fbpx

Coluna Vitor Vogas

Análise: próximo governador do ES tem tudo para ser de direita

Onda conservadora, sucesso da direita moderada nas eleições municipais e pré-lista de potenciais candidatos indicam que tabu histórico nunca teve tantas chances de ser quebrado como em 2026

Publicado

em

De Camata (1982) a Casagrande (2020), os capixabas jamais elegeram um governador declaradamente de direita, desde o início do processo de redemocratização do Brasil. Jamais. Ao que tudo indica, esse tabu histórico tem altíssima probabilidade de ser quebrado em 2026, considerando o somatório de alguns fatores. Entre eles, a onda conservadora que bateu com força nas urnas do Brasil e de modo específico nas do Espírito Santo este ano, bem como os nomes hoje identificáveis como potenciais candidatos a governador na sucessão de Casagrande.

> Quer receber as principais notícias do ES360 no WhatsApp? Clique aqui e entre na nossa comunidade!

Por ordem alfabética: Arnaldinho Borgo (Podemos), Evair de Melo (PP), Euclério Sampaio (MDB), Gilson Daniel (Podemos), Lorenzo Pazolini (Republicanos), Josias da Vitória (PP), Ricardo Ferraço (MDB)… Todos são políticos posicionados do centro para a direita.

Receba as notícias da coluna no grupo de Whatsapp do Vítor Vogas.

Fora desse bolo, o que temos hoje? O PL de Magno Malta, é claro, poderá se animar a lançar o seu próprio candidato ao Palácio. Será, por óbvio, um candidato de direita.

Na outra ponta, dependendo da conjuntura nacional, dos acordos a serem firmados com os muitos partidos da coalizão do governo Lula e da eventual necessidade de erguer um palanque próprio para o atual presidente no ES, o PT também poderá lançar um candidato a governador do Estado (Contarato ou Helder Salomão).

Dada a forte onda antipetista que invadiu a areia até o calçadão e tão cedo não recuará para o mar no litoral capixaba (como demonstrou vivamente o último pleito municipal), esse possível candidato petista terá chances limitadas de vitória. São muito remotas as chances de o próximo governador do ES vir do PT, o que só reforça a nossa premissa maior de que muito dificilmente será um representante da esquerda.

Já o PSB de Casagrande foi relativamente bem nas eleições municipais no ES, dependendo do ponto de vista: fez 21 prefeitos, mas todos em cidades de tímido porte, e não vai governar nem 10% da população nos municípios capixabas a partir de 2025; nas maiores cidades, o partido do governador priorizou a aliança e a reeleição de aliados estratégicos justamente no campo da centro-direita (como Arnaldinho em Vila Velha e Euclério em Cariacica), já pensando justamente na sobrevivência do partido e do grupo liderado por Casagrande em 2026.

O PSB simplesmente não tem nenhum “sucessor natural” para o governador, e dificilmente terá. O partido e o próprio governador se verão forçados a compor uma ampla aliança, já defendida de público por Casagrande em entrevista recente a esta coluna, com partidos conservadores e de centro-direita; possivelmente terão de apoiar um candidato a governador desse campo, pensando inclusive na sobrevivência política do próprio Casagrande.

Se ele for candidato ao Senado, vai precisar (e muito), em contrapartida, do apoio dessas forças de centro-direita na mesma coligação majoritária, mesmo porque, por melhor avaliado que chegue ao último ano de governo, Casagrande não terá uma eleição fácil nem “dada” ao Senado. Mesmo havendo duas vagas em disputa, aí sim os “extremos” (PL e PT) tendem a vir muito fortes, espremendo, um de cada lado, candidatos mais ao centro como é o atual governador.

Como nenhuma outra, a disputa ao Senado pode ser contaminada por debates ideológicos, morais, religiosos etc., talvez mais até que a eleição presidencial. Para garantir uma das duas vagas numa disputa específica em que ideologias podem, sim, gritar mais alto, Casagrande precisará de toda a ajuda e de uma coligação a mais ampla possível, de preferência mantendo os partidos que já estão em sua coalizão de governo e quem sabe até agregando outras forças conservadoras (vide a super “cantada” que ele deu no Republicanos, na mesma entrevista à coluna).

