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Coluna Vitor Vogas

O surfe político praticado por Weverson e Vidigal em busca do ouro eleitoral

A convenção do PDT da Serra realizada ontem à noite não serviu só para confirmar a candidatura do afilhado político de Vidigal a prefeito. Também desnudou a estratégia com a qual os dois esperam alcançar uma difícil vitória nas urnas

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Weverson Meireles e Sergio Vidigal na convenção do PDT na Serra. Foto: Samuel Chahoud

Weverson Meireles e Sergio Vidigal na convenção do PDT na Serra. Foto: Samuel Chahoud

Na noite dessa segunda-feira (5), enquanto a convenção do PDT da Serra era realizada, Tatiana Weston-Webb e Gabriel Medina conquistavam as medalhas de prata e de bronze, respectivamente, no surfe olímpico.

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Numa das muitas ações de marketing eleitoral da pré-campanha, Weverson Meireles chegou a fazer uma primeira “aula de surfe”, em Jacaraípe, com ninguém menos que Serginho Vidigal, filho mais novo do atual prefeito e seu padrinho político. O resultado foi postado no Instagram.

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Na convenção, que atraiu um “mar de gente” – expressão usada pelo próprio Weverson –, ninguém foi “entubado”, e a prometida tsunami de surpresas e emoções virou marola: houve apenas a confirmação oficial de que o candidato do PDT, com o apoio de Sergio Vidigal, é mesmo Weverson.

Além disso, reforçou-se a estratégia de Weverson para conseguir se eleger prefeito: seguir surfando na popularidade de Vidigal junto à população serrana. O candidato é Weverson, mas, no circuito eleitoral da Serra, essa prova será disputada em dupla.

Weverson Meireles surfando em Jacaraípe com Serginho Vidigal. Reprodução Instagram

Weverson Meireles surfando em Jacaraípe com Serginho Vidigal. Reprodução Instagram

A “prova”, aliás, está sendo tratada por eles não como surfe, mas corrida de revezamento. A expressão “passagem de bastão” foi usada mais de uma vez por Weverson e também por Vidigal. “Ele me cobra coragem e me passa o bastão da maior cidade do Espírito Santo”, discursou o primeiro.

Nos discursos de ambos e no texto de um vídeo exibido no telão, ficou muito evidente a decisão de aprofundar a estratégia inaugurada lá no dia 16 de março, quando, em outro grande evento político, Vidigal anunciou ao público a sua dupla decisão de não ser candidato e de lançar Weverson, seu então chefe de gabinete, para concorrer à sua sucessão: martelar a ideia de necessidade de iniciar um “novo ciclo de desenvolvimento e prosperidade na Serra” e de “renovar a política” do município, mas com capacidade, segurança e “responsabilidade”.

A síntese da estratégia é apresentar ao eleitorado uma combinação de experiência, serenidade e sabedoria (predicativos associados pela campanha a Vidigal) com juventude, inovação e modernidade (virtudes atribuídas a Weverson); fundir, portanto, atributos de um e do outro, para transmitir à população a ideia de “sequência com responsabilidade”, “passagem de bastão com segurança”.

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Parafraseando Lavoisier (“na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”), o locutor do vídeo defendeu a “fusão de experiência e serenidade com juventude e inovação”: “É na fusão desses dois mundos que vamos encontrar as soluções mais brilhantes, as respostas mais surpreendentes e os avanços mais significativos. Nada de fato termina. Tudo apenas recomeça de um jeito novo, uma nova forma de caminhar em direção a uma nova Serra”.

Vidigal, por sua vez, afirmou: “É preciso ter humildade para reconhecer que as novas lideranças trazem energia renovada e soluções modernas para velhos problemas. […] Weverson é um bom administrador e um homem de bom coração. E o meu coração está me dizendo que eu fiz a melhor escolha: Weverson está preparado para ser o meu sucessor”.

Weverson, a propósito, cansou-se de falar em “sequência” – palavra mais repetida por ele, ao lado de “amor”. “Vamos responder ao ódio com amor. […] É disseminando amor por esta cidade que vamos dar sequência a este trabalho”, discursou o afilhado político de Vidigal, chamado por ele de “filho do coração” e agora com a candidatura homologada pelo PDT.

