Coluna Vitor Vogas
Jogando parado? O que Sérgio Vidigal está pensando sobre as eleições 2026
Em conversa franca com a coluna, ele conta como está observando as movimentações dos demais e por que está fazendo exatamente o contrário

Sérgio Vidigal é secretário estadual de Desenvolvimento
Um viajante do tempo poderia ficar confuso. Por vezes temos a impressão de que, no Espírito Santo, já estamos em 2026. A eleição para governador está incrivelmente antecipada e acelerada. A corrida foi deflagrada de maneira prematura, com uma antecedência poucas vezes vista. Hoje, os três principais pré-candidatos estão em plena pré-campanha, em ritmo vertiginoso. Refiro-me a Ricardo Ferraço (MDB), Arnaldinho Borgo (sem partido) e Lorenzo Pazolini (Republicanos). Enquanto isso, Sérgio Vidigal (PDT) está quieto, na dele, só observando tudo. Ou não mais tão quieto, pois falou, abaixo, em entrevista exclusiva à coluna, e opinou sobre o processo eleitoral, criticando muito, precisamente, a ansiedade geral que o tem regido.
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Após ter declinado de disputar a reeleição a prefeito da Serra em 2024 e feito de Weverson Meireles (PDT) o seu sucessor no cargo, Vidigal assumiu, em fevereiro, o lugar de Ricardo Ferraço na Secretaria de Estado do Desenvolvimento (Sedes). Desde então, praticamente “sumiu” do cenário político. Não tem feito – e recusa-se a fazer, neste momento – qualquer gesto de cunho eleitoral. Tanto que Renato Casagrande (PSB), por assim dizer, “riscou seu nome” da lista que leva no bolso.
Apontado inicialmente pelo próprio governador como um dos aliados que poderiam concorrer ao Governo do Estado, o ex-prefeito da Serra teve o nome removido na última lista de Casagrande. A relação, revista e atualizada por ele, resume-se agora a três nomes: Ricardo, Arnaldinho e o deputado Josias da Vitória (PP). “Foi Renato quem botou meu nome. Eu nunca botei. Já que ele botou, ele tem o direito de tirar (risos). No dia em que eu botar, aí eu posso tirar (risos)”, diz Vidigal.
Mas ele não pretende fazer isso. Não tenciona colocar seu nome para disputar nenhum mandato eletivo – nem a deputado, nem a senador, muito menos a vice-governador. A governador, só se uma vontade geral de seu grupo convergir para seu nome (o que, na minha avaliação, não ocorrerá). Mas ele mesmo não fará esse movimento. “Se todos acharem que eu sou o cara que tem que ir, aí não vou fugir disso. Mas construir isso eu não vou.”
O “grupo” em questão é aquele liderado por Casagrande, a quem Vidigal reafirma sua lealdade. Da entrevista abaixo, saltam duas certezas. A primeira é que o ex-prefeito da Serra e seu PDT estarão no projeto majoritário de Casagrande, apoiando o próprio para o Senado e o candidato ungido por ele para governador. “O PDT está no projeto do Renato. Nosso projeto é o do PSB. Onde estiver o projeto do PSB, nós estaremos juntos.”
A segunda é que Vidigal se sente muito mais à vontade em apoiar Ricardo Ferraço, se for ele o escolhido por Casagrande como seu candidato à sucessão. Quanto a Arnaldinho, o pedetista o elogia (“uma surpresa positiva”), mas pondera que o conhece pouco e precisaria conhecê-lo melhor para poder pedir votos para ele.
O ex-prefeito da Serra também comenta a provável candidatura de seu filho Serginho Vidigal a deputado federal (ele quer que seja pelo PDT) e aquele que hoje considera seu maior desafio eleitoral para 2026. Surpreendendo, também defende algo mais que uma federação entre PDT e PSB.
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À entrevista!
Que avaliação o senhor faz desse processo eleitoral tão avançado no Espírito Santo, neste ponto em que nos encontramos?
Não sei muito bem de onde partiu, mas creio que estamos antecipando um processo com o qual a população ainda não está nem preocupada, até porque a população está passando por muitos problemas, em nível nacional e internacional. Na política econômica, estamos tendo problemas. Então não sei diretamente de onde partiu, mas acho que nós, da classe política, antecipamos demais esse processo. Não eu, porque não participo desse processo de disputa antecipada.
Não foi o próprio governador quem fez isso, já em dezembro do ano passado? Não foi ele quem deu o tiro de largada, precipitando a corrida eleitoral, ao apresentar uma lista de possíveis pré-candidatos à sucessão dentro do grupo liderado por ele, em sua série de entrevistas de fim de ano?
