Plural
A comunicação que eu aprendi não existe mais
O jornalista Marcus Freire levanta um debate sobre as mudanças rápidas que estão acontecendo na tecnologia e na área de comunicação

ChatGPT é capaz de reduzir o tempo gasto por humanos para realização de uma tarefa. Foto: Matheus Bertelli/Pexels
Eu me formei em Comunicação Social – Jornalismo nesta década. Colei grau em março de 2020, poucos dias antes do primeiro lockdown no Espírito Santo. Na época, atuava como repórter de política em um jornal local. E nunca imaginaria o que estava por vir. Para além da saúde pública e das taxas de mortalidade, o mundo passou, de lá para cá, por mudanças sociais, econômicas e tecnológicas absurdas, que talvez nem o mais conspiracionista fosse capaz de prever.
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Hoje, novos modelos de linguagem baseados em inteligência artificial surgem a todo momento. Quer um exemplo? Em maio, o Google lançou o VEO 3, que, após o seu lançamento, inundou as mídias sociais com vídeos ultrarrealistas. Este mês, a mesma empresa que criou o TikTok lançou o SEEDANCE 1.0, que já supera a IA do Google em recursos. Enquanto a tecnologia do buscador tem dificuldade para manter um padrão natural de uma cena para outra no vídeo, o SEEDANCE 1.0 o faz com facilidade.
Na década passada, era impensável que empresas lançassem tecnologias que competissem dessa forma em um tempo tão recorde. O próprio ChatGPT encontrou um concorrente à altura, que foi desenvolvido com muito menos recursos: o DeepSeek.
As empresas que não acompanham e não se adaptam a essa realidade estão fadadas a enfrentar sérias turbulências. Já não é mais futuro. É um presente latente. Se antes ter um perfil numa rede social era algo “uau, que pra frente”, hoje estar online é uma obrigação, se você quiser ser encontrado. E já não basta ter apenas um perfil: é preciso nutri-lo. E mais: estar presente em várias plataformas, adaptar formatos, seguir tendências mantendo identidade. O trabalho do comunicador é hercúleo, e das empresas, também exige muito: uma mudança de cultura, à qual muitos empresários ainda são resistentes. Mas até quando?
E questiono: você imaginaria que um bilionário, como o CEO da CIMED, seria o rosto da própria marca? Se ainda não viu um vídeo do João Adibe por aí, precisa conhecer. O empresário usa a estratégia conhecida como founder-led marketing, ou marketing guiado pelo fundador. É preciso aparecer. Eles definiram as regras do jogo; agora, precisamos jogar. E não importa o seu tamanho, o seu público, você precisa aparecer.
A rapidez é tão alta que até o buscador mais famoso do mundo, o Google, listado como uma das cinco empresas mais ricas do planeta Terra, está perdendo espaço para as IAs em sua principal função: buscar. Isso é o que aponta o Similarweb, que faz o monitoramento diário do tráfego na web. Então, se você tinha um site e achava que isso era o suficiente… já não é bem assim.
Quando me formei, o rei da vez era o SEO (Search Engine Optimization), que ajudava as empresas a serem encontradas facilmente nos buscadores, como o Google. Agora, o modelo é o LLMO (Large Language Model Optimization), ou, em português, Otimização de Modelo de Linguagem Grande, que nada mais é do que otimizar o conteúdo para ser encontrado e citado por modelos de linguagem artificial como o ChatGPT.
Essas transformações não estão restritas à comunicação, ao marketing e à tecnologia. Elas mudam hábitos, consumo, mercado de trabalho, e a nossa própria sociedade. Com tantas mudanças, não basta mais saber comunicar: é preciso interpretar o presente com agilidade e se reinventar o tempo todo.
Eu sou um comunicador desta década. E, mesmo tendo me formado há poucos anos, já vi o mundo virar do avesso mais de uma vez. Se isso não é um sinal de que precisamos nos mover, então eu não sei o que é.
*Marcus Freire é jornalista formado pelo Ufes com especialização em marketing e mídias. Tem passagens por TV, redação web, jornal impresso, assessoria de imprensa e comunicação institucional e é sócio da Bula Comunicação.
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