Desse modo, a menos que até lá surja uma grande surpresa no campo da centro-esquerda, o próximo governador do ES muito provavelmente virá do hemisfério direito do nosso mapa político-ideológico. Hoje, pode-se buscar, buscar… espremer bem a cuca, em vão: simplesmente não existe um só potencial candidato a governador do ES que represente o campo progressista e que possa efetivamente ser considerado competitivo (exceto, talvez, o personagem da próxima nota).

A direita já pode esfregar as mãos.

Sérgio Vidigal

A preços de hoje, o único líder de centro-esquerda do Espírito Santo que parece capaz de “aprontar” em 2026 e contrariar a tendência de predomínio da direita na eleição para o Palácio Anchieta chama-se Sérgio Vidigal.

Como já destacado aqui, ao lograr a façanha política, sem precedentes no Espírito Santo, de sair de cena por cima (mesmo podendo disputar a reeleição) para eleger seu sucessor na Serra, Vidigal pode ser considerado o maior vencedor das últimas eleições municipais no Espírito Santo. Sem ter recebido um só voto nominalmente, mas exitoso na operação de transferir seus votos para Weverson, o prefeito “saiu das urnas” com o capital político renovado e turbinado.

O prefeito da Serra tem tudo para ser um player importante em 2026. Em entrevista à rádio CBN na última terça-feira (29), afirmou que não pensa em voltar para a atividade política após o atual mandato e que seu candidato a governador em 2026 é o vice-governador Ricardo Ferraço (MDB). Surpresa seria se ele dissesse algo diferente disso. Todos os aliados de Casagrande, daqui para a frente, devem começar a tratar Ricardo como o candidato natural à sucessão – até porque, se o governador postular mesmo uma cadeira no Senado, o vice assumirá no lugar dele em abril de 2026.

Atenção a outros dois fatores

Não se pode perder de vista o peso que a próxima disputa nacional, que também começa a se desenhar a partir das eleições municipais encerradas no domingo, terá na definição dos acordos e dos palanques estaduais. A eleição presidencial deve ter grande influência nos estados. É preciso observar, por exemplo, como se comportará a economia brasileira nos próximos dois anos.

É preciso, ainda, prestar muita atenção ao peso e ao papel que poderá ser jogado pelo ex-governador Paulo Hartung (sem partido) – cuja presença ainda é forte no imaginário do eleitorado capixaba –, seja como candidato, seja apoiando algum grupo.

Casagrande e seu aceno à centro-direita

Na entrevista concedida a este espaço na última segunda-feira (28), a declaração exata de Casagrande foi:

“Os partidos conservadores se fortaleceram no Brasil e no Espírito Santo. Isso é uma realidade. Aqui no Espírito Santo, nós já temos uma cultura de amplas alianças formadas por partidos de centro-esquerda, de centro-direita e até conservadores. Isso já tem se mostrado uma estratégia eficiente e tem dado certo na política capixaba. Já temos feito isso antes dessa expressiva maioria de votos dos partidos conservadores. Está claro que tem de ser esse o caminho para o futuro. Temos de ter capacidade de dialogar com todas as forças, para que possamos fazer alianças mais amplas.”

Exatamente por depender da centro-direita (incluindo partidos do Centrão e conservadores) para construir uma boa coligação em 2026, Casagrande não tem o menor interesse em se afastar do PP, muito menos em romper com o partido de Da Vitória – independentemente do apoio do PP a Pazolini (Republicanos) em Vitória. O governador segue considerando o PP como um partido aliado e, no que depender dele, assim permanecerá.

Há quem acredite, inclusive, que o PP pode desempenhar um papel importante em uma construção futura, operando como uma ponte política, hoje inexistente, entre Pazolini (Prefeitura de Vitória) e Casagrande (Governo do Estado). Afinal, tem um pé em cada lado.

No que se refere ao Republicanos, não interessa em nada a Casagrande bater de frente com Pazolini ou acirrar animosidades com o prefeito e com o partido dele. Convém-lhe muito mais algum tipo de aproximação política ou, no mínimo, um acordo de não beligerância, uma coexistência pacífica até 2026.

