Plural
O que aprendi em 40 anos de gestão pública
O artigo foi escrito por Júnior Abreu, administrador e secretário-chefe da Casa Civil do Governo do Espírito Santo

Gestão Pública. Foto: FreePik
Década de 80. O Brasil vivia um período de profundas mudanças políticas e sociais. O regime militar dava seus últimos suspiros e, em 1985, um civil assumiria a Presidência após 21 anos. José Sarney acabou tomando posse do cargo, por conta de uma enfermidade de Tancredo Neves, que o levou a morte. Eram anos difíceis para o Brasil, de incertezas políticas e instabilidade econômica. Nessa conjuntura, entrar para o serviço público era uma opção para os jovens – e lá fui eu.
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Iniciei a minha carreira como servidor na prefeitura da minha cidade, a Serra. E vem dessa época, logo no início da minha trajetória, a primeira lição: ser servidor público é um sacerdócio. A pessoa que se propõe a esse trabalho vai ter como adversário peso-pesado a burocracia estatal, que retarda – e por vezes até inviabiliza – as entregas necessárias à população. E a face visível dessa deficiência inerente aos governos é exatamente o servidor público.
Foi também nesse início, já como auditor fiscal municipal, que entendi que a minha vocação era muito mais a gestão do que a fiscalização. Eu queria entregar o que a população precisava, e eu só poderia fazer isso se entendesse de gestão. A administração pública tem uma particularidade em relação à iniciativa privada: só o poder público entrega o que ele entrega. Diferentemente de um produto, que se pode comprar na loja X ou Y, saúde, educação e segurança pública, por exemplo, só podem ser providas pelo estado. E o contribuinte não tem a quem recorrer, a não ser…ao estado.
Essa é uma lição preciosa, um mantra que levo comigo há 40 anos e que faço questão de compartilhar com as equipes que lidero. Fui secretário de Finanças, na Serra, da Fazenda, em Aracruz, diretor-presidente do Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), diretor da Companhia Espírito-santense de Saneamento (Cesan), secretário estadual de esportes e hoje sou secretário-chefe da Casa Civil do Governo do ES.
Ao longo dessas quatro décadas, acompanhei de perto a ampliação e a diversificação dos serviços oferecidos à população, fruto da crescente demanda dos cidadãos, e a transição da “era do papel” para “a era digital”. A mudança veio para ficar. Eu costumo dizer que só há uma saída: ou nós, agentes do poder público, ajudamos a promover as mudanças tecnológicas ou seremos atropelados por ela.
Uma passagem que me marcou foi quando conseguimos instituir no Idaf a emissão eletrônica da chamada Guia de Trânsito Animal (e-GTA), documento obrigatório em todo País para o transporte de animais vivos. A possibilidade de emitir o documento pela internet deu ao produtor mais autonomia e flexibilidade. Nós desburocratizamos o processo, ou seja, facilitamos a vida de quem produz riqueza para o Espírito Santo. Olho para trás e penso: eu ajudei a construir isso! Essa é a minha maior realização profissional: eu consegui melhorar a vida de pessoas. E sigo com o meu sacerdócio.
*Júnior Abreu é administrador. É secretário-chefe da Casa Civil do Governo do ES.
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