fbpx

Coluna Vitor Vogas

As armas e o discurso de campanha do candidato do PT em Vila Velha

Babá entra na disputa com críticas a Arnaldinho: “De frente pro mar e de costas pra cidade. Governou pelo Instagram e com a Câmara amordaçada”

Publicado

em

João Batista Babá. Foto: Reprodução Instagram

João Batista Babá. Foto: Reprodução Instagram

A eleição de 2012 foi a última em que o PT lançou candidato a prefeito de Vila Velha. Foi o então vereador João Batista Babá, mal votado naquele pleito, vencido por Rodney Miranda. Desde então, o PT no município mergulhou em um processo de quase apagamento, coincidindo com o período de recrudescimento do antipetismo no cenário nacional e com a mais profunda crise atravessada pelo partido de Lula em seus 44 anos de história (Lava Jato, impeachment de Dilma, governo Temer, prisão de Lula e eleição de Bolsonaro, nessa ordem).

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

De lá para cá, em Vila Velha, o PT elegeu um vereador em 2012 e mais nada. Passou em branco nas últimas duas disputas municipais (2016 e 2020), sem candidato a prefeito e sem um só vereador eleito.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Agora, o cenário é outro. Lula voltou ao Palácio do Planalto. E o PT, com o mesmo Babá, volta a ter candidato próprio a prefeito no segundo maior colégio eleitoral do Espírito Santo… uma candidatura que se fia e se alicerça, precisamente, no retorno do partido ao poder central, como afirma o próprio Babá.

“O PT passou 12 anos sem de fato concorrer em Vila Velha. Essa falta de protagonismo do PT na disputa eleitoral fez muito mal ao partido. Durante esse tempo, o partido caiu em organização e em inserção em movimentos populares. Houve uma diminuição, até por causa de tudo o que se passou na política nacional”, admite o candidato, acrescentando, contudo, que agora a maré virou:

“Do mesmo jeito que essa política nacional influenciou para que o PT tivesse uma baixa, hoje essa política nacional pode nos favorecer. Com o governo Lula, houve de volta uma busca, principalmente do trabalhador e da trabalhadora, pelas candidaturas do PT. Isso animou a gente, essa busca dos militantes da base do partido, animados com essa conjuntura”.

Além de entrar na disputa com a determinação de defender o governo Lula, Babá colocará em prática uma estratégia fundada numa lógica relativamente simples. Na última eleição presidencial, no 2º turno contra Bolsonaro, Lula obteve em Vila Velha um total de 103.870 votos, o equivalente a 39% dos votos válidos. Se esses mais de 100 mil eleitores agora votarem em Babá, ele terá chances muito grandes de chegar ao 2º turno. A título de comparação, em 2020, o então vereador Arnaldinho Borgo, candidato mais votado no 1º turno, passou de fase com 73.122 votos.

Assim, a prioridade de Babá será prospectar os votos desses eleitores, seu público-alvo (ou target, na linguagem publicitária). Seu desafio é convencer quem votou em Lula em 2020 a votar agora nele. Para isso, precisa não só identificar tais eleitores, como falar diretamente com eles e “reconectar” o PT de Vila Velha com esse eleitorado em potencial.

“Eu vou me colocar com uma proposta de defesa do governo Lula e buscando a ligação com o eleitor do Lula, com os 100 mil eleitores que votaram no Lula e que podem enxergar na nossa proposta a proposta do Lula”, sintetiza Babá.

Sobre a priorização da defesa do Governo Federal no pleito municipal, o ex-vereador não titubeia:

“É necessário que o PT esteja apto a defender o governo Lula. Dia desses o presidente Lula fez um pronunciamento à nação, e não teve nenhuma panela batendo. As pessoas estão compreendendo as políticas que o governo está trazendo, trazendo o emprego de volta, controlando a inflação, tendo juízo no gasto público e fazendo investimentos em políticas públicas que favoreçam os menos favorecidos. Essa é a política do governo Lula e é essa política que nós vamos defender.”

> João Coser se lança em Vitória prometendo campanha com Lula e por ele

“Fascismo” em Vila Velha?

