Coluna Vitor Vogas
Ramalho: “Se ganhar, Arnaldinho será candidato a governador”
E mais: candidato do PL a prefeito de Vila Velha aponta “armação da esquerda” na cidade e explica sua mudança radical em relação ao governo Casagrande
Se reeleito prefeito de Vila Velha em outubro, o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) terá uma importante decisão a tomar: ser ou não ser candidato ao Governo do Estado em 2026? Para isso, Arnaldinho terá de renunciar ao cargo de prefeito com um terço (1/3) do segundo mandato cumprido, deixando a prefeitura nas mãos do seu vice-prefeito, Cael Linhalis (PSB). Questionado sobre essa hipótese no dia 20 de julho, antes do início oficial da campanha, o prefeito tratou logo de tirá-la da mesa:
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“Não serei candidato em 2026. Isso está fora de questão”.
O Coronel Ramalho (PL) duvida muito.
Em entrevista ao programa EStúdio 360, da TV Capixaba, nesta terça-feira (10), o principal adversário eleitoral do atual prefeito, de acordo com pesquisas eleitorais, disse não ter a menor dúvida de que, se Arnaldinho se reeleger, concorrerá ao Palácio Anchieta daqui a dois anos. Nas palavras de Ramalho, o acordo já teria sido amarrado nos bastidores entre seu rival, o governador Renato Casagrande e o partido do governador (o PSB).
Não por acaso, segundo Ramalho, Arnaldinho teria escolhido Cael, um antigo amigo e correligionário de Casagrande, para o cobiçado lugar de candidato a vice em sua chapa, em detrimento de Bruno Lorenzutti (MDB), aliado histórico do prefeito.
“Está muito claro hoje o que está definido em Vila Velha. Vila Velha é o segundo maior colégio eleitoral. A esquerda quer estar em Vila Velha. É claro que o atual prefeito, se ganhar, o que nós não vamos deixar, vai querer vir para governador. E quem vai ficar governando a cidade é o PSB. Então a armação da esquerda em Vila Velha está muito clara e definida pelo próprio Palácio Anchieta.”
Segundo Ramalho, a opção de Arnaldinho por Cael, em desfavor do favorito Lorenzutti, foi um “pagamento” do prefeito a Casagrande e ao PSB, pelos investimentos do Estado em Vila Velha ao longo dos últimos quatro anos. O prefeito, de bom grado, teria pago a “fatura política”.
“Eu condeno essa manipulação. São 13 partidos do lado de lá hoje. A indicação do vice-prefeito na chapa atual é do PSB, é da esquerda. O governo colocou a fatura dos investimentos que fez em Vila Velha”, afirmou o coronel.
Ramalho não citou à toa o número exato de partidos reunidos na coligação de Arnaldinho (de fato, são 13). Trata-se do número de urna do Partido dos Trabalhadores (PT). A sigla do presidente Lula, à esquerda do PSB na paleta de colorações ideológicas, foi incluída pelo candidato do PL em sua linha de raciocínio crítico.
“Talvez a candidatura do PT seja fake”
Em Vila Velha, o PT tem candidato próprio a prefeito: o ex-vereador João Batista Babá. Para Ramalho, no entanto, o PT também faz parte dessa “manipulação” e dessa “armação da esquerda” em torno da candidatura de Arnaldinho, da qual também fariam parte o PSB de Casagrande e o Podemos do atual prefeito. Os três partidos fazem parte do governo Casagrande. No plano nacional, o PSB tem o vice-presidente Geraldo Alckmin e ocupa ministérios. O Podemos tem cargos no governo Lula a faz parte da sua base no Congresso.
Sem citar nominalmente Babá – e até isentando o concorrente –, Ramalho afirmou que a candidatura do PT à Prefeitura de Vila Velha é fake, ou seja, o candidato do PT não passaria de um laranja colocado pelos dirigentes do PT para ajudar Arnaldinho no embate contra ele.
“A esquerda em Vila Velha já está montada. Um documento oficial do PT em Brasília já definiu que o apoio vai ser dado ao atual gestor [Arnaldinho], combinado com o atual gestor. Então, talvez a candidatura do PT seja fake. Não estou aqui criticando o candidato [Babá]. Talvez ele também tenha sido iludido. Mas esse documento oficial, abordado por colegas seus da imprensa, traz que o apoio do PT em Vila Velha vai ser para o atual gestor.”
O documento citado por Ramalho e divulgado no dia 9 de agosto em uma apuração do site A Gazeta chegou mesmo a ser publicado na página oficial do PT, no dia 5 de agosto (o último para realização das convenções partidárias). O arquivo expôs a estratégia da cúpula nacional do PT nos 219 municípios brasileiros com mais de 100 mil eleitores. Sobre Vila Velha, o relatório oficial, aprovado pela Executiva Nacional do PT, continha o seguinte comentário:
“O PT lançou a candidatura do ex-vereador Babá em estratégia combinada com o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) para a disputa contra a candidatura bolsonarista, do Coronel Alexandre Ramalho (PL)”
De acordo com a reportagem de A Gazeta, o arquivo revelador foi retirado do ar na tarde de 7 de agosto, durante a apuração, após a repórter ter contatado a assessoria do PT nacional e questionado sobre o caso específico de Vila Velha.
Na ocasião, em resposta à reportagem de A Gazeta, Babá negou ter conhecimento do documento e ter feito qualquer “combinação” com Arnaldinho. Este também negou qualquer negociação com o PT. A presidente estadual do PT, Jack Rocha, afirmou para A Gazeta que a candidatura de Babá é “para valer”.