“Com muita coragem, o compromisso que fiz com Vidigal foi pela renovação de, sim, darmos sequência a todas essas conquistas, mas juntos inaugurarmos um novo ciclo de prosperidade na Serra”, também discursou Weverson, para uma numerosa militância que, em grande parte, não escondeu a frustração da esperança de que o candidato fosse Vidigal.

A justificativa de Vidigal para renunciar a disputar um quinto mandato, mesmo estando habilitado para isso, foi a mesma exposta por ele desde o início, no dia 16 de março: a situação de saúde da esposa, Sueli Vidigal (PDT), que enfrentou recentemente um câncer no rosto, e a vontade de passar a dedicar mais tempo à família. Nesse sentido, Weverson propôs uma “reflexão” à plateia:

“Qual político vocês conhecem que, muito bem avaliado, com pesquisas mostrando que estaria reeleito em primeiro turno, abdica de tudo isso por amor à sua família? Esse é o tamanho da grandeza desse homem que mudou a história da Serra. Mais uma vez, Sergio Vidigal nos demonstra, com amor, com empatia, com muito amor por sua família, o que é verdadeiramente sermos seres humanos, o que é amar ao próximo.” Exagerando, a criatura chamou o criador de “maior prefeito da história do Brasil”.

O teatro de Vidigal e Weverson

A própria convenção do PDT alimentou até o último momento o suspense sobre uma possível reviravolta. A dúvida de que Vidigal poderia assumir a candidatura foi mantida no ar pela equipe de marketing do prefeito em cada detalhe da organização do evento, do convite para a convenção (prometendo “emoções e surpresas”) às falas dos mestres de cerimônia e de quase todos que subiram ao palanque para discursar antes dos dois.

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Quem foi à convenção acreditando piamente no convite e esperando “grandes surpresas” saiu de lá decepcionado. Nesse aspecto, prometeram muito. Não entregaram nada.

No decorrer da convenção, os dois mestres de cerimônia exclamavam frases como “O suspense está no ar!”. “Será que é Vidigal? Será que é o Weverson? Quem vai dar início ao novo ciclo de desenvolvimento da Serra? Esse desfecho sai hoje!”

Alguns dos muitos aliados políticos a discursar antes da dupla também potencializaram a confusão – alguns na certa de maneira intencional, contribuindo com a estratégia e o espetáculo, mas alguns aparentemente confusos de verdade.

“Assim como vocês, eu também estou cheio de expectativa pra ouvir aquilo que o nosso prefeito Sergio Vidigal vai nos indicar na noite desta segunda-feira”, discursou o vice-governador Ricardo Ferraço, presidente estadual do MDB.

“Eu não estou entendendo ainda, Sergio, a escolha. O meu prefeito eu tenho certeza absoluta que é o 12 [número de urna do PDT]. Mas quem tem que anunciar é o Sergio!”, disse ao público o ex-deputado estadual Luiz Carlos Moreira, presidente do MDB na Serra.

“Tenho certeza da sua capacidade, da sua competência e do seu potencial”, disse a presidente estadual da Rede, Laís Garcia, para Weverson, completando: “Quer dizer, agora nem sei mais se vamos ou não passar o bastão… Mas, se forem os dois, vai ser muito bom!”

No fim das contas, tudo se provou um teatro desnecessário, uma grande encenação que jogou com as emoções e as expectativas do numeroso fã-clube de Vidigal (a palavra é mesmo essa). Muitos (e muitas) não disfarçaram a decepção ante a confirmação da candidatura de Weverson. E o auditório seguiu lotado, mas alguns foram embora antes do fim do discurso do verdadeiro candidato.