Durante a convenção em que a candidatura de Babá foi homologada pela federação formada por PT, PV e PCdoB, em um auditório na Prainha, no dia 29 de julho, alguns oradores não se furtaram a falar de “fascismo” e alertar que há candidatos em Vila Velha que, segundo eles, representam tal corrente ideológica, em alusão ao prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos) e, destacadamente, ao candidato bolsonarista, o Coronel Ramalho (PL).

Indagamos a Babá se ele concorda com essa visão e se também atribui tal classificação a esses dois adversários. Mais comedido, o candidato não chega a tachar de “fascistas” seus adversários à direita, mas os espeta:

“O PT está se colocando como candidatura de esquerda. Eu nunca neguei isso: sou de esquerda, sou petista, sou fundador desse partido desde a minha juventude e não arredei pé dele. Nós somos uma candidatura de esquerda que vai defender abertamente o governo Lula. E vamos combater abertamente toda forma de fascismo no racismo, na exclusão, de todas as maneiras. Quem defendeu Bolsonaro, quem andou com ele, que se defenda, que coloque sua propositura, que vá para o povo e diga se continua apoiando Bolsonaro ou não, que diga onde agora está. Ou então diga ‘não, agora eu estou apoiando Lula’, por oportunismo ou não, mas eles que se coloquem”.

De frente para o mar e de costas para a cidade”

Além de marcar posição na luta ideológica da esquerda contra a direita, Babá entra no jogo com críticas agudas direcionadas ao prefeito Arnaldinho, que vão de um “crescimento desordenado” supostamente promovido pela atual gestão até a falta de diálogo com a cidade e o deficit de democracia e participação popular verdadeira, apontados por ele, na tomada de decisões:

“Nós entendemos que é uma gestão não democrática, que não discute e não dialoga com a cidade, que não constrói junto. Ela está de frente para o mar e de costas para Vila Velha. Ela está olhando a orla, ela está projetando a orla, ela está projetando grandes investimentos de construção imobiliária”.

Governou pelo Instagram e com a Câmara amordaçada”

Mas a crítica mais incisiva do candidato petista a Arnaldinho diz respeito ao que ele chama de cooptação e de amordaçamento não só de movimentos e conselhos populares como até da Câmara Municipal de Vila Velha, presidida pelo vereador Bruno Lorenzutti (MDB):

“Precisamos fazer a religação e a rediscussão com o movimento popular, porque o movimento popular de Vila Velha foi cooptado, as suas lideranças foram sugadas para dentro das estruturas de governo. Os conselhos populares, basicamente, estão nas mãos do governo. O Poder Legislativo está nas mãos do governo. Nós vimos uma Câmara amordaçada. Arnaldinho governou pelo Instagram e com a Câmara amordaçada. Não teve oposição, não teve discurso de oposição de vereador nenhum”, fulmina o petista.

> Audifax anuncia sua vice na Serra. Coser faz o mesmo em Vitória

“Tanto é verdade que o presidente da Câmara se colocava como candidato a vice dele. É a prova concreta disso: ‘Eu segurei isto aqui. E agora? Você vai me dar o quê? Eu quero ser o seu vice’”, completa Babá.

Grande aliado de Arnaldinho Borgo, Bruno Lorenzutti era cotado para ser seu candidato a vice-prefeito até a última sexta-feira (2), mas foi preterido pelo atual prefeito, que preferiu escalar Cael Linhalis (PSB) para esse lugar. Lorenzutti não disputará nenhum mandato.

O ponto cego da estratégia

O ponto cego da estratégia do PT, exteriorizada por Babá – e me parece até uma obviedade o que vou escrever a seguir –, é que nem todos os 103.870 eleitores canelas-verdes que votaram em Lula no 2º turno em 2022 são, necessariamente, simpatizantes do PT, muito menos “eleitores petistas”. Parece-me um grave erro de avaliação prejulgar que todos eles, se devidamente “tocados” ou “reconectados”, estarão necessariamente predispostos a votar em um candidato petista, numa eleição municipal, pelo simples fato de ser o representante do PT.

