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Adeus ao IPO? Por que abrir capital no Brasil virou um desafio

Com juros elevados, instabilidade política e alta burocracia, o IPO deixa de ser prioridade para empresas brasileiras

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O cenário desafiador afasta empresas da bolsa e faz do IPO um passo cada vez mais raro no Brasil. Foto: Freepik

O cenário desafiador afasta empresas da bolsa e faz do IPO um passo cada vez mais raro no Brasil. Foto: Freepik

Abrir capital na bolsa de valores já foi motivo de comemoração. Era o momento em que uma empresa dava um passo ousado, ganhava visibilidade, atraía novos investimentos e acelerava seu crescimento. Mas, hoje, no Brasil, esse sonho parece cada vez mais distante. O que antes simbolizava sucesso, agora se tornou um caminho cheio de barreiras, algumas delas difíceis de contornar.

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A primeira grande pedra no caminho é o cenário macroeconômico. Com juros altos, a renda fixa passou a oferecer retornos mais atraentes e com menos risco. É natural que os investidores, em busca de segurança, optem por esse caminho. Isso tira o brilho da bolsa e afasta o interesse por ações. A queda no valor das empresas já listadas também desanima quem pensa em abrir capital. Afinal, ninguém quer vender ações por um preço que considera injusto. Em 2025, muitos analistas já apontavam que esse cenário desafiador, com juros ainda elevados, não iria mudar tão cedo.

Mas os obstáculos não param por aí. A volatilidade do mercado financeiro brasileiro e as constantes incertezas políticas criam um ambiente de risco que preocupa até os investidores mais experientes. O capital, tanto o nacional quanto o estrangeiro, muitas vezes prefere buscar mercados mais previsíveis e seguros. Além disso, o processo de IPO no Brasil continua sendo caro, burocrático e demorado. Para empresas de menor porte, isso pode representar um custo alto demais, sem garantia de retorno.

Existe também um fator cultural que não pode ser ignorado. Muitas empresas brasileiras ainda são familiares e veem o mercado de capitais com desconfiança. Abrir o capital significa dividir decisões, lidar com fiscalização constante e se adaptar a um novo padrão de governança. Para quem sempre controlou tudo de perto, isso pode parecer mais ameaça do que oportunidade. Soma-se a isso a baixa educação financeira no país, que limita tanto o número de investidores quanto a compreensão geral sobre como o mercado funciona.

Apesar de tudo isso, há sinais de mudança. A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) tem buscado simplificar o processo e reduzir custos. O regime FÁCIL é uma dessas tentativas, voltado especialmente para empresas menores que querem acessar o mercado com menos burocracia. A ideia é boa e vai na direção certa: facilitar o acesso ao capital e incentivar novas listagens.

O Brasil tem potencial econômico imenso. Mas, para que esse potencial se traduza em crescimento real, o mercado de capitais precisa ser uma opção viável, e não um labirinto. Isso exige esforço coletivo: políticas econômicas mais estáveis, regras mais simples, maior incentivo à educação financeira e uma mudança de mentalidade dentro das próprias empresas.

O IPO não precisa ser deixado para trás. Ele ainda pode ser uma ferramenta poderosa de transformação. Mas, para isso, o ambiente em torno dele precisa mudar. Se o cenário não se alterar, o adeus à bolsa pode deixar de ser uma exceção e virar regra.

Este texto expressa a opinião do autor e não traduz, necessariamente, a opinião do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Espírito Santo.


Gabriel de Souza Schaydegger *Gabriel de Souza Schaydegger é Graduando em Direito na FDV, Estagiário no escritório Alexandre Dalla Bernardina e Advogados Associados, integrante do Comitê IBEF Agro e membro do IBEF Academy.

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O IBEF Academy é o programa de auto formação do IBEF-ES, com foco em gestão, economia, finanças e filosofia. Seu objetivo é contribuir para a evolução do ambiente de negócios no Espírito Santo, qualificando profissionais e fortalecendo o ecossistema econômico e financeiro do estado.

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