Coluna Vitor Vogas
Vidigal dá um chapéu em todos e é o grande vencedor da eleição no ES
Aqui analisamos o porquê, resgatando ponto a ponto a exitosa estratégia que levou prefeito e sua equipe a lograr um feito político sem precedentes no Estado
Estas eleições municipais no Espírito Santo têm alguns incontestáveis vencedores. Podemos citar o prefeito Arnaldinho Borgo (Podemos), reeleito em Vila Velha com quase 80% dos votos válidos e a preferência de quase 200 mil eleitores (a maior, em números absolutos, entre todos os candidatos no Estado); o prefeito Lorenzo Pazolini (Republicanos), reeleito no 1º turno em Vitória, derrotando o Governo Estadual; o prefeito Euclério Sampaio (MDB), reeleito em Cariacica com a incrível marca de quase 90% dos votos válidos; e o prefeito de Viana, Wanderson Bueno (Podemos), o campeão de votos válidos no ES e um dos maiores do país, com mais de 90%.
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Mas o detentor do título de “Maior Vencedor destas Eleições no Espírito Santo” não é nenhum dos prefeitos acima: nem Arnaldinho nem Pazolini nem Euclério nem Wanderson Bueno… Aliás, nem sequer foi candidato. Também é prefeito na Grande Vitória, mas abdicou de concorrer. O merecedor do epíteto de “grande vencedor deste processo” chama-se Antônio Sérgio Alves Vidigal (PDT).
Ao assistir à consagração nas urnas de seu pupilo, Weverson Meireles (PDT), neste domingo (27), com 60,48% dos votos válidos, Vidigal deu um “chapelão” em todo mundo – imprensa, meio político e, acima de tudo, adversários – e logrou um feito único, nunca antes alcançado por nenhum líder político na história deste estado, em uma cidade de grande porte: podendo disputar mais um mandato, simplesmente abriu mão de fazê-lo, para, em vez disso, tentar eleger um sucessor tirado da sua cartola política… E, contra todas as expectativas, conseguiu!
Era uma missão bem improvável, principalmente considerando o nome escolhido pelo prefeito: aos 33 anos, Weverson Meireles saiu praticamente do “nada” – a não ser da mente política de Vidigal e de sua marqueteira, Jane Mary Abreu. Já tinha, é certo, alguma experiência como dirigente partidário e passagens por cargos na administração pública, sempre assessorando Vidigal ou sendo indicado por ele (chefe de gabinete do prefeito, um ano à frente da Secretaria de Estado do Turismo na cota de Vidigal com Casagrande, e por aí vai…).
Seguindo os passos de Vidigal desde os 12 anos de idade, Weverson conquistou a sua inteira confiança e se estabeleceu como braço direito do prefeito na condução do PDT na Serra e no Espírito Santo. Bem, isso é uma coisa. Outra coisa é viabilidade eleitoral.
A proximidade e a lealdade de Weverson a Vidigal eram inversamente proporcionais ao recall político do candidato, quando ele ingressou nessa jornada. O ex-chefe de gabinete do prefeito nunca tinha se candidato nem a síndico de condomínio (seja em Tabuazeiro, seja em Jacaraípe). O ungido por Vidigal até então era praticamente um famoso “quem?”, um ilustre desconhecido para o povo serrano.
Eles souberam usar isso a favor da candidatura. Quem parte com quase nenhum recall também larga sem nenhuma rejeição. E é uma argila crua a ser moldada, inclusive na cabeça das pessoas. Um produto que pode ser apresentado e construído ao longo da campanha, na direção que se quiser conduzir…
Vidigal e Jane Mary Abreu (outra vitoriosa neste processo) souberam, com sucesso, construir e “vender” esse “novo produto político” ao povo serrano, com o discurso da “renovação segura”, do “equilíbrio emocional com capacidade de gestão”, “da consolidação das conquistas em busca de novos avanços”, “do início de um novo ciclo com os pés calçados nos últimos anos de desenvolvimento”.
Acima de tudo, o que “colou” foi a mensagem de fusão da “juventude” e da “renovação” (representadas pelo próprio candidato) com a “experiência” e a “segurança” (personificadas por Vidigal). O prefeito foi o fiador, o padrinho e o patrono da candidatura, sempre ao lado de Weverson, em cada passo da odisseia desde a pré-campanha, como que a dar lastro à candidatura do seu garoto, a quem, segundo palavras do próprio prefeito, ele considera como um filho…
Devidamente destacada aqui, essa “fusão” foi colocada em prática desde o Dia 1 desse processo, o grande ato inaugural da pré-campanha, num evento apoteótico convocado pelo casal Vidigal. No dia 16 de março, Sérgio e Sueli lotaram um cerimonial na Serra para um duplo anúncio público que mudaria a história deste pleito.
Na oportunidade, Vidigal declarou aos seguidores, muitos deles fanáticos e levados às lágrimas pelo anúncio, que não seria candidato à reeleição. Em seu lugar, lançou Weverson Meireles, que ali fez seu début eleitoral e seu primeiro discurso na condição de pré-candidato de Vidigal, sendo assim apresentado pelo prefeito.
A justificativa oficial do casal Vidigal para isso foi a condição da primeira-dama, a ex-deputada federal Sueli Vidigal, em recuperação de um câncer no rosto. Aos 67 anos, após quatro mandatos de prefeito e mais de 30 anos emendando cargos eletivos quase sem interrupção, Vidigal alegou querer passar mais tempo com a família.
O anúncio foi feito, ok, mas não sem grande desconfiança. Teria sido o Doutor Sérgio, psiquiatra respeitado, acometido por loucura política? Seria caso de insanidade?
Não faltaram suspeitas e considerações, inclusive neste espaço, de que tudo poderia não passar de um grande blefe, uma cortina de fumaça erguida estrategicamente por Vidigal a fim de despistar adversários. Enquanto confundiria opositores sobre quem seria de fato o candidato, ele ficaria muito mais imune a ataques… Na hora H, contudo, mandaria Weverson recuar e assumiria a própria candidatura à reeleição. Mas não, não se tratava de um blefe.
É verdade que, no QG de Vidigal, a hipótese de “troca na cabeça da chapa” chegou a ser cultivada, mas nunca foi a preferida de Vidigal. Sua prioridade sempre foi, de fato, emplacar Weverson. Mas isso dependeria de um crescimento sustentável do pupilo nos meses que os separaram do período oficial de campanha, entre o pré-lançamento em março e a convenção do PDT, no início de agosto.
> Weverson promete continuidade à frente da Serra
Para que o plano pudesse ser mantido e Vidigal não precisasse voltar atrás e se tornar o candidato, era forçoso que Weverson se provasse minimamente competitivo: na prática, precisava chegar perto de dois dígitos em princípios de agosto… Para isso, nesse intervalo de quatro meses, a equipe de Vidigal pôs em prática a operação “tornar Weverson conhecido”.
A operação pressupôs, basicamente, um banho de povo e uma superexposição do pré-candidato, levado a tiracolo por Vidigal para cima e para baixo, aonde quer que ele fosse. Começou aí, é verdade, a prática de excessos que ultrapassaram limites legais e que dariam muito trabalho à Justiça Eleitoral até a véspera do 2º turno, com uso maciço (e, não raro, abusivo) da máquina pública municipal em favor do pedetista.
Cada um joga com as armas que tem, e a Justiça está aí para coibir e punir os excessos…
Fato é que a estratégia deu certo, robustecida por um apoio ainda mais pesado politicamente: ao lado de Vidigal, o governador Renato Casagrande (PSB) entrou pessoalmente, e de cabeça, desde o 1º turno, na campanha de Weverson.
“Foguete não dá ré…”
Como o próprio Casagrande chegou a discursar em sua primeira atividade de rua ao lado de Weverson no 1º turno, “foguete não dá ré”. E foi mesmo isso que virou a candidatura do pedetista: um foguete que partiu do nada e que não parou de subir até o fim, comandado por um engenheiro político da Nasa chamado Sérgio Vidigal e por uma estrategista de marketing chamada Jane Mary Abreu. A base da Nasa, em Houston, foi transferida para Serra Sede.
Todas as pesquisas eleitorais, do início ao fim, provam essa rota ascendente ininterrupta de Weverson.