Esse raciocínio desconsidera, de saída, a massa de eleitores, em Vila Velha como em todo o país, que podem ter votado em Lula por absoluta “falta de opção”, pura e simplesmente para ajudarem a impedir a reeleição de Jair Bolsonaro; não por gostarem de Lula, mas por gostarem menos ainda do mandatário de extrema-direita, numa disputa presidencial ditada pela rejeição ao outro como nunca antes na história deste país.

Foram eleitores que, mesmo não curtindo muito Lula ou mesmo nem sequer o aprovando, fecharam os olhos, prenderam a respiração e digitaram o 13 resignados no reencontro decisivo com a urna, em 28 de outubro de 2022, porque a sua aversão a Bolsonaro não encontra paralelo: para eles, a ideia de ver Lula voltar ao Planalto era mais suportável (ou menos insuportável) que a de ver Bolsonaro ali se perpetuar. E Lula, objetivamente, era o único em condições de derrotá-lo. Daí o voto pragmático. Nada a ver com paixão política, muito menos fidelidade ao PT.

Assim como muitos eleitores votaram em Bolsonaro por ojeriza a Lula e à ideia de retorno do petista (e nem por isso são, necessariamente, “bolsonaristas”), o contrário na certa também se deu.

Quantos desses 103.870 cidadãos que votaram em Lula em 2022, em seções eleitorais de Vila Velha, podem ter o perfil descrito acima?

Numa eleição municipal, sem Lula nem Bolsonaro na cédula, a tomada de decisão desses eleitores tende a passar por outros critérios, bem distantes dessa dicotomia entre esquerda e direita, petismo e bolsonarismo.

> O surfe político praticado por Weverson e Vidigal em busca do ouro eleitoral

Esticadinha das estrelas do PT

Em meados de julho, Babá foi ao encontro da presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, em Brasília. Em sua campanha em Vila Velha, ele espera a presença de figuras nacionais do partido, “pegando o rebote” da campanha de João Coser, na vizinha Vitória. “Todas as pessoas que vierem para reforçar a campanha do João virão aqui também.”

É só dar uma esticadinha. Mas não pode pegar trânsito na Terceira Ponte…

Esquerda dividida em duas candidaturas

Com chances muito remotas de êxito nas urnas, a outra federação de esquerda, formada por PSol e Rede, preferiu não se coligar com a Federação Brasil da Esperança (Fe Brasil) e não apoiar Babá no 1º turno em Vila Velha. Em vez disso, lançou chapa majoritária própria, formada por dois psolistas: o professor de Geografia Nicolas Trancho é o candidato a prefeito, enquanto o advogado Artur Depizzol é o candidato a vice-prefeito. Os dois até compareceram à convenção de Babá. O primeiro até discursou e falou “contra o fascismo”.

Na convenção da Fe Brasil, ficou registrada em ata a proposta de coligação com o PSol e a Rede, dependendo de aprovação em convenção própria dessa outra federação. Mas não teve jeito: a chapa do PSol foi lançada.

“Fizemos todo o trabalho para construir a aliança. Respeito o PSol e a necessidade que eles têm de crescer em Vila Velha. É legítimo que eles façam esse trabalho”, opina Babá.

O vice de Babá

Assim, a Fe Brasil vai para a eleição majoritária em Vila Velha sozinha, sem coligação. O candidato a vice-prefeito de Babá é Rodrigo Moreira (PCdoB), professor de Geografia.

Candidatos a vereador

Em Vila Velha, a Fe Brasil terá chapa completa (22 candidatos) para a Câmara Municipal. Alguns dos candidatos chamam a atenção.

Um deles é Edinho Wilson, que é de corrente interna rival à de Babá e chegou a disputar com ele a posição de candidato a prefeito pelo PT.

Pelo PV, o atual vereador D’Orlean Sagais (da base de Arnaldinho) tentará a reeleição. O ex-vereador João Artem buscará voltar à Câmara. Também serão candidatos o presidente municipal do partido, Ricardo Pires, e a economista Sandra Frasson. Em dado momento, os dois também chegaram a ser cogitados como possíveis candidatos a prefeito pela Fe Brasil, mas Babá prevaleceu no debate interno.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui