O Gestor
Instituto Ponte e Bartira Almeida: gestão que acelera a ascensão social
A fundadora do Instituto Ponte, Bartira Almeida, conta como funciona a ONG e o objetivo de ajudar o aluno a mudar de vida por meio do projeto

Bartira Almeida, do Instituto Ponte, foi a convidada da semana. Foto: Reprodução/Youtube
O podcast “O Gestor”, apresentado por Bruno Rigamonti e Gabriel Feitosa, recebeu Bartira Almeida, presidente do conselho da Morar Construtora e também fundadora e presidente do Instituto Ponte. O podcast vai ao ar toda segunda-feira pelo youtube.
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Origem e valores
- A Morar foi fundada em 1981 pelos pais de Bartira. Ambos eram engenheiros que trabalharam em Brasília e Belo Horizonte, antes de voltar para o Espírito Santo e abrir a construtora.
- Desde o início, o casal carregava uma mentalidade muito mais de engenheiros do que de empresários. Sempre priorizaram o compromisso com o cliente e o cumprimento dos prazos, independentemente de vender ou não.
- Para o trabalho em família, foi feito um acordo societário familiar junto de um consultor. Na época, eram três irmãos e cinco membros da família na empresa.
- O consultor responsável conduziu todo o processo reforçando que as regras deveriam ser pensadas para a família, e não para indivíduos específicos.
- O acordo incluia cláusulas como: se algum filho quiser sair da empresa, ele tem direito a um ano de salário garantido, para poder construir seu caminho com tranquilidade.
- Todos os membros da família têm direito a dividendo garantido, independentemente de estarem atuando na empresa. O objetivo sempre foi garantir que só permaneça na empresa quem realmente quer, sem prejudicar as relações familiares.
- Na discussão sobre a sucessão executiva, o pai perguntou diretamente a Bartira se ela gostaria de assumir a presidência. Na época, Bartira estava prestes a completar 40 anos e refletiu sobre o que gostaria para a segunda metade da sua vida profissional.
- Ela reconhece que essa escolha foi facilitada por já ter estabilidade financeira, garantida por meio dos dividendos previstos no acordo familiar.
Processo de reflexão e autoconhecimento
- Bartira admite que, durante o processo, não conseguiu fazer uma reflexão profunda sobre seus passos. Ela simplesmente seguiu a vida, sem se dar conta exatamente das etapas que estava vivendo.
- Cada filho da família teve acompanhamento de um coach durante o processo de sucessão executiva. Na segunda sessão, a coach foi direta: Bartira precisava escolher se queria trabalhar dentro ou fora da Morar.
- A primeira orientação foi: “Siga sua intuição.” Isso foi um desafio, pois veio de uma família de engenheiros, muito mais racionais do que intuitivos. A segunda dica foi: “O que você quiser fazer, experimente logo.”
Construção de um novo caminho
- Bartira percebeu que seu processo de transição se dá conversando com pessoas e ouvindo histórias. Conversou com quem já tinha feito transições e especialmente com quem atuava no terceiro setor.
- Ela se encantou com relatos de quem dizia “receber mais do que dava” nesse tipo de trabalho — uma lógica que agradava muito sua mentalidade de engenheira.
- Durante dois anos, visitou 42 instituições pelo Brasil. Encontrou organizações muito sérias, com muito propósito, mas percebeu uma fragilidade grande na gestão.
Financiamento no terceiro setor
- Hoje, Bartira se define como uma “pedinte ambulante”, que passa o dia inteiro buscando apoio, seja financeiro, parcerias, palestrantes ou vagas para estudantes.
- O Instituto Ponte não tem nenhum recurso público nem incentivo fiscal. Ela reconhece que captar não é fácil, mas acredita que projetos bem executados, com muito resultado, encontram apoio na sociedade.
- Ao começar, ouviu que a média era 10 para 1: a cada dez reuniões, nove seriam negativas e uma positiva. Enfatiza que, embora difícil, sempre existe alguém disposto a apoiar, desde que veja valor no projeto.
O surgimento do Instituto Ponte
- Durante sua imersão no terceiro setor, Bartira conheceu duas instituições que a impactaram muito: Primeira Chance, em Fortaleza, e Bom Aluno, em Curitiba. Nessas organizações, viu resultados concretos e transformação real na vida das pessoas.
