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Coluna Vitor Vogas

Candidato do PT a prefeito de Vila Velha rebate acusação de ser fake

“Nem fake nem laranja nem geleia. O PT é oposição a Arnaldinho”, assevera Babá, em resposta veemente a Ramalho e expondo racha com a direção estadual

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Babá é o segundo entrevistado na série. Foto: Reprodução/Instagram

A entrevista quente concedida por João Batista Babá (PT) ao EStúdio 360, da TV Capixaba, começou com o fake e a faca. “Fake” seria a candidatura de Babá, segundo a imputação feita a ele, na véspera, pelo candidato bolsonarista a prefeito de Vila Velha, Coronel Ramalho (PL). “Faca” foi a que o candidato petista, por acaso dentista, levou nos dentes para a sabatina, refutando com veemência a acusação do candidato do PL.

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Segundo Ramalho, Babá teria sido iludido pelos dirigentes do PT, e a candidatura do ex-vereador seria fruto de uma combinação do PT e da esquerda com o atual prefeito, Arnaldinho Borgo (Podemos); não passaria, segundo o coronel, de uma “armação da esquerda” para ajudar a derrotar a direita bolsonarista em Vila Velha.

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Babá repudiou tais alegações:

“Minha candidatura não é fake nem laranja. É uma candidatura que a gente lutou para caramba junto com as bases do partido, junto com militantes de muito valor aqui de Vila Velha e do Espírito Santo, como Cláudio Vereza e Maria Clara da Silva. Então eu tenho a responsabilidade aqui de representá-los e o legado que eles já deixaram de lutas, de muitas lutas, aqui para Vila Velha e para o Espírito Santo. Não tem a menor condição de a minha candidatura ser uma candidatura geleia, como dizia o companheiro Paulo Vinha, porque nós estamos terminantemente, o PT, a base do partido, na oposição a Arnaldinho”, asseverou Babá, na entrevista dada por ele nessa quarta-feira (11).

Na véspera, sentado na mesma cadeira à bancada do EStúdio 360, Ramalho dissera exatamente estas palavras:

“Talvez a candidatura do PT seja fake. Não estou aqui criticando o candidato. Talvez ele também tenha sido iludido. Mas esse documento oficial, abordado por colegas seus da imprensa, traz que o apoio do PT em Vila Velha vai ser para o atual gestor”.

O documento citado por Ramalho e divulgado em uma apuração do site A Gazeta chegou mesmo a ser publicado na página oficial do PT, no dia 5 de agosto (o último para a realização das convenções partidárias).O arquivo expôs a estratégia da cúpula nacional do PT nos 219 municípios brasileiros com mais de 100 mil eleitores. Sobre Vila Velha, o relatório oficial, aprovado pela Executiva Nacional do PT, continha o seguinte comentário:

“O PT lançou a candidatura do ex-vereador Babá em estratégia combinada com o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) para a disputa contra a candidatura bolsonarista, do Coronel Alexandre Ramalho (PL)”.

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De acordo com a reportagem de A Gazeta, o arquivo revelador foi retirado do ar na tarde de 7 de agosto, após a repórter Nadedja Calado ter contatado a assessoria do PT nacional e questionado sobre o caso específico de Vila Velha.

Diante dessas informações, perguntamos a Babá, ao vivo, como ele explica o teor do referido relatório. Baixo na estatura, o candidato subiu o tom, falou ainda mais alto e mais firme.

E falou firme não exatamente contra Ramalho. Enfaticamente, o candidato jogou o rojão para cima da direção estadual do próprio partido, responsabilizando-a (indiretamente) por essa embaraçosa situação e cobrando dela (aí, sim, diretamente) uma satisfação tanto a ele como à base do PT em Vila Velha:

“Quem é que fala com a [direção] nacional? Eu não falei com a nacional, não estive com a nacional, não fui ouvido pela nacional sobre esse assunto. Quem é que se comunica com a nacional? Então, naturalmente, se é alguma coisa relacionada ao PT estadual, a direção do PT estadual, são eles que têm de se explicar, se explicar para a base, inclusive.”

A candidatura de Babá, segundo ele, não é “geleia” – muito menos de laranja. Mas, com outra conotação, a palavra pode ser usada para definir o Partido dos Trabalhadores: não se trata de uma força política homogênea, um “monobloco partidário”, mas de uma grande “geleia” em que se misturam várias correntes e tendências internas diferentes e, não raro, antagônicas.

Desde 2019, o Diretório do PT no Espírito Santo é comandado pela deputada federal Jack Rocha e pela corrente interna dela, a Construindo um Novo Brasil (CNB), em aliança com a Alternativa Socialista (AS), corrente liderada por João Coser. Babá pertence a outro campo, chamado Para Voltar a Sonhar. É muito mais próximo de políticos como Helder Salomão, Iriny Lopes e Cláudio Vereza (citado por ele).

