Coluna Vitor Vogas
Eleição em Vitória: Luiz Paulo se insurge contra “polarização burra”
O grito do tucano: “Transformar uma eleição municipal numa disputa ideológica ou moral é uma sandice. A minha candidatura rompe com isso”
A cena foi curiosa. “Eu me insurjo contra essa escolha!”, exclamou Luiz Paulo Vellozo Lucas (PSDB), durante entrevista concedida ao telejornal EStúdio 360 na última segunda-feira (24), sobre sua pré-candidatura a prefeito de Vitória. Isto é, ele “se ergue” contra “essa escolha”. Nesse momento, o tucano literalmente se levantou um pouquinho do assento, com a linguagem corporal acompanhando pensamento e discurso.
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A “escolha” a que se refere Luiz Paulo é o que ele mesmo define como “a escolha entre o muito ruim e o péssimo”, no quadro de “polarização histérica e estéril que existe na política de hoje”. Na entrevista, o candidato da “frente ampla de centro” formada em Vitória afirmou que não se submete a essa “polarização burra” e vem justamente para enfrentá-la, apresentando-se como uma alternativa a quem está cansado dela.
“É preciso coragem para enfrentar essa situação, para se insurgir contra isso e colocar uma alternativa para as pessoas. Se nós vamos ganhar ou não, vamos saber na apuração. Agora, vai existir essa opção na urna. Vai ter uma opção da racionalidade, do bom senso, de equilíbrio, de frente política, comprometida exclusivamente com o interesse da cidade, sem nenhuma concessão ao populismo, seja de qualquer matiz ideológico, sem concessão a demagogia. Você não vai ver nossa campanha em nenhuma coisa falsa para ganhar likes”, completou o ex-prefeito, na conversa exclusiva com a coluna que se seguiu à entrevista para o telejornal.
A palavra “centro” não foi pronunciada em nenhum momento da conversa, mas está na essência da candidatura de Luiz Paulo, que decidiu tentar voltar à Prefeitura de Vitória motivado por esse vazio de opções entre os extremos – “sensatas” e “equilibradas”, nas palavras dele – e pela vontade de combater esse “nós contra eles”, qualificando o debate sobre as questões que realmente dizem respeito à cidade e aos cidadãos da Capital.
De fato, ao longo da última década, a política nacional tem sido marcada por uma polarização ideológica que vamos resumir aqui como esquerda versus direita, ou, de modo mais específico, petismo versus bolsonarismo.
É bem mais complexo que isso, até porque os “dois lados” são multifacetados. Mas é a esse binarismo que se tem reduzido a política brasileira atual: uma “esquerda” que reúne de moderados a radicais, cuja nave-mãe é o PT e cuja face mais representativa é Lula, contra uma “direita” que agrupa segmentos diversos que convergiram para a figura de Jair Bolsonaro (PL), de liberais na economia a conservadores nos costumes, até fundamentalistas e extremistas de direita.
Nessa dicotomia rasa, por eliminação, eleitores e forças políticas do centro à esquerda engoliram em seco e embarcaram no lulopetismo (para derrotarem o bolsonarismo), enquanto eleitores e forças políticas do centro à direita taparam o nariz e apoiaram o bolsonarismo (para impedirem a vitória e o retorno do lulopetismo). Assim, a política brasileira, nos últimos anos, tem sido regida pela rejeição, pelo voto contra o outro.
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Grande parte dos eleitores tem votado muito mais por aversão ao adversário do que por apreço ao seu próprio candidato, mas não se sente realmente identificada nem sinceramente representada por nenhum deles. Luiz Paulo traduz assim:
“Sinto que as pessoas que têm uma preocupação maior com a economia, com a agenda liberal, aceitaram a convivência com a extrema-direita, que é negacionista e golpista. E as pessoas que se preocupam com democracia, direitos humanos, políticas públicas que combatam desigualdades aceitaram a convivência com a política atrasada do lulopetismo”, formula o pré-candidato.
Transpondo essa realidade nacional para o microcosmo local, é com essa situação que Luiz Paulo deseja romper.