O governador é um agente político. É lógico que o agente político não tem como fugir desse debate político. Mas o que ele tem feito e me chama a atenção é trazer a público os resultados da gestão dele, por sinal muito positivos. Na minha visão, ele faz uma bela gestão, com bons resultados e com um planejamento que creio que será muito exitoso. Mas, como nós da classe política enxergamos que tudo é eleição…
Mas ele chegou a citar, nominalmente, no fim do ano passado, uma relação de possíveis aliados que poderiam ser o candidato a governador do grupo dele…
Acho que ele fez isso baseado no último processo eleitoral, nos resultados que surgiram em 2024 e também naquela visão de que são agentes políticos que têm uma relação próxima e fazem parte do mesmo projeto do governo. Talvez isso o tenha feito citar alguns nomes. O que tenho observado é que ele citou alguns nomes, mas não tem feito nenhum movimento político-eleitoral para nenhum desses nomes.
Nem para o Ricardo?
Acho que, no caso do Ricardo, é natural, porque ele é vice-governador. É natural ele aparecer legitimamente em entregas, por exemplo. O Ricardo não fala como secretário, mas como vice-governador. É natural o Renato colocar o Ricardo para representá-lo em algumas atividades.
O que o senhor está achando dessa “corrida maluca” entre Ricardo, Arnaldinho e Pazolini? Os três hoje, a mais de um ano do período oficial de campanha, parecem numa disputa à parte, para ver quem percorre mais cidades capixabas em menos tempo…
Acho que cada um tem que estar cumprindo o papel para o qual foi eleito ou designado. Se cada um estiver tocando de fato, corretamente, o papel para o qual foi designado pela população, e estiver sobrando tempo para outra atividade, é natural. O que não se pode deixar para segundo plano é aquilo com que cada um se comprometeu no processo eleitoral.
E onde é que o senhor se situa, hoje, nesse cenário rumo a 2026?
Eu me situo como um grande torcedor pelo sucesso do prefeito da Serra [Weverson Meireles], que tenha resultados que atendam às expectativas da população. Queira ou não queira, me sinto corresponsável por esse processo. Como secretário estadual de Desenvolvimento, estou lá numa secretaria que tem um papel importante nessa visão do desenvolvimento econômico do Espírito Santo. Enxergando o cenário da reforma tributária, o Estado precisa se preparar para esse novo momento. As medidas do Trump também preocupam, já que temos no comércio exterior a nossa principal fonte de receita. Estou muito surpreso, positivamente, pela ambiência que o Espírito Santo criou para a atração de novos investimentos e a grande segurança que os empresários têm ao tomar a decisão, o que só foi possível pelos resultados fiscais do governo, pelo equilíbrio e pela melhoria das políticas públicas. Me sinto na responsabilidade de dar o melhor de mim.
O senhor hoje, então, está 100% focado nas tarefas administrativas?
100%.
Pergunto isso porque, de fato, temos observado o senhor discretíssimo do ponto de vista político, sem fazer ou participar de nenhum movimento de cunho eleitoral, enquanto outros potenciais candidatos estão naquela “corrida” já mencionada…
Primeiro que eu acho que o momento não é adequado. A população não está preocupada com processo eleitoral. Nós, políticos, sim, inclusive com muita antecipação e um grau de ansiedade muito grande em relação a isso. Segundo porque acredito que, para o governo de fato colher os frutos numa eleição no ano que vem, o foco agora precisa estar nos resultados.
O senhor se considera um possível candidato a governador?
Se o cenário na época e as forças políticas acharem que eu seja um projeto importante, estou à disposição. Mas não serei candidato por imposição, de forma alguma, até porque acabei de abrir mão de uma eleição na Serra por motivos de ordem pessoal e também por entender que eu poderia ajudar numa renovação segura para a cidade.
Mas o senhor está no projeto eleitoral do governador?
Temos um legado extraordinário do governo do Renato. Eu, que estou na vida pública há um certo tempo, digo que não é fácil construir o que foi construído, mas é muito fácil desconstruir aquilo que está pronto. Então, como cidadão e como agente político, me sinto na obrigação de contribuir para que possamos manter todas as conquistas do governo e gerar expectativas para novas conquistas.
O candidato que o governador escolher como o candidato dele e do governo será, também, o seu candidato?
Sim. Estarei nesse projeto de que estou participando, evidentemente, com aquele que for escolhido.
Então, se o candidato de Casagrande for Ricardo, será ele o seu candidato?
Claro! A minha relação com Ricardo é muito anterior à minha relação com Renato. Não tenho nenhuma dificuldade com ele. Fomos deputados estaduais juntos nos anos 1990. Na minha primeira eleição na Serra, em 1996, o Ricardo, mesmo não sendo eleitor da Serra, me apoiou. Minha relação com Renato começa em 1999, quando ele foi secretário de Meio Ambiente da minha administração na Serra. Eu tinha uma relação com o PSB. Minha vice era a Márcia Lamas.
E se for o Arnaldinho?
Olha, conheço pouco o Arnaldinho. Ele é uma surpresa positiva para a política do Espírito Santo. Estou falando como cidadão e como eleitor. Para eu poder pedir o voto para alguém, preciso estar convencido de que é o melhor.
O senhor precisaria conhecê-lo melhor?