Publicada no começo de maio, a primeira sondagem da série da Futura para a Rede Vitória – com entrevistas realizadas em abril, logo após o lançamento de Weverson – trazia o pupilo de Vidigal com apenas 0,9% de menções na espontânea e 1,9% de intenções de voto no principal cenário estimulado.
No dia 20 de agosto, a Futura publicou a segunda pesquisa de sua série para a Rede Vitória. Correndo por fora, Weverson registrou 8% – aumento proporcionalmente expressivo para quem não tinha nem 2% quatro meses antes. Era um primeiro lampejo de esperança, um primeiro espasmo muscular.
No dia 2 de setembro, com a campanha oficialmente deflagrada, inclusive no rádio, pesquisa do Ipec para a Rede Gazeta comprovou a trajetória de crescimento do pedetista. Na estimulada, Audifax obteve 39%; Muribeca, 28%; Weverson, 14%. O candidato de Vidigal ainda estava muito atrás, mas havia definitivamente entrado no radar eleitoral na Serra.
Em meados de setembro, veio a terceira pesquisa da série da Futura para a Rede Vitória. Aquele Weverson que, na estimulada, tinha menos de 2% na Futura de abril, que tinha 8% na Futura de agosto, que tinha 14% no Ipec do início de setembro, já despontava, então, com 18%, tecnicamente empatado com Muribeca.
Na véspera do 2º turno, dia 5 de outubro, os levantamentos já mostravam Weverson numericamente à frente de Muribeca, em segundo lugar. No domingo do 1º turno (6), o candidato do PDT chegou atropelando e embasbacando o meio político capixaba. Chegando em primeiro lugar com quase 40% dos votos válidos, deixou Muribeca em segundo, com 25%, e Audifax fora do páreo.
Ao longo das três semanas de 2º turno, a disputa com Muribeca, marcada por muita controvérsia, foi um jogo administrado.
Não obstante todas as polêmicas (mudança de plano de governo, acusações mútuas de violência e de fake news, querelas estéreis nos planos moral e ideológico e até um suposto atentado contra Muribeca desmentido pela polícia), a verdade é que, em momento algum, a liderança de Weverson chegou a ser remotamente ameaçada pelo candidato do Republicanos. Em todas as pesquisas Ipec e Futura, ele dominou com mais de 55% dos votos válidos, chegando à véspera da votação final com 60% no Ipec e 63,6% na Futura.
O amplo favoritismo se confirmou nas urnas neste domingo, e Weverson se elegeu com 60,48% dos votos válidos.
> Conheça os desafios de Weverson Meireles à frente da Serra
A “nova conquista” de Vidigal
Ao longo de entrevistas e debates, de maneira até um pouco enervante, o candidato de Vidigal repetiu, como um disco arranhado, alguns bordões e tópicos frasais incutidos por ele no media training de sua equipe de marketing. Um dos campeões eram “as novas conquistas”, sintagma repetido à exaustão pelo pedetista.
Bem, no caso concreto, creio não restar a menor dúvida: a vitória de Weverson, confirmada neste domingo, é uma “nova conquista”, inédita na história política deste estado desde o instituto da reeleição, em 1998, protagonizada por Sérgio Vidigal.
O criador hoje assiste à vitória da sua criação política, na dupla acepção do verbo “assistir”: a de observar e a de ajudar. E a ajuda dele foi inestimável.
Weverson, é certo, fez o seu dever de casa direitinho, estudou, se preparou… Tem seus méritos pessoais, é claro – numa disputa que, a bem da verdade, ficou tecnicamente nivelada por baixo no 2º turno. Grande parcela dos créditos também compete à marqueteira Jane Mary e sua equipe, com um marketing bem conduzido. Mas 75% da vitória podem ser depositados na conta política de Vidigal.
O prefeito repete, assim, o êxito alcançado por ele quando “inventou” Audifax Barcelos, sua primeira “criação política”, retirada de sua costela em 2004 (e que depois ganharia vida própria…). Com uma grande diferença, porém: há 20 anos, tecnicamente, Vidigal encerrava seu segundo mandato seguido e não poderia mesmo concorrer… Desta vez não o fez por escolha pessoal.