- Decidiu que queria se associar a uma instituição com esse perfil no Espírito Santo. No entanto, não encontrou nenhuma que tivesse exatamente o modelo e a visão de metas e resultados que buscava.
- Bartira se define como alguém movida a resultados e percebeu que, se não existia o que procurava, ela mesma precisaria criar.
- Em 2014, reuniu algumas pessoas e fundou o Instituto Ponte. O propósito da organização é promover ascensão social em uma geração por meio da educação.
- Cita um dado da OCDE: no Brasil, são necessárias, em média, nove gerações para uma pessoa pobre alcançar a renda média do país. No Instituto Ponte, esse salto acontece em apenas uma geração.
- Quando fundou o Instituto Ponte, Bartira tinha uma grande preocupação de não querer que a iniciativa fosse associada à Morar. Ela temia que as pessoas vissem o Instituto como um projeto da empresa, o que poderia dificultar o engajamento de parceiros e apoiadores.
- Nos primeiros anos, o Instituto nem utilizava a logomarca da Morar, embora sempre contasse com o apoio da empresa de diversas formas.
A atuação do Instituto
- O Instituto atua como olheiro nas escolas públicas, buscando alunos inteligentes com renda familiar de até 1,5 salário mínimo per capita. O aluno entra no Instituto entre 13 e 15 anos e pode permanecer até o fim da universidade.
- Para participar é feita uma seleção. Atualmente 360 alunos, oriundos de 21 estados brasileiros.
- Para Bartira, a proposta é oferecer aos alunos as mesmas oportunidades que ela ofereceu aos filhos.
- Após selecionados, os alunos passam por uma etapa de desenvolvimento pessoal. O Instituto trabalha para que eles entendam que também podem chegar longe, fazer faculdade, cursar medicina ou estudar em universidades de ponta. O trabalho foca na construção da autoestima e na ampliação de horizontes.
- No ano seguinte, os alunos podem ser transferidos para escolas particulares parceiras, com 100% de bolsa. As principais parceiras são instituições de ensino, desde escolas até universidades.
- Com a pandemia, o Instituto adotou aulas online, permitindo atender alunos de qualquer lugar do estado. O modelo híbrido funciona com o aluno frequentando a escola presencialmente e no contraturno participando de atividades socioemocionais e de construção de projeto de vida online.
- Em 10 anos, o propósito do Instituto não mudou: acreditar no talento que existe em qualquer lugar do Brasil.
- Bartira cita o exemplo de que o Brasil desperdiça muitos talentos, que o país tem o melhor jogador e nunca ganhou um Nobel. Isso porque no futebol tem olheiros em todos os cantos, enquanto a educação não consegue identificar esses jovens brilhantes.
Gestão com visão de empresa
- Bartira conta que sempre enxergou o Instituto Ponte como uma empresa, não como uma ONG. Desde o início, teve dificuldade em entender por que as pessoas viam a ONG como algo diferente de um negócio bem estruturado.
- A lógica sempre foi clara: contratar pessoas ou contar com voluntários para funções específicas, como em qualquer empresa. Muitos voluntários querem escolher o que fazer, mas o Instituto precisa de quem atue onde há demanda real. Atualmente, há cerca de 20 tipos de serviços voluntários estruturados.
- Sempre buscou tangibilizar a doação: “Um aluno custa R$ 900 por mês.”. Faz a conta anual (R$ 10.800) e multiplica conforme o número de alunos que o doador deseja apoiar. Isso gera clareza, conexão e senso de responsabilidade.
Estrutura profissional
- O Instituto sempre teve equipe técnica: pedagogos, psicólogos e outros profissionais especializados.
- O projeto só existe graças às parcerias, tanto com escolas particulares quanto com empresas de diferentes setores (gráfica, auditoria, tecnologia, etc.).
- A abordagem nunca foi pedir ajuda no tom de caridade. A proposta sempre foi: “Te ofereço a chance de participar de um projeto de alto impacto, com resultados concretos.”
- Bartira deixa claro que tudo foi e ainda é um processo de aprendizado. Reconhece um ponto fraco do Instituto Ponte: a dependência excessiva da própria Bartira.
- Sonha com o dia em que o Instituto terá apoio coletivo, da sociedade e dos próprios alunos, deixando de ser visto como algo que ela fundou.
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