Até o momento, o candidato do PT em Vila Velha só recebeu R$ 157,5 mil da direção nacional do partido, por meio do Fundo Eleitoral.
O porquê da guinada de Ramalho em relação a Casagrande e seu governo
Na entrevista ao EStúdio 360, Ramalho também explicou, ou tentou explicar, a guinada dada por ele neste processo eleitoral em relação ao governo Casagrande e na relação com o governador, desde que se tornou pré-candidato a prefeito de Vila Velha.
Até o início do ano, além de ocupar lugar de destaque no governo Casagrande, como secretário estadual de Segurança Pública, o coronel da reserva da PMES era considerado por todos como um aliado político do governador. Essa era a compreensão geral, até porque ele assim se portava, tendo inclusive apoiado de público a reeleição de Casagrande em 2022.
No fim de janeiro deste ano, Ramalho entregou o cargo. Em fevereiro, saiu do governo e se desfiliou do Podemos. Em março, filiou-se ao PL e confirmou a pré-candidatura a prefeito de Vila Velha, contra Arnaldinho Borgo (candidato apoiado por Casagrande). Desde então, Ramalho passou a fazer críticas públicas contundentes ao governo Casagrande e, principalmente, ao partido do governador, por ser uma sigla de esquerda. Em uma live no fim de junho, para ficar em um exemplo, o coronel chegou a dar uma banana para Casagrande.
Perguntamos a Ramalho por que essa mudança radical e por que ele, voluntariamente, permaneceu por tanto tempo (três anos) em um governo agora condenado por ele, liderado por um partido de esquerda agora execrado por ele.
Para certa surpresa nossa, Ramalho afirmou que, na verdade, jamais foi aliado de Casagrande: “Nunca fui aliado político. Nunca disputei pleito político apoiado pelo governador ou pelo partido do governador. Estive num partido que estava dentro da conjuntura política do governador”, afirmou Ramalho, referindo-se ao Podemos.
Segundo ele, suas críticas não são ao governo de Casagrande:
“Eu nunca tive projeto político com o governo. As tentativas que eu tive de entrar na política [em 2022], eu nunca tive o apoio do governo. Tentei ir pro Senado, me puxaram o tapete, a gente veio pra deputado federal. Nessas duas oportunidades, nós nunca tivemos o apoio do governo. A nossa entrada no governo, já esclareci isso uma vez e ratifico novamente, foi uma entrada técnica. É sempre bom lembrar que, em 2019, quando o governador assumiu o governo, ele me retirou do comando-geral da Polícia Militar. Eu fui convidado para assumir a Secretaria Municipal [de Defesa Social] de Viana”, resgatou o coronel.
“Em virtude dessa visibilidade em Viana, do trabalho e do número crescente de mortes no Espírito Santo devido à pandemia e por questões relacionadas a homicídios por crimes ligados ao tráfico de entorpecentes, nós fomos então convidados pelo governador [em abril de 2020] para integrar a equipe de governo numa pasta muito técnica, a da Segurança Pública. Naquele momento, eu ainda estava na ativa da Polícia Militar, nunca naquele momento eu poderia ser partidário. Então essa relação sempre foi técnico-profissional. E ali, naquele momento, a gente ajudou a entregar o melhor resultado de uma série histórica no Espírito Santo, no número de homicídios”.
Segundo Ramalho, a crítica dele a Casagrande e seu governo é estritamente política:
“Quando a gente faz a crítica hoje, é a crítica na questão política. Em janeiro, quando resolvi sair do governo, fui muito claro com o governo. Fui na sala do governador e disse para ele: ‘Estou saindo e buscando um outro caminho na política’”.
“Um outro caminho na política” pressupõe a existência de um “caminho político” anterior. Para além da “relação técnico-profissional” destacada por Ramalho, de sua longa atuação à frente da Sesp e da sua contribuição técnica ao governo Casagrande, lembramos ao candidato que ele apoiou publicamente a reeleição do governador em 2022, contra o candidato do PL, Carlos Manato. Ramalho foi um dos expoentes da defesa do voto “Casanaro”.
Ramalho reconheceu o apoio a Casagrande naquela oportunidade, “fora do governo” – até porque negá-lo seria brigar com os fatos: o apoio foi público. Perguntamos ao candidato duas vezes se ele se arrepende de ter apoiado o governador, mas ele deixou essa pergunta sem resposta. Respondeu, porém, por que apoiou Casagrande naquele pleito. Segundo o coronel, faltava-lhe àquela altura (dois anos atrás) uma compreensão que ele diz ter hoje: a de que a realidade política brasileira se resume a dois lados:
“Hoje eu compreendo que o Brasil só tem dois espectros: o da direita e o da esquerda. Naquele momento, eu não tinha essa compreensão. Quando eu entrei num partido [o PL], aprendi que nós só temos esses dois espectros hoje. E não dá para você apoiar direita e esquerda”.
Assim Ramalho justifica sua opção por Casagrande na última eleição estadual. Sem tocar em eventuais “arrependimentos” e tangenciando essa questão, o coronel dá a entender, já que “não dá para apoiar direita e esquerda”, que hoje não repetiria o voto “Casanaro”.
Mas agora já foi e está na história.
E se ele for eleito? “Relação institucional”.
Não obstante as críticas “políticas” ao governo Casagrande e ao PSB, Ramalho afirma que, se eleito, manterá uma “relação institucional” com o Governo do Estado. “A relação política do município com o Estado deve ser exercida na questão técnica. Vamos exercer um relacionamento na linha do que podemos atrair para o município. Essa é uma relação institucional, não uma relação política em que vou atrair investimentos garantindo apoio no futuro”.
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