Não por acaso, na entrevista à coluna, Casagrande também mandou o seu “recadão” para o partido presidido no Espírito Santo pelo ex-deputado Erick Musso:

“Partidos da minha base tiveram vitórias importantes: o PSB, o MDB, o PP, o Podemos, o União… O próprio Republicanos, que tem projeto político diferente em algum outro local, mas posso dizer que praticamente todos eles são aliados”.

Retrospectiva histórica

De 1982, ano da primeira eleição direta para governador nos estados durante a ditadura civil-militar, até 2022, os capixabas elegeram, nesta ordem:

. Gerson Camata (PMDB), em 1982

. Max Mauro (PMDB), em 1986

. Albuíno Azeredo (PDT), em 1990

. Vitor Buaiz (PT), em 1994

. José Ignácio Ferreira (PSDB), em 1998

. Paulo Hartung (PSB), em 2002

. Paulo Hartung (PMDB), em 2006

. Renato Casagrande (PSB), em 2010

. Paulo Hartung (PMDB), em 2014

. Renato Casagrande (PSB), em 2018

. Renato Casagrande (PSB), em 2022

Foram onze eleições diretas, pelo voto popular. Não se elegeu nenhum governador declaradamente de direita. Sublinhamos o advérbio, como no primeiro parágrafo, porque nossa constatação pode gerar questionamentos. Um ou outro nome, de fato, dá margem a discussões quanto a seu real perfil ou identidade ideológica. Gerson Camata é um caso claro.

Conservador até a última célula do corpo, interiorano, descendente de italianos e guindado para o sucesso político a partir da popularidade adquirida como radialista, Camata, sem dúvida, tinha muito de direita em seu DNA político. Talvez se fosse hoje, declarar-se-ia tranquilamente um homem de direita. Em vida, ele nunca se declarou assim – até porque chegou ao governo e depois ao Senado pelo PMDB, o partido de oposição à ditadura.

Max Mauro, Albuíno e Vitor foram, seguramente, governadores de esquerda. José Ignácio governou pelo PSDB, partido social-democrata (à época muito mais identificado com a centro-esquerda), após ter feito uma carreira de oposição à ditadura pelo MDB.

Hartung elegeu-se em 2002 pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), após despontar para a política no movimento estudantil e no clandestino Partido Comunista Brasileiro (PCB), passar pela Assembleia no PMDB, e por Câmara dos Deputados, Prefeitura de Vitória e Senado no PSDB.

Seus dois outros governos (2007-2010 e 2015-2018), Hartung exerceu-os pelo PMDB, que virou sinônimo de centro político no país. Pode-se argumentar que, em seu último mandato, sobretudo nas áreas econômica e fiscal, Hartung fez uma inflexão forte a um liberalismo muito mais simpático à direita. É verdade. O ex-governador, porém, jamais se identificou assim, como um homem de direita.

Quanto a Casagrande, como já ponderamos aqui, dentro do vasto domínio considerado “progressista”, ele está situado quase ali na divisa com o centro. É, pessoalmente, muito mais um social-democrata, pragmático até o último fio de cabelo ruivo, do que propriamente um “socialista”.

Sua ampla coalizão, ainda mais nesse terceiro governo, abriga inúmeras forças de direita (começando por seu vice, Ricardo, e passando por PP, União Brasil, entre outros), além de políticas e diretrizes mais identificadas com a direita (Rigoni no Meio Ambiente, Ricardo no Desenvolvimento, uma política fiscal austera que pouco difere daquela exercitada por Hartung).

Na última eleição presidencial, apoiou timidamente Lula (PT), mas aceitou de bom grado (e, discretamente, encorajou) o “voto Casanaro”. Apesar de todos esses indícios, se você lhe perguntar “direita ou esquerda?”, ele, fora do período eleitoral, não titubeará em assinalar a segunda opção.

Sem falar que também tem origens no movimento estudantil de esquerda contra a ditadura, no PCdoB e no MDB, onde teve passagens curtas antes de aportar no PSB. Filiado desde 1987, é um quadro orgânico do PSB e um dos maiores líderes remanescentes do partido que, no país, obteve os melhores resultados entre as forças de esquerda nas últimas eleições municipais.


Valorizamos sua opinião! Queremos tornar nosso portal ainda melhor para você. Por favor, dedique alguns minutos para responder à nossa pesquisa de satisfação. Sua opinião é importante. Clique aqui