Onde ele se insere?
Em Vitória, hoje, quando olhamos o quadro de candidatos, temos, de um lado, uma esquerda representada por João Coser (PT) e, à esquerda dele, Camila Valadão (PSol); do outro, uma direita conservadora representada pelo prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos) e, na extrema-direita, o deputado Capitão Assumção (PL), expoente do bolsonarismo, de uma direita mais radicalizada.
Perguntei a Luiz Paulo, então, se ele teme que essa dicotomia ideológica nacional se reflita na eleição municipal. Até que ponto essa arenga maniqueísta vai contaminar o debate sobre Vitória? E, nesse cenário, onde é que ele se insere?
“Espero que isso não aconteça. Quero que as pessoas votem pensando no que pode ser melhor para Vitória. Nossa frente é política, não ideológica”, respondeu o tucano, que lidera uma coligação formada, no momento, por seis partidos: a Federação PSDB/Cidadania, o MDB, o PSB, o União Brasil e o PSD.
“Não tenho preconceitos ideológicos. Existem elementos da tradição de esquerda que são bons, como tem elementos ideológicos vindos da tradição de direita que também são muito bons: a economia de mercado, a competição, a concorrência, a preocupação com produtividade, a participação da iniciativa privada, acho tudo isso muito importante também.”
“Eu não sou obrigado a fazer uma escolha entre o muito ruim e o péssimo. Eu me insurjo contra essa escolha. E eu acho que tem na sociedade muita gente que não quer fazer essa escolha, que acha que isso não representa o melhor dos nossos interesses. Quero construir uma alternativa a essa polarização burra, a essa polarização extremista que não responde pelo que nós temos de melhor.”
O tucano arrematou resgatando as origens do PSDB: “Eu sou um social-democrata. Minhas referências nacionais são os dois mandatos de Fernando Henrique, o Plano Real, a estabilidade macroeconômica, a responsabilidade fiscal e o desenvolvimento sustentável”.
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“Sandice”, “absurdo” e “fantasia”
Após a entrevista ao telejornal da TV Capixaba, Luiz Paulo se aprofundou no tema em conversa com a coluna.
“Essa é a síntese do que eu penso sobre a realidade política atual. E acho que o que é importante para fazermos aliança é fazermos aliança política. Aliança política não é aliança ideológica. Ideologias e filosofias pode ter várias. Não podemos é ter divergências na construção política. A política é a luta pelo poder e pelo exercício do poder político. Nas sociedades civilizadas e democráticas, o poder se disputa na política. Então tem que haver unidade política, mas não precisa haver unidade ideológica nem filosófica. Isso é um absurdo!”, avaliou o tucano.
“Transformar uma eleição municipal numa disputa ideológica ou moral é uma sandice, é uma coisa que não tem cabimento. É uma coisa rasteira, que não tem nada a ver com a realidade das pessoas. É uma fantasia!”
E o ex-prefeito por acaso receia que isso possa se concretizar na disputa municipal em Vitória?
“Já não se concretizou, por causa da minha candidatura. A minha candidatura rompe com isso. Somos a única via de enfrentamento dessa situação.”
O perfil do/a vice
Perguntamos a Luiz Paulo sobre o perfil do candidato a vice-prefeito que ele quer ter como companheiro de chapa.
“A primeira coisa é o processo. Nós queremos que o vice seja escolhido com base no consenso mais amplo possível do grupo que se definiu pela minha candidatura. O atributo mais importante é que ele tenha apoio político desse grupo de partidos que formamos, que participe ativamente do governar, que tenha afinidade de ideias com a gente e que possa ser um companheiro para disputar e governar. Essa é a principal característica.”
Quanto a “características complementares” ao perfil dele mesmo, Luiz Paulo as tem como secundárias:
“Tem gente que fala que poderia ser jovem, porque sou ‘veterano’. Tem quem diga que poderia ser mulher… Todas as características são relevantes, mas tem uma que é a mais relevante de todas, que é se ele é portador do apoio e se aumenta a adesão dessa frente, o entusiasmo das pessoas dessa frente na campanha e também no governo.”