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A justificativa do prefeito

Vidigal justificou a estratégia como uma forma de proteger o projeto e a candidatura de Weverson de investidas de adversários, inclusive no campo jurídico: “Não houve suspense. Foi uma medida para que a gente pudesse proteger o nosso projeto”. (Como não houve “suspense”?!? Os próprios mestres de cerimônia repetiam, minutos antes, “o suspense está no ar”…)

Sem citar diretamente seu arqui-inimigo político – o ex-prefeito Audifax Barcelos (PP), adversário agora de Weverson –, mas fazendo pontaria nele, Vidigal fez menção a uma série de ações judiciais movidas contra ele. Segundo o prefeito, alimentar a dúvida foi uma forma de impedir que Weverson começasse a ser vítima de ataques inclusive na Justiça por parte do adversário. “Antes fosse meu inimigo, mas [isso é feito] por aquele que ceava comigo e dormia comigo na minha casa. Então, quis fazer essa proteção.”

Apesar da estratégia de manter o suspense até o limite a fim de confundir os adversários, Vidigal afirmou que “não poderia, em hipótese alguma, tomar uma decisão que não fosse essa”, até por uma questão de coerência e manutenção da própria palavra, algo que, segundo ele, falta a grande parte dos políticos, mas é uma marca do PDT:

“Muitos diziam: ‘Ele é político. Está fazendo uma coisa agora e vai fazer outra depois’. É verdade: algumas dessas pessoas denegriram a classe das pessoas que estão na vida pública. Mas o PDT tem uma qualidade: o PDT diz uma coisa de manhã e, de noite, diz a mesma coisa. Não importa se a caminhada será mais dura. O importante é a certeza da vitória no final da caminhada”.

Vidigal defendeu que é preciso renovar a política da Serra e iniciar um novo ciclo, mas de modo seguro e responsável, fundindo juventude e inovação com experiência, sabedoria e competência:

“A qualquer momento era preciso isso acontecer. E antes acontecer com alguém capaz, qualificado, em condições de governar, do que algum desses que aparecem aí querendo governar sem a menor qualificação”, disse o prefeito, emendando que a Serra não pode cair nas mãos de “aventureiros”. Aí a indireta foi para outro grande adversário de Weverson, o deputado estadual Pablo Muribeca (Republicanos).

Vidigal chamou Weverson de “filho do coração”. Dirigindo-se ao verdadeiro pai do seu pupilo, nas primeiras fileiras, o prefeito declarou: “Ele não é meu filho biológico. Mas pode ter certeza que, de coração, ele é o meu terceiro filho”.

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O público

Realizada em um grande cerimonial no bairro Chácara Parreiral, a convenção do PDT na Serra atraiu um público enorme. Os organizadores falaram em cerca de 12 mil pessoas (número certamente superestimado). Mas tinha muita gente mesmo.

A coligação de Weverson

Por ora, Weverson vai para a disputa à frente de uma coligação formada por PDT, PSB, Podemos, União Brasil e pela federação composta por Rede Sustentabilidade e PSol. Eles ainda buscam o apoio da federação PSDB/Cidadania.

Autoridades presentes

O governador Renato Casagrande (PSB) gravou uma mensagem de apoio a Weverson, exibida no telão.

Presentes estiveram o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB); a secretária estadual de Governo, Emanuela Pedroso (Podemos), representando o Palácio Anchieta; o secretário estadual de Meio Ambiente, Felipe Rigoni (União Brasil); o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Bruno Lamas (PSB); a diretora-geral da Esesp, Laís Garcia (Rede); e os deputados estaduais Alexandre Xambinho (Podemos), Zé Esmeraldo (PDT), Adilson Espindula (PSD) e Fabrício Gandini (PSD).

Em tempo: na Serra, o PSD de Adilson e Gandini apoia Pablo Muribeca (Republicanos). Comparecendo à convenção de Weverson, os dois, notadamente Gandini, dão um indicativo de que podem subir em palanques diferentes daqueles do próprio partido em alguns municípios.

Candidata a vice

O favoritismo na indicação da candidata a vice-prefeita (deve ser uma mulher) na chapa de Weverson é do MDB e do Podemos. O PSB de Casagrande indicou a ex-vice-prefeita Márcia Lamas.

O MDB indicou a delegada Gracimeri Gaviorno.

Após a convenção, Weverson declarou à imprensa que esses e outros nomes estão sendo considerados por ele e seu comitê político.


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