Diria a você que, dos pré-candidatos hoje colocados, o que eu tenho conhecimento mais próximo é o Ricardo. Não posso dizer que amanhã Arnaldinho não será meu candidato, mas hoje, entre os que estão aí, o candidato cujas qualidades eu conheço e reconheço é o Ricardo.
E quanto ao PDT? Onde o partido se situa nesse cenário no Espírito Santo?
O PDT está no projeto do Renato. Nosso projeto é o do PSB. Onde estiver o projeto do PSB, nós estaremos juntos.
A propósito, o senhor apoia a ideia da federação do PDT com o PSB? Acha que ainda pode se concretizar? Há dificuldades regionais…
Acho que o PSB e o PDT têm as mesmas bandeiras e têm muita identidade. O PDT tem as bandeiras da educação, do trabalhismo, da redução das desigualdades. Eu sou um defensor da federação. Vou além: sou defensor da fusão. As diferenças locais deveriam ser colocadas em segundo plano, mas infelizmente, na política, a vaidade de alguns ultrapassa o espírito público com o qual a política foi criada.
Como membro do projeto eleitoral liderado por Casagrande, o senhor está à disposição para ser candidato a vice-governador, em eventual chapa encabeçada por Ricardo?
Acho que o PDT pode discutir a vice. Particularmente, não está no meu cenário esse projeto. De ordem pessoal, não passa pela minha cabeça. Eu preciso ser convencido de que isso seja bom para o Espírito Santo. Não sei como poderia contribuir nesse papel.
Qual será o peso da Serra na próxima eleição a governador?
Uma coisa importante é que você tem dois tipos de aliados: tem o aliado que é para subir e descer ladeira e tem o aliado que é de conveniência mútua. Nós nos enquadramos num aliado que é de subir e descer ladeira. Eu te digo que o lugar em que o governador não precisa se preocupar muito em ter um parceiro no processo é o município da Serra. A nossa tarefa neste momento é o município continuar fazendo entregas para que a gente possa ser, entre aspas, um bom “cabo eleitoral” no projeto.
O eleitorado da Serra pode decidir o próximo pleito?
Não pode ser desconsiderado. Representa mais de 15% do eleitorado capixaba.
Como dito, em dezembro, o governador apresentou, em entrevistas, uma lista de quatro possíveis candidatos a governador pelo grupo dele. O senhor constava. Depois, ele ampliou a lista para seis nomes. O seu nome constava. Na semana passada, ele enxugou essa lista para três nomes: Ricardo, Arnaldinho e o deputado Da Vitória. Como o senhor recebe essa “exclusão” da lista?
Recebo com muito respeito a posição do governador. Em relação à minha “exclusão”, eu nunca me apresentei como um pré-candidato. Fui citado algumas vezes assim. Nas pesquisas feitas aí, não sei se têm muito valor agora ou não, minha pontuação aparece sempre entre os três primeiros. Quem comanda essa questão é o governador, lógico. Meu nome foi ele quem botou. Eu nunca botei. Já que ele botou, ele tem o direito de tirar (risos). No dia em que eu botar, aí eu posso tirar (risos).
E o senhor pretende?
Hoje, na posição em que estou, pretendo contribuir como secretário de Desenvolvimento, pretendo contribuir com a continuidade dos avanços na Serra e pretendo ajudar na construção das chapas proporcionais do meu partido, o PDT.
E pretende disputar algum mandato eletivo no ano que vem?
Proporcional, nenhum.
Algum mandato majoritário?
Lembra que eu te disse uma vez que meu trabalho era o de encerrar um ciclo na minha vida? Na verdade, eu não descartei isso. Falei que só toparia outro projeto se fosse de governo, todo mundo junto. Se todos acharem que eu sou o cara que tem que ir, aí não vou fugir disso. Mas construir isso eu não vou.
Para senador não, né?
Para senador, acho que Renato já representa o campo que eu represento. Para ajudar na eleição majoritária, nós teríamos que buscar um outro quadro, que venha a somar para a majoritária nesse projeto.
O senhor quer que o seu filho Serginho Vidigal seja mesmo candidato a deputado federal?
Não incentivo meus filhos a serem candidatos a nada. Se for um projeto que de fato vai contribuir para a sociedade, é lógico que não vou me negar a ajudá-lo, com minhas limitações.
Comenta-se que ele pode ser candidato pelo PSB. O senhor apoia isso?
Só se ele decidir que o PDT não é um bom lugar. Sou PDT. Se você me perguntar onde quero que os candidatos que vamos apoiar disputem, é o PDT. Hoje o cenário mostra que o PDT não terá candidato majoritário. Mas, nas eleições proporcionais, teremos candidatos a deputado estadual e federal.
Com Serginho na chapa, o PDT consegue fazer um federal?
Tem que construir chapa. Em 2022, a Sueli ficou entre os candidatos mais votados, mas não conseguiu se eleger. Nosso primeiro dever é este: construir uma chapa que nos dê a perspectiva de fazer até mais de uma vaga, para as pessoas se animarem a disputar. Esse é meu maior desafio agora.