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Capitã Estéfane
Se o Podemos for para a coligação de Luiz Paulo, ele considera, sim, a hipótese de convidar a Capitã Estéfane, hoje pré-candidata a prefeita, para ser sua vice. “Não tenho veto a nenhum nome nem preferência por ninguém. Para mim, o critério essencial é o nível de identidade com esse movimento que estamos discutindo há um ano. Todos os nomes, em princípio, são bem-vindos para o debate.”
Luciano Rezende
Sobre o papel a ser desempenhado por Luciano Rezende (Cidadania) em sua campanha, Luiz Paulo revela que ele e o também ex-prefeito se encontraram na semana passada.
“Tomamos um café longo, eu, ele e Vandinho [o deputado Vandinho Leite, presidente estadual do PSDB]. Tenho uma relação com Luciano de muito tempo. Já estivemos juntos, já estivemos separados… Luciano tem um prestígio grande com o Cidadania nacional.”
Sobre essas idas e vindas, o momento de maior “separação” foi justamente na última campanha de Luiz Paulo à Prefeitura de Vitória, em 2012, ocasião em que foi derrotado por pouco, em 2º turno, por Luciano. Na eleição seguinte, em 2016, eles se reaproximaram, e Luiz Paulo desistiu de ser candidato para apoiar a reeleição do então prefeito – em gesto importante para a vitória de Luciano naquele pleito.
Luiz Paulo prefere, porém, relembrar as origens da parceria. Em 1996, quando ele se elegeu prefeito pela primeira vez, pelo PSDB, Luciano elegeu-se vereador de Vitória pelo PT, ao lado de Hélio Gualberto. “Os dois foram convencidos a apoiar a minha administração e foram expulsos do PT. Então, Luciano foi uma das pessoas muito importantes para o sucesso da minha administração. Tenho uma relação política, pessoal e afetiva muito grande com ele.”
Após sair do PT, Luciano foi secretário de Saúde e de Educação nos governos de Luiz Paulo em Vitória (1997-2004).
Em 2008, como deputado federal, Luiz Paulo apoiou Luciano na primeira candidatura dele a prefeito, indicando seu candidato a vice pelo PSDB: Eliseu Moreira, ex-prefeitinho de São Pedro. Aquela eleição foi vencida por João Coser em 1º turno.
“Respeito demais o Luciano, e tudo o que ele puder fazer pela minha candidatura vai me deixar muito feliz”, concluiu Luiz Paulo.
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PSDB
Talvez caiba ao próprio PSDB a crítica feita por Luiz Paulo à maneira como, nos últimos anos, liberais preocupados com o desenvolvimento social se submeteram ao bolsonarismo, por contraste com o PT. Afinal, a agenda da economia de mercado com políticas públicas e combate a desigualdades é, sem tirar nem pôr, a agenda histórica social-democrata representada pelo PSDB.
Esmagado pela polarização ideológica, o centro foi engolfado pelos extremos. Boa parte dos tucanos, então, acomodou-se com o bolsonarismo (pois a alternativa a isso seria ombrear com o PT). Em contrapartida, uma outra ala do partido fez o percurso inverso, aproximando-se do lulopetismo (vide Alckmin) como única opção viável na luta contra a extrema-direita com discurso e pensamento radicais.
Luiz Paulo não recusa a autocrítica, mas não condena ninguém e pondera alguns fatores:
“O PSDB, como também as famílias e as pessoas em geral, sofreu com essa radicalização extremista. Isso aconteceu no Brasil inteiro. Quando você só tem essas duas opções, foi sofrido para muita gente ter que fazer uma escolha no 2º turno da eleição presidencial. Eu compreendo que as pessoas achem muito difícil fugir dessa situação. Mas é preciso ter coragem para enfrentá-la”, finalizou.
AQUI VOCÊ PODE ASSISTIR À ENTREVISTA DE LUIZ PAULO AO ESTÚDIO 360
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