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Coluna João Gualberto

Coluna João Gualberto | Eleições municipais 2024

Nas nossas eleições municipais, um dos elementos mais importantes, que já faz parte da nossa cultura política, é o clientelismo

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Eleições para as prefeituras em 2024 acontecem em outubro. Foto: José Cruz/Agência Brasil

Eleições para as prefeituras em 2024 acontecem em outubro. Foto: José Cruz/Agência Brasil

As eleições têm elementos estruturais – aqueles que fazem parte do imaginário e da estrutura política de uma sociedade – e também elementos conjunturais, os que são típicos de um certo processo, datados, portanto. No caso das nossas eleições municipais, um dos elementos mais importantes, que já faz parte da nossa cultura política, é o clientelismo, ou seja, o ato de privilegiar uma certa clientela política em troca de votos. Essa clientela pode ser um bairro, um grupo de amigos ou qualquer outro que seja fidelizado por uma política de favores. Ele está presente em todos os processos eleitorais brasileiros, mas é especialmente forte quando se trata da disputa do poder local.

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Quando um elemento faz parte do imaginário, significa que ele é vivido pela maioria, na maior parte do tempo. Quero com isso dizer que o clientelismo é vivido pelos dois lados da política, ou seja, tanto os candidatos os eleitores. Desse modo, a eleição se torna o momento de buscar favores, essa moeda permanente na política brasileira. Aí entra outro elemento estrutural mais recente: a reeleição, pois é nessa hora que as prefeituras viram máquinas poderosas do clientelismo. Esse fato não ocorre especificamente durante as campanhas,  mas em todo o tempo, já que os prefeitos administram de olho na reeleição, muitas vezes abusando das facilidades que o poder oferece.

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Por outro lado, os elementos conjunturais são aqueles que ganham forma diferente em cada eleição, pois não se repetem todo o tempo e em todos os lugares. Um desses elementos particulares mais recentes e fortes no Brasil, e mesmo em muitos países do mundo, tem sido o papel da direita, de modo especial por meio da atuação de suas facções mais extremadas, em cada pleito. Em 2016 e 2020 a presença do ex-presidente Jair Bolsonaro amalgamou muito do sentido e da direção da direita no Brasil.

Os conservadores de vários matizes foram todos organizados pela liderança do ex-presidente. Entretanto, na eleição que se aproxima, não estamos observando a mesma força eleitoral. Não estou afirmando que a direita não seja forte e nem que os conservadores não tenham grande capacidade eleitoral; refiro-me especialmente à força de aglutinação de um personagem.

Prova do que estou dizendo é a derrapagem do candidato do bolsonarismo em seu berço, a cidade do Rio de Janeiro. Ramagem, diretor da Abin no governo de seu líder, não consegue sequer atingir os dois pontos percentuais nas pesquisas de opinião que são divulgadas pela imprensa. Por todas as evidências, haverá uma derrota que não estava prevista há algum tempo, pelo menos não nessas dimensões, e esse não é um fato isolado. Basta ver o que está acontecendo nos maiores municípios capixabas, onde nenhuma candidatura com a presença marcante de Jair Bolsonaro se sobressai. Isso não quer dizer que a direita esteja menor ou menos presente. Na verdade, indica  que suas lideranças estão mais fragmentadas, o que não é difícil perceber.

Entretanto, a maior evidência do que estou aqui afirmando vem de São Paulo, onde um inesperado Pablo Marçal aparece como provável oponente de Guilherme Boulos no segundo turno. Por todas as evidências, ele ocupa um novo lugar no imaginário político das direitas brasileiras. Ex-coach, como ele mesmo se intitula, trouxe para a arena eleitoral uma lógica das redes sociais, atualizando, por assim dizer, o papel que Carlos Bolsonaro exerceu em 2018, só que ainda mais escrachado. A diferença é que este não fala em nome do passado, da ditadura ou do mundo das armas, nem de uma misoginia absurda.

Pablo Marçal fala de prosperidade, de enriquecimento, de vencer na vida pelos seus próprios méritos, sempre catapultado pela máquina de vendas em grande escala que são as redes sociais. Anda falando em ser candidato a presidente da república em 2026, criando para isso um partido de influenciadores sociais, num discurso que faz todo o sentido no mundo que ele habita e que compartilha com milhões de brasileiros. Esse elemento do processo eleitoral de 2024 nos alerta de que podemos estar chegando à segunda camada das lideranças populistas de direita e portanto a um novo momento na política brasileira. É um fato novo, inusitado e relevante. É preciso ficarmos atentos a ele.


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João Gualberto

João Gualberto é professor Emérito da Universidade Federal do Espírito Santo e Pós-Doutor em Gestão e Cultura (UFBA). Também foi Secretário de Cultura do Espírito Santo de 2014 a 2018. João Gualberto nasceu em Cachoeiro do Itapemirim e mora em Vitória, no Espírito Santo. Como pesquisador e professor, o trabalho diário de João é a análise do “Caso Brasileiro”. Principalmente do ponto de vista da cultura, da antropologia e da política.

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