Elevando ainda mais o tom, ainda em referência ao documento da direção nacional do PT, Babá fala até em uma possível “traição à base do partido”:

“Nós não temos aliança nenhuma com ele [Arnaldinho], sequer conversei com ele, sequer fiz qualquer tipo de acordo. Nós estamos para denunciar, sim, que é uma gestão atrasada, uma gestão que não fez um plano mestre de desenvolvimento da cidade, que administra apenas de frente para a orla e de costas para a periferia de Vila Velha. Uma gestão feita para os amigos dele, feita para quem o apoia. Mas se porventura alguém do PT, algum incauto do PT está fazendo essa traição com a base do partido, passando essas informações falsas e caluniosas, essas pessoas terão que ser cobradas adiante, porque nós não podemos admitir isso”.

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Babá ainda enfatizou:

“Em Vila Velha, nossa candidatura é séria desde o primeiro momento, […] é uma candidatura para valer, que quer debater a cidade e uma forma diferente de administrar. Então não tem a menor chance. Quanto ao atual prefeito, jamais sentei com ele, jamais fiz nenhum acordo. […] As minhas posições são claras e bem colocadas. Meu compromisso com a população, com as lutas populares, com as periferias de Vila Velha, é um compromisso que trago desde a minha adolescência, quando comecei a militar com o movimento estudantil secundarista e nas Comunidades Eclesiais de Base de Vila Velha”.

É séria mesmo, e eu o atesto… do ponto de vista de Babá

Como jornalista e colunista do Portal ES360, creio que me cumpre um testemunho pessoal:

Do ponto de vista de Babá, do grupo político dele e das bases sociais do PT em Vila Velha, não cabe a menor dúvida de que, desde o primeiro momento, a candidatura dele é mesmo “séria”, para repetir a palavra dele: não está aí para fazer jogo.

Desde meados de fevereiro, quando Babá começou a se apresentar como “candidato a candidato” do PT à Prefeitura de Vila Velha, ele e seu grupo se empenharam muito para viabilizar esse projeto. Primeiramente, o odontólogo e ex-vereador precisou vencer um cabo de guerra interno com Edinho Wilson (o pré-candidato da CNB, corrente assentada na direção estadual). Chegaram a um consenso a seu favor.

Em maio, o ex-vereador teve a pré-candidatura homologada pela Executiva Nacional. Depois disso, ainda precisou aplacar a sanha do PV e do PCdoB (partidos que estão com o PT na Federação Brasil da Esperança e que, em dada altura, chegaram a ensaiar lançamento de um candidato próprio, como em Cariacica). No fim de julho, a candidatura de Babá foi enfim aprovada e confirmada oficialmente em convenção municipal.

Mas é como frisei acima: isso “do ponto de vista de Babá, do seu grupo e das bases”. Ao que tudo indica, faltou combinar direito com o andares de cima na hierarquia do PT.

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Conclusão

Os fios desencapados e expostos pelos fatos narrados acima e pelas declarações de Babá indicam, no mínimo, um ruído muito grande entre as correntes e as instâncias partidárias; falta de sintonia e de unidade dentro do PT, na eleição municipal em Vila Velha.

Babá rechaça as palavras registradas no relatório do PT nacional, mas estas existiram de verdade, constaram em documento oficial, publicado na página do partido e depois rapidamente removido. Não surgiram ali do nada.

Se existiram, é porque alguém as escreveu; alguém de dentro do PT as chancelou e alguém de dentro do partido as fez constar no documento.

Restou a forte impressão de estarmos diante de um típico caso de “sincericídio”: alguém, por algum motivo – ou até inadvertidamente –, deu a ver algo que não poderia jamais ter vindo a público; revelou informação estratégica do partido que deveria ter sido mantida sob o máximo sigilo. Tirado o selo “confidencial”, entrou o “comprometedor”.

A menção a uma “combinação com Arnaldinho” para derrotar Ramalho, à revelia de Babá, o reduz, involuntariamente, à condição de linha auxiliar do atual prefeito, ao cumprimento de um papel subordinado ao interesse de terceiros e contrário ao que ele mesmo se propõe (como se extrai inequivocamente das declarações do candidato).

Após a eleição em Vila Velha, na qual o PT tem chances remotíssimas de êxito, o partido, já tão fragilizado na cidade, terá muita roupa suja para lavar.

Sem retorno da direção estadual

Desde a tarde da última quarta-feira, buscamos, via assessoria de imprensa, uma resposta da Executiva Estadual do PT no Espírito Santo sobre as declarações de Babá. Até a publicação deste texto, não obtivemos retorno.

Em resposta à reportagem de A Gazeta publicada no dia 9 de agosto, a presidente estadual do PT, Jack Rocha, afirmou para A Gazeta que a candidatura de Babá é “para valer”.


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