sócio fundamental do governo Lula, com o vice-presidente e a chefia de ministérios.
E é mais fácil Jair Bolsonaro entrar no PT que Casagrande sair do PSB só para viabilizar uma candidatura na próxima eleição presidencial.
Assim sendo, sem descartar a hipótese mais remota, Casagrande trabalha hoje com duas outras consideradas igualmente factíveis por ele.
A primeira, citada por dez em cada dez agentes políticos capixabas e confirmada por ele na entrevista, é concorrer a uma das duas vagas abertas para o Espírito Santo no Senado em 2026 (as de Marcos do Val e Contarato), renunciando ao cargo de governador em abril daquele ano, para cumprir exigência legal, e deixando o governo com seu vice, Ricardo Ferraço (MDB). “Uma possibilidade real é o Senado. Não vou ficar camuflando isso, disfarçando isso”, confirmou Casagrande, sem surpresas.
A segunda possibilidade – esta, sim, surpreendente – é ele cumprir seu atual mandato até o fim, em 31 de dezembro de 2026, “condenando-se” a não disputar nenhum cargo eletivo e conformando-se a ficar sem mandato nos seguintes. Casagrande surpreende não apenas por admitir que considera essa hipótese, mas por colocá-la no mesmo patamar de probabilidade da anterior: hoje, segundo ele, disputar o Senado ou mandato algum em 2026 têm chances iguais.
“Considerando que está mais distante uma disputa nacional, eu tenho duas possibilidades. [A primeira é] não ser candidato. Isso não está fora de cogitação, porque o momento político pode exigir que eu fique no governo. Eu não descarto isso. Já sou uma pessoa que sou grata à população capixaba, que me deu três mandatos de governador, um de senador, um de deputado federal, um de deputado estadual e um de vice-governador. Então, não tenho nenhum problema em ficar sem disputar mandatos. Eu não descarto a hipótese de ficar sem disputar a eleição. Isso não é da boca para fora. Isso é uma possibilidade. Com a função que tenho, pode ser que a conjuntura política exija que eu conclua o mandato, no processo de condução da eleição [de 2026]”, explica Casagrande.
“Quanto ao Senado, é uma outra possibilidade. As duas maiores possibilidades hoje, na mesma intensidade e proporção, é eu ficar no governo, leve isso em consideração na sua análise, ou disputar o mandato no Senado. Outro mandato eu posso disputar? Posso. Mas com um percentual de chance menor”, avalia Casagrande, referindo-se à corrida presidencial. “As duas possibilidades maiores é a possibilidade de eu ficar no governo e a possibilidade de eu ser candidato ao Senado. Mas não tem nada cravado.”
Em 1º de fevereiro de 2027, Casagrande terá 66 anos. É mais ou menos a idade em que muitos líderes políticos regionais chegam (ou retornam) ao Senado, conhecido como a Casa dos cabelos brancos, da experiência e da maturidade política (a atual bancada do ES é exceção neste aspecto).
A Câmara Alta do Congresso é onde muitos ex-governadores, cumpridos dois ou mais mandatos nos respectivos estados, vão passar o crepúsculo de sua carreira política, antes da aposentadoria. Já tendo exercido três mandatos no Palácio Anchieta e quase quatro décadas de vida pública, estando ainda em “idade laboral”, seguindo em boa forma física e política e tendo ainda muitos anos pela frente para contribuir com o Espírito Santo, com uma eleição muito plausível ao Senado (até por conta das duas vagas em disputa), Casagrande pode, não obstante tudo isso, interromper ali sua trajetória, dependendo da conjuntura estadual de 2026, segundo ele mesmo afirma.
“Eu tenho disposição para ter mandato? Tenho. Tenho energia. Deus está me dando saúde. Gosto da vida pública. Acho que posso contribuir. Mas pode ser que a conjuntura me leve a ficar no governo.”
O que pode levar Casagrande a levar sinceramente tão a sério essa hipótese de interromper a trajetória no auge, calçar as sandálias de vovô e ir curtir os netinhos em vez de pegar a ponte área toda semana para Brasília? É tema a ser desenvolvido numa futura análise aqui.
O PSB nas duas últimas disputas presidenciais
Em 2018, o PSB filiou o ex-ministro do STF Joaquim Barbosa e ensaiou lançá-lo à Presidência da República. A tese era defendida por Casagrande, então sem mandato. Barbosa refugou, porém. Depois, o PSB esteve perto de apoiar Ciro Gomes (PDT), mas, após acordo de cúpula costurado com o PT, o partido de Casagrande não se coligou nem apoiou formalmente ninguém no 1º turno. A Executiva Nacional do PSB vetou “rigorosamente” qualquer tipo de apoio a Jair Bolsonaro.
No 2º turno, o PSB declarou apoio a Fernando Haddad, do PT, contra Bolsonaro. O então deputado federal venceu aquela disputa presidencial, enquanto, no Espírito Santo, Casagrande voltou ao Palácio Anchieta.
Durante a presidência de Bolsonaro, o PSB foi um partido de oposição no Congresso e seus dirigentes nacionais, Casagrande incluído, flertaram com a tese de formação de uma frente ampla de centro-esquerda dentro do campo democrático para fazer frente a Bolsonaro na eleição de 2022 – ideia que agradava a Casagrande.
A tese vitoriosa acabou sendo a de aliança com o PT e apoio a Lula, com a indicação de Geraldo Alckmin como candidato a vice-presidente, após a filiação do ex-governador de São Paulo. Não era o caminho preferido por Casagrande. Ele, porém, fiel ao partido, acompanhou a resolução. No entanto, na eleição estadual, o governador declarou apoio proforma a Lula. Não fez campanha para o petista nem pediu votos para ele. Lula nem veio ao Espírito Santo.
O petista voltou ao Palácio do Planalto e governa com o apoio do PSB. Casagrande se manteve no Palácio Anchieta e governa com o apoio do PT.
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