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Coluna Inovação

Manual para candidatos em debates

A retórica política transforma palavras em ferramentas poderosas, capazes de influenciar opiniões e acirrar debates

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A retórica é uma arte nas batalhas eleitorais. Foto: Divulgação

A retórica é uma arte nas batalhas eleitorais. Foto: Divulgação

Nos confrontos pelas redes sociais e pela imprensa, ou nos debates na TV, o uso enfático das palavras depende do lado que se está. Quando a popularidade do adversário diminuir, é melhor dizer que despencou. No orçamento é melhor rombo do que déficit. Para situações confusas fica mais contundente falar em caos. Uma crítica contra um adversário tem de ser devastadora ou demolidora, ou que ele foi esmagado, trucidado, desmascarado, destroçado ou reduzido a pó, quando não for às vias de fato com cadeiradas e socos.

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Se o adversário foi vaiado, fica mais depreciativo dizer que foi esculachado, escorraçado, demitido ou enxotado pela população, mesmo que tenham sido apenas uns poucos( fica melhor “uns gatos pingados”). Aglomeração de adversários pode ser escória, canalhas ou bando de vagabundos. Em casos de corrupção, dizer que foi um verdadeiro assalto à mão armada soa mais revoltante e é fundamental criar um apelido no aumentativo para o caso.
Argumentos estranhos, chame de bizarros, grotescos, estapafúrdios ou descalabro e fique estarrecido.  Sobre uma proposta do adversário, fale em aberração, estupidez, indecorosa ou delirante. Um comentário tolo pode ser irrelevante, medíocre ou babaca, palavra forte. Para um homofóbico, machista, racista ou misógino, é melhor falar boçal(boa rima para candidato) ou repugnante, palavras que embrulham mais o estômago(boa!). Se empresário pode falar mal de mulheres como CEO, por que candidatos não podem, se até já surrupiaram parte das cotas?

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Apelidos devem ser depreciativos como tchuchuca ou bananinha, mas às vezes vem uma opinião sincera: eu gosto de baixaria. Aliás, a baixaria é internacional. Se não gosta de imigrantes pode acusá-los de comer gatinhos e cachorrinhos. Antigamente se dizia que comunistas comiam criancinhas. Quebra-quebra em manifestações feita por vândalos é muito elegante. Fascistas fica melhor, é pouco definida, mas definitiva, Maduro que o diga. Aliás, fascista é todo aquele que discorda veementemente de você, principalmente se houver xingamento. Nas redes sociais, se estiver muito revoltado, escreva com maiúsculas. Soa como grito, embora seja falta de educação digital.

Para eleições municipais como essa de agora, buraco na rua é cratera, vazamento de tubulação pode ser chafariz ou cachoeira, dependendo para que lado a água estiver vazando, poça d’água é piscina, falta de luz é apagão e viaduto não cai, desaba. Na história já se tentou, à direita e à esquerda, chamar golpe militar de revolução, ditador de presidente, ditadura de governo autoritário, assassinato de justiçamento, corporativista de progressista, torturador de herói e roubo de desapropriação. Enfim, palavras são armas para serem sacadas conforme a ocasião.

Evandro Milet

Evandro Milet é consultor, palestrante e articulista sobre tendências e estratégias para negócios inovadores. Possui Mestrado em Informática(PUC/RJ) e MBA em Administração(FGV/RJ). É Conselheiro de Administração pelo IBGC, Membro da Academia Brasileira da Qualidade-ABQ, Membro do Conselho de Curadores do Ibef/ES e membro do Conselho de Política Industrial e Inovação da Findes. Foi Presidente da Dataprev, Diretor da Finep e do Sebrae/ES, Conselheiro do Serpro e Banestes. Tem extensa atuação como empresário, executivo e consultor em inovação, estratégia, gestão e qualidade, além de investidor e mentor de startups, principalmente deeptechs. Tem participação em programas de rádio e TV sobre inovação. É atualmente Presidente do Cdmec-Centro Capixaba de Desenvolvimento Metal-Mecânico.

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