“Palavras proféticas”…
Publiquei aqui o trecho abaixo em meados de setembro. Reproduzo na íntegra, fidedignamente, minhas próprias palavras àquela altura da eleição. Acrescento um grifo:
Na política da Serra, o prefeito Sérgio Vidigal (PDT) está arriscando o “número”, ou truque político, mais ousado destas eleições municipais em todo o Espírito Santo. E está dando certo.
[…]
Não sei se as pessoas estão dando a devida atenção ou se nós mesmos, da imprensa local, estamos dando a devida ênfase ao tamanho da ousadia do que está tentando fazer o atual prefeito da Serra.
Desde o instituto da reeleição, em 1998, não há precedente na história política do Espírito Santo, pelo menos não em uma cidade de grande porte, de um prefeito em condições de renovar o mandato que simplesmente desiste de buscar a reeleição para lançar um outro candidato. Isso é inédito.
> Conheça os desafios de Weverson Meireles à frente da Serra
Tecnicamente, Vidigal estava habilitado a concorrer à reeleição.
Politicamente, ele teria na certa uma disputa difícil pela frente, não era uma reeleição garantida. Mas ele não está mal avaliado e teria, sim, chances de vitória. Era um candidato competitivo.
Em vez disso, o que ele fez? Um anúncio duplo, no dia 16 de março: “Olha, não vou para a reeleição, e meu candidato é Weverson Meireles”.
Se Vidigal fosse o candidato e conseguisse se reeleger, seria obviamente uma vitória, uma a mais para a conta dele na Serra. Mas seria, tipo, “ah, lá vou eu para o meu quinto mandato de prefeito…”
Seria como uma indicação ao Oscar para a Meryl Streep, uma medalha de ouro olímpica para o Michael Phelps, um título de Roland Garros para o Rafael Nadal… Ou o Forrest Gump indo conhecer, de novo, o presidente dos Estados Unidos na Casa Branca.
Agora, se Vidigal conseguir fazer o sucessor, será uma vitória muito maior… única e sem precedentes. E me arrisco até a dizer aqui e agora: se ele conseguir fazer isso, poderemos considerá-lo o maior vencedor destas eleições municipais no Espírito Santo.
Isso não só pelo ineditismo do feito que ele se propõe, mas porque Weverson, convenhamos – com todo o respeito às qualidades do candidato –, é uma “invenção política” de Vidigal, tendo largado terrivelmente atrás. Lá embaixo, com menos de 2%. Não era absolutamente ninguém na fila do pão eleitoral.
Na ocasião, também escrevi:
[…] a Serra responde por um recorde nacional: em nenhum dos 50 municípios mais populosos do Brasil, temos os mesmos dois prefeitos se alternando no poder há quase três décadas. São 28 anos de revezamento entre Vidigal e Audifax, desde 1997. Isso pode acabar agora… ou não.
> Muribeca agradece aos eleitores e promete continuar a luta pela Serra
De posse do resultado completo agora, respondo: “sim e não”.
De certo modo, acabou. O próximo prefeito, a tomar posse em janeiro, não se chama nem Audifax nem Sérgio.
Por outro lado, pela umbilical ligação, é óbvio que não se trata propriamente de “um novo ciclo político na Serra”, muito pelo contrário. Mesmo “fora da prefeitura”, Vidigal logicamente seguirá influenciando com força a gestão do seu pupilo.
Vidigal fortalecido para 2026
Já do ponto de vista eleitoral, o ainda prefeito da Serra ganha muita musculatura. Poderá tirar aí uns meses sabáticos para se dedicar à família e aos netinhos. Mas a próxima eleição estadual é logo ali. Vidigal poderá, quem sabe, se animar a pleitear um dos três cargos majoritários em disputa: governador ou uma das duas vagas do Espírito Santo no Senado. Terá, então, 69 anos.
A marca de Jane Mary Abreu
Jane Mary acumula mais um feito em sua prateleira de “conquistas” no campo do marketing eleitoral por estas plagas.
Para falar só de feitos recentes, ela dirigiu a campanha da virada antológica de Audifax sobre Vidigal em 2016 (a campanha do “Tô vivo!”), a de Fabiano Contarato para o Senado em 2018, conseguiu levar Fabio Duarte para o 2º turno, e deu trabalho a Vidigal, em 2020… E, agora, essa façanha eleitoral.
É preciso também tirar-lhe o